Em 24/08/2020 o Respeitável Irmão João Estevam, Loja União e Trabalho IV, REAA, GOB-RN, Oriente de Santa Cruz, Estado do Rio Grande do Norte, apresenta as questões seguintes que foram formuladas por um Irmão Aprendiz Maçom da sua Loja
QUESTÕES RELATIVAS AO REAA APRESENTADAS POR OCASIÃO DA PALESTRA ONLINE REALIZADA EM 21/08/2020
1.
O Regimento irlandês Walsh, jacobita, de acordo com bibliografia utilizada por
José Castellani, foi a primeira Loja escocesista fundada em território francês
em 1689 sob a égide de Jaime II em Saint Germain de Laye. O escocesismo não
seria um exercício maçônico relacionado a dinastia Stuart desde os tempos de
trono em território anglo-saxônico? Ou seria uma inovação apenas durante o
período do exílio? 
2.
Qual recorte histórico podemos fazer para delimitar um marco natalício para o
Rito Escocês antes da adoção do Rito de Heredom ou de se tornar Rito Escocês Antigo
e Aceito? 
3.
Qual a influência de Albert Pike na formatação ritualística e doutrina do Rito
Escocês antigo e Aceito e em que ele contribuiu para os usos e costumes do
Rito? 
4. O Irmão Francisco Carvalho, de alcunha Xico Trolha, utiliza o termo Maçonaria Primitiva para assinalar o período pré-Maçonaria especulativa e obediencial. O uso e costume da Maçonaria Primitiva foi de arcabouço doutrinário cristão. Com a Maçonaria Especulativa e Obediencial, o cristianismo foi substituído em boa medida pelo hermetismo e pelo judaísmo, inclusive com o ressignificado de símbolos tal qual a Estrela Flamígera, antes sinal para os
Reis Magos e agora símbolo pitagórico. A transformação da Maçonaria a partir de uma estrutura Deísta com novos símbolos ou ressignificação de antigos símbolos é considerado uma evolução ou um enxerto na estrutura ritualística maçônica?
5.
O Irmão Pedro Juk em sua Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom utiliza os
termos “aperfeiçoamento do espírito” e “imortalidade da alma e no aprimoramento
do espírito” no contexto da Iniciação em Maçonaria. Gostaríamos de saber se o
irmão faz distinção entre alma e espírito e se esta distinção é decorrente do
racional teórico e ou da doutrina em simbologia maçônica?
CONSIDERAÇÕES.
- Penso que não, em se tratando da
     questão política inglesa o termo se aplica aos “stuartistas”, terminação
     esse derivado dos Stuarts, família católica da Escócia que várias vezes
     teve um seu representante no trono da Inglaterra. Com o exílio, após a
     decapitação do rei Carlos I durante a revolução puritana de Cromwell em
     1649 e o consequente exílio de sua esposa, Henriqueta de França, essa
     relação stuartista e escocesismo ficou bastante natural. No que diz
     respeito ao embrião do REAA, sua relação territorial com a Escócia nada
     tem a ver. Como rito maçônico o escocesismo é puramente francês e, em
     termos de nomenclatura (escocês) existe uma provável relação com um grau diferenciado
     que pretendia ser o abrigo da cúpula da Maçonaria na França. Esse
     pretencioso grau era denominado Mestre Escocês. 
 - Não com o nome de Rito Escocês, mas é
     bastante viável se admitir que esse movimento começou a partir do momento em
     que Henriqueta de França, viúva de Carlos I chegou em exílio no castelo de
     Saint Germain. Segundo José Castellani, com ela vieram muitos membros da
     nobreza inglesa e escocesa com o fito de preparar uma reação contra Cromwell
     e a retomada do trono. De acordo com o autêntico Paul Naudon, em 1661,
     pouco antes de alçar ao trono inglês, Carlos II criou em Saint Germain um
     regimento que ficaria conhecido como Guardas Irlandeses. Historiadores
     como Alec Mellor e Gustav Bord defendem que esse regimento possuía uma
     Loja Maçônica formada por imigrantes escoceses e irlandeses. Assim, é muito
     provável que esteja nesse contexto a pedra angular desse sistema denominado
     escocesismo que nasceu na França sob a marca de “stuartista” e caracterizado
     por “altos graus”.
 - Eu diria que em se tratando de
     simbolismo, numa pequena parte apenas, até porque o simbolismo do REAA se
     firmaria realmente na França e não nos EE. UU. da América do Norte. Isso
     se justifica porque o primeiro ritual para o simbolismo do Rito em questão
     somente apareceria em 1804 em solo francês quando então fora criada a Loja
     Geral Escocesa para tratar desse ritual e se resguardar da influência do
     Rito Frances. Esse primeiro ritual teve por base a exposure relacionada
     à Grande Loja inglesa de 1751 constituída por irlandeses que se autodenominavam
     por “Antigos”. Posteriormente com o advento das Lojas Capitulares instituídas
     pelo Grande Oriente da França esse primeiro ritual sofre o seu primeiro
     golpe para se adequar à tutela dos costumes franceses de Maçonaria. Essa e
     uma história complexa que se passa na França e é base para o desenvolvimento
     do simbolismo do REAA. Com base nisso, eu particularmente não vejo, em
     termos de originalidade, que influência profunda teria Albert Pike nesses
     acontecimentos.
