Em 12/09/2018 o Respeitável Irmão Marcelo Tiethböhl Guazzelli, Loja
Fraternidade VII, REAA, GORGS (COMAB), Oriente de Caxias do Sul, Estado do Rio
Grande do Sul, solicita esclarecimento para o que segue:
ILHARGA
Em visita a uma Loja que pratica o Ritual de
Emulação (GOB) os irmãos estavam falando sobre o ato de bater na
"ilharga" como forma de demonstrar contentamento ou parabenizar algum
Irmão por trabalho apresentado. Pesquisando, encontrei definição de
"ilharga" como: "substantivo feminino 1. no homem, cada um dos
lados do corpo, dos quadris aos ombros 2. qualquer dos lados do corpo
humano".
No decorrer da sessão os Irmãos passaram a bater
com a mão direita na coxa direita, sobre o avental com o intuito de parabenizar
ou demonstrar satisfação.
Pergunto: esse procedimento é documentado ou comum
nesse ritual? O correto é bater sobre a coxa?
No aguardo de seus comentários.
COMENTÁRIOS.
“Ilharga” é um substantivo
feminino que designa: “partes laterais e
inferiores do baixo-ventre”. Menciona também o que se chama de flanco.
Na realidade em Maçonaria essa era uma atitude comum, embora atualmente
muito pouco utilizada nos rituais, que os obreiros faziam (por um gesto) para
demonstrar o seu contentamento, o que faziam dando com a sua mão direita
espalmada uma pancada sobre o avental na altura da coxa, logo abaixo do quadril
direito.
Longe de ser um costume vulgarizado, como depois chegou a ser, o ato de
se bater sobre o avental era comum apenas num determinado momento ritualístico,
oportunidade em que os obreiros, dessa forma, demonstravam seu contentamento
por terem recebido o salário justo e merecido alcançado pela jornada de
trabalho que acabava de se encerrar. Assim, eles eram despedidos e partiam
contentes e satisfeitos.
De modo ritualístico, isso se dava especificamente na liturgia do
encerramento dos trabalhos quando o Venerável Mestre perguntava ao Primeiro
Vigilante se os obreiros estavam realmente satisfeitos. Como que a responder a
pergunta e confirmando o contentamento, todos, de modo uníssono, batiam
energicamente e na forma de costume sobre os seus respectivos aventais.
Atualmente a maioria dos ritos e seus respectivos rituais não mais
trazem a pergunta do Venerável: “e eles
estão satisfeitos?”, restringindo-se a dialética ritualística apenas à declaração
do Primeiro Vigilante informando que uma das suas obrigações, antes de fechar a
Loja, é a de despedir os obreiros contentes e satisfeitos. Assim, pela
inexistência da pergunta do Venerável, presentemente ninguém mais bate sobre o
avental para demostrar contentamento.
Geralmente, muitas práticas caem em desuso porque perdem a sua função e
o seu sentido. No caso da manifestação de contentamento, por exemplo, a mesma
passou a ser equivocadamente utilizada noutras ocasiões, chegando à mesma até
ser confundida como fosse ela uma espécie de “sinal maçônico”, o que
verdadeiramente a mesma nunca foi.
Assim, a manifestação de contentamento, propícia a um momento específico
da liturgia maçônica, acabou se vulgarizado ao ponto de ser utilizada
equivocadamente como uma espécie de aplauso àqueles que usavam a palavra, ou
mesmo após a apresentação de uma peça de arquitetura. No rastro disso é que
vieram os absurdos das “castanholas” (estalar com os dedos) e, quando não,
ainda o famigerado costume de se arrastar dos pés no chão.
Foi dado ao desvio de utilidade ocorrido com o gesto de contentamento proporcionado
pelo bater no flanco da coxa direita sobre o avental é que os rituais
paulatinamente foram retirando essa prática dos seus conteúdos. Afinal, a
criação desse gesto foi para simbolizar o contentamento dos obreiros pela
jornada de trabalho e não para aplaudir aleatoriamente manifestações em Loja e
nem para agraciar apresentações de peças de arquitetura – maçom não precisa de
massagem no seu “ego”.
Faz-se então oportuno mencionar que, a despeito disso, o ritual em
vigência do Rito de York (Emulação) do GOB não traz no seu conteúdo o costume
de se bater sobre o avental como gesto de contentamento. Nesse sentido, o que o
Irmão relata na sua questão, nada mais é do que uma invenção da Loja visitada, ao
que a mesma está discutindo uma prática que não está prevista no ritual e muito
menos com o título de “ilharga” (sic).
Isso certamente será comunicado ao meu Secretário Geral Adjunto para o Rito de
York, Eminente Irmão Joselito Romualdo Hencotte, que dará orientações
satisfatórias à Loja que não está cumprindo o ritual.
Concluindo, a nossa ideia e maneira de responder as questões será sempre
essa. Nosso objetivo não é simplesmente o de dizer se o fato existe ou não
existe, porém antes, é o de dar explicações dos “porquês” dos fatos.
