Em 01/07/2017 o Respeitável Irmão
Luiz Antonio Alves da Silva, Loja Crescêncio Pereira, 36, REAA, GOCE – Grande
Oriente do Ceará, Oriente de Fortaleza, Estado do Ceará, formula a seguinte
pergunta:
A COR DO AVENTAL DE MESTRE DO RITO ESCOCÊS.
Meu irmão gostaria que você me esclarecesse sobre o seguinte assunto:
Qual a cor oficial do Rito Escocês? Porque uns dizem que a cor é
vermelha e outros que a cor é azul?
CONSIDERAÇÕES.
A cor distintiva do REAA\ sempre
foi vermelha encarnada, cujas origens primitivas são devidas aos
Stuarts, reis católicos da Inglaterra.
Em 1649 após a revolução puritana
de Cromwell e a seguinte decapitação do Rei Carlos I em janeiro daquele ano, o
reinado deposto da Inglaterra receberia exílio na França. Sob a capa de algumas
Lojas maçônicas em solo francês (Guardas Irlandesas) seria urdida a retomada do
trono perdido na Inglaterra.
Essa influência “jacobita”
(católicos) e a sua simbólica cor vermelha (do cardeal) viria influenciar a organização
desse movimento maçônico “stuartista” alcunhado em território francês como
“escocês”, devida a sua origem católica. Assim, sob a influência religiosa dos
Stuarts, o matiz “encarnado” se consolidou paulatinamente no Rito Escocês.
Entretanto, nesse sentido ainda
existe outro aspecto que é merecedor de consideração.
No ano de 1801 nos Estados Unidos da América do
Norte, já estando o Rito organizado e titulado como Escocês Antigo e Aceito com
a fundação do seu Primeiro Supremo Conselho (Mãe do Mundo) em Charleston na
Carolina do Sul, apareceria no ano de 1804, em Paris, sob a égide do Segundo
Supremo Conselho e sob a tutela do Grande Oriente da França, o primeiro ritual
simbólico para o REAA\. Até então o Rito Escocês Antigo
e Aceito não possuía graus simbólicos (ia apenas do 4º ao 33º). A lacuna dos
três primeiros graus simbólicos era preenchida utilizando-se das Lojas Azuis
norte-americanas.
Com o aparecimento em 1804 do
primeiro ritual em território francês, ainda no primeiro quartel do século XIX,
também apareceriam as hoje extintas Lojas Capitulares, predominantemente
“vermelhas”, cujas quais ficariam sob a tutela do Grande Oriente da França. Em
síntese, essas Lojas acomodavam os graus simbólicos e os demais até o 18º,
enquanto que do 19º em diante ficavam sob a égide do Segundo Supremo Conselho
(da França).
Embora o formato de Lojas
Capitulares não vingasse por muito tempo, pois logo as coisas retomariam os
seus devidos lugares, ficando o simbolismo com o Grande Oriente e os demais com
o Supremo Conselho, mesmo com a extinção dessas Lojas, muitos resquícios do
Capítulo permaneceriam arraigados no simbolismo do Rito Escocês, como é o caso,
dentre outros não menos importantes, do da cor capitular que é predominantemente
vermelha, cuja qual se somaria ao original encarnado cardeal jacobita.
Assim, primariamente sob a
influência stuartista jacobita (católica) e, por extensão, mais tarde pela
influência das Lojas Capitulares (de alcance religioso cristão católico e
templário) o Rito Escocês Antigo e Aceito consolidaria a cor encarnada
(vermelha) como matiz identificador do seu simbolismo, o que seria sacramentado
em 1875 na Suíça por ocasião do Conselho de Lausanne que reunia oficialmente os
Supremos Conselhos do Rito para instituir uniformidade e outras medidas
necessárias.
E m se tratando da cor azul, que na contramão da
história assola o Rito Escocês em boa parte da Maçonaria brasileira, embora
muitos não aceitem esse argumento verdadeiro, a principal razão para tal vem de
acontecimentos ocorridos na cisão de 1927 no GOB e capitaneados pelo Irmão
Mário Marinho Béhring, fundador das Grandes Lojas Estaduais Brasileiras.
Naquela oportunidade Béhring,
buscando reconhecimento para a Obediência que acabava de florescer, se
aproximou das Grandes Lojas Estaduais dos Estados Unidos da América do Norte.
Não obstante a procura de
reconhecimento; é sabido que as Grandes Lojas norte-americanas praticam o seu
simbolismo pelo sistema dos “Antigos” da Segunda Grande Loja de 1751 inglesa,
cujo qual foi organizado em solo norte-americano por Thomas Smith Webb ainda no
século XVIII.
As Lojas Azuis, ou o Craft
Americano, ficaram conhecidos aqui no Brasil como Rito Americano, ou Rito de
York (alusão aos antigos), embora no GOB se pratique o Ritual inglês, também
conhecido como York ou os Trabalhos de Emulação.
Cabe lembrar que essas Lojas Azuis (americanas) são
as mesmas que deram origem ao primeiro ritual do escocesismo simbólico em 1804
quando, naquela oportunidade, maçons franceses de regresso à França,
influenciariam a sua construção pelo no modo “Antigo” (1751), já que a França
da época desconhecia esse sistema, pois naquele período a prática maçônica
francesa estava intimamente ligada aos “Modernos” ingleses da Primeira Grande
Loja de 1717. O termo “Antigo” que compõe o título do Rito Escocês se deve a
influência antiga anglo-saxônica.
