quarta-feira, 20 de maio de 2020

REAA - SENDA DO APRENDIZ NO TOPO DA COLUNA DO NORTE


Em 15/05/2020 o Irmão José Cavalcanti de Carvalho, Loja Cedros do Líbano, 1.688, REAA, GOB, Oriente de Miguel Pereira, Estado do Rio de Janeiro, apresenta a seguinte questão:

SENDA DO APRENDIZ NO TOPO DO NORTE.


Bom dia meu Respeitável Irmão, preciso de uma informação. Faço parte de um grupo virtual de estudo. Demos preferência ao Decreto 1784/2019. Quando chegamos no item 138 - Assinatura do Aprendiz no Livro de Presenças e condução ao seu lugar na Loja.
a) Orientações item VI "...fazendo-o sentar próximo ao 1º Vigilante junto às primeiras colunas Zodiacais. Os Mestres do Grupo de Estudos não ficaram satisfeitos com a explicação. Meu Irmão, você poderia me responder este questionamento. Sou Companheiro Maçom. Grato.

CONSIDERAÇÕES:

Me parece que a questão não é de "Mestres ficarem satisfeitos", entretanto a de se compreender a autêntica doutrina iniciática do REAA.
Não é de se estranhar essa falta de compreensão, pois de há muito que a maioria dos rituais editados por aqui trazem cópias rançosas de procedimentos anacrônicos que acabaram, como ervas daninhas, virando em práticas adotadas somente para seguir o peripatético "do que está escrito".
Infelizmente isso tem sido mesmo lamentável já que a liturgia acabou em muitos casos virando elemento apenas repetitivo e sem a devida compreensão da razão do seu existir. Nesse sentido, as Colunas Zodiacais não têm fugido dessa regra.
Desafortunadamente, boa parte dos maçons praticantes do REAA ainda não compreenderam os propósitos iniciáticos da Ordem. Citando o Zodíaco como exemplo, muitos, pouco, ou quase nada, entendem do porquê da existência dessas Colunas, isso quando não preferem acreditar que esses pilares zodiacais servem para decorar e sustentar a abóbada do Templo. Infelizmente tenho que dizer que essa é uma interpretação pobre e em total desacordo com a doutrina do rito mencionado, porquanto ainda somos investigadores da Verdade, nunca inventores e nem adivinhadores.
Para se compreender a razão da presença das Colunas Zodiacais na decoração do Templo, é preciso antes saber que no escocesismo simbólico a senda iniciática do maçom alegoricamente é comparada aos ciclos naturais, aqueles conhecidos por nós como a primavera, o verão, o outono e o inverno. Tão importante isso tem sido para o arcabouço doutrinário que muitos aspectos litúrgicos neles se sustentam. É o caso, por exemplo, das viagens iniciáticas, da circulação em Loja, da topografia do Templo, da expressão "topo" para as Colunas do Norte e Sul, das Colunas Solsticiais B e J (marcos indicadores dos Trópicos de Câncer e Capricórnio), equador do Templo, meridiano do Meio-Dia, etc., etc., etc.
Fazendo um pequeno resumo dessa jornada iniciática, com base no hemisfério Norte do planeta Terra (onde nasceu a Maçonaria e o REAA), o Aprendiz percorre o topo da Coluna do Norte a partir da primavera (ressurreição da Natureza), estação do ano correspondente às três primeiras Colunas Zodiacais (Áries, Touro e Gêmeos).
Assim, com base na cerimônia de Iniciação, esse período corresponde ao princípio da sua jornada, ou seja, esotericamente menciona a infância que iniciaticamente ocorre de maneira simbólica logo após a saída do Neófito da Câmara de Reflexão (prova da Terra – morrer para renascer). Desse modo o recém-iniciado recebe a Luz, ainda que cálida, relativa àqueles que ocupam o extremo do Norte (topo), longe do Meio-Dia que simbolicamente é mais iluminado ao Sul. Dessa maneira, alegoricamente o Aprendiz admitido vive, nas três primeiras Colunas Zodiacais, a infância iniciática na primavera (a Luz que desponta após o inverno para tornar os dias iguais às noites - equinócio). Para concluir a sua passagem pelo Norte, o Aprendiz vive finalmente a adolescência no verão que corresponde, na sequência da jornada, as próximas três Colunas Zodiacais (Câncer, Leão e Virgem).
