quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

USO DO CHAPÉU COMO INDUMENTÁRIA MAÇÔNICA

Em 24/08/2021 o Respeitável Irmão José Antonio Silva dos Santos, Loja Guaicurus, 4.317, REAA, GOB-MS, Oriente de Campo Grande, Estado do Mato Grosso do Sul, solicita o que segue:

 

CHAPÉU DO MESTRE

 

Prezado Irmão Pedro Juk, por favor me disserte sobre o uso do chapéu no grau de Mestre REAA.

 

COMENTÁRIOS.

 

Comento sobre o uso do chapéu na Moderna Maçonaria:

Em primeira instância esse comentário aborda superficialmente, sob o ponto de vista místico, a influência hebraica em alguns ritos maçônicos, em especial aspectos que se adequam ao Rito Escocês Antigo e Aceito.

Sob a óptica do misticismo, assim como no judaísmo a cobertura da cabeça retrata o conceito de que acima da mente falível do homem existe “Deus”, o Arquiteto Criador. É um emblema transcendental da onisciência, da onividência e da onipresença da Divindade.

De certo modo essa alegoria evidencia a caracterização da pequenez da progênie
humana perante o “Criador”, ou seja, a incapacidade do homem em entender a divindade.

De maneira agnóstica isso resume, em última análise, a prova de subordinação do homem a “Deus”. Nos rígidos conceitos do judaísmo, por exemplo, a cobertura da cabeça deve se fazer presente desde o “brit-milá” (circuncisão no oitavo dia de vida e simboliza a aliança abraâmica com “Deus”).

Na prática judaica de cobrir a cabeça é comum o uso em todas as cerimônias litúrgicas do “kipá”, que é o solidéu (do latim soli Deo – só a Deus).

Em relação à Moderna Maçonaria, alguns dos seus ritos têm o hábito tradicional de cobrir a cabeça, ou com um chapéu negro e desabado, ou com uma cartola ou mesmo com uma cobertura de formato tricórnio.

Essas concepções foram até aqui abordadas porque é inegável a influência do misticismo hebraico em boa parte da Moderna Maçonaria.

No caso do REAA, originalmente nas sessões de Aprendiz e Companheiro apenas o Venerável Mestre se cobre, enquanto que no grau de Mestre, todos se apresentam cobertos.

A despeito dos conceitos transcendentais aqui já comentados, sob o aspecto figurado o uso do chapéu na Maçonaria é também haurido das cortes europeias, principalmente do Século XVIII na França, quando era costume o rei em cerimonial e na presença de seus inferiores hierárquicos, cobria a sua cabeça como penhor da sua superioridade (sugere o Venerável em sessões do Primeiro e Segundo Graus). Já em reunião com seus pares, mesma hierarquia, todos tinham a cabeça coberta (como em Câmara do Meio onde só ingressam Mestres).

Em linhas gerais, no REAA essa prática destaca que em Lojas do primeiro e segundo grau o uso do chapéu fica restrito ao Venerável como fiança de sua superioridade e de autoridade na Loja. Já em Câmara do Meio a prática de todos se apresentarem cobertos implica num penhor de igualdade entre os Mestres, assim todos se apresentam com as suas cabeças cobertas.

De modo prático, infelizmente na atualidade o uso do chapéu negro e desabado em Loja tem se resumido em apenas um vestígio de caráter um tanto quanto antiquado, já que muitos rituais nem mesmo preconizam mais o seu uso (provavelmente por ignorância de alguns ritualistas).

Felizmente no GOB, o SOR – Sistema de Orientação Ritualística para o Grau de Mestre do REAA, buscando manter viva essa tradição, torna obrigatório o uso do chapéu nas sessões magnas de Exaltação e recomenda o seu uso para o Venerável Mestre também nas sessões ordinárias (econômicas) de qualquer grau simbólico.

A título de esclarecimento, nas Lojas Azuis do Craft norte-americano (Rito Americano ou de York) o Venerável permanece usando um chapéu alto e de abas curtas (cartola). Nas Lojas alemãs é também frequente o uso da cartola, enquanto que nos trabalhos da
Maçonaria inglesa o uso do chapéu é praticamente ignorado. No Rito Escocês Antigo e Aceito (rito de origem francesa) geralmente o chapéu desabado tem sido usado apenas no terceiro Grau. No rito Adonhiramita todos usam o chapéu negro e desabado, independente do Grau simbólico, pelo menos é o que prevê a tradição nesse Rito.

Quanto ao formato do chapéu ser desabado, ele é relativo à moda de tendências regionais hauridas principalmente da Maçonaria praticada na França no século XIX. O formado desabado em muitas circunstâncias servia também para proteger a identidade do usuário – a aba caída dificultava a identificação de quem o usava, principalmente à noite quando os maços se dirigia às reuniões nas velhas tabernas.

Obviamente que todo esse entendimento apenas faz sentido na Moderna Maçonaria, pois no seu período operativo não há qualquer referência de uso de cobertura da cabeça.

São esses os comentários.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

 

MAIO/2015

 

 

 

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