Em 17.05.2021 recebi do Respeitável Irmão Gustavo Patuto algumas questões relativas à palestra on-line que proferi no dia 16 do corrente sobre os Ritos e Rituais Maçônicos praticados do Brasil, para o Grupo Lives Maçônicas.
QUESTÕES.
Perguntas e comentários:
- O Irmão
citou “rito regular”, o que de fato e de direito é um rito regular?
Pedro Juk – No meu entender é um rito
adotado regularmente por uma Obediência Maçônica devidamente reconhecida. Em
síntese, é um rito praticado por uma Obediência devidamente reconhecida por
outra Obediência regular.
- Enéias
A. R. Ferreira – Pergunta: Caro Irmão Pedro. Como sempre, excelente
palestra. Agradeço o conhecimento divulgado. Aproveito e gostaria de
saber, se possível, por
que as falas do Venerável Mestre são repetidas pelos Vigilantes no REAA e não no York? Seria para que todo canteiro de obras fosse notificado?
Pedro Juk – Tem sido a forma
consagrada com que alguns ritos perpetuam a dialética utilizada na liturgia
maçônica. Obviamente que no contexto ritualístico há um elevado significado
simbólico de conformidade com o arcabouço doutrinário do rito. De certa forma
essa dialética de perguntas e respostas possui um caráter de universalidade,
sobretudo pelo que isso significa no espaço especulativo de trabalho haurido
dos antigos canteiros de obra da Idade Média onde atuavam os maçons operativos.
Sob o aspecto esotérico a dialética alude
a amplitude do alcance dos trabalhos maçônicos pelos quatro cantos do Orbe. Em
síntese essa dialética simula a universalidade da Maçonaria. A sua liturgia
segue as tradições dos Ritos. Isso faz com que algumas formas acentuem momentos
e práticas às vezes diferenciadas.
- Edinildo
Souza Dos Santos - Pergunta: Em um artigo da Masonic Roundtable,
fala que o incenso sempre esteve presente na maçonaria antiga, pois a maçonaria
parte de sua construção a forma do parlamento inglês e sua estrutura ritualística
veio do cristianismo (católico e anglicano) mais foi retirado em 1813. Em
sua pesquisa você encontrou algo parecido? P. S: Senti falta do Rito de
São João!
Pedro Juk - Não há como generalizar
as formas de trabalhos maçônicas haurida dos ritos. Na Maçonaria primitiva não existiam
ritos e nem templos. De fato, o que existiam eram oficinas de trabalho. A
alegoria do Templo de Jerusalém tem por objetivo construir o elemento doutrinário
da Ordem e não propriamente como um modelo palpável de templo maçônico.
Com todo o respeito ao artigo mencionado,
incensar os recintos de trabalho não é nada original na Moderna Maçonaria,
sobretudo porque nos trabalhos maçônicos tomam parte Irmãos de diversas religiões.
Para se evitar qualquer conceito antagônico, as crenças e os credos devem ficar
do lado de fora dos nossos umbrais. É certo que na transição operativa para especulativa
a Maçonaria se utilizava das tabernas, estalagens e cervejarias, principalmente
na Inglaterra. Também é certo que nesse período muitas ideias foram trazidas
pelos elementos “aceitos”. Apesar disso, não existe nenhuma constatação de que
nesses espaços eram usadas práticas de incensação do recinto. O primeiro templo
é de 1766 na Inglaterra e teve por base a orientação construtiva das igrejas (nada
a estranhar pelas nossas origens e a proteção eclesiástica) e do parlamento
britânico (modo especulativo). Nada disso, contudo, sugere práticas de crenças
e credos religiosos como condição de doutrina maçônica.
A respeito do Rito de São João, só
posso deixar uma grande interrogação a respeito. Embora as minhas andanças
pelas prateleiras e arquivos empoeirados da Maçonaria desde há muito, não
conheço a história desse rito. Os Joões, solstícios e os cultos solares da Antiguidade
são meus velhos companheiros de pesquisa, entretanto não como rito de São João,
se não como as Lojas de São João.
Destaco que não estou contestando a
existência do Rito de São João, mas estou afirmando que para mim é um ilustre
desconhecido.
- Luiz
V. Cichoski - parabéns ao Ir. Pedro Juk, luminar no conhecimento maçônico
em geral; obrigado aos irmãos pelo convite; Perguntaria ao irmão Pedro seu
entendimento sobre o movimento que se percebe em muitas Potências na busca
pela originalidade dos graus praticados no Brasil, como o REAA, Moderno entre
outros.
Pedro Juk – Acho extremamente
saudável. Como maçons, somos investigadores da Verdade. Já está mais do que na
hora de extirparmos as invencionices e achismos que proliferam a nossa
Maçonaria. Autenticidade elimina fantasias. Buscar a originalidade de cada rito
é no mínimo contribuir para uma formação maçônica salutar e longe das fantasias.
- Rubens
Caldeira:
a)
Os ingleses atualmente não aceitam
mais dizermos que o Arco Real é uma certa continuação do grau de Mestre, embora
eu acho que faça sentido. O GOB também entende que é uma “extensão do
Mestrado”, como a “completar” o grau de Mestre, ou um grau 3?
Pedro Juk – Essa é uma longa história
e conservou-se desde a União de 1813 por conta dos Irlandeses. A bem da verdade
essa foi quase que uma condição dos Antigos para a constituição da Grande Loja
Unida. Como pesquisador e historiador da banda autêntica da Ordem, tenho a
dizer que originalmente o Grau de Mestre da Moderna Maçonaria somente apareceu
em 1725 na Inglaterra. O primeiro Grão-Mestre da Moderna Maçonaria era um Companheiro
Maçom, destacando que a Maçonaria primitiva possuía apenas e tão somente duas
classes de operários – Aprendizes Admitidos e Companheiros do Ofício. A Lenda
do Terceiro Grau apenas aparece na exposure de 1730 de Prichard no seu Masonry
Dissected.