Assim se completa a alegoria da senda do Aprendiz e a sua passagem pelo topo da Coluna do Norte, local onde se situam as primeiras seis Colunas Zodiacais que marcam, na base da abóbada, as constelações do Zodíaco – alegoricamente a jornada do Aprendiz se inicia no equinócio de primavera e se conclui no solstício de verão (deslocamento do Sol na sua eclíptica visto sob o ponto de vista da meia-esfera Norte do nosso Planeta.
Iniciaticamente cumprida a sua senda, o Aprendiz, no final do verão e término simbólico da adolescência, pode então passar para o outro hemisfério, o Sul, onde agora como Companheiro ele romperá a sua nova jornada pelo Meio-Dia (juventude, ação e trabalho – pragmática desse grau).
Pelo topo da Coluna do Sul o Companheiro segue sua jornada passando o ciclo relacionado à sua juventude e indicado pela constelação de Libra. As etapas seguintes da jornada correspondem à maturidade e se relacionam individualmente ao grau de Mestre. O Sol na sua eclíptica ultrapassa o zênite e prenuncia o fim do outono e o começo do inverno (dias curtos e noites longas – menos Luz) – fecha-se o ciclo natural pela morte da Natureza que estará pronta para reviver na próxima primavera – último ciclo preparado para a Exaltação.
Essa etapa do teatro iniciático que envolve o Companheiro e o Mestre ocorre simbolicamente pelo topo da Coluna do Sul. Sua jornada nessa fase segue indicada pelas outras seis Colunas Zodiacais concernentes às constelações de Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes, respectivamente. Vive-se no topo do Sul o teatro iniciático do grau de Companheiro até o grau de Mestre que por fim será exaltado para ingressar na Câmara do Meio.
Desse modo se conclui a senda iniciática que outrora fora rompida ao Norte durante a primavera. Assim o teatro iniciático do REAA, percorrendo as paredes (topos) Norte e Sul, desde o Aprendiz no Norte representando o nascimento, infância e adolescência, o Companheiro relacionado à juventude e o Metre correspondente à maturidade e a morte. Numa síntese simbólica as etapas da vida correspondem alegoricamente às estações do ano, palco onde a Natureza revive e morre a cada ano.
Embora elementar, obviamente esse é apenas um resumo da escalada iniciática de aperfeiçoamento humano pertinente à doutrina e prática do REAA.
Dentro deste contexto, as Colunas Zodiacais colocadas equidistantes, seis ao Norte e seis ao Sul, nas paredes laterais do Ocidente da Loja no REAA, compreendem à passagem iniciática do maçom no simbolismo. Em resumo, emblematicamente o Iniciado morre para renascer – significa morrer ainda no interior da Terra (Câmara de Reflexão) para, purificado pelos elementos, reviver na Luz, mesmo que ainda seja cálida na primavera.
Início da jornada na primavera em Áries, o lugar do recém-iniciado é junto à parede Norte na confluência com a parede ocidental (próximo ao 1º Vigilante). É a partir daí, rumo à adolescência, que simbolicamente o iniciado, como Aprendiz, paulatinamente, passando pelo topo da Coluna do Norte se aproxima da grade do Oriente – vai de Áries até Virgem (primavera e verão)
Sequencialmente, do mesmo modo, mas agora como Companheiro, ao Meio-Dia ele faz o trajeto pelo topo da Coluna do Sul, desta vez partindo na sua jornada em direção à maturidade, isto é, pelo topo do Sul vai desde a grade do Oriente até o canto com a parede ocidental – numa situação inversa do Aprendiz, vai de Libra até Peixes (outono e inverno)
Assim, a senda iniciática, comparada às etapas da vida humana segue alegoricamente a duração da evolução da Natureza, cuja qual renasce na primavera para fenecer no inverno.
Quanto ao controverso procedimento de colocar o Aprendiz recém-iniciado próximo à grade do Oriente, essa prática não se sustenta sob uma análise mais crítica em sendo no REAA. Foi por essa razão eu procurei extirpá-la do ritual em vigência corrigindo a prática conforme está previsto no Sistema de Orientação Ritualística.
