quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

VISITANTE DE OUTRO RITO E A PRÁTICA RITUALÍSTICA

 

Em 23.06.2022 o Respeitável Irmão que se identifica apenas como Samuel, Loja Tabernáculo, 3418, REAA, GOB-SP, sem mencionar o Oriente, Estado de São Paulo, apresenta a dúvida seguinte:

 

VISITANTE DE OUTRO RITO

 

Uma dúvida sobre visitantes: Um irmão que vem de outro rito, por exemplo, minha loja é REAA e o visitante é do Adonhiramita, ele não saberá como é o giro em loja, palavras sagradas e de passe do meu rito por ter diferenças. Em vista que o art. 217 do RGF diz que o visitante está sujeito a disciplina interna da loja, isso inclui em como ele faz o giro, a saudação, aclamação e essas coisas ritualísticos? Ou somente a formalidade do momento que ingressar ao Templo?

 

CONSIDERAÇÕES.

 

Antes de tudo entendo que essa é uma situação que deve ser avaliada com muito critério e bom senso.

Um Mestre Maçom, principalmente, precisa compreender que a Maçonaria, embora de objetivo único, é composta por ritos e trabalhos que não raras vezes carregam suas próprias características litúrgicas e ritualísticas. Geralmente estas hauridas da sua história e da sua cultura.

Nesse sentido pode-se dizer que o traje e a ritualística de cada rito são duas das mais visíveis e latentes figuras para serem analisadas nesse contexto.

Por exemplo, no que diz respeito ao traje, quem for visitar uma Loja deve antes procurar saber qual é o rito que a anfitriã pratica e, o mais importante, saber se esse rito admite, no caso, o uso do balandrau nas suas sessões.

                 Não sendo possível saber com antecedência, o recomendável é que o visitante se apresente vestido com terno preto, já que praticamente convencionou-se essa vestimenta na grande maioria dos ritos maçônicos, principalmente aqui na nossa Maçonaria (tupiniquim) onde o terno é oriundo do emblemático “traje de missa”.

Além do terno preto (parelho), complementa-o sapatos e meias pretas, camisa branca, podendo a gravata ser na cor e no formato do seu rito (não precisa trocar). Do mesmo modo o visitante usa o avental do seu rito.

Voltando ao uso do balandrau, caso o rito da Loja visitada admita-o, ele deve ser usado na forma adequada, isto é, negro e talar (comprimento até os tornozelos); sem nenhum elemento simbólico nele gravado, bordado ou pintado; ter manga comprida e estar fechado no colarinho. Em conjunto com o balandrau negro, a calça deve ser preta, bem como vestir sapatos e meias pretas. Não e apropriado o maçom se apresentar aos trabalhos de uma Loja calçando tênis, ou outros calçados desse gênero.

No quesito traje aqui comentado, penso que no GOB essas providências já bastam para atender o Artigo 217 do RGF.

Já com relação ao rito praticado pelo visitante e o da loja visitada, em sendo eles diferentes um do outro, o que não pode acontecer são interferências por conta de diferenças litúrgicas entre ambos os ritos. Isto é, o visitante sob nenhuma circunstância pode impor práticas ritualísticas do seu rito no da Loja que ele está visitando. Quanto mais neutralidade, melhor.

No geral isso quer dizer que independente de quem seja o visitante, o ritual a ser seguido é o da loja visitada, portanto sem interferências na sua ordem dos trabalhos – afinal, na casa dos outros nos sujeitamos aos costumes de quem nos recebe.

Em todo esse contexto (de ritos diferentes), o mais recomendado é que o visitante somente assista os trabalhos, reservando-se apenas a usar da palavra no momento em que a mesma lhe for concedida.

Embora se saiba que infelizmente essa é uma prática usual das Lojas, nessas circunstâncias também a Loja anfitriã não deveria oferecer cargo ao visitante.

Contudo, longe dos excessos de preciosismo é o bom senso que deve sempre imperar, destacando-se que muitas possibilidades nessas circunstâncias podem se apresentar.

Entendo que quando a legislação previr que um visitante deva se sujeitar à disciplina da Loja que o recebe, ela se reporta principalmente à observação do ordenamento litúrgico dos trabalhos. Trocando em miúdos é simplesmente respeitar os trabalhos ritualísticos da Loja anfitriã.

Por outro lado, recomenda-se que a Loja anfitriã também tenha tolerância para com o visitante em certos aspectos que são próprios do seu viés iniciático. Um exemplo disso é a composição do sinal do grau que, embora até possam existir pequenas diferenças na sua composição e no seu gestual entre os ritos, certamente que em nada elas alteram o andamento litúrgico dos trabalhos então realizados naquele instante.

