Em 06.12.2022 o Respeitável Irmão Wagner Coswig. Loja Acácia, 3978, REAA, GOB-SC, Oriente de Camboriú, Estado de Santa Cataria, apresenta a seguinte questão:
LOJA DE MESA OU BANQUETE RITUALÍSTICO
Estou fazendo uma pesquisa acerca do jantar
ritualístico o qual nossa loja realizará em nossa próxima sessão dia 07/12, e como
alguns Irmãos têm dúvidas sobre sua origem e significado resolvi fazer um breve
estudo sobre o assunto. Porém estou achando dificuldades pois fala-se em
banquete em loja, banquete ritualístico, algumas literaturas confundem com o
Ágape tradicional ao final das sessões. Se o Irmão puder me esclarecer estas
dúvidas sobre o banquete ritualístico, suas origens, significado, o porquê ser
realizado nos solstícios, ficarei imensamente agradecido novamente.
CONSIDERAÇÕES
No caso, o título apropriado de uma reunião ritualística
de comensais em torno de uma mesa, cujo desenvolvimento se dá obedecendo a um
ordenamento litúrgico exarado por um ritual maçônico denomina-se Loja de
Mesa.
Esse título se justifica porque na ocasião é de fato
aberta ritualisticamente uma Loja seguindo o ritual vigente de uma Obediência.
Não se pode confundir ágapes fraternais (jantares), conhecidos em alguns casos como “copos d’água”, e que geralmente ocorrem após o final dos trabalhos em recintos apropriados, com uma Loja de Mesa que obedece a liturgia de um determinado rito.
Esses jantares, que costumeiramente ocorrem após a
sessão com brindes aleatórios, nada tem a ver especificamente com uma Loja de
Mesa. Longe de ser uma Loja de Mesa, a tradição de se reunir em um jantar após
as sessões maçônicas advém dos tempos primeiros em que os maçons especulativos ainda
se reuniam em tabernas e cervejarias. Nessa época ainda não existiam templos
maçônicos. O primeiro deles somente apareceria em Londres no ano de 1776.
Na Maçonaria anglo-saxônica, é possível se encontrar
Lojas que possuem um tempo para recreação, oportunidade em que os trabalhos são
suspensos para que os Irmãos participem de um jantar e se regozijem com brindes
efusivos. Encerrado o evento, todos retornam à Loja para dar continuidade aos
trabalhos. Essa prática não pode ser confundida com a abertura de uma Loja de
Mesa.
Embora de uso consagrado em alguns países, o título
de “banquete ritualístico” de fato não é o nome mais apropriado para uma Loja
de Mesa.
Quanto à história das Lojas de Mesa na Maçonaria, a
sua origem se deve às associações simplesmente religiosas da época que, a
partir do século XII, começavam a formar corpos profissionais, ou seja, as Guildas
de mercadores e artesãos.
Às Guildas deve-se o primeiro documento onde é
mencionado a palavra “Loja” para designar uma corporação de ofício e o
seu espaço de trabalho e exposição – guildas de alfaiates, de sapateiros, de
jardineiros, etc.
Nessa conjuntura, vale mencionar que as Guildas, junto
com as organizações dos Ofícios Francos foram as principais precursoras da
Maçonaria (Francomaçonaria).
O termo Guilda, (Gild), é de origem teutônica
e se deriva de um antigo título dado a um ágape religioso que era comumente
praticado na antiga região da Escandinávia. Durante esse ágape, em uma cerimônia
apropriada, eram despejados no chão três chavelhos (copos de chifre) cheios
com cerveja, oportunidade em que eram homenageados deuses, antigos heróis e a memória
de antigos parentes já falecidos. No encerramento desse cerimonial, os comensais
então juravam defender uns aos outros como irmãos, socorrendo-se mutuamente nos
momentos em que a vida pudesse lhes apresentar reveses.
Nas Guildas, geralmente essas reuniões comensais e
religiosas ocorriam nos solstícios de inverno e de verão no hemisfério Norte.
Nada a estranhar nesse sentido, já que os cultos solares sempre fizeram presentes
na cultura e tradição das antigas civilizações.
