Em 02/07/2019 o Respeitável Irmão José Roberto D’Ambrozo,
Loja Liberdade e Trabalho, 2.242, REAA, sem mencionar a Obediência, Oriente de
Piracicaba, Estado de São Paulo, apresenta o seguinte comentário:
O PROGRESSO ACONTECE DA PERPENDICULAR AO NÍVEL
Prezado Ir.'. Pedro Juk,
Se ouvimos durante o diálogo ritualístico do REAA que, o Sol nasce no
Or\ se oculta no Oc\ e é observado no seu
meridiano, poderíamos afirmar que o
Rito é um Rito Solar? Com toda certeza, sim.
Ao deitarmos olhos na decoração e distribuição dos cargos num Templo
Maçônico, podemos sentir que a movimentação do Sol e o Corpo Humano deram
diretrizes para sua montagem. Baseando no funcionamento do Corpo Humano, que
recebe comandos cruzados dos hemisférios cerebrais, a lógica me induz pensar a
que esse funcionamento está aplicada no funcionamento do Templo.
Como se sabe, o caminho mais curto entre dois pontos é uma reta. E pela
lei do mínimo esforço, a natureza do corpo humano poderia ter-se desenvolvido
de modo que o hemisfério direito comandasse o lado direito, e o hemisfério
esquerdo comandasse o lado esquerdo. Mas, por razões minhas
desconhecidas, é sabido que o hemisfério direito do cérebro é quem
comanda o lado esquerdo, e o hemisfério esquerdo quem comanda o lado
direito. Esse funcionamento no corpo humano foi descoberto pela observação
direta em cadáveres de pessoas acometidas de derrames, onde constatou-se que,
em vida, aquelas que tinham sido afetadas em seus movimentos regulares do lado
direito, a lesão cerebral pelo derrame tinha ocorrido no hemisfério
esquerdo. E vice-versa.
Ora, se no diálogo ritualístico é o 2° Vig\ quem chama os OObr\ para o trabalho, é ele quem
os chama para fazer Força, logo tem relação com a Col\ B, a Col\ da Força.
E quando o Comp\ tem, diante de si, a tarefa
de Nivelar a PC, adorno principal da Col\ J, a lógica me induz pensar, que o Comp\ deve buscar auxílio àquele que domina o manejo do Nível, que é o
1° Vig\.
Diante disso, a Sess\ Mag\ de Elevação me faz concluir que o progresso maçônico ocorre da
Perpendicular ao Nível.
CONSIDERAÇÕES.
O espaço onde os maçons se
reúnem e trabalham é a Loja, comumente chamada de Templo na Maçonaria latina,
porém é um espaço estilizado e decorado especulativamente baseado nas antigas oficinas
de trabalho dos canteiros medievais.
A partir do século XVIII a
Moderna Maçonaria adotou ritos que, por sua vez, com um objetivo comum,
constituíram cada qual os seus arcabouços doutrinários.
Montado sob a égide alegórica
da construção e do universo, cujo símbolo maior é o 1º Templo de Jerusalém, a
sala da Loja obedece na sua constituição duas fontes fundamentais. A primeira obteve
a orientação do espaço nas igrejas; a segunda trouxe boa parte da sua distribuição
mobiliária copiada do parlamento britânico, já que o primeiro Templo da Moderna
Maçonaria somente fora construído nos meados do século XVIII.
Sem entrar nesses detalhes, eu,
como parte da banda dos autênticos, não comungo com essas colocações de que o
Templo e a disposição dos lugares em Loja obedecem parâmetros funcionais do
corpo humano, ou coisas desse gênero. Como eu não discuto aquilo que não
entendo, prefiro colocar aspectos que me fazem sentido e que tenho buscado nos
meus aproximados trinta anos de estudo acadêmico sobre a Sublime Instituição. Em
assim sendo, deixo aqui breves comentários sobre o assunto no REAA.
Pela sua origem francesa,
embora também com visíveis influências anglo-saxônicas (vide história do seu
primeiro ritual simbólico em 1804), o REAA tem sua base doutrinária montada
alegoricamente nas Leis da Natureza. Assim, seu espaço de trabalho (sala da
Loja) fora idealizado e aperfeiçoado ao longo do século XIX. O Templo do
simbolismo no REAA sugere seus limites como um quadrilongo sobre o equador
terrestre orientado do Oriente para o Ocidente no seu comprimento e de Norte
para Sul na sua largura. O movimento de trabalho se dá entre os Trópicos de Câncer
e Capricórnio demarcados pelas Colunas B e J respectivamente. No sentido
longitudinal do espaço, entre as Colunas Vestibulares (B e J) passa uma linha
imaginária (equador do Templo) que divide o recinto em dois hemisférios,
chamados na Maçonaria como Colunas do Norte e do Sul. Seu piso é a superfície
da Terra e o seu teto é a Abóbada decorada com astros e estrelas. Tudo para
reproduzir o Mundo como uma oficina de trabalho onde os maçons trabalham incansavelmente
para o aperfeiçoamento e o progresso da humanidade.