Por outro lado, é amplamente
conhecido que os aventais de Mestre do Craft norte-americano, ou Lojas Azuis,
coincidentemente também são de gradação azul e foi assim que Béhring, em busca
de reconhecimento no Craft norte-americano para as suas Grandes Lojas Estaduais
Brasileiras, trouxe para Rito Escocês Antigo e Aceito no Brasil, provavelmente
para promover um agrado, a cor azul em substituição à original cor vermelha do
avental do Mestre no escocesismo.
Na verdade não foi só o avental
do Mestre que sofreu essa equivocada mudança no escocesismo, mas também foram
azuladas as paredes dos templos e outros adereços de decoração, tudo na
contramão daquilo que se encontra oficializado desde 1.875 no Conselho de
Lausanne, onde o avental do Mestre, as paredes, toalhas, estofos e decoração do
Templo são inquestionavelmente “vermelhos”.
Infelizmente o Grande Oriente do
Brasil viria também mais tarde a “azular” os aventais e templos escoceses -
isso nos anos aproximados de 1.965, principalmente por influência de Irmãos
oriundos das Grandes Lojas Estaduais que ingressaram no GOB.
Na verdade aventais azuis cabem
tradicionalmente ao Rito Moderno ou Francês, ao Adonhiramita, ao York (inglês
ou americano) e ao Schröder, dentre os ritos mais conhecidos, diferenciando-se
por razões históricas apenas o REAA\ que originalmente, repito, possui
a cor vermelha.
Atualmente, em se tratando das
três Obediências brasileiras, apenas a COMAB tem se mantido na verdadeira e tradicional
cor encarnada no simbolismo do REAA\.
Em síntese essa e a razão da
ambiguidade que envolve o vermelho e o
azul no Rito em questão aqui no Brasil, sobretudo por determinadas
“carcaças de dinossauro” que ainda são ferrenhamente defendidas por determinados
articulistas que se arvoram em difundir velhos rituais anacrônicos editados no
Brasil.
A realidade, entretanto é que a
cor predominante no Rito Escocês Antigo e Aceito é a encarnada, embora ainda vivamos
- como já mencionado - na contramão da história atendendo rituais “azulados”,
mas que estão em vigência, o que nos dá a obrigação de cumpri-los
irrestritamente, mesmo que contraditórios.
Lembro àqueles Irmãos que estão,
ou já estiveram colados no Grau 18 do REAA\, que atentem para a cor
predominante no Sublime Capítulo R+ e, ao mesmo tempo, façam a sua correlação
com as extintas Lojas Capitulares dos tempos de antanho onde o Athersata era o
mesmo Venerável da Loja Simbólica.
Do mesmo modo sugiro sejam
perscrutadas as origens do escocesismo a partir da revolução puritana de
Cromwell em 1649 na Inglaterra.
Por fim sugiro consultas sobre
esse assunto em obras e escritos de autores como José Castellani, Xico Trolha,
Hercule Spoladore, Theobaldo Varolli Filho, Frederico Guilherme da Costa,
dentre outros autênticos e comprometidos com a verdade.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
SET/2018.
Excelentes orientações caro Irmão Pedro! Parabéns e obrigado! T.F.A.
ResponderExcluirEu agradeço a atenção dispensada ao meu Blog. Fraterno Abraço
ResponderExcluirParabéns pela brilhante e rica explanação! TFA
ResponderExcluirExcelente!
ResponderExcluirEu fui para o grau de mestre e mestre instalado com o avental azul e não pretendo mudar.
ResponderExcluirDas mais esclarecedoras explicações. Parabéns. Em 30 anos de vida maçônica não havia visto/conhecido tal assunto.
ResponderExcluirObrigado pela visita. Em Maçonaria nada existe por acaso. A questão é uma só: buscar a Verdade. T.F.A.
ExcluirParabéns pela linda e esclarecedora matéria.
ResponderExcluirMeu Irmão Pedro Juk, boa tarde!
ResponderExcluirExcelente texto, mas se possível, gostaria de dar um adendo a sua explicação sobre o avental vermelho do REAA.
Em seu texto "Aventais e cordões azuis, aventais e cordões vermelhos. Mas por que então?" de Jean-Laurent Turbet (Podendo ser acessado aqui https://www.jlturbet.net/2015/02/tabliers-et-cordons-bleus-tabliers-et-cordons-rouges-mais-pourquoi-donc.html) Ele dá uma outra visão sobre de onde se originaria o avental vermelho do REAA
Originalmente, o azul do avental inglês veio da "Ordem da Jarreteira" e sendo assim, a sua contraparte francesa era a "Ordem do Espirito Santo" com sua cor azul-celeste. Quando o REAA chega, com o seu ritual simbólico, os ritualistas tentam usar referências do império napoleônico vigente. Então é olhado a ordem de cavalaria do momento, a legião Francesa. O avental, colares e fitões se assemelham aos paramentos da legião francesa, e sendo o REAA repleto de oficiais do império, então é lógico a inspiração na legião de honra.
Eu espero que um dia o REAA do GOB volte a ser vermelho, pelo menos os colares e fitões voltem a sua cor original e que não copiemos o que outras potências usam.
TFA
Gratidão pelos comentários.
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