Em 07/06/2019 o Respeitável Irmão Antomar Marins e Silva, Loja Jonathas
Abbott Filho, 3.340, GOB-RJ, Praia da Brisa, Oriente do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, apresenta a seguinte questão:
ALTAR DOS JURAMENTOS
Bom dia meu Irmão. Como não recebi uma
resposta sobre o assunto, tomei a liberdade de reproduzir o texto que enviei
para a Grande Secretaria de Cultura do GOB, pelo conhecimento que deposita no
Irmão.
Desde minha Iniciação em 1974 até hoje o Rito
Escocês Antigo e Aceito vem sofrendo modificação, algumas justificáveis, outras
que ainda não consegui obter uma justificativa plausível a respeito. Dentre
elas a do “Altar do Juramento” passar para o Oriente. Durante algum tempo pesquisei
Lojas do R\E\A\A\ listadas no “List of Lodges”, inclusive na
Inglaterra, França, Portugal, Espanha, Grande Loja Maçônica do Estado do Rio de
Janeiro e outra mais. Em todas elas, pude observar que o “Altar de Juramento”
permanece no Ocidente. Com todo respeito, sou de opinião que cada Rito deve ser
mantido em suas origens. Mudanças simplesmente administrativas desiquilibram
origens, bases filosóficas e esotéricas e exotéricas de cada uma. Como diz a
Constituição de Anderson: Cada Rito tem suas características particulares,
assemelhando-se ou divergindo do outro em aspectos gerais, em detalhes, mas
convergindo em pelo menos um ponto comum: a regularidade maçônica, isto é, o
reconhecimento internacional amparado pela Constituição de Anderson.
Nisto tudo me surge uma pergunta: Será que todas
as Lojas do REAA espalhadas no mundo estão erradas e o GOB está correto?
Agradeço a atenção do Eminente Irmão e mais
uma vez apresento minhas desculpas pela insistência em saber, como professor, o
“por quê” das coisas.
CONSIDERAÇÕES.
Me permita discordar de um ponto do Irmão. Lojas que
praticam o Rito Escocês Antigo e Aceiro autêntico pelo mundo, não trazem o
Altar dos Juramentos ao centro do Ocidente.
Embora sem conhecer os rituais da sua fonte de
pesquisa, penso ser pelo menos um pouco temerário afirmar peremptoriamente que
o Altar é assim em “todas” as Lojas”.
Sem dúvida o assunto é vasto, mas devo nisso salientar
que não é só porque esse ou aquele ritual traz uma prática litúrgica que ele pode
ser tomado como fonte fidedigna. Não sem antes perscrutar com cautela a origem
e a formação histórica do Rito. Em se considerando esse particular, vou colocar
superficialmente apenas alguns tópicos que merecem ser levados em conta. Até
porque muitas vezes nos acostumamos com ideias anacrônicas e quando as coisas
voltam aos seus devidos lugares, costumamos imaginar que o retorno ao correto é
mais uma mudança indesejável e que fere preceitos.
Em síntese, no que diz respeito particularmente ao
Altar dos Juramentos no REAA, sua colocação no Oriente não é uma mudança, porém
uma atitude acertada, pois é ali o seu lugar e não no centro do Templo.
Assim, para melhor compreensão dessa colocação, começo
por mencionar que o REAA, nas suas origens, não nascera com graus simbólicos.
Nascido na França e originário do Rito de Héredon
com seus únicos 25 graus, assim ele chegou aos Estados Unidos da América do
Norte onde não tardaria a obter, por uma Constituição temerária, um total de 33
graus. A 31 de maio de 1801, em Charleston, Carolina do Sul, sobre o paralelo
33 da terra, era fundado o Primeiro Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e
Aceito. De origem francesa ele se firmaria como Supremo Conselho fundado em
solo norte-americano.
Antes de retornar para a França, agora como REAA, os
maçons desse Rito praticavam em solo norte-americano os três primeiros graus (franco-maçônico
básico) das Lojas Azuis, não existindo especificamente para ele o simbolismo. Na
realidade, Lojas Azuis é o termo que designa o Craft norte-americano. Em síntese,
o título Lojas Azuis (Blue Lodges) na
Maçonaria norte-americana é sinônimo de simbolismo – Aprendiz, Companheiro e
Mestre.
Sob essa conotação, o REAA era praticado em se
utilizando das Blue Lodges para os
três primeiros graus e do 4º ao 33º grau do seu próprio sistema de Altos Graus.
É bom que se diga que as Lojas Azuis do Craft
norte-americano, tem como ancestral a Maçonaria inglesa, sobretudo àquela
ligada aos Antigos que faziam oposição aos Modernos na Inglaterra do século XVIII.