Com boa parte da sua doutrina
de concepção deísta, o Rito Escocês Antigo e Aceito sugere uma senda iniciática
baseada na evolução anual da Natureza (seu renascimento, ápice e morte), o que se
constitui pelo movimento aparente do Sol na sua eclíptica do ponto de vista da
Terra (particularmente do hemisfério Norte).
Com esse desiderato, o Iniciado,
como parte integrante da Natureza, se sujeita às suas Leis – nascimento,
juventude, maturidade e morte. Assim, nesse teatro iniciático as etapas da vida
humana são comparadas aos ciclos da Natureza – primavera, verão, outono e
inverno.
Com esse objetivo simbólico, o
Candidato primeiro morre para, como Aprendiz, nascer para a Luz. Na trilha do
aperfeiçoamento, o Iniciado cresce e se fortifica atingindo, por consequência,
a juventude para daí adquirir experiência e alcançar a maturidade. Nessa última
etapa deixa para os pósteros a sua obra de sabedoria – perfeita e durável.
Obviamente que todo esse ciclo
iniciático objetiva melhorar o ser humano para atingir a máxima de que em se consertando
o homem, haverá que se melhorar o Mundo.
Como herdeiros dos canteiros
medievais, especulativamente construímos um Templo que se acomoda no interior
de cada ser iniciado. É a magia de transformar a P\ B\ em P\ C\ utilizando instrumentos simbólicos hauridos do passado operativo e que hoje
são os adereços da ética, da moral e da virtude na Maçonaria.
É bom que se diga que nada do
que se passa ou acontece no interior do Templo tem algum fito sobrenatural ou
oculto. O que ocorre são lições de exemplo e aplicação de tolerância e de bons
costumes adquiridos pela perfeita aplicação das ferramentas.
Todo esse acontecimento
memorável se dá pelo advento da Iniciação, Elevação e Exaltação e, para tal há que
existir um espaço de trabalho decorado e estilizado para atender todo esse
mecanismo simbólico. Assim é que esse sistema de moral foi instituído para ser
velado por símbolos e alegorias (Templo).
Nesse sentido, reitero que essa decoração e distribuição de lugares na
Loja é simbólica e procura despertar a consciência do homem para o bem e não
levá-lo à experiências de ocultismo e nem de crenças e credos particulares.
Com base no hemisfério Norte
da Terra, a Coluna da Força está simbolizada no REAA como a Coluna B\, lugar onde tomam assento os Aprendizes. Sentam no topo do norte para
seguir os ciclos (estações naturais) da primavera (nascimento) e do verão
(adolescência). Essa jornada encontra-se muito bem representada pelas seis
primeiras Colunas Zodiacais.
O nome do personagem bíblico B\ que dá nome à Coluna Vestibular da esquerda de quem entra no recinto significa
“na força”, ou “em força”.
Cabe reafirmar mais uma vez que
a ocorrência das estações da primavera e do verão nesse ideário maçônico se dão
simbolicamente no hemisfério norte da Terra, cuja meia-esfera é onde nasceu a
Maçonaria. Nessa alegoria, os Aprendizes, que iniciaticamente buscam a Luz, seguem
do topo do setentrião em busca de mais Luz numa jornada que se destina ao
meio-dia.
Assim, ao contrário do que menciona
a sua questão, o Segundo Vigilante no REAA nada tem a ver com a Coluna B\ e isso pode ser constatado em se observando que a Coluna Vestibular que marca a passagem do Trópico de Câncer no
Templo, fica no Norte e não no Sul. Outra referência para essa afirmativa é a
de que a Coluna Zodiacal relativa à constelação de Câncer se coloca no topo da
Coluna do Norte (parede norte). Afirma-se assim que B\ (força e apoio) tem a ver mesmo é com o Primeiro Vigilante.
O Segundo Vigilante
corresponde à Coluna Vestibular J\, cuja qual marca simbolicamente
à passagem do Trópico de Capricórnio ao Sul no Templo (Meio-Dia). A Coluna
Zodiacal J\, relativa à constelação de Capricórnio, está localizada no topo da
Coluna do Sul. Assim, afirma-se que J\ tem a ver é com o Segundo
Vigilante (beleza).
No tocante à chamada dos obreiros para o trabalho, entenda-se que quando
o Segundo Vigilante os chama, essa atitude nada tem a ver com a Força que está
no Norte. Ele assim procede porque o mesmo ocupa lugar no meridiano do Meio-Dia
para acusar a passagem do Sol por esse meridiano. Em síntese, significa que o
Sol está no ápice e a iluminação é total, momento em que, dentre outros, traz
melhores condições para o trabalho. Esotericamente, a plenitude da Luz está
intimamente relacionada à Sabedoria (necessária para entender os planos da
Obra). Entenda-se que é dever do Segundo Vigilante chamar e instruir os
Aprendizes, porém quem os coloca no labor é o Primeiro Vigilante que no Norte tem
junto de si a P\ B\ e as ferramentas.
