Em 15/05/2020 o
Irmão José Cavalcanti de Carvalho, Loja Cedros do Líbano, 1.688, REAA, GOB, Oriente
de Miguel Pereira, Estado do Rio de Janeiro, apresenta a seguinte questão:
SENDA DO APRENDIZ NO TOPO DO NORTE.
Bom dia meu
Respeitável Irmão, preciso de uma informação. Faço parte de um grupo virtual de
estudo. Demos preferência ao Decreto 1784/2019. Quando chegamos no item 138 -
Assinatura do Aprendiz no Livro de Presenças e condução ao seu lugar na Loja.
a) Orientações item
VI "...fazendo-o sentar próximo ao 1º Vigilante junto às primeiras colunas
Zodiacais. Os Mestres do Grupo de Estudos não ficaram satisfeitos com a
explicação. Meu Irmão, você poderia me responder este questionamento. Sou
Companheiro Maçom. Grato.
CONSIDERAÇÕES:
Me parece que a questão não é de "Mestres
ficarem satisfeitos", entretanto a de se compreender a autêntica doutrina
iniciática do REAA.
Não é de se estranhar essa falta de
compreensão, pois de há muito que a maioria dos rituais editados por aqui
trazem cópias rançosas de procedimentos anacrônicos que acabaram, como ervas daninhas,
virando em práticas adotadas somente para seguir o peripatético "do que
está escrito".
Infelizmente isso tem sido mesmo
lamentável já que a liturgia acabou em muitos casos virando elemento apenas repetitivo
e sem a devida compreensão da razão do seu existir. Nesse sentido, as Colunas
Zodiacais não têm fugido dessa regra.
Desafortunadamente, boa parte dos maçons praticantes
do REAA ainda não compreenderam os propósitos iniciáticos da Ordem. Citando o
Zodíaco como exemplo, muitos, pouco, ou quase nada, entendem do porquê da
existência dessas Colunas, isso quando não preferem acreditar que esses pilares
zodiacais servem para decorar e sustentar a abóbada do Templo. Infelizmente tenho
que dizer que essa é uma interpretação pobre e em total desacordo com a
doutrina do rito mencionado, porquanto ainda somos investigadores da Verdade,
nunca inventores e nem adivinhadores.
Para se compreender a razão da presença
das Colunas Zodiacais na decoração do Templo, é preciso antes saber que no
escocesismo simbólico a senda iniciática do maçom alegoricamente é comparada aos
ciclos naturais, aqueles conhecidos por nós como a primavera, o verão, o outono
e o inverno. Tão importante isso tem sido para o arcabouço doutrinário que muitos
aspectos litúrgicos neles se sustentam. É o caso, por exemplo, das viagens iniciáticas,
da circulação em Loja, da topografia do Templo, da expressão "topo"
para as Colunas do Norte e Sul, das Colunas Solsticiais B e J (marcos
indicadores dos Trópicos de Câncer e Capricórnio), equador do Templo, meridiano
do Meio-Dia, etc., etc., etc.
Fazendo um pequeno resumo dessa jornada
iniciática, com base no hemisfério Norte do planeta Terra (onde nasceu a
Maçonaria e o REAA), o Aprendiz percorre o topo da Coluna do Norte a partir da primavera
(ressurreição da Natureza), estação do ano correspondente às três primeiras
Colunas Zodiacais (Áries, Touro e Gêmeos).
Assim, com base na cerimônia de
Iniciação, esse período corresponde ao princípio da sua jornada, ou seja, esotericamente
menciona a infância que iniciaticamente ocorre de maneira simbólica logo após a
saída do Neófito da Câmara de Reflexão (prova da Terra – morrer para renascer).
Desse modo o recém-iniciado recebe a Luz, ainda que cálida, relativa àqueles
que ocupam o extremo do Norte (topo), longe do Meio-Dia que simbolicamente é
mais iluminado ao Sul. Dessa maneira, alegoricamente o Aprendiz admitido vive,
nas três primeiras Colunas Zodiacais, a infância iniciática na primavera (a Luz
que desponta após o inverno para tornar os dias iguais às noites - equinócio). Para
concluir a sua passagem pelo Norte, o Aprendiz vive finalmente a adolescência
no verão que corresponde, na sequência da jornada, as próximas três Colunas
Zodiacais (Câncer, Leão e Virgem).
Assim se completa a alegoria da senda do
Aprendiz e a sua passagem pelo topo da Coluna do Norte, local onde se situam as
primeiras seis Colunas Zodiacais que marcam, na base da abóbada, as constelações
do Zodíaco – alegoricamente a jornada do Aprendiz se inicia no equinócio de
primavera e se conclui no solstício de verão (deslocamento do Sol na sua
eclíptica visto sob o ponto de vista da meia-esfera Norte do nosso Planeta.
Iniciaticamente cumprida a sua senda, o
Aprendiz, no final do verão e término simbólico da adolescência, pode então
passar para o outro hemisfério, o Sul, onde agora como Companheiro ele romperá
a sua nova jornada pelo Meio-Dia (juventude, ação e trabalho – pragmática desse
grau).
Pelo topo da Coluna do Sul o Companheiro
segue sua jornada passando o ciclo relacionado à sua juventude e indicado pela
constelação de Libra. As etapas seguintes da jornada correspondem à maturidade e
se relacionam individualmente ao grau de Mestre. O Sol na sua eclíptica
ultrapassa o zênite e prenuncia o fim do outono e o começo do inverno (dias
curtos e noites longas – menos Luz) – fecha-se o ciclo natural pela morte da
Natureza que estará pronta para reviver na próxima primavera – último ciclo preparado
para a Exaltação.
Essa etapa do teatro iniciático que
envolve o Companheiro e o Mestre ocorre simbolicamente pelo topo da Coluna do Sul.
Sua jornada nessa fase segue indicada pelas outras seis Colunas Zodiacais concernentes
às constelações de Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes,
respectivamente. Vive-se no topo do Sul o teatro iniciático do grau de Companheiro
até o grau de Mestre que por fim será exaltado para ingressar na Câmara do
Meio.
Desse modo se conclui a senda iniciática que
outrora fora rompida ao Norte durante a primavera. Assim o teatro iniciático do
REAA, percorrendo as paredes (topos) Norte e Sul, desde o Aprendiz no Norte representando
o nascimento, infância e adolescência, o Companheiro relacionado à juventude e
o Metre correspondente à maturidade e a morte. Numa síntese simbólica as etapas
da vida correspondem alegoricamente às estações do ano, palco onde a Natureza revive
e morre a cada ano.
Embora elementar, obviamente esse é apenas
um resumo da escalada iniciática de aperfeiçoamento humano pertinente à
doutrina e prática do REAA.
Dentro deste contexto, as Colunas
Zodiacais colocadas equidistantes, seis ao Norte e seis ao Sul, nas paredes laterais
do Ocidente da Loja no REAA, compreendem à passagem iniciática do maçom no
simbolismo. Em resumo, emblematicamente o Iniciado morre para renascer –
significa morrer ainda no interior da Terra (Câmara de Reflexão) para, purificado
pelos elementos, reviver na Luz, mesmo que ainda seja cálida na primavera.
Início da jornada na primavera em Áries,
o lugar do recém-iniciado é junto à parede Norte na confluência com a parede
ocidental (próximo ao 1º Vigilante). É a partir daí, rumo à adolescência, que simbolicamente
o iniciado, como Aprendiz, paulatinamente, passando pelo topo da Coluna do
Norte se aproxima da grade do Oriente – vai de Áries até Virgem (primavera e
verão)
Sequencialmente, do mesmo modo, mas agora
como Companheiro, ao Meio-Dia ele faz o trajeto pelo topo da Coluna do Sul,
desta vez partindo na sua jornada em direção à maturidade, isto é, pelo topo do
Sul vai desde a grade do Oriente até o canto com a parede ocidental – numa
situação inversa do Aprendiz, vai de Libra até Peixes (outono e inverno)
Assim, a senda iniciática, comparada às
etapas da vida humana segue alegoricamente a duração da evolução da Natureza,
cuja qual renasce na primavera para fenecer no inverno.