O sistema de Altos Graus da Maçonaria norte-americana é conhecido também como York Rite, nada tendo a ver na sua
liturgia com o REAA.
Retomando as considerações sobre o REAA, no ano
seguinte à fundação do Primeiro Supremo Conselho, já em 1802 seria fundado na França
o Segundo Supremo Conselho do REAA, com isso e com esse título o Rito retornava
à Europa e particularmente à França. Entretanto, em solo francês, o Rito ficava
órfão dos seus três primeiros graus já que na América do Norte o mesmo se
utilizava do franco-maçônico básico das Lojas Azuis. Assim urgia a necessidade
de se preparar um ritual para os três primeiros graus para ser praticado agora
em solo francês. Isso aconteceria já no ano de 1804.
Assim, maçons franceses oriundos da América do Norte
e de retorno à França, no ano de 1804 idealizariam a criação do primeiro ritual
para o simbolismo do REAA.
Nesse particular cabe se compreender que a Maçonaria
francesa na época desconhecia por completo o sistema das Lojas Azuis decalcada
dos “Antigos” ingleses de 1751 e organizada em solo americano por Thomas Smith
Webb – vide o monitor Ducan’s Ritual
como exemplo.
Na realidade, a incipiente Moderna Maçonaria
Francesa se utilizava na época das práticas maçônicas oriundas da Primeira
Grande Loja londrina que ficaria conhecida como os “Modernos de 1717” e que era
oposição aos “Antigos” de 1751 – vide a história dos Modernos e dos Antigos no
desenvolvimento da Moderna Maçonaria inglesa.
Destaque-se que entre os dois sistemas – dos Modernos
e dos Antigos – havia diferenças substanciais, sobretudo no que tange a
liturgia e a ritualística, das quais, por exemplo, o lugar onde se tomavam os
compromissos, o que seria rotulado genericamente mais tarde e conforme o rito como
Altar dos Juramentos. Nesse particular, os Modernos tomavam suas obrigações
sobre as Três Grandes Luzes junto ao pedestal do Venerável (diante dele), enquanto
que os Antigos, o faziam no centro da Sala da Loja num altar específico.
Destaco que isso é muito importante para que se possa compreender onde genuinamente
deve ficar o Altar dos Juramentos no REAA - rito de origem francesa.
Não obstante as diferenças entre os Modernos e os
Antigos, suas escaramuças acabariam com a união entre os dois grupos rivais, o
que resultaria no ano de 1813, com a acomodação das diferenças e dos costumes, na
fundação da Grande Loja Unida da Inglaterra, em cuja qual o simbolismo, mais conhecido
por Craft (grêmio) é constituído apenas e tão somente pelos graus de Aprendiz,
Companheiro e Mestre (franco-maçônico básico).
No tocante ao lugar dos juramentos na Moderna
Maçonaria, os ritos da vertente francesa, tal qual os rituais e trabalhos da vertente
inglesa (Craft) manteve o lugar dos compromissos próximo, ou junto ao Venerável
Mestre, enquanto que a Moderna Maçonaria norte-americana com as suas Lojas
Azuis, manteve o lugar dos compromissos à moda dos “Antigos” de 1751, ou seja,
no centro da Sala da Loja.
Cabe mencionar que nos primórdios da Moderna Maçonaria
francesa, no século XVIII, a tomada dos juramentos era no Altar ocupado pelo
Venerável Mestre – sobre ele é que ficavam as Três Grandes Luzes Emblemáticas
(Livro da Lei, Esquadro e Compasso). No entanto, ao passar dos tempos, alegando
melhor aproveitamento do espaço sobre o Altar, os franceses criaram uma
extensão desse através de um pequeno móvel localizado logo à frente e que ficaria
conhecido n Maçonaria Latina como Altar dos Juramentos.
Assim, esse pequeno móvel, tido como extensão do Altar
mor e conhecido como Altar dos Juramentos, já aparecia nos seus primórdios
existenciais no lado oriental da Loja e à frente do Altar ocupado pelo
Venerável Mestre.
Com essa característica e de modo genérico os ritos
de origem francesa, dos quais os mais conhecidos como o Rito Adonhiramita, o Rito
Moderno, ou Francês, e o REAA trazem na topografia dos seus Templos o Altar dos
Juramentos no Oriente. É bom lembrar que a característica de se tomar
compromissos, ou juramentos no Leste da Loja foram praticas herdadas dos
Modernos ingleses de 1717.