Ainda no século XII, época do aparecimento da Maçonaria
de Ofício ou dos Ofícios Francos - que eram corporações de construtores com privilégios
concebidos pela Igreja – os seus membros comumente se reuniam em festas solsticiais.
Graças a isso é que as suas Lojas ficariam conhecidas como as Lojas de São João,
pois que as datas comemorativas a João, o Batista e João, o Evangelista, respectivamente,
ocorrem em datas muito próximas aos solstícios de verão e de inverno no hemisfério
Norte.
Nessas circunstâncias, vale lembrar que a referência
feita ao hemisfério Norte se dá porque foi nesta região que a Maçonaria nasceu
e floresceu (Norte da Europa).
Sob o ponto de vista do ofício e o profissional da
construção, os rigores do ciclo invernal nas latitudes do Norte da Europa eram
impróprios para o trabalho, que geralmente era paralisado nessa estação.
Isso, de certo modo acabava regulando o desenvolvimento
profissional, fazendo com que o verão e o inverno servissem como uma espécie de
baliza para o calendário do ofício.
À vista disso, a Moderna Maçonaria conserva a
tradição de comemorar em Lojas de Mesa a plenitude e a volta da Luz, daí as comemorações
solsticiais de verão e de inverno, ambos períodos associados às festas patronais
de João, o Batista, a 24 de junho e João, o Evangelista, a 27 de dezembro –
base nos cultos solares.
Além dos períodos solsticiais mencionados nesse contexto,
ainda, no lastro do misticismo iniciático da Luz e a Maçonaria, também é comum,
mas menos frequente, se abrirem Lojas de Mesa nas datas equinociais da primavera
e do outono que ocorrem no hemisfério Norte.
Nessa alegoria solar, a primavera simboliza o
renascimento e da ressurreição da Luz (Natureza), e o outono a maturidade e o
resultado dos bens produzidos pelas estações.
Em relação aos rituais e a liturgia das Lojas de
Mesa na Maçonaria, muito se escreveu a respeito e com isso, além de se
encontrar bons escritos, também é possível se encontrar toda a sorte de “achismos”
e invenções. Assim, remontar os conceitos mais apropriados é uma empreitada que
requer perseverança e observação isenta e acurada.
Há rituais sofríveis, e outros aceitáveis. Inicialmente
o pesquisador deve rever a condição e os porquês da existência de uma Loja de
Mesa, tanto na sua conjuntura histórica como na sua mística e iniciática.
Não há dúvida que o simbolismo de uma Loja de Mesa é
precioso para atender e alcançar o seu objetivo iniciático. Contudo, infelizmente,
talvez pela imensa quantidade de rituais que já foram editados, também toda a
sorte de invencionices e procedimentos condenáveis podem ser encontrados. A
prova disso é quando se chama uma tradicional Loja de Mesa de “banquete
ritualístico”, não obstante outros rituais que prevêem se ficar à Ordem sentado
e ainda por cima fazer o Sin∴ Gut∴ se utilizando de
um dos talheres que compõem a decoração da mesa. Desafortunadamente ainda há rituais
em vigência que adotam esse tipo de absurdo.
Na verdade, tudo isso não passa de um amontoado de
procedimentos contraditórios que vem sendo copiados e inseridos em novos rituais
editados. Sem dúvida, dentre eles existem bons rituais, mas os restos dos dinossauros
ainda se fazem presentes por serem difíceis de se consumir.
Sobre a composição, liturgia, ritualística e decoração
de uma Loja de Mesa, sugiro uma atenção acurada para que na sua pesquisa seja
separado o joio do trigo.
Muitos dos elementos tradicionais que compõem a
decoração de uma Loja de Mesa são nominados com base em ferramentas e materiais
de construção (telhas, picaretas, areia branca, materiais, etc.). Essa é uma
característica natural herdada dos tempos do ofício. Outras, ainda se conservam
porque se derivam de costumes naturais das Lojas Militares (canhão, barricas,
fogo, armas, pólvora fraca, etc.), principalmente das inglesas que, pelas características
expansionistas da Coroa Britânica da época, acabariam se espalhando pela face
da Terra.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
ABR/2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário