quarta-feira, 25 de março de 2020

USO DO CHAPÉU E DAS LUVAS NO REAA

Em 28/01/2020 o Respeitável Irmão André Ricardo Ferraz Roque, Loja Barão do Rio Branco, 03, GOIPE (COMAB), REAA, Oriente de Arcoverde, Estado de Pernambuco, solicita o seguinte esclarecimento:

USO DO CHAPÉU E DAS LUVAS


Gostaria da orientação do nobre Irmão quanto ao uso do chapéu e das luvas em Loja. O chapéu deve ser usado por todos os Irmãos ou apenas pelos Mestres Maçons? Deve ser usado em sessões econômicas (Apr Comp e Mest) ou apenas nas sessões Magnas? As luvas elas devem ser usadas em toda e qualquer sessão ou apenas nas sessões magnas?

CONSIDERAÇÕES.

Chapéu negro e desabado - Em se tratando do REAA nos graus de Aprendiz e Companheiro o uso do chapéu fica restrito ao Venerável Mestre, enquanto que no Grau de Mestre, todos usam o chapéu. Rigorosamente o uso do chapéu não é apropriado apenas às sessões magnas, mas de acordo com o acima exposto, em qualquer sessão, seja ela econômica (ordinária) ou magna.
É bem verdade que os rituais lamentavelmente nem sempre seguem essa regra, assim é preciso antes consultar o ritual em vigência para conferir o que ele preconiza. Mais informações a respeito do uso do chapéu na Maçonaria podem ser encontrados no Blog do Pedro Juk em http://pedro-juk.blogspot.com.br – vide última publicação a respeito em 26/02/2020.
Luvas – Nesse caso também é preciso consultar o que prevê o ritual em vigência em relação à indumentária que o maçom deve utilizar nas sessões em Loja
A bem da verdade, no REAA as luvas são entregues ao maçom quando da sua iniciação apenas como símbolo da pureza que deve doravante o acompanhar. O emblema o alerta para o afastamento das águas lodosas do vício. No Rito em questão há ainda um par de luvas femininas que o iniciado recebe para entregar àquela que lhe causar maior estima (esposa, mãe, filha, madrinha, etc.). Como lição de liberdade, a entrega dessas luvas não sofre nenhuma imposição por parte da Maçonaria. O critério de escolha, sem interferência, é apenas e tão somente do Iniciado.
Desse modo, os pares de luvas são apenas objetos alegóricos e não peças de vestuário para serem literalmente utilizados.
De qualquer modo, reitero a necessidade de seguir o que prevê o ritual, pois embora desnecessário, adquiriu-se, principalmente na Maçonaria Latina, o costume de calçar luvas em situações formais. Originalmente é sabido que isso não existe, mas como, segundo alguns parece que é o hábito que faz o monge, então não dá para ser laudatório.
A respeito das luvas, também no Blog do Pedro Juk podem ser encontradas mais informações.


T.F.A.

PEDRO JUK


MARÇO/2020

segunda-feira, 23 de março de 2020

ASSENTO NAS CADEIRAS DE HONRA. SÓ POR MESTRES MAÇONS INSTALADOS?


Em 07/01/2020 o Respeitável Irmão Luiz Antônio Silva, Loja Vinte de Agosto, 2.670, REAA, GOB-MS, Oriente de Dourados, Estado do Mato Grosso do Sul, apresenta a questão que segue:

ASSENTO NAS CADEIRAS DE HONRA


Considerando o decreto 1469/2016/GMG, pergunto:
1) Grão Mestre Estadual (ou Geral) e Grão Mestre Adjunto Estadual (ou Geral) podem ser assentados à direita e à esquerda do Venerável em uma mesma sessão?
2) Autoridades que não sejam Mestres Instalados podem ocupar uma das cadeiras ao lado do Venerável?

CONSIDERAÇÕES.

