quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

ABERTURA DO LIVRO DA LEI NO PRIMEIRO GRAU DO REAA - SALMO OU S. JOÃO?


 

Em 25/06/2020 o Respeitável Irmão Leonardo Abreu Amorim Neves, atual Secretário das Relações Exteriores do Grande Oriente da Bahia, COMAB, Estado da Bahia, apresenta o que segue:

 

ABERTURA DO LIVRO DA LEI

 

Antes de assumir essa função eu estava em um local mais natural e confortável para mim, a Grande Secretaria de Orientação Ritualística. Como fiz um bom trabalho, acaba que me tornei referência para os Irmãos de nossa Obediência e de nosso Oriente sobre essas questões. Atualmente estou trabalhando em um artigo sobre o Evangelho de São João na Abertura do Grau de Aprendiz e me deparei com uma publicação sua em diversos sites. Porém não há referências de pesquisa, sendo esses a que busco diretamente com o Irmão através desta.

Tenho alguns Rituais antigos, mas em nenhum deles é mencionado qual o trecho do Livro da Lei, é usado para a abertura da cerimônia.

Achei em Rituais franceses, portugueses e alemães a abertura feita no Evangelho de João, mas não nos brasileiros.

Será que posso contar com a sua ajuda?

 

CONSIDERAÇÕES.

 

Caro Irmão, em se tratando de rituais brasileiros mais antigos há de fato uma deficiência de indicação pertinente a abertura do Livro e a leitura do evangelho, em João I, 1 – 5 no REAA.

Existem falhas propositais e outras de mero esquecimento. Assim, esse tratad
o deve ser abordado no contexto doutrinário do REAA que prevê, no 1º Grau, a prevalência da Luz sobre as trevas. Reitera-se, é isso que a liturgia do Rito propõe.

Em termos de Brasil, nem todos os rituais trazem essa abertura, contudo também não a excluem, provavelmente pelo seu caráter de obviedade.

Infelizmente vivemos no Brasil uma Maçonaria de origem francesa, peripatética e abusivamente sob o estigma de carimbos e convenções. Assim, criou-se a marca de que se deve fazer o que está escrito, mesmo estando o escrito equivocado ou mesmo omisso. Isso acabou despertando muitas mentes preguiçosas que se valem da comodidade do “aonde está escrito”, ao contrário de proporcionar discussões de entendimento ou aplicação de bom senso sobre o conteúdo ritualístico.

Já sob a óptica da autenticidade e de se saber a razão das coisas é que pesquisadores legítimos têm procurado fontes de água limpa para pesquisas a esse respeito. Ou seja, nos rituais franceses. É bem verdade que na França também apareceu um tal São João da Escócia que, a bem da verdade nem mesmo existe no hagiológio da Igreja.

Autores respeitadíssimos como José Castellani, Francisco de Assis Carvalho, Theobaldo Varolli Filho, dentre outros, sempre fizeram a afirmativa de que a abertura no grau de Aprendiz no REAA é feita em João, I, 1 – 5. A essência socrática do grau prevê ao iniciado primeiro conhecer-se a si mesmo, o que em linhas gerais instiga o autoconhecimento, por conseguinte a procura da Luz (... e as trevas não a compreenderam.).

Nesse sentido, sugiro que o Irmão busque nas obras desses autores, também referências bibliográficas, contudo alerto que nada está pronto. É preciso antes, como já dito, envolver a pesquisa no contexto doutrinário do Rito.

Em termos de rituais escoceses, aqui no Brasil existem alguns que trazem a abertura em João, é o caso de muitos rituais da COMAB, além dos famosos rituais de capa vermelha compostos por Varolli Filho. Numa pesquisa mais abrangente o Irmão encontrará inclusive em rituais antigos do GOB (mesmo que sob o estigma do João da Escócia). Isso não invalida a abertura em João I, 1-5.

Desafortunadamente, muitos rituais brasileiros em vigência trazem o Salmo 133, ou 132 conforme a versão bíblica. Esse é um erro crasso haurido de rituais contraditórios, sobretudo os advindos após a cisão de 1.927 e a fundação das Grandes Lojas Estaduais Brasileiras. Essa anomalia acabou se espalhando, investindo inclusive sobre os rituais escoceses do GOB como se pode ver atualmente.

A leitura do Salmo 133 teve sua origem no Yorkshire, na Inglaterra. Segundo Harry Carr esse costume logo teria sido abandonado.

Não como abertura do Livro da Lei, mas como passagem iniciática, o Salmo 133 é lido durante a iniciação nas Blue Lodges (Maçonaria Norte-Americana). É muito provável que foi daí que Bhéring trouxe esse costume e o incluiu no REAA, sobretudo com a edição de novos rituais para as suas Grandes Lojas que por aqui haviam sido recém-criadas. Em síntese o Salmo não possui nenhum caráter de autenticidade, principalmente se tratando do REAA.

De tudo meu Irmão, concito-o a pesquisar na fonte do REAA que é na França. Certamente assim, com uma grade bem fundamentada de pesquisa, conclusões acertadas haverão de ser tomadas.

Afirmar apenas que um determinado assunto está num ritual, em princípio pode parecer lógico, contudo, é preciso antes perscrutar os “porquês” dos fatos, caso contrário o rumo do estudo poderá estar legado à meras repetições.

 

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hiotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

DEZ/2020

Nenhum comentário:

Postar um comentário