segunda-feira, 3 de abril de 2017

AMÓS - ABERTURA DO LIVRO DA LEI NO GRAU DE COMPANHEIRO - REAA

LEITURA DO LIVRO DA LEI – GRAU DE COMPANHEIRO
AMÓS
RITO ESCOCÊS ANTIGO E ACEITO


I - INTRODUÇÃO:
Em atenção a rogativas que eu tenho recebido, destas muitas relacionadas à leitura em Amós do Livro da Lei durante a abertura da Loja no Segundo Grau, é que resolvi condensar esse pequeno escrito sobre o tema que, embora não tenha a pretensão de esgota-lo, pelo menos tende a despertar mais atenção para esse importantíssimo procedimento ritualístico do não menos admirável e tradicional grau de Companheiro Maçom.
Para que não pareça um tema generalizado em relação à Maçonaria, cabe então aqui salientar que a leitura desse trecho do Livro da Lei durante a abertura dos trabalhos da Loja não é unânime na prática maçônica, senão como parte integrante da liturgia de alguns Ritos que compõem a Maçonaria. Assim, em relação à leitura em Amós 7 no Segundo Grau, esse costume teria surgido no Yorkshire - Inglaterra e posteriormente abandonado pelo Craft inglês, todavia permaneceria como prática em outros ritos maçônicos, como é o caso do Segundo Grau do Rito Escocês Antigo e Aceito.
II – AMÓS.
Personagem tido como profeta do Antigo Testamento e autor do Livro de Amós, ele era nativo de uma pequena cidade de nome Tekua nos limites do deserto de Judá, próximo à Jerusalém. Considerado com um dos doze Profetas Menores[1], ou os Doze Últimos Livros Profético, cujo título, assim ficaria conhecido, devido ao seu pequeno volume literário.
Amós, cujo significado etimológico, segundo alguns autores, designa aquele que auxilia a transportar carga, ou que em hebraico significa “levar”, estaria ainda ligado à forma abreviada da expressão Amosiá – “Deus levou”.
Ele era um homem de origem humilde, condutor de gado e agricultor que laborava no cultivo de uma espécie de fruto comestível muito parecido com figo, comum àquela região.
Mais tarde Amós (760 a.C.) abandonaria a sua vida tranquila de camponês para pofetizar e denunciar episódios acontecidos durante o reinado de Joroboão II, quando este atingira a sua máxima prosperidade. Esse mesmo reinado então seria também acompanhado do aumento da luxúria, do vício e da idolatria. Nessa conjuntura, a magnificência luxuosa dos ricos ultrajava a miséria dos fracos e dos oprimidos, bem como o esplendor do culto dissimulava a carência de uma religião verdadeira. Amós seria, portanto convocado por “Deus” para advertir ao povo de Israel sobre a existência da “Sua Lei pautada na equidade” alertando e chamando o povo ao arrependimento. Ao cumprir os desígnios de “Deus”, Amós com altivez apontava toda aquela situação com rudeza simples e altiva de um homem oriundo do campo. Seu pronunciamento incomodava, sobretudo as classes abastadas e sacerdotais, (Juízes) porque ele ao anunciar a justiça e o julgamento de “Deus” alcançava além das nações pagãs, objetivamente também o povo escolhido que já se considerava salvo, embora no exercício da vida fosse mesmo pior do que os pagãos.
NOTA – os destaques em negrito relativos às palavras equidade e justiça até aqui mencionadas, bem como as outras que porventura seguem a essa nota, salientam o objetivo da leitura do texto feita na abertura do Livro da Lei no Grau de Companheiro, cuja interpretação maçônica, mesmo que superficial, será o objetivo final dessa lauda.
Além da injustiça social, especificamente Amós denunciava os ricos que acumulavam cada vez mais riquezas para viverem em ostentação, o que muitas vezes criava um regime de opressão; as mulheres abastadas que, para viverem no luxo, estimulavam seus cônjujes a explorar os fracos; os hipócritas que roubavam e exploravam e depois se dirigiam ao templo para rezar, pagar dízimo e dar esmolas para aplacar a própria consciência; os Juízes que julgavam de acordo com os numerários auferidos pelos subornos; os inescrupulosos comerciantes que deixavam os pobres incapacitados de adquirir e comercializar suas mercadorias por preço justo.
Nesse contexto o Livro de Amós pertence ao Antigo Testamento da Bíblia e vem depois do Livro de Joel e antes do Livro de Obadias. A profecia deste livro integrante da Torá hebraica fora primeiramente dirigida ao reino setentrional de Israel e segundo alguns exegetas bíblicos teria sido em princípio proferida oralmente, cujos reinados coincidiram entre 829 e 804 a. C.,  sendo daí em diante assentada por escrito, presumivelmente após o profeta voltar a Judá.
Dentre todo o contexto de denúncia contra a injustiça social na construção de uma sociedade justa e as pregações, destacam-se os seguintes sete crimes de Israel: 1) a venda do justo por prata - desprezo ao devedor; 2) o indigente por um par de sandálias - escravização por dívidas ridículas; 3) esmagam sobre o pó da terra a cabeça dos fracos – humilhação e opressão dos pobres; 4) tornam torto o caminho dos pobres – o desprezo pelos humildes; 5) um homem e seu filho vão à mesma jovem - opressão dos fracos (das empregadas e escravas; 6) se estendem sobre vestes penhoradas, ao lado de qualquer altar - falta de misericórdia nos empréstimos; 7) bebem vinho daqueles que estão sujeitos a multas, na casa de seu Deus - mau uso dos impostos (ou multas).
Assim no Livro de Amós textualmente o profeta defende a justiça e a equidade e é em seu amparo que Amós vai profetizar. Em cinco visões simbólicas (dos gafanhotos e o fogo; o estanho e o fim do verão; a visão do santuário), Amós anunciaria o fim do Reino Setentrional de Israel, devido à situação precária, ou insustentável diante de Deus, cujas visões aparentam serem sinais que o profeta vislumbra no cotidiano da vida e simbolizam a conjuntura problemática à época da nação israelita.
Não obstante às cinco visões proféticas desde a praga de gafanhotos até a destruição do santuário, tem aquela em que Amós vê o “Senhor” (cap. 7, vs. 7-9) verificando o alinhamento de um muro com um fio de prumo. É justamente essa a que suporta a alegoria presente na Moