terça-feira, 11 de julho de 2017

SINAL DE SOCORRO

Em 24/05/2017 o Respeitável Irmão Alex Martins de Oliveira, Loja Mensageiros da Luz, REAA, GOB-ES, Oriente de São Mateus, Estado do Espírito Santo, formula a questão seguinte:

SINAL DE SOCORRO


Venho através dessa, solicitar mais uma vez, seus conhecimentos. No ritual de Mestre Maçom existe uma forma de pedirmos auxílio (socorro) a outros Irmãos.
Minha pergunta é: como devemos instruir os Aprendizes e Companheiros que por ventura necessitarem desse auxílio?

CONSIDERAÇÕES.

De modo geral o Sinal de Socorro na Moderna Maçonaria, desde a criação do Terceiro Grau especulativo em 1725, tem sido de domínio apenas daqueles que atingiram a plenitude maçônica. Assim, os Aprendizes e os Companheiros dele ainda não podem ter conhecimento.
Essa norma se prende principalmente ao hábito de que no passado operativo (Maçonaria de Ofício), apenas tinham a liberdade para contratar obras aqueles que comprovadamente dominavam a arte de construir e eram proprietários de guildas de construtores.
Na época da Maçonaria Operativa ainda não existia o grau de Mestre especulativo tal como hoje o conhecemos, já que na realidade existiam apenas duas classes de profissionais (Aprendizes e Companheiros) dos quais deles, apenas um Companheiro experiente era escolhido para liderar a guilda de construtores. Em síntese esse Companheiro era eleito pelos membros da confraria de pedreiros e tido como o Mestre da Obra e, pelo seu padrão profissional lhe era dado o direito de pleitear junto às autoridades, principalmente as eclesiásticas, seu livre deslocamento pelos longínquos rincões da Europa medieval em busca de contratos profissionais.
Naquelas ocasiões, sobretudo se levando em conta as dificuldades enfrentadas e comuns àquele período da história, esses profissionais ao se deslocarem geralmente careciam de ajuda para encarar as agruras do ambiente. Em face dessa situação eles então adotavam, diante das necessidades, sinais convencionais e discretos que objetivavam chamar atenção e pedir ajuda àqueles que os reconhecessem também como construtores da pedra calcária. Na verdade esse sinal era propriamente um pedido de socorro (não confundi-lo com os sinais de reconhecimento profissional).
Como os Aprendizes Admitidos e os Companheiros do Ofício (nomes dado às classes profissionais da época) geralmente permaneciam nas guildas e só se deslocavam eventualmente, porém sempre acompanhados do seu líder, eles não detinham o conhecimento do Sinal de Socorro, ficando o mesmo restrito apenas ao Mestre da obra que era também o líder da guilda de pedreiros e, havendo necessidade de pedir ajuda para alguém, ele é que assim procedia pelo Sinal.
Foi desse costume que mais tarde muitos ritos da já Moderna Maçonaria, especulativa por excelência, adotariam também um simbólico Sinal de Socorro que, diga-se de passagem, pode variar de acordo com as práticas ritualísticas dos diversos ritos hoje existentes e conhecidos. Nessa concepção, sugestivamente apenas os Mestres Maçons dele têm conhecimento.
Na Moderna Maçonaria, esteticamente essa conotação ganharia reforço a partir de 1725, sobretudo pelo aparecimento da Lenda do Terceiro Grau, cuja alegoria destaca o suplício simbólico recebido pelo Mestre Hiran e que fora aplicado pelos três maus Comp\ - J\, J\, e J\.
Não obstante a importância que tem para a Maçonaria todos os seus Sinais, sobretudo como elementos do seu verdadeiro penhor de segredo, o de Socorro geralmente se mantém mais como figura decorativa decalcada na tradição do que uma prática efetiva que possa se apresentar diante de uma real necessidade, pois isso obviamente se dá pelas circunstâncias atuais em que vivemos onde, devido à evolução das coisas, existem hoje inúmeros meios para que se possa pedir ajuda, ou mesmo identificar alguém que dela esteja carecendo, inclusive, se for o caso, também dos Aprendizes e Companheiros, mesmo que na liturgia maçônica tradicional o Sinal de Socorro continue sendo ainda privativo dos Mestres Maçons.
Na Maçonaria da atualidade não cabe mais a regra de que um pedido de socorro fique restrito a um Sinal. Embora ele exista entre os Mestres, a sua presença possui apenas uma faceta emblemática haurida dos nossos ancestrais.
Precisamos avaliar que vivemos hoje em dia num mundo onde nenhum maçom que porventura precise de ajuda, dar-se-á satisfeito apenas em compor um Sinal e ficar aguardando providências. Pensar assim é fugir à realidade, portanto deixemos que as nossas tradições permaneçam como respeito aos nossos antepassados e se perpetuem como nossos usos e costumes, mas não ao ponto de se imaginar que atualmente um maçom carente de ajuda (seja ele Aprendiz, Companheiro ou Mestre) precise ficar fazendo Sinal até que outro Irmão eventualmente possa perceber.
Essas práticas antigas eram válidas nos tempos dantes e que serviam às vezes até para que um maçom pudesse preservar a sua própria vida ao se encontrar diante de uma situação onde Irmãos lutavam em ambos os lados de uma contenda, mas isso nem sempre foi uma regra, senão uma exceção.
Na Moderna Maçonaria fica a tradição simbólica de que o Sinal velado de Socorro só é reconhecido entre os Mestres Maçons, porém ratifica-se que isso não implica que socorrer ou pedir ajuda para alguém seja coisa restrita aos detentores do Terceiro Grau. Diante da justa necessidade, todos os maçons, sem qualquer exceção, têm o direito e a obrigação de dar, pedir e receber ajuda, seja por meio de um Sinal ou não.
Por fim, aproveito a oportunidade para alertar que sinais maçônicos são privativos dos maçons, e dentre eles próprios existem regras particulares relativas aos seus graus. Assim é oportuno salientar que não existe e é fruto da mais pura invenção e absoluta imaginação a tal “estória” da existência de um Sinal de Socorro feito com as luvas e restrito às esposas dos maçons. Isso é pura bobagem e não existe na tradição maçônica. Sinais maçônicos, sejam eles quais forem, somente são conhecidos daqueles que foram iniciados na Maçonaria regular. A propósito, a entrega de luvas femininas ao iniciado não é regra maçônica universal.



T.F.A.

PEDRO JUK


JULHO/2017



11 comentários:

  1. Ir Pedro Juk, excelente texto. Foi bom alguém levantar este assunto, pois que, há cerca de 35 anos ou mais, foi exatamente este sinal que me tirou, junto com a minha família, de um sufoco na Estrada no Rio de Janeiro. Eu, acredito que, as luvas para as Cunhadas, se não são difundidos ainda no Brasil, que seja, quiçá no Mundo, pois é um instrumento de ajuda, suporte, confiança e credibilidade. Se não está difundido no Brasil, que nos mivimentemos para tal. O que o Ir acha?

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    1. Embora o Irmão relate essa passagem, insisto, isso é invenção e não faz parte da autêntica Maçonaria. Nem todos os ritos entregam pares de luvas femininas. Na Europa isso não é difundido, senão pelo Rito Antigo e Aceito (é como é conhecido o REAA por lá). Diferente daqui, ele não é tão praticado. Outro aspecto é que seria contraditório querer inserir uma prática litúrgina inexistente no rito, ou seja, entregar um par de luvas às cunhadas. Veja, nenhum ritual autêntico do escocesismo preceitua essa prática, já que ele apenas menciona que o iniciado a entregue àquela que mais lhe merecer estima - pode ser sua mãe, irmã, madrinha, etc. Não confundir com amante pois parte-se do presuposto que um indivíduo com esse hábito não seria jamais iniciado na Ordem. Na verdade, a entrega das luvas é uma lição de liberdade responsável, não impondo preferência ao iniciado. Fazer como muitas lojas o fazem no Brasil fazendo com que o iniciado entregue as luvas à cunhada é qualquer coisa de irresponsável e um atentado contra a lição de liberdade prevista no ritual. Além do que, não conheço nenhum ritual sério que porventura preveja Sinal de Socorro para as cunhadas, seja com luvas ou não.
      Sendo assim, peço vênia para não me colocar a disposição de nenhum movimento para inserir prática inexistente em um rito maçônico. Isso seria o mesmo que afrontar as minhas convicções. Desculpe-me pela sinceridade. T.F.A.

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  2. Boa noite. Uma boanpesquisa nos rituais mais antigos do REAA ou do RM seria escclarecedor, pois esse costume nao deve ser proprio da maçonaria anglo-saxã. TFA. Parabens pelo excelência e obrigado pelas perilas do conhecimento. Deus proteja e fuarde a todos.

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  3. Em relação a pesquisa de tâo interessante tema,resolvi buscar pela memoria e ir à procura de certa referencia que vi em um livro de patologia do trabalhador (Mendes, René). Há refenencia bibliográfica a respeito, omo Dickerson, OB. Cathedral wokers during middle eges, 1967 e que vale a pena visitar, posto que esta no JOURNAL OF OCCUPACIONAL MEDICINE, 9 (12):605-10. A relaçao com as luvas como dignificaçao do trabalho e sua relaçao com a guilda.Meu TAF.

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  4. Induitávelmente as Luvas são tradicionais desde a Maçonaria de Ofício - o recém admitido recebia o avental de couro profissional e as luvas para proteger as mãos durante o ofício da cantaria. Isso mais tarde na Maçonaria Especulativa seria dignificado simbolicamente, inclusive na vertente francesa onde a brancura das luvas sugerem as mãos limpas distantes dos hábitos lodosos do vício. O que não pode é quere arrumar um sinal de socorro para as cunhadas com as luvas. Pura invenção.

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  5. Boa noite. Em que pese a ilibada sabedora maçônica,salvo melhor juízo, a pergunta na foi respondida de forma cristalina.
    Atenciosamente

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    1. Se essa é a sua opinião, vou respeitá-la. Particularmente no REAA (Moderna Maçonaria) eu nunca vi instrução sobre sinal de socorro para Aprendizes e Companheiros. T.F.A.

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  6. Parabéns Nobre irmão Pedro pelo maravilhoso histórico e sabedoria.T.F.A.

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