Em 08/12/2018 o Irmão
Companheiro Maçom da Loja Unión Fraterna, 151, REAA, Gran Logia
Simbólica del Paraguay, Oriente de Ciudad del Este, Paraguay, remete a seguinte
questão:
SINAL DO COMPANHEIRO
Recentemente
fizeram meu aumento de grau a Companheiro e tive a oportunidade de ler seu blog
sobre o Sinal de companheiro:
Então minha pergunta seria onde posso ler mais ao
respeito pra apresentar, com bastantes provas, na minha loja, a execução
correta do Sinal.
Faz pouco tempo que eu sou parte da Ordem, mas seu
blog já foi de muita ajuda pra mim.
Pediria encarecidamente meu nome não ser publicado
devido a que aqui na minha cidade ainda não e aceitado pertencer à Instituição
Maçônica, por isso prefiro ficar discreto.
CONSIDERAÇÕES.
Segundo autores autênticos, a exemplo de José Castellani de Alec Mellor,
para a composição dos Sin\ Pen\ do Comp\ no REAA\, dever-se-ia utilizar apenas a mão direita,
tal como acontece com os dois outros graus. Destaque-se o que menciona a Lenda
do Terceiro Grau e a pena aplicada aos tt\ mm\ cc\.
Nos primórdios do simbolismo do Rito na França, início do século XIX
todos os SSin\ PPen\ eram feitos somente em se utilizando
a mão direita. Infelizmente, mais tarde, já no final do século XIX e início do
século XX especulações ingressavam por conta de ideias ocultistas e outras práticas
do gênero.
Particularmente a utilização indevida da mão esquerda como complemento do
Sinal de Companheiro se deve muito a Joseph Paul Oswald Wirth, autor ocultista bem
recomendado por Marius Lepage, que nascera em 05 de agosto de 1860 no Cantão de
Berna, em Brienz na Suíça.
Iniciado em 1884 na Maçonaria, Wirth foi ao Grau de Mestre em junho de
1885 sendo logo escolhido pelo Grande Oriente da França como relator de uma
questão que se fazia latente nas Lojas da época: “Quais seriam as mudanças a serem feitas nos rituais” - como se pode
notar, não é de hoje que a Maçonaria latina traz consigo a obsessão por “mudar
o ritual”.
Nessa trajetória e a despeito de todos os acontecimentos (vide vida e
obra de Oswald Wirth – Sociedade das Ciências Antigas), bem como seu envolvimento
com ocultistas da época tais como Stanislas Guaita, Papus, François Charles
Barlet, dentre outros, ele acabou se tornando um ícone e uma fonte de estudos
simbólicos da Maçonaria na França, de modo que até hoje ele é ainda um autor
procurado por uma imensa quantidade de maçons. Se deve a Wirth a interpretação
alquímica e hermética da Câmara de Reflexão – fato muito pouco compreendido por
maçons praticantes do REAA na atualidade.
Dentre obras da sua autoria, Wirth publica uma trilogia maçônica
constituída pelo Livro do Aprendiz, o Livro do Companheiro e o Livro do Mestre.
Destes, o que nos interessa é o do Companheiro, publicado em 1911 e que se
tornaria uma espécie de vade-mécum para
os Companheiros Maçons, isso numa época em que o Segundo Grau era tido e
respeitado como tal ele merece e não como nos dias de hoje, onde o grau mais genuíno
da Maçonaria é simplesmente tratado como “grau intermediário” por alguns ditos “entendedores”.
Via de regra, na época essa trilogia deixada por Oswald Wirth era de
didática inteligível para os seguidores da Maçonaria. Embora o Livro de
Companheiro tenha trazido enorme contribuição para o esoterismo maçônico, a
verve ocultista fez com que o autor, em muitos pontos, deixasse latente o seu
entendimento peculiar àquilo que ele entendia (crença). Foi nesse sentido que
Wirth imaginou a postura do braço esquerdo como uma forma de apelo ao astral incognoscível
e um gesto simbolizando uma maneira de estabelecer um elo com o divino – essas são
concepções que eu prefiro não discutir, porém essa visão de Wirth acabou
trazendo um enxerto ou uma deturpação no tradicional Sinal do Companheiro que até
então somente utilizava a mão direita na sua composição.
Sem dúvida é inegável a contribuição de Oswald Wirth para com o
simbolismo da Maçonaria francesa, entretanto, é inegável também que muitas vezes
o autor extravasou as suas crenças pessoais e isso acabou maçonicamente num
gesto sem explicação plausível.
É possível também que a utilização da mão esquerda no Sinal de
Companheiro do REAA tenha sofrido o reforço do costume anglo-saxônico onde no
Craft, genuinamente o Sinal do Segundo Grau é feito em se utilizando o braço
esquerdo junto com a mão direita. No Craft, de forte influência teísta, esse gesto
é explicado nas Lições Prestonianas por uma passagem bíblica (o braço erguido
para vencer a guerra). Outra explicação dessa utilização é a de que no Craft o Sinal
de Companheiro ao utilizar também membro superior esquerdo, o faz como parte de
uma alegoria ligada à lenda Hirâmica e o Sin\ de H\. Na verdade, o gesto é uma
preparação para outro Sin\.
Com todos esses predicados, os rituais franceses, sobretudo ao gosto
latino da mudança, acabaram ainda recebendo influências do sistema inglês, o que
resultou num gesto intruso e ao mesmo tempo deformado do Sinal do Companheiro
do REAA,
Nesse sentido o Sinal do 2º Grau na Maçonaria francesa, sem enxertos e
deturpação, deveria usar apenas a mão direita na sua composição.
Diferente da Maçonaria Francesa, a Inglesa utiliza, além da mão direita,
também a esquerda para fazer o Sin\ de Companheiro.
Assim, Oswald Wirth aparado pelas suas convicções inseriu no Grau de Companheiro
também a mão esquerda. Concomitante ao seu Livro de Companheiro e as “mudanças
propostas”, outros ritualistas desavisados paulatinamente reforçaram a tese de se
utilizar da mão esquerda copiando indevidamente a postura de ritos e trabalhos de
outra vertente maçônica, destacando-se que o REAA é um rito de origem francesa,
portanto não deveria utilizar a mão esquerda na composição do Sinal do Segundo
Grau.
Concluindo, sugiro fontes de pesquisa que envolvem rituais franceses do Rito,
sobretudo aqueles que fazem parte dos primórdios do simbolismo na França.
Destaco conhecer a bibliografia de Oswald Wirth e o seu envolvimento com a
Maçonaria. Pesquise também a história da Maçonaria Francesa e a sua relação
primária com os Modernos da Primeira Grande Loja em Londres.
T.F.A.
PEDRO JUK
MAIO/2019
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