Quanto ao controverso procedimento de
colocar o Aprendiz recém-iniciado próximo à grade do Oriente, essa prática não
se sustenta sob uma análise mais crítica em sendo no REAA. Foi por essa razão eu
procurei extirpá-la do ritual em vigência corrigindo a prática conforme está previsto
no Sistema de Orientação Ritualística.
Infelizmente esse equívoco - de se colocar
recém-iniciados junto à grade do Oriente no REAA - tem encontrado ainda guarita
em vários rituais anacrônicos trazidos por meros copistas que pouco entendem da
verdadeira liturgia do Rito. É mesmo inadmissível que um ritual de Aprendiz do
REAA ainda mencione posicionar o Aprendiz recém-admitido em um lugar que é de
direito de um Aprendiz mais experiente que está prestes a passar para a
perpendicular ao nível, isto é, já preparado para a Elevação. O caminho é de Áries
para Virgem e não ao contrário. Hipótese contrária a esta no escocesismo é o
mesmo que colocar a carroça na frente dos burros.
É verdade, entretanto, que ainda existem
aqueles que sem nenhum escrúpulo e critério nomeiam rituais antigos, repletos de
enxertos e invenções, como fossem elementos verdadeiros e dignos de credulidade.
Essa atitude inconsequente apenas dá amparo àqueles que pouco estudam, mas
"imaginam".
Ainda no tocante ao recém-iniciado ser
colocado próximo ao Oriente, cabe comentar que esse procedimento até existe,
porém como prática de outro rito, nunca como do REAA. Há grande probabilidade
que incautos copistas tenham trazido essa prática de outro rito enxertando-a inescrupulosamente
no escocesismo. Reitero, recém-iniciado tomando assento próximo à grade do
Oriente não é prática verdadeira do REAA.
Por esse mesmo viés, é oportuno comentar
que muitos Irmãos ainda não compreendem (alguns não querem entender porque são
do contra) que o termo "topo da coluna", do Norte ou do Sul, se
refere respectivamente às paredes setentrional e meridional que ficam no
Ocidente da Loja. Em síntese é o lugar mais distante, no Norte e no Sul, em
relação ao eixo longitudinal do Templo (equador). Em sendo as paredes os topos
das Colunas do Norte e do Sul, é nelas que se agrupam, seis de cada lado, as doze
Colunas Zodiacais. Por extensão essas Colunas também indicam os lugares a serem
ocupados pelos Aprendizes e Companheiros.
Dado ao exposto, é por essa razão que
procuramos colocar, através do Sistema de Orientação Ritualística, as coisas nos
seus devidos lugares. Assim orientamos que na cerimônia de Iniciação o Aprendiz
recém-iniciado, ao ser conduzido ao seu lugar em Loja, seja levado até o topo
do Norte (parede norte) no lugar mais próximo ao canto com a parede ocidental (perto
do 1º Vigilante), já que as três primeiras Colunas Zodiacais, como mencionado
no texto presente, correspondem simbolicamente à primavera no hemisfério Norte,
tudo em consonância com a doutrina iniciática do REAA e a real posição dessas
Colunas no Templo.
Espero que essa breve explicação possa
satisfazer aqueles que "não ficaram satisfeitos" com as orientações
autênticas que procuramos levar através do GOB-RITUALÍSTICA. De tudo é preciso
que o maçom entenda a razão pela qual a liturgia incide sobre as nossas práticas,
demonstrando que nada fora colocado no espaço da Sala da Loja por acaso, não
sendo, portanto, elementos passíveis de licenciosas interpretações. É bem verdade
também que como investigadores da Ordem Natural, concepções absurdas, como as
que às vezes nos deparamos durante a nossa jornada dentro dos canteiros da
Ordem, nunca serão bem-vindas.
Concluindo, mais aspectos sobre esse tema
também poderão ser encontrados, dentre outros, no volume IV do Caderno de
Estudos INBRAPEN, página 77 e seguintes, trabalho de minha autoria intitulado
" E o Topo da Coluna do Norte... Conclusões?" – Editora Maçônica A
Trolha, Londrina, 2007; Maçonaria e Astrologia, José Castellani, Editora Landmark,
São Paulo, 2002 e ainda no Blog do Pedro Juk em http://pedro-juk.blogspot.com.br
T.F.A.
PEDRO JUK
MAIO/2020
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