1.    Conforme prevê o Decreto 1469/2016 em estando desocupada a cadeira, a sua ocupação se dará pela ordem de precedência que menciona o Regulamento Geral da Federação no seu Art. 219, § 2º e Incisos seguintes. No tocante à sua questão sobre esse tópico, tudo vai depender de quais autoridades estejam presentes na sessão, lembrando de que os Grão-Mestres Gerais Adjuntos, Estadual e Geral, detém a 3ª e 5ª faixa respectivamente.
2.    No Rito em questão, o 1º Vigilante, que é o substituto imediato do Venerável Mestre, não precisa, para ser 1º Vigilante, um Mestre Instalado. Assim, na condição de substituto precário, ele dirige os trabalhos mesmo não sendo Mestre Instalado. Em qualquer situação o substituto dirige os trabalhos ocupando o trono.
Essa condição, de Mestre Instalado, também não atinge a nenhum ocupante das cadeiras de honra. Quem é instalado para o exercício do mandato é o Venerável que ocupa por ofício o Trono. As duas cadeiras, da direita e da esquerda respectivamente, nada tem a ver com esse título distintivo. Lembro que trono só existe um, o destinado ao Venerável Mestre.
Assim, no meu entender não há obrigatoriedade para que o ocupante da cadeira de honra seja um Mestre Maçom Instalado, até porque muitas autoridades podem até mesmo nem possuir esse título distintivo, porém continuam autoridades - Deputados, por exemplo.
Cabe mencionar que nas Sessões Magnas de Iniciação, Elevação e Exaltação, o substituto legal do Venerável aí sim precisa ser um Mestre Instalado da Loja, preferencialmente mais recente. Isso se dá não por uma questão de trono ou lugar, ou ainda de instalação, mas devido a liturgia da sagração que envolve o uso da Espada Flamejante.
Eram as considerações, porém por oportuno gostaria de mencionar que essas não são regras iniciáticas. Infelizmente nossos rituais às vezes ficam condicionados a regras que estão muito distantes dos verdadeiros propósitos e tradições da Sublime Instituição, dos quais deles é o de exercer a humildade. Poderíamos perfeitamente estar livres dessas condicionantes de títulos e distinções se as duas cadeiras de honra, por exemplo, servissem apenas aos Grão-Mestres quando estes se fizessem presentes, caso contrário as mesmas deveriam ficar vazias, ou mesmo seriam retiradas. É bom que se diga que as outras autoridades, como é sabido, já têm destinado seu lugar no Oriente, porém, abaixo do sólio, fato que parece infelizmente trazer insatisfação para alguns. Dado a isso, desafortunadamente a liturgia iniciática, que é sem dúvida a mais importante de todas, acaba ficando legada a um segundo plano. Essa é a minha opinião. Como diz um dito popular castelhano: "Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay".

T.F.A.

PEDRO JUK


MAR/2020

sábado, 21 de março de 2020

COLUNA DA HARMONIA III


Em 27/12/2019 o Respeitável Irmão Jorge Antônio Vieira Gonçalves, Loja Estrela de Davi, REAA, GOB-SE, Oriente de Aracaju, Estado de Sergipe, apresenta a questão abaixo:

javgdbg@gmail.com


COLUNA DE HARMONIA.

Bom dia, ilustre irmão. Gosto muitos dos seus artigos e gostaria primeiramente de lhe agradecer pelos brilhantes textos. Se possível, gostaria da sua orientação, veja o texto abaixo:
"Quero afirmar aqui, pela experiência que adquiri durante a minha vida maçônica, que qualquer música pode ser tocada, desde que vibre o ser humano para uma elevação. Agora há de se respeitar as sensibilidades alheias, e ter bom senso, como por exemplo, não colocar uma música sacra com a presença de vários Irmãos de religião que não seja, por exemplo, a católica. Mas para tudo exige sensibilidade e equilíbrio." (a) Juarez de Oliveira Castro, Mestre Maçom Instalado, Loja Alferes Tiradentes, 20, GLMESC.
Estou pesquisando sobre harmonia nas sessões maçônicas para fazer uma apresentação em minha loja. O ilustre irmão, poderia disponibilizar textos para me ajudar? Existe alguma norma que proíba a música cantada nas sessões?

COMENTÁRIOS.

De fato, no ambiente maçônico cabem apenas procedimentos que lhe são compatíveis.
A Música, em Maçonaria como uma das Sete Artes e Ciências Liberais, é uma das disciplinas do Quadrivium (divisão feita por Boécio) e é necessária para que os atos litúrgicos e ritualísticos se deem a contento, não como uma estrutura didática, mas como uma decorrência do ambiente maçônico. Como sexta Ciência ela é objeto de estudo do Companheiro Maçom.
Por definição, Musica, segundo alguns autores, advém do grego "musa" e se define por "inspiração, poesia e harmonia dos sons". Nesse sentido, em Maçonaria ela se coaduna como um elemento que reforça a harmonia dos trabalhos, sobretudo aquele inerente ao sentido da audição (um dos cinco sentidos).
Na mitologia grega, as "musas" eram tidas como nove irmãs. Filhas de Júpiter e Menemosine, deusa da memória, elas presidiam as ciências e as artes e tinham como principal missão fazer cessar a angústia e a tristeza.
Com base nesses conceitos a Moderna Maçonaria lembra ao encarregado pela Coluna da Harmonia[1] que a Ordem sempre se beneficiou do auxílio da música no desempenho dos seus ritos e cerimônias. Destaca ainda que o principal objetivo da Música é tornar o ambiente solene, inspirador e belo, assim como contribuir para a elevação dos sentimentos de amor e bondade.
Inerente à sua questão, no texto mencionado, e sobre músicas sacras, por certo há que se ter discernimento e cautela para que a harmonia da Loja não se torne em "desarmonia", sobretudo se contraditória perante a crença religiosa de outrem. Há que se ter bom senso e apelar para o bom gosto, mas com neutralidade. É bom lembrar que em Maçonaria vive-se ecumenicamente e sem proselitismos religiosos.
Quanto a textos que o Irmão me solicita eu os possuo de modo disperso e teria que digitaliza-los o que não me é propício devido ao acúmulo de trabalho. Nesse caso lhe indico a obra do saudoso Irmão Zaly de Barros de Araújo in Caderno de Estudos Maçônicos, Coluna de Harmonia, Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 1991. Certamente esse volume lhe dará subsídios para pesquisa, atentando sempre que a Moderna Maçonaria é composta por Ritos e, destes, cada qual possui suas práticas particulares, não devendo, portanto, generalizar um tema como igual para todos.
Em relação às normas que porventura existam sobre a harmonia das sessões, há que se observar o que preconizam os Ritos e seus respectivos rituais. De antemão posso lhe dizer que alguns trabalhos e costumes, a exemplo dos da Maçonaria Britânica, ainda se utilizam, às vezes, de música e canto ao vivo durante os trabalhos maçônicos.
Concluindo, devo me manifestar dizendo que na minha opinião, em respeito ao ambiente maçônico, ao contrário do que diz o texto, não é qualquer música que pode ser tocada, "desde que vibre o ser humano para uma elevação" (sic). Ora, para as exigências da "Arte" os fatos não são tão simples assim.


T.F.A.

PEDRO JUK


MAR/2020


[1] Coluna da Harmonia – Segundo Zaly Barros de Araújo, é o conjunto de cantores, músicos, instrumentos musicais, equipamentos eletrônicos, acessórios; é o conjunto de partituras, discos, etc., destinados, no todo ou em parte, sob a direção e coordenação do Mestre de Harmonia, à musicalização das sessões ritualísticas e outras cerimônias realizadas por uma Loja maçônica.

quarta-feira, 18 de março de 2020

PALAVRA SAGRADA - SOLETRADA OU SILABADA - REAA


Em 20/12/2019 o Respeitável Irmão André Ricardo Ferraz Roque, Loja Barão do Rio Branco, 03, REAA, GOIPE (COMAB), Oriente de Arcoverde, Estado de Pernambuco, solicita o seguinte esclarecimento.

SOLETRADA OU SILABADA


Em minha Loja e em outras que visito durante a abertura e fechamento dos trabalhos quando o Venerável transmite a palavra sagrada ao Irmão 1º Diácono ele transmite a palavra soletrada e logo após ele dá a primeira sílaba e o Diácono a segunda e todos os Irmãos envolvidos neste momento fazem da mesma forma. Sempre achei esta prática errada, uma vez que o Aprendiz não sabe nem ler e nem escrever, só soletrar. Pergunto ao Irmão, eu estou certo em meu questionamento ou este procedimento está correto?

CONSIDERAÇÕES.

Seu raciocínio está corretíssimo, pois quem só sabe soletrar (letra por letra), no máximo só consegue dar a palavra pronunciando-a letra por letra, isto é, soletrando-a, sem ainda formar qualquer sílaba. Transmitir a palavra por sílabas é atitude de outro grau que não o de Aprendiz no REAA.
De tudo, entretanto, para essa questão cabem ainda outros comentários.
Assim, quando da transmissão da palavra para a liturgia da abertura e encerramento dos trabalhos, essa prática se dá tão somente entre Mestres Maçons (Venerável, Vigilantes e Diáconos), portanto essa atitude não é de "telhamento". Cabe lembrar que originalmente cargos em Loja são privativos de Mestres Maçons – os rituais precisam atentar para isso.
Já no "telhamento" as letras são consecutivamente trocadas entre os interlocutores – no caso, entre o examinador e o examinado.
Na prática da transmissão para a liturgia de abertura e encerramento, que repito, não é telhamento, a palavra no 1º Grau é dada soletrada (letra por letra) diretamente pelo transmissor, isto é, não há troca de letras entre os protagonistas. Exemplo: o Venerável transmite na forma de costume toda a palavra ao 1º Diácono e ponto final. Desse modo, a intenção dessa transmissão é a de verificar se tudo naquele exato momento está j e p, o que por óbvio só se dá se a palavra estiver correta e dita conforme o costume – no caso transmitida letra por letra e sem formar nenhuma sílaba. Reitero, essa transmissão nada tem a ver com telhamento.
Na realidade o significado dessa transmissão visa relembrar, de maneira emblemática, os nossos Irmãos do passado operativo quando aprumavam e nivelavam os cantos da obra para de iniciar os trabalhos e, do mesmo modo os conferiam no encerramento visando pagar de maneira justa os salários e por fim despedir os obreiros contentes e satisfeitos, recomendando o retorno para a próxima jornada de trabalho É desse costume que se originou a expressão "j e p∴" – melhores detalhes a respeito poderão ser encontrados no Blog do Pedro Juk em http://pedro-juk.blogspot.com.br
Pelo exposto, vale a pena repetir que o ato litúrgico da transmissão da palavra para a abertura e encerramento dos trabalhos no REAA - que não deve ser confundida com "telhamento" - se dá se fazendo a transmissão de modo iniciático (soletrada ou silabada conforme o grau), porém por inteiro e pelo transmissor da palavra. Diferente disso, no telhamento as letras, ou sílabas são trocadas pelos protagonistas - quem pede sempre dá a primeira letra, ou a primeira sílaba, conforme o caso. Assim, é essa a diferença entre a transmissão da palavra no início e encerramentos dos trabalhos e o telhamento propriamente dito (o ato de examinar a qualidade maçônica de alguém).
Há ainda outro aspecto contraditório que necessita ser comentado. É o caso da equivocada repetição por sílabas da palavra entre os protagonistas ao final da transmissão no 1º Grau. Ora, se a palavra do Aprendiz é somente transmitida letra por letra para representar que iniciaticamente ele somente sabe soletrar, então não faz sentido algum que ao final da transmissão haja qualquer repetição por sílabas. Infelizmente esse erro crasso de há muito vem se repetindo. Sem dúvida alguma essa é uma erva daninha que inadequadamente se alojou na liturgia do REAA, provavelmente por alguns "ditos ritualistas" que simplesmente copiaram procedimentos de outro rito, a exemplo daqueles sistemas que têm por costume transmitir a palavra de trás para a frente ou mesmo dá-la partida ao meio. Ora, embora isso exista e possua fundamento originalmente nos ritos que o praticam, ele não faz parte da liturgia do REAA.
Dando por concluído, cabe repetir que na doutrina do REAA essa alegoria alude à evolução dos graus (escalada iniciática), onde simbolicamente o Aprendiz, como integrante do primeiro estágio da doutrina maçônica, somente sabe soletrar. Assim, em qualquer situação, seja de transmissão ou de telhamento, no 1º grau do REAA não existe essa repetição por sílabas, nele erradamente pronunciada logo após ter sido dada a palavra.


T.F.A.

PEDRO JUK


MARÇO/2020

quinta-feira, 12 de março de 2020

REAA - ESQUADRIA. POSIÇÃO DOS PÉS


Em 20/12/2019 um Respeitável Irmão de uma Loja do REAA, GOB-SP, apresenta a seguinte questão:

POSICIONAMENTO DO PÉS


Gostaria de saber como posso posicionar meus pés em esquadria obliquamente? pois pela Geometria esquadria só se dá pelo ângulo reto.
Para isso o pé esquerdo teria que estar à frente e não acompanhando o piso mosaico, seguindo tua orientação, o texto seria com os pés em ESQUADRO.
Obrigado desde já pela orientação!

CONSIDERAÇÕES.

Imagine o eixo longitudinal do Templo (Ocidente-Oriente) e, sobre ele, cruzando obliquamente, as linhas que constituem o Pavimento mosaico. Assim, no cruzamento das linhas oblíquas sobre o eixo, cada linha forma, em relação ao eixo, 45º para cada lado (esquerdo e direito respectivamente). Desse modo, unindo os pp pelos cc sobre a interseção das linhas, e tendo cada um dos pp orientado pela respectiva linha oblíqua, forma-se então a esquadria (90º). Isso pode ser comprovado pela simples soma dos dois ângulos agudos internos, ou seja, 45º + 45º = 90º.
Definição de esquadria: substantivo feminino, designa o ângulo reto (90º), ou o corte em ângulo reto. Designa também a "pedra de cantaria".
No que concerne à disposição oblíqua dos ladrilhos negros e brancos que formam o Pavimento Mosaico no REAA, o mesmo se constitui por elementos quadrados dispostos de modo transverso e unidos pelos seus respectivos vértices.
Desse modo, as peças quadradas e arranjadas em diagonal regulam os passos da Marcha. Cada quadrado representa a medida do passo.
Obviamente que essa é uma indicação figurada e não precisa, na prática, possuir medida tão precisa, mas sim representativa.
Reitero, p e apontado para f não é prática do REAA. Desse modo, os ppas são dados normalmente de tal modo que o protagonista, ao andar, se projete andando de frente e não de lado.
Assim, em qualquer situação, na Marcha, ou mesmo estando simplesmente à Ordem, os pp, uu pelos cc formam representativamente a esq.
É essa a razão pela qual as "pedras lavradas" vão dispostas obliquamente no REAA, pois se assim não fosse, não faria nenhum sentido essa disposição geométrica.
Concluindo, a soma de dois ângulos agudos que medem 45º cada um resulta na esquadria (90º).

T.F.A.

PEDRO JUK


MARÇO/2020

quarta-feira, 11 de março de 2020

A ARCA DA ALIANÇA NA MAÇONARIA


Em 17/12/2019 o Respeitável Irmão Rubem Carvalho Maia, Loja União Planaltinense, 3.854, REAA, GOB-DF, Oriente de Planaltina, Distrito Federal, solicita esclarecimentos.

ARCA DA ALIANÇA


Por favor o senhor poderia me auxiliar no entendimento do que é a Arca da Aliança? Estou desenvolvendo um trabalho nos graus superiores, mas ainda sem um entendimento para a pouca pesquisa que fiz. Que livros o Senhor indicaria?
Agradeço por demais a orientação mano.

CONSIDERAÇÕES.