Especificamente o primeiro ritual simbólico do REAA,
nascido na França em 1804 já trazia então o Altar dos Juramentos no Oriente da
Loja.
No tocante ao escocesismo e a tomada dos juramentos
no Oriente, há ainda o episódio das Lojas Capitulares ocorrido no primeiro
quartel do século XIX. Esse foi um fato marcante e consolidou ainda mais o
Altar dos Juramentos próximo ao Altar mor, sobretudo porque os costumes capitulares
trouxeram para o simbolismo do REAA o Oriente demarcado e elevado em relação ao
nível do Ocidente. A bem da verdade essa foi uma adequação para uma época em
que o Grande Oriente da França administrava as Lojas do REAA do 1º ao 18º Grau,
enquanto que o Segundo Supremo Conselho, do 19º até o 33º. Isso pode ser
conferido no primeiro ritual do REAA (1804) quando o mesmo não trazia ainda Oriente
elevado e nem demarcado por balaustrada. Com o advento do formato capitular,
para se adequar a ele é que se elevou e demarcou-se o Oriente. Em qualquer das
duas situações, o Altar dos Juramentos na Maçonaria francesa sempre ficou
próximo ao Altar ocupado pelo Venerável Mestre.
É interessante se observar que mesmo depois de serem
extintas as Lojas Capitulares, voltando as coisas nos seus devidos lugares - o
simbolismo com a Obediência Simbólica e os Altos Graus com o Supremo Conselho -
o Oriente ainda permaneceu elevado nas Lojas Simbólicas, o que consuetudinariamente
ocorre nos dias atuais. De tudo, reitero, o Altar dos Juramentos sempre ficou no
Leste da Loja. Tão importante foram esses acontecimentos para o escocesismo que
se recomenda conhecer a história das Lojas Capitulares, o Segundo Supremo
Conselho e o Grande Oriente da França no primeiro quartel do século XIX – não só
pelo Altar dos Juramentos, Oriente elevado, etc., mas também pelo original matiz
encarnado do REAA, que ainda, em alguns lugares, permanece azulado.
Nesse sentido essa é uma breve história sobre o
porquê da maioria dos ritos filhos espirituais da França possuírem o Altar dos
Juramentos no Oriente e próximos ao Altar ocupado pelo Venerável Mestre.
Especialmente
no REAA esse Altar nunca deve estar localizado ao centro do Ocidente, pois essa
localização é comum na Maçonaria norte-americana, herdeira dos costumes
daqueles que faziam oposição aos Modernos ingleses de 1717, destacando-se assim
que na época a França desconhecia por completo as práticas pregadas pelos
Antigos de 1751 – vide as origens da Moderna Maçonaria Francesa e o Grande
Oriente da França, séculos XVIII e XIX.
Se o Altar dos Juramentos no REAA é no Oriente,
então como viria ele aparecer no centro da Loja aqui no Brasil?
Sobretudo isso aconteceu a partir da primeira grande
cisão da Maçonaria brasileira que ocorreu no seio do Grande Oriente do Brasil em
1927, movimento esse que dera origem às Grandes Lojas Estaduais Brasileiras.
Sem entrar na questão do mérito e da história dessa
cisão, o Irmão Mario Marinho Béhring, artífice principal dessa ruptura, após consolidada
a criação Grandes Lojas por aqui, não tardaria buscar reconhecimento para a sua
Obediência recém-criada.
Em síntese, Béhring recorreu às Grandes Lojas norte-americanas,
cujas quais comumente se caracterizam por praticar o franco-maçônico básico conhecido
como Lojas Azuis (Blue Lodges).
No tocante às práticas litúrgicas das Lojas Azuis,
em particular a localização do Altar dos Compromissos, é que diferente dos
ingleses (sobre o pedestal do Venerável) e dos franceses (pequeno móvel à
frente do Altar ocupado pelo Venerável), as Lojas Azuis norte-americanas trazem
o Altar para o centro da Sala da Loja - esse costume provavelmente fora herdado
dos Antigos de 1751.
Vale a pena registrar que a os Modernos da Primeira
Grande Loja estavam ligados à Coroa Britânica. Assim, a incipiente Maçonaria
norte-americana da época, visando apoiar a independência das colônias inglesas na
América do Norte, não se sujeitaria a uma Maçonaria que tivesse ligações estreitas
com o reino inglês. Assim, os norte-americanos se aproximaram dos “Antigos”
que, por extensão, não se submetiam à Maçonaria dita dos Modernos, ligada ao Trono.
Assim se consolidaram em solo norte-americano muitos costumes inerentes à
Grande Loja dos Antigos e trazidos para a liturgia das Lojas Azuis (Blue Lodge).