Joias dos Vigilantes no REAA –
quem nivela é o Primeiro Vigilante, enquanto que quem apruma é o Segundo Vigilante.
Historicamente nos canteiros
de obra operativos (Maçonaria de Ofício) os cantos das construções eram nivelados
e aprumados pelos auxiliares imediatos do Mestre da Obra (não era grau de
Mestre). Para tal, antes do inicio dos trabalhos o Mestre solicitava que os wardens (zeladores), mais tarde
Vigilantes, assim procedessem. Então ambos percorriam o imenso canteiro nivelando
e aprumando os cantos que serviriam de referência para a elevação das paredes.
Reitero, um dos ofícios do Primeiro Vigilante era o de nivelar e do
Segundo era o de aprumar. Cabia ao Mestre, quando ele entendesse
necessário, conferir o esquadro dos cantos. Ao termino nas etapas de trabalho, o
mesmo procedimento era comum para se verificar a qualidade dos trabalhos antes
de encerrar as atividades no canteiro e pagar os obreiros despedindo-os
contentes e satisfeitos.
Desse costume do ofício
(Maçonaria Operativa) é que na Maçonaria Especulativa herdou o Esquadro
(operativo – com cabo e graduado) como a joia distintiva do Venerável Mestre, o
Nível como a do Primeiro Vigilante e o Prumo como a do Segundo Vigilante.
De modo figurado, o Primeiro
Vigilante confere os blocos desbastados pelos Aprendizes se certificando da
qualidade das pedras preparadas para que eventuais defeitos não comprometam no
alicerce o nivelamento das bases para a segunda etapa da obra - a elevação das
paredes. Por sua vez, o Segundo Vigilante se certifica se a elevação da obra
está a contento, de modo que as paredes assentadas permaneçam na sua
verticalidade (Eis que o Senhor tinha um
prumo nas mãos...).
De certo modo há duas lições
para o iniciado. A primeira é que ele deve adquirir ensinamentos estáveis ao
ponto de lhe tornar igual entre os capazes na sociedade – a força e a
sustentação dependem dos ensinamentos primários. Por segundo a ação e o trabalho
devem ser coroados com uma obra repleta de beleza e de justiça – na elevação da
construção o Prumo não pende como as oblíquas.
A Moderna Maçonaria
(especulativa por excelência) adotou no básico universal três graus, o do Aprendiz,
iniciante no ofício; o do Companheiro, ativo e executor da construção e por fim
o Mestre que representa toda a experiência adquirida nos anos do seu ofício.
Do grau de Aprendiz para o
grau de Companheiro – “para a perpendicular (fio de prumo) ao nível”. É
essa a expressão correta, ou seja usando a preposição “para” no sentido de um adjunto que exprime lugar ao qual
alguém ou algo se dirige, ou para onde volta a vista.
No caso é o Aprendiz que, tendo
cumprido o seu tempo, se dirige do Norte para o Sul, ou seja, vai do Nível
(horizontal) para a perpendicular (vertical), daí ele ir para a perpendicular e não da perpendicular. Figuradamente, o Aprendiz ao cruzar a
linha do equador deixa o topo do Norte (final do verão – constelação de Vigem)
para agora como Companheiro Maçom se colocar no topo da Coluna do Sul iniciando
assim a sua nova jornada no meridião a partir da Coluna Zodiacal que corresponde
à constelação de Libra.
A travessia do Norte para o
Sul nada mais é do que o cumprimento das etapas da alegoria da Natureza onde o Iniciado,
como Aprendiz, renasceu para a Luz na primavera (constelação de Áries) e seguindo
seu curso pelo Norte, passando depois pelo Sul, segue para completar a sua
jornada no último ciclo natural, o do inverno, mas agora já como Mestre.
Reitero, o Iniciado, do topo
do Norte para o topo do Sul, vai do Nível (1º Vigilante - horizontal) para o Prumo
(2º Vigilante - vertical). Em se analisando com com cautela o símbolo que vai no
avental do Mestre Instalado, observar-se-á que nesse símbolo existem dois
segmentos de reta, um na horizontal (nível) e outro na vertical (prumo). O
segmento vertical ligado ao centro do segmento horizontal constitui a perpendicular
ao nível. Infelizmente, alguns tratam o símbolo nível/prumo por “tau invertido”,
provavelmente por mero desconhecimento da origem desse importante símbolo.
Assim, seria mais adequado
afirmar que na Elevação o progresso ocorre indo do Nível para a Perpendicular,
ou seja indo para a perpendicular ao
nível, o que no mínimo resulta na passagem do ambiente mais escuro para o mais
claro, ou seja, das sombras do Norte para o ambiente mais iluminado do Meio-Dia.
Não a toa que no Segundo Grau, mais luzes litúrgicas se acendem junto às Luzes
da Loja, o que em primeira análise representa o homem iniciado mais evoluído –
as luzes da Sabedoria afastam as trevas da ignorância. Esse é o propósito da
Maçonaria no aprimoramento do Iniciado.
T.F.A.
PEDRO JUK
SET/2019
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