Vale a pena antes fazer um pequeno comentário que envolve a influência hebraica na Maçonaria.
Nesse sentido, os espaços destinados aos trabalhos maçônicos, também conhecidos como Templos Maçônicos, são relativamente recentes, já que o primeiro Templo propriamente dito foi inaugurado em maio de 1776 na cidade de Londres.
É sabido pelos maçons que as Lojas no passado se reuniam em tabernas, cervejarias e nos adros das igrejas. Compreenda-se, entretanto, que as tabernas europeias do século XVII e XVIII eram elementos que serviam também às funções sociais e reuniam nos seus seios grupos associativos e principalmente de artesãos do mesmo ofício. Na verdade, as tabernas serviam também como um local de concentração onde os seus frequentadores tocavam ideias e até mesmo aperfeiçoavam seu conhecimento profissional, sobretudo pela convivência com os seus pares de ofício.
Em síntese, nas tabernas e cervejarias as reuniões se davam com um caráter mais descontraído, enquanto que as reuniões formais geralmente ocorriam nos recintos contíguos às igrejas, ou nos seus adros.
É bom que se diga que a Maçonaria de Ofício (Operativa), antecessora da Moderna Maçonaria (Especulativa, ou dos Aceitos), cresceu e floresceu à sombra da Igreja. Assim quando os maçons ingleses tiveram edificado o seu primeiro Templo, em 1776, sem nenhum embargo, eles foram buscar referências construtivas em dois modelos que lhes eram bem conhecidos, ou seja, nas igrejas e no Parlamento britânico.
Desse modo, das igrejas foram então copiadas a orientação, a disposição e a divisão do espaço, lembrando, entretanto, que as igrejas indisfarçadamente tiveram a sua origem no primeiro Templo de Jerusalém (o de Salomão). É por esse viés que as igrejas igualmente se situam orientadas do Oriente para o Ocidente e também se dividem em três partes: o altar-mor, o presbitério e a nave.
Em relação ao Templo hebraico, o altar-mor da igreja, no qual se coloca o oficiante da missa, corresponde ao Santo dos Santos; o presbitério, que é o lugar onde se colocam os auxiliares no ofício da missa, corresponde ao Santo, por fim a nave, onde ficam os fiéis, representa a parte descoberta do Templo hebraico que era destinado ao povo.
Assim também ocorre com o Templo Maçônico, onde a sua orientação, no sentido longitudinal do espaço, vai do Oriente (Leste) para o Ocidente (Oeste) e a sua divisão se dá em três partes a saber: o Altar no Oriente - onde fica o dirigente da Loja - se relaciona com o Santo dos Santos e este, por sua vez, se relaciona com o altar-mor das igrejas; o restante do espaço oriental - onde ficam as autoridades maçônicas e alguns oficiais - corresponde ao Santo que, consecutivamente se relaciona com o Presbitério; por último as Colunas - onde se distribuem os Vigilantes, obreiros e demais oficiais - correspondem à nave, sendo que esta, por sua vez, corresponde à parte descoberta (pátios) do Templo de Jerusalém.
É desse modo então que o Templo Maçônico indiretamente está associado ao Templo de Jerusalém, contudo cabe salientar que ele não é, como muitos equivocadamente pensam, uma cópia fiel do Templo hebraico.
De certo modo, positivamente essa semelhança tem as igrejas como intermediárias, o que não é de se achar estranho, sobretudo porque a Igreja herdou, além da figura do Templo, muitos outros aspectos do judaísmo que indiretamente viriam também aportar na Maçonaria, principalmente aqueles relacionados à sua liturgia e aos seus símbolos.
Do Parlamento britânico a Moderna Maçonaria trouxe, dentre outros, a disposição dos assentos que ficam de frente para o eixo longitudinal, assim como a "great chair". Elementos, como a Sala dos Passos Perdidos também é herança do Parlamento britânico.
No que concerne à Maçonaria e a sua herança hebraica, são utilizados vários objetos e utensílios que se distribuem nos Templos Maçônicos, levando-se em conta cada Rito praticado, bem como as suas Câmaras pertinentes aos seus respectivos graus.