Para o bem da harmonia nos trabalhos é preciso que isso seja considerado – Em síntese, é mais uma vez o uso do bom senso nas situações que possam porventura advir.

Em contra partida, é dever do visitante comparecer com antecedência, de modo que ele possa se apresentar e ser reconhecido na forma de costume. Quem sabe até mesmo aprender particularidades ritualísticas do outro rito, se for o caso, para utilizá-las durante os trabalhos.

Diante disso é que atitudes eivadas de bom senso podem perfeitamente se adequar sem ferir o diploma legal e nem os trabalhos da Loja.

Antes de encerrar, porém, eu gostaria de comentar uma atitude que não é recomendável aos visitantes porquê de pronto ela fere o andamento ritualístico dos trabalhos da Loja visitada.

Nesse caso, tem-se visto - e até com certa frequência - muitos visitantes de outro rito quando fazem uso da palavra solicitando aos seus acompanhantes que com ele também fiquem em pé.

Ora, salvo nos ritos que adotam esse procedimento, pois isso não é comum na maioria deles, esse costume não pode ser generalizado, sobretudo porquê essa é uma providência que fere a disciplina ritualística da Loja anfitriã. É o mesmo que inserir uma prática que não existe naquele rito.

No REAA, por exemplo, é o Vigilante da coluna que autoriza alguém a falar nessa respectiva coluna, portanto só fica em pé aquele que teve autorização para falar. Não procede, portanto, que seus eventuais acompanhantes também fiquem em pé. Pelo menos no REAA isso não procede. Destaque-se que isso nem mesmo está previsto no seu ritual.

Reitera-se: essa prática cabe apenas em Loja cujo ritual do rito determina esse procedimento, o que não é o caso do REAA.

 

Ao concluir destaco que nas questões pertinentes aos visitantes, graças à pluralidade de ritos maçônicos praticados pelas Obediências, é prudente analisa-las individualmente.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

DEZ/2022

4 comentários:

  1. Sou Mestre Maçom a mais de 15 anos e é uma penúria para ter acesso a rituais de ritos adversos do praticado por mim, penso que para se visitar uma loja de rito diferente o Ir∴ Visit∴ tem de ter uma ideia mínima da funcionalidade deste rito, porém só seria possível se como eu espero que no futuro ocorra, o GOB no App E-GOB Car crie-se uma funcionalidade para E-book ou crie um outro App específico para essa função colocando todo os Rituais em formato ePUB ou outro de livros digital, facilitando acesso aos rituais conforme o Grau do Ir∴ e independente do rito praticado por ele, e também garantido atualização quase que imediata igual ao GOB-LEX pelas Secretárias Gerais, pois desta forma aumentaria a eficiência, diminuindo os custos com gráficas e distribuição, aumentaria a renda cobrando uma taxa irrisória anual para a manutenção do App, acabaria com as cópias indevida e plágio por ordens espúria e o Ir∴ ou Loja que quiser a versão Impressa seria somente por encomenda, para utilização dentro da loja.
    Agradeço ao Eminente Pedro Juk por seu trabalho que é muito importante também por espaço para o comentário e deixo também as minhas escusas.

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    1. Grato pela sua visita. Penso que o futuro nos há de trazer novos progressos. Lembro, contudo, que o Brasil tem dimensões continentais. Sem medo de errar, uma grande parcela de Irmãos não tem acesso à Internet, ou mesmo não dominam nem mesmo o básico dessa tecnologia. T.F.A.

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  2. Ir Pedro Juk, bom dia.
    Assunto muito palpitante este, mas gostaria de lhe perguntar algo, que talvez possa colaborar: nesta situação em particular, em que o obreiro do REAA vista uma Loja do Rito Adonhiramita, caso ele seja convidado, por exemplo, a apresentar um trabalho entre CCol. - à frente da porta de entrada do Templo, -ao deslocar acompanhando o Mestre de CCer ele vai circular sem o sinal composto (à ordem) como REAA ou com o sinal composto, conforme a Ritualística da Loja em que visita?
    TFA

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    1. Meu estimado Irmão Robson, são situações e situações que podem advir nessas circunstâncias. No caso da sua pergunta, eu entendo que a Loja está trabalhando sob a liturgia do REAA. Assim, no REAA, salvo a Marcha do Grau, não se admite andar com o Sinal de Ordem. Portanto, o visitante deve se adequar às praticas em que a Loja estiver trabalhando. Troncando em miúdos, não anda com o sinal. É fácil se evitar isso. Basta que o visitante faça a apresentação do seu lugar. Não existe obrigatoriedade nenhuma de se ficar entre Colunas para apresentar uma Peça de Arquitetura. Obrigado pela sua sempre benvinda visita.

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