Infelizmente esse equívoco - de se colocar recém-iniciados junto à grade do Oriente no REAA - tem encontrado ainda guarita em vários rituais anacrônicos trazidos por meros copistas que pouco entendem da verdadeira liturgia do Rito. É mesmo inadmissível que um ritual de Aprendiz do REAA ainda mencione posicionar o Aprendiz recém-admitido em um lugar que é de direito de um Aprendiz mais experiente que está prestes a passar para a perpendicular ao nível, isto é, já preparado para a Elevação. O caminho é de Áries para Virgem e não ao contrário. Hipótese contrária a esta no escocesismo é o mesmo que colocar a carroça na frente dos burros.
É verdade, entretanto, que ainda existem aqueles que sem nenhum escrúpulo e critério nomeiam rituais antigos, repletos de enxertos e invenções, como fossem elementos verdadeiros e dignos de credulidade. Essa atitude inconsequente apenas dá amparo àqueles que pouco estudam, mas "imaginam".
Ainda no tocante ao recém-iniciado ser colocado próximo ao Oriente, cabe comentar que esse procedimento até existe, porém como prática de outro rito, nunca como do REAA. Há grande probabilidade que incautos copistas tenham trazido essa prática de outro rito enxertando-a inescrupulosamente no escocesismo. Reitero, recém-iniciado tomando assento próximo à grade do Oriente não é prática verdadeira do REAA.
Por esse mesmo viés, é oportuno comentar que muitos Irmãos ainda não compreendem (alguns não querem entender porque são do contra) que o termo "topo da coluna", do Norte ou do Sul, se refere respectivamente às paredes setentrional e meridional que ficam no Ocidente da Loja. Em síntese é o lugar mais distante, no Norte e no Sul, em relação ao eixo longitudinal do Templo (equador). Em sendo as paredes os topos das Colunas do Norte e do Sul, é nelas que se agrupam, seis de cada lado, as doze Colunas Zodiacais. Por extensão essas Colunas também indicam os lugares a serem ocupados pelos Aprendizes e Companheiros.
Dado ao exposto, é por essa razão que procuramos colocar, através do Sistema de Orientação Ritualística, as coisas nos seus devidos lugares. Assim orientamos que na cerimônia de Iniciação o Aprendiz recém-iniciado, ao ser conduzido ao seu lugar em Loja, seja levado até o topo do Norte (parede norte) no lugar mais próximo ao canto com a parede ocidental (perto do 1º Vigilante), já que as três primeiras Colunas Zodiacais, como mencionado no texto presente, correspondem simbolicamente à primavera no hemisfério Norte, tudo em consonância com a doutrina iniciática do REAA e a real posição dessas Colunas no Templo.
Espero que essa breve explicação possa satisfazer aqueles que "não ficaram satisfeitos" com as orientações autênticas que procuramos levar através do GOB-RITUALÍSTICA. De tudo é preciso que o maçom entenda a razão pela qual a liturgia incide sobre as nossas práticas, demonstrando que nada fora colocado no espaço da Sala da Loja por acaso, não sendo, portanto, elementos passíveis de licenciosas interpretações. É bem verdade também que como investigadores da Ordem Natural, concepções absurdas, como as que às vezes nos deparamos durante a nossa jornada dentro dos canteiros da Ordem, nunca serão bem-vindas.
Concluindo, mais aspectos sobre esse tema também poderão ser encontrados, dentre outros, no volume IV do Caderno de Estudos INBRAPEN, página 77 e seguintes, trabalho de minha autoria intitulado " E o Topo da Coluna do Norte... Conclusões?" – Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 2007; Maçonaria e Astrologia, José Castellani, Editora Landmark, São Paulo, 2002 e ainda no Blog do Pedro Juk em http://pedro-juk.blogspot.com.br


T.F.A.

PEDRO JUK


MAIO/2020

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