Em 25.06.2020 o Respeitável Irmão Walter Vieira, Loja Torre do Médio Jequitinhonha, 2.326, REAA, GOB-MG, Oriente de Medina, Estado de Minas Gerais, apresenta a questão seguinte:
SÃO JOÃO NA MAÇONARIA.
Sobre "São João" ser considerado o padroeiro/patrono da Maçonaria de uma forma universal. Essa afirmação tem base para ser considerada verdadeira ou é válida somente para alguns ritos? Minha dúvida sempre surgiu em razão dele ser citado somente em alguns ritos mais "teístas" e não em todos os ritos. Aproveitando, há algum documento oficial da fundação da GLUI ou dos primórdios da Maçonaria especulativa que o cita como padroeiro/patrono?
Na mesma linha, "São João" é figura presente em quais ritos praticados pelo GOB, por curiosidade?
CONSIDERAÇÕES.
Ambos, João, o
Batista, como João, o Evangelista, são personagens comemorados na Maçonaria em
geral. Muitos acontecimentos históricos a ela pertinentes possuem relação com
as datas comemorativas desses dois santos padroeiros – posse de Grão-Mestres,
Lojas de Mesa, datas de fundação, etc.
Isso porque a Moderna
Maçonaria, especulativa por excelência, é oriunda da Franco-Maçonaria - organização
de pedreiros profissionais que floresceu na Idade Média.
No período do ofício,
essas associações de canteiros profissionais floresceram e cresceram à sombra
da Igreja, portanto não é de se estranhar a sua influência sobre essas corporações
de artesãos da pedra calcária (vide a sua história).
Historicamente, os personagens
“Joões” apareceriam atrelados às datas solsticiais do verão e do inverno após a
adesão do Imperador Constantino ao Cristianismo a partir do ano 313 d.C.[i] e a sua consolidação no
ano 380 d.C. pelo Imperador Teodósio I.[ii] Com o advento do Cristianismo
no Império Romano a Igreja teve que adequar seus santos religiosos às
comemorações pagãs dos romanos.
Assim, correlatos aos
solstícios de verão e de inverno no hemisfério Norte, o Batista e o Evangelista
se firmariam como padroeiros da Maçonaria, já que ambos os solstícios eram datas
importantes para os ciclos de trabalho nas construções da época – atividade total
na primavera, verão e outono e o descanso nas agruras do inverno setentrional.
Foi por esse feitio que
João, o Batista e João, o Evangelista assumiram o patronato amplo e geral da
Maçonaria.
Com a posterior profusão de vários ritos pelo advento da Maçonaria dos Aceitos, alguns ritos até mencionam outros personagens icônicos, contudo, o Batista
e o Evangelista, sempre estarão presentes nas datas solsticiais em todos os ritos maçônicos.
Reitero, os personagens
João, o Batista e o Evangelista são oriundos de um período muito antigo e
trazem resquícios dos nossos ancestrais que se firmaram na história como
origens de muitas práticas maçônicas. Foi com relação a esses personagens que as
Lojas ficariam conhecidas como “as Lojas de São João”.
Outros comentários a
respeito podem ser encontrados no Blog do Pedro Juk em http://pedro-juk.blogspot.com.br
Dando por concluído,
devo salientar que existem aspectos que são espontâneos e imemoriais, sobretudo
quando se trata de Maçonaria onde tradicionalmente nem tudo se escrevia, mas se
transmitia oralmente. Assim “documento oficial” relacionado ao padroado dos Joões
não é comum numa instituição que mantém universalmente as suas tradições usos e
costumes. Enfim, nem tudo precisa estar escrito, já que muitas vezes aparências
se consagram pela sua obviedade.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
JAN/2020
[i] Constantino teve um
papel fundamental em prol do Cristianismo quando, com Licínio, assinou em 313
d.C. o Édito de Milão, decretando o fim da perseguição religiosa e garantindo
oficialmente a legitimidade não só do Cristianismo, mas também de todas as
outras religiões – in Constantino e o Cristianismo.
[ii] O Cristianismo só passou a ser a religião oficial do Império Romano em
380 d.C., através do Édito de Tessalônica, por ordem do imperador Teodósio I – in
Constantino e o Cristianismo.
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