Em se tratando do REAA, é o caso, por exemplo, das Colunas do Pórtico, do Delta com o nome hebraico de Deus; do Mar de Bronze, do Ouro, da Pedra e do Cedro do Líbano; do Altar dos Perfumes, da Arca da Aliança, da Urna do Maná e da Vara de Aarão; da Mesa dos Pães Propiciais, do Candelabro de Sete Braços, etc.
Em relação a sua questão propriamente dita, seguem alguns apontamentos relacionados à Arca da Aliança, cujo conteúdo o Irmão deverá associar aos seus estudos relativos aos graus superiores do REAA, além, obviamente, dos graus do Franco-maçônico básico – Aprendiz, Companheiro e Mestre.
A Arca da Aliança, ou do Testemunho (Êxodo, 25 – 10 a 22) é uma alegoria bíblica que simboliza a terceira aliança de Deus com o homem.
Comentando cada uma dessas Alianças, de modo básico, a primeira Aliança, a mais abrangente das três, é aquela que Deus fez com Noé e incluí toda a humanidade – o arco-íris, como se apresenta em Gênese (primeiro livro do Pentateuco – a criação e os tempos primitivos do mundo) é o seu sinal ou a sua prova. A segunda Aliança, já de caráter mais restrito, é abraâmica, sendo o seu sinal a circuncisão (brit-milá em hebraico) e envolve todos aqueles que evocam o Deus de Abraão. Por fim, a terceira Aliança que seria concluída quando Moisés, no monte Horeb, estabeleceria o pacto, através do sacrifício, unindo Israel a seu Deus. Seu sinal é o shabat (sábado), o dia da plenitude da criação e a sua lei é aquela que Deus revelou no Sinai.
A Arca da Aliança, contendo apenas as Tábuas da Lei, fora colocada no Santo dos Santos, em cujo espaço não existiam quaisquer outros objetos. Segundo a tradição hebraica, nesse recinto somente ingressava o Cohen Gadol (em hebraico: supremo sacerdote) apenas uma vez por ano, no Dia da Expiação ou do Perdão (em hebraico: Iom Kipur) que ocorre no primeiro dia do ano novo (civil) hebraico (Rosh Ashaná – cabeça do ano). O novo ano (civil) hebraico acontece no mês Tishrei e começa na primeira lua nova que se segue ao equinócio de outono no hemisfério Norte. Conta a tradição que nesse dia, no Santo dos Santos, Deus se apresentava ao supremo sacerdote. Somente a titulo de ilustração, o ano religioso hebraico começa no mês Nissan, correspondente ao equinócio de primavera no hemisfério Norte. 
A Arca da Aliança, depois que os hebreus ingressaram na terra prometida, seria guardada em Galgata, sendo depois, juntamente com o Tabernáculo, levada a Silo. Durante a guerra travada contra os filisteus, a Arca seria roubada, porém mais tarde recuperada pelos hebreus. Na sequência, por volta de oitenta anos, ela ficaria em Cariatiarim, de onde foi levada até a casa de Obededom de Get. Assim, a Arca assumiria seu lugar definitivo no Santo dos Santos quando da construção do primeiro Templo de Jerusalém, também conhecido como o de Salomão. Quando da tomada de Jerusalém por Nabucodonosor II, em 586 a. C., o Templo foi destruído tendo a Arca desaparecido, pelo que não se sabe se ela foi escondida, ou mesmo destruída junto com o Templo.
Ainda sobre a Arca da Aliança e a Maçonaria, especula-se, em detrimento ao filosofo e pensador Gottfried Wilhelm Von Leibniz, a teoria da "mônada" (elemento simples) onde a Arca aparece como o elemento constitutivo de todas as coisas – as leis das causas finais do bem e do mal. É, segundo Leibniz, a ação de princípio interno que exprime a mobilidade das almas, que não estão jamais em repouso, mas tendem continuamente a uma melhor harmonia interior.
Essa é então uma síntese do que eu poderia lhe colocar no momento em relação a Arca da Aliança na Maçonaria em geral, e em particular no REAA.
Por fim, recomendo-lhe a leitura de bibliografia de Nicola Aslan, cuja qual aborda os graus superiores do REAA, assim como o Mestre Secreto de autoria de Francisco de Assis Carvalho e José Castellani. Dentre outros, também A Maçonaria e a sua Herança Hebraica, As Origens Históricas da Mística Maçônica e Shemá Israel, todos esses de autoria de José Castellani.



T.F.A.

PEDRO JUK


MARÇO/2020