quarta-feira, 8 de maio de 2019

REAA - FATOS SOBRE O SINAL DE COMPANHEIRO


Em 08/12/2018 o Irmão Companheiro Maçom da Loja Unión Fraterna, 151, REAA, Gran Logia Simbólica del Paraguay, Oriente de Ciudad del Este, Paraguay, remete a seguinte questão:

SINAL DO COMPANHEIRO


Recentemente fizeram meu aumento de grau a Companheiro e tive a oportunidade de ler seu blog sobre o Sinal de companheiro:
Então minha pergunta seria onde posso ler mais ao respeito pra apresentar, com bastantes provas, na minha loja, a execução correta do Sinal.
Faz pouco tempo que eu sou parte da Ordem, mas seu blog já foi de muita ajuda pra mim.
Pediria encarecidamente meu nome não ser publicado devido a que aqui na minha cidade ainda não e aceitado pertencer à Instituição Maçônica, por isso prefiro ficar discreto.

CONSIDERAÇÕES.

Segundo autores autênticos, a exemplo de José Castellani de Alec Mellor, para a composição dos Sin\ Pen\ do Comp\ no REAA\, dever-se-ia utilizar apenas a mão direita, tal como acontece com os dois outros graus. Destaque-se o que menciona a Lenda do Terceiro Grau e a pena aplicada aos tt\ mm\ cc\.
Nos primórdios do simbolismo do Rito na França, início do século XIX todos os SSin\ PPen\ eram feitos somente em se utilizando a mão direita. Infelizmente, mais tarde, já no final do século XIX e início do século XX especulações ingressavam por conta de ideias ocultistas e outras práticas do gênero.
Particularmente a utilização indevida da mão esquerda como complemento do Sinal de Companheiro se deve muito a Joseph Paul Oswald Wirth, autor ocultista bem recomendado por Marius Lepage, que nascera em 05 de agosto de 1860 no Cantão de Berna, em Brienz na Suíça.
Iniciado em 1884 na Maçonaria, Wirth foi ao Grau de Mestre em junho de 1885 sendo logo escolhido pelo Grande Oriente da França como relator de uma questão que se fazia latente nas Lojas da época: “Quais seriam as mudanças a serem feitas nos rituais” - como se pode notar, não é de hoje que a Maçonaria latina traz consigo a obsessão por “mudar o ritual”.
Nessa trajetória e a despeito de todos os acontecimentos (vide vida e obra de Oswald Wirth – Sociedade das Ciências Antigas), bem como seu envolvimento com ocultistas da época tais como Stanislas Guaita, Papus, François Charles Barlet, dentre outros, ele acabou se tornando um ícone e uma fonte de estudos simbólicos da Maçonaria na França, de modo que até hoje ele é ainda um autor procurado por uma imensa quantidade de maçons. Se deve a Wirth a interpretação alquímica e hermética da Câmara de Reflexão – fato muito pouco compreendido por maçons praticantes do REAA na atualidade.
Dentre obras da sua autoria, Wirth publica uma trilogia maçônica constituída pelo Livro do Aprendiz, o Livro do Companheiro e o Livro do Mestre. Destes, o que nos interessa é o do Companheiro, publicado em 1911 e que se tornaria uma espécie de vade-mécum para os Companheiros Maçons, isso numa época em que o Segundo Grau era tido e respeitado como tal ele merece e não como nos dias de hoje, onde o grau mais genuíno da Maçonaria é simplesmente tratado como “grau intermediário” por alguns ditos “entendedores”.
Via de regra, na época essa trilogia deixada por Oswald Wirth era de didática inteligível para os seguidores da Maçonaria. Embora o Livro de Companheiro tenha trazido enorme contribuição para o esoterismo maçônico, a verve ocultista fez com que o autor, em muitos pontos, deixasse latente o seu entendimento peculiar àquilo que ele entendia (crença). Foi nesse sentido que Wirth imaginou a postura do braço esquerdo como uma forma de apelo ao astral incognoscível e um gesto simbolizando uma maneira de estabelecer um elo com o divino – essas são concepções que eu prefiro não discutir, porém essa visão de Wirth acabou trazendo um enxerto ou uma deturpação no tradicional Sinal do Companheiro que até então somente utilizava a mão direita na sua composição.
Sem dúvida é inegável a contribuição de Oswald Wirth para com o simbolismo da Maçonaria francesa, entretanto, é inegável também que muitas vezes o autor extravasou as suas crenças pessoais e isso acabou maçonicamente num gesto sem explicação plausível.
É possível também que a utilização da mão esquerda no Sinal de Companheiro do REAA tenha sofrido o reforço do costume anglo-saxônico onde no Craft, genuinamente o Sinal do Segundo Grau é feito em se utilizando o braço esquerdo junto com a mão direita. No Craft, de forte influência teísta, esse gesto é explicado nas Lições Prestonianas por uma passagem bíblica (o braço erguido para vencer a guerra). Outra explicação dessa utilização é a de que no Craft o Sinal de Companheiro ao utilizar também membro superior esquerdo, o faz como parte de uma alegoria ligada à lenda Hirâmica e o Sin\ de H\. Na verdade, o gesto é uma preparação para outro Sin\.
Com todos esses predicados, os rituais franceses, sobretudo ao gosto latino da mudança, acabaram ainda recebendo influências do sistema inglês, o que resultou num gesto intruso e ao mesmo tempo deformado do Sinal do Companheiro do REAA,
Nesse sentido o Sinal do 2º Grau na Maçonaria francesa, sem enxertos e deturpação, deveria usar apenas a mão direita na sua composição.
Diferente da Maçonaria Francesa, a Inglesa utiliza, além da mão direita, também a esquerda para fazer o Sin\ de Companheiro.
Assim, Oswald Wirth aparado pelas suas convicções inseriu no Grau de Companheiro também a mão esquerda. Concomitante ao seu Livro de Companheiro e as “mudanças propostas”, outros ritualistas desavisados paulatinamente reforçaram a tese de se utilizar da mão esquerda copiando indevidamente a postura de ritos e trabalhos de outra vertente maçônica, destacando-se que o REAA é um rito de origem francesa, portanto não deveria utilizar a mão esquerda na composição do Sinal do Segundo Grau.
Concluindo, sugiro fontes de pesquisa que envolvem rituais franceses do Rito, sobretudo aqueles que fazem parte dos primórdios do simbolismo na França. Destaco conhecer a bibliografia de Oswald Wirth e o seu envolvimento com a Maçonaria. Pesquise também a história da Maçonaria Francesa e a sua relação primária com os Modernos da Primeira Grande Loja em Londres.

T.F.A.

PEDRO JUK


MAIO/2019

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