Assim entendo que o Franco-Maçônico
básico da Moderna Maçonaria é composto por três graus, Aprendiz, Companheiro e
Mestre. Qualquer grau acima desse é particularidade de Rito ou Trabalho. Em
síntese, o simbolismo possuí três graus. Acima disso são graus de aperfeiçoamento
e nada tem a ver com o simbolismo. A plenitude maçônica é alcançada quando o
maçom atinge o grau de Mestre Maçom, só isso. Cada rito maçônico explica a
Lenda do Terceiro Grau conforme o seu método doutrinário, portanto, qualquer
extensão do mestrado é aperfeiçoamento e não uma regra para se atingir
plenitude.
O GOB é uma Obediência Simbólica que
atende a plenitude maçônica quando o maçom alcança o Grau de Mestre Maçom. Não
existe nenhuma condição para se completar o 3º Grau. Nesse sentido, o Arco Real
é um grau lateral, ou de aperfeiçoamento que não condiciona a plenitude do
Mestrado. O GOB admite Arco Real e até incentiva a sua prática para dar mais
conhecimento aos seus obreiros, mas o simbolismo continua com os três primeiros
graus básicos.
b)
Você disse que as Lojas Capitulares
deixaram de existir em 1927 com a saída de Behring, porém existem circulares do
GOB tratando delas até 1960 e vestígios até 1977. Até quando foi mantida essa
característica mista (graus simbólicos e altos graus) no GOB?
Pedro Juk – Existir vestígio não confirma
regularidade. Não há registros oficiais. Circulares que mencionam Lojas Capitulares
na época estão mais ligadas ao título distintivo da Loja do que a sua existência
capitular. O GOB desde 1951 deixou de ser Obediência Mista (simbolismo e altos
graus) e adotou apenas os três graus simbólicos. Bem antes desse período o
sistema Capitular tinha deixando de existir (inclusive na França). Vestígios
desse sistema nas datas mencionadas não condizem com afirmativa história. Reitero,
há muita diferença entre títulos distintivos de documentos, cabeçalhos e nome
capitular de lojas da prática administrativa e iniciática onde o Athersata, no
santuário Rosa-Cruz (Oriente elevado e dividido) era o Venerável da Loja. É
certo sim que muitas dessas irregularidades resistiram pontualmente, mas
merecem uma análise mais acurada antes de darmos com vestígio de Loja
Capitular.
A partir de 1927, com o advento das
Grandes Lojas Estaduais Brasileiras, outros rituais do REAA para o simbolismo
apareceriam, tanto para as Grandes Lojas quanto para o GOB. Nenhum desses
rituais doravante mencionam formato capitular de trabalho único ao simbolismo.
Insisto que ainda encontramos muitas Lojas que conservam no seu título distintivo
o nome capitular, porém elas não trabalham mais no sistema capitular de
outrora. Isto é, a Loja conserva o nome, mas nada tem a ver com o 18º Grau
Capitular.
c)
Pelo que entendi da sua apresentação
você fala que o Rito de York do sistema inglês tem influência dos antigos de
York… Porém entendo que isso foi somente uma imposição da União de 1813. Os
antigos seguiam as práticas irlandesas e de York, principalmente se mantendo no
ritual de Bristol, e sendo congelada nos EUA com a independência.
Pedro Juk – Há um equívoco no seu entendimento
sobre o que eu disse. Comentei sim que os Irlandeses, através de Laurence Dermott,
usavam a reunião lendária de York datada de 1926 para assegurar e dar uma
sustentação “antiga”. Obviamente que depois das escaramuças entre os Antigos e
os Modernos e a união de 1813, o ideário dos “Antigos” prevaleceu em muito nas
demonstrações de uma nova forma de trabalho. A cerimônia de Instalação, a
adoção dos Diáconos, por exemplo, é obra dos Irlandeses que permaneceu integrada
à Maçonaria Inglesa depois do Ato de União de novembro de 1813 – entenda que
essa é uma análise muito superficial, pois cabe ainda, nesse contexto, considerações
sobre a Maçonaria na Escócia.
No tocante ao princípio da Maçonaria
Norte-Americana, esta se serviu da forma antiga, principalmente e depois da
organização de Thomas Smith Webb – vide Ducan’s Ritual. Os Norte-Americanos,
visando a sua independência por certo não iriam aderir a formas maçônicas de
trabalho que estivessem ligadas à Grande Loja dos Modernos, principalmente porque
esses últimos se colocavam próximos à Coroa Britânica.
d)
Essa mescla esotérica enfatizada no
Adonhiramita você entende que foi por influência da Teosofia?
Pedro Juk – É possível existir essa
probabilidade se levarmos em conta que o conteúdo religioso e filosófico
Adonhiramita está ligado, ou simulado a uma visão mística do Criador e das Leis
do Universo. Destaco, contudo, que é preciso antes perscrutar o primeira
Compilação Preciosa do Maçonaria Adonhiramita, a original impressa no século XIX
na Filadélfia que é considerada como uma espécie de bíblia da Maçonaria Adonhiramita.
Isso antes dessa compilação ter sofrido inúmeras deturpações para não fugir à
regra latina de intervir na originalidade.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
OUT/2021
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