 - Em se tratando de períodos pertinentes
     aos aproximados oitocentos anos de história da Ordem, a Maçonaria primitiva
     (a partir do século XII), é sinônimo da operativa, ou de ofício. O período
     operativo, ou primitivo, trata de uma época ancestral em que os maçons
     eram literalmente pedreiros, portanto homens que exerciam o ofício da
     cantaria e da elevação de edificações tais como igrejas, catedrais,
     abadias, obras públicas, etc. A história autêntica menciona essas corporações
     operativas medievais que serviam à Igreja Estado daquela época. Sob esse
     viés os pedreiros-livres eram então protegidos pelo clero. Não há dúvida
     que essa relação atingia o ofício e os pedreiros, pois estes se baseavam
     nas Old Charges, ou Antigas Obrigações, cujas quais eram manuscritos
     elaborados por clérigos e, por conseguinte, davam um forte cunho religioso
     cristão ao trabalho. Com o declínio dessas corporações, sobretudo pela
     perda de prestígio do estilo gótico causado pelo advento do Renascimento,
     as Lojas, num instinto de sobrevivência, começaram a admitir elementos não
     profissionais, isto é, estranhos à arte profissional de construir. O marco
     da aceitação se dá no ano de 1600 quando em outubro desse ano fora aceito
     na Loja Capela de Maria, em Edimburgo na Escócia, como maçom especulativo,
     o latifundiário de nome John Boswell, o Lorde de Auschinleck. Geralmente esses
     maçons admitidos eram homens abastados e influentes e assim poderiam
     proteger e garantir a sobrevivência das Lojas (corporações). Esse acontecimento
     acabou marcando uma transição no Ofício, já que maçons não operativos,
     porém especulativos, ou aceitos, iam aos poucos ocupando o lugar dos profissionais
     da arte do pedreiro nas Lojas de então. Com os Aceitos ingressando na Sublime
     Instituição, nada mais natural que formas especulativas de trabalho viessem
     também aparecer, dando assim suporte ao nascimento do que hoje conhecemos
     por ritos maçônicos. Com isso ingressavam nas Lojas concepções e características
     próprias trazidas pelos “aceitos”. Desse modo, as corporações de ofício primitivas
     passavam a ter outra característica, a de uma construtora social. Na
     verdade a Maçonaria Especulativa, ou dos Aceitos, acabaria com isso ganhando
     um rico cabedal de cultura devido aos diferentes costumes que se miscigenavam
     no seio das Lojas. É bom que se diga que apesar dessa transição, a Maçonaria
     Especulativa não esqueceu os seus tempos operativos. A prova disso é o seu
     arcabouço doutrinário que fora montado sobre muitos costumes antigos e também
     sobre o instrumental operativo das ferramentas que passaram a possuir elevado
     significado de moral e ética. A Maçonaria Especulativa ainda obteria um
     sentido organizacional mais aprimorado desde a fundação da Premier
     Grand Lodge em Londres no ano de 1717 o que inauguraria o sistema obediencial
     e o aparecimento da figura do Grão-Mestre. Esse marco é conhecido como o
     início da Moderna Maçonaria. No que diz respeito ao Deísmo e o Teísmo, a
     partir do século XVIII duas vertentes principais da Moderna Maçonaria se colocariam
     em evidência como deístas e teístas, o que na verdade incidiria sobre os seus
     formatos doutrinários, embora baseados quase sembre sobre os mesmos
     símbolos e emblemas. Destaca-se como teísta a Maçonaria anglo-saxônica (inglesa)
     e, deísta, a Maçonaria latina (francesa). Ainda dentro dessa concepção
     existem ritos maçônicos que, independente da sua vertente, podem ser ao
     mesmo tempo deístas e teístas, como é o caso do REAA e agnósticos, como é
     o caso do Rito Francês ou Moderno. Desse modo, os símbolos que acabariam
     por constituir a Maçonaria Simbólica, se comparados com os tempos
     primitivos, sob nenhuma hipótese podem ser considerados como “enxertos”,
     mas sim como um relicário cultural que deu suporte aos ritos e trabalhos
     maçônicos (cada qual com a sua conjuntura doutrinária). Enxertos até
     acontecem, mas geralmente quando inadvertidamente alguns pseudos
     ritualistas deturpam os ritos incluindo neles símbolos e alegorias que não
     pertencem à sua natureza cultural. Isso quer dizer, os que misturam símbolos
     e alegorias, naturais de um sistema (ritual), em outro alterando o seu
     ideário iniciático.
 - Conceitos de alma e espírito
     trazem, não raras vezes, percepções filosófico religiosas, mas não num
     sentido amplo de uma doutrina religiosa. O conceito de alma do autor, que
     por acaso sou eu, é o de início ou o princípio da vida e o do espírito é o
     desenvolvimento dessa parte imaterial, cujo corpo é o seu habitat.
     Como essas são as minhas convicções pressuponho que ambos convivam com a
     matéria corpórea enquanto ela viver. Na transição, ou na “grande viagem”,
     que então o pó volte a terra era e o espírito retorne Àquele que o deu.
     Evidentemente que nesse particular cada maçom é livre para ter as suas convicções.
     Eu pelo menos, não de modo laudatório, tentei colocar meus sentimentos no
     livro mencionado. Sob hipótese alguma quis eu impor qualquer doutrina
     religiosa, contudo, me é de direito alertar para as possibilidades
     relacionadas aos símbolos. Assim, de modo superficial é esse o meu
     pensamento entre alma e espírito, não decorrente de nenhum racional
     teórico e muito menos de uma doutrina específica, mas eu diria, da minha
     vivência com as coisas da nossa veneranda Instituição.
 
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
ABRIL/2021

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