T.F.A.
PEDRO JUK
DEZ/2018
Pois ontem, 12 de Outubro de 2021, participando de uma reunião informal e virtual com irmãos de vários países, um irmão irlandês nos disse que, nas Lojas da jurisdição de Cork, o uso de se aplaudir com estalar de dedos, faz parte do ritual desde sempre. Coisa de 450 anos, mais ou menos. É possível que não saibamos disso porque não conseguimos admitir que existe maçonaria muito além da Inglaterra e da França. Na minha Loja mãe, temos este costume e pretendo aprofundar a prova da ancestralidade para justificar definitivamente o seu uso, incorporando oficialmente aos nossos Rituais. TFA.
ResponderExcluirMeu prezado Irmão Pedro Trautmann, quando me refiro a invenções e enxertos é a utilização de costumes estranhos a certos ritos. Sei perfeitamente que em muitos rincões do nosso Planeta existem os costumes hauridos da própria cultura do lugar. Não contesto isso, contudo contesto quando querem trazer práticas de outros ritos e trabalhos para ritos que não adotam tais. Não me acuse de achar que só existe maçonaria na Inglaterra e na França. Justamente por eu saber da imensa diversidade cultural da Maçonaria é que eu não admito deturpação das suas culturas. Note que minha resposta é para um consulente que pratica o REAA. Desde 1804, primeiro ritual simbólico do REAA, não há registro que nele exista a prática de "estalar os dedos". Quem assim o faz está inventando no rito em questão. Isso não quer dizer que eu conteste o seu uso na sua originalidade.
ExcluirTranquilo, meu Irmão.
ResponderExcluirComo o seu blog, indiscutivelmente, é lido e utilizado por muitos estudiosos dos diversos ritos, rituais, obediências e potências do nosso país (melhor seria dizer 'idioma'), tenho me reservado a satisfação de publicar comentários exatamente para que não aconteça a generalização.
É fenômeno comum, entre os irmãos brasileiros, a adoção de um ou outro guru 'incontestável' para alicerçar interpretações, regramento e até mesmo autenticidades de aspectos ritualísticos dos mais variados.
Desde 1992 (um ano após minha iniciação), faço parte de um grupo de estudos independente (para garantir isenção) e que não aspira ser 'dono da verdade' ou tampouco ser guindado ao status de 'Loja de Pesquisas' pois formado de irmãos filiados ao GOB-RS, GORGS e GLMERS . A nossa independência garante a não intromissão oficial das 'comissões de liturgia e ritualística' das três obediências. O objetivo é corrigir, quando temos o trabalho concluído, alguns equívocos ritualísticos e de denominações, que foram petrificados com o passar dos anos. Entre eles, a contestação sobre o uso das 'castanholas' nos ritos de influência (mas não origem) inglêsa, que é o tópico em questão.
Nesta busca, entre outras coisas, descobrimos que a tradução intencionalmente equivocada do termo ANCIENT FREE & ACCEPTED MASONS, por exemplo, criou uma resistência à ancestralidade da mais diversificada escola de ritualística que já existiu e existe na Maçonaria Universal.
Desta forma, basta ler a tradução correta para entender que os ANTIGOS MAÇONS LIVRES & ACEITOS (porque não há, em hipótese alguma, como 'intrometer' a palavra ANTIGOS no meio da expressão MAÇONS LIVRES & ACEITOS) são a maior coletividade ritualística do planeta e, se mantivermos a mente aberta, podemos admitir que houve uma evolução holística dos rituais (e não ritos) à partir de 1600, mais ou menos, cujas características permanecem as mesmas, alterando-se apenas algumas adaptações, por influências de costumes e até mesmo pela cultura local ou regional.
É comum ver os irmãos se surpreendendo ou até mesmo desqualificando a referência histórica da ritualística praticada em Gana, Gibraltar, Austrália, Leichtenstein, Jamaica, Aruba, Índia, Taiwan, China, etc.
Entre os maçons brasileiros, crer que os ritos ou rituais sejam obra do 'divino', entregues aos maçons especulativos tal como as tábuas da lei o foram a Moisés, não é um sentimento incomum (embora irracional e quase inadmissível), por isso a nossa preocupação em 'dessacralizar' o que é historicamente comprovável, o que, ocasionalmente, causa algum desconforto.
Mas no geral, tem sido um privilégio estudar e aprender ritualística com irmãos de todos os recantos do planeta e compartilhar - mesmo em forma de publicações nos blogs alheios (rsrsrs) - um pouco destas descobertas.
Em hipótese alguma a intenção é de desqualificar a opinião do irmão, aliás, sempre muito cortês com os seus leitores.
Amor Fraternal, Amparo e Verdade é o que nos une.
Continuemos assim.
Um macanudo T.'.F.'.A.'. desde o Sul do Brasil.
Fraterno abraço meu Irmão. Não tenha dúvida, seguimos lado a lado.
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