Com base nesses costumes praticados pelas Grandes
Lojas dos Estados Unidos da América do Norte é que Béhring, em busca de
reconhecimento para as suas Grandes Lojas brasileiras, acabou trazendo para o
REAA aqui no Brasil inúmeros costumes praticados pelas Blue Lodges, dentre os quais, o Altar dos Juramentos colocado ao
centro do Ocidente. Embora contraditório, nasce então no Brasil, na contramão
dos ritos franceses, um REAA com o Altar dos Juramentos posicionado ao centro
do Ocidente.
É daí que aparece em 1928 o primeiro ritual do REAA das
Grandes Lojas aqui no Brasil, trazendo com ele não só o Altar ao centro, assim como
outros costumes estranhos ao escocesismo, a exemplo das três luzes acesas em
volta do Altar dos Juramentos, Salmo 133, Diáconos se utilizando de bastão,
decoração azul do Templo, aventais azuis no lugar dos encarnados, etc. Diga-se
que a bem da verdade, muitos desses costumes estranhos ao puro REAA tem sido indevidamente
nele praticado, principalmente porque os mesmos foram trazidos de outra
vertente de Maçonaria que não a francesa – em síntese, práticas de outros ritos.
Nesse sentido, ao longo dos anos, indevidamente essas
práticas acabariam se espalhando e paulatinamente foram contaminando muitos dos
rituais das Obediências brasileiras (não só das Grandes Lojas), o que fez com
que Irmãos iniciados sob a égide dessas concepções ritualísticas, estranhas ao
REAA, acabassem por eles defendidas como práticas autênticas, o que
infelizmente não é verdade. É o caso, por exemplo do Altar dos Juramentos que no
REAA fica originariamente no Oriente e não no centro do Ocidente.
E foi assim que indevidamente o Altar dos Juramentos
no REAA mudou de lugar em alguns casos.
Muito mais poderia ser dito a respeito, mas esse
espaço não comportaria todos os liames da história autêntica. Assim, muitas
vezes, para que possamos afirmar algo, precisamos nos envolver com o tema em
toda a sua amplitude, sobretudo na história quando devemos ser apenas os
relatores fiéis dos acontecimentos sem nela sequer tomar partido dos fatos. A
propósito, existe uma boa parcela de rituais antigos do REAA aqui no Brasil, anteriores
e pós cisão de 1927 que, apesar das circunstâncias comuns ao modo latino
publicar incontáveis rituais, ainda assim trazem eles o Altar dos Juramentos
colocado corretamente no Oriente.
Reitero que penso ser temerário afirmarmos que em
todo o mundo esse pequeno móvel, tão importante pelo seu viés iniciático maçônico,
ocupe o centro da Loja no REAA. Prudentemente é melhor pesquisar os rituais franceses
do século XIX e meados do XX para que se dê uma melhor avaliação sobre esse tema.
Por fim, lembro que aproximadamente no ano de 1996 o
Grande Oriente do Brasil fez uma revisão nos seus rituais do REAA com a
finalidade de extirpar anacronismos e enxertos de práticas advindas de outros
ritos. É bem verdade que nem tudo ficou a contento, mas sem dúvida um grande
avanço foi conseguido. Nesse sentido devo relatar que à época não houve “mudanças”,
mas “retorno” às origens. Se mudanças houve, certamente foi porque um dia alguém
trocou o certo pelo duvidoso. O que se fez então na época foi consertar a
liturgia desses rituais. Nesse particular eu gostaria de destacar Irmãos de capacidade
inquestionável e que se envolveram nessa empreitada. Eu poderia citar, dentre
outros, por exemplo os Irmão Álvaro Gomes dos Santos, Fuad Haddad, e o
irretocável José Castellani. Tenho certeza que esses Respeitáveis Irmãos jamais
se ativeram às mudanças para descaracterizar a doutrina e a filosofia do Rito.
Pelo contrário, penso que boa parte do bonde que andava fora dos trilhos fora neles devidamente colocado.
E.T. – Não
pertenço à Secretaria Geral de Cultura do GOB, porém sou dele o titular da
Secretaria Geral de Orientação Ritualística.
T.F.A.
PEDRO
JUK
AGO/2019
Pod.:lr.: muito interessante a sua colocação e ficamos felizes em saber que a maçonaria busca a sua origem e a sua originalidade,entretanto questiono em relação as velas como nos modernos templos de hoje se usam a eletricidade,o que me faz parecer uma contradição onde perdemos a mística pela comodidade cerimonial sem nenhum espaço para o egregor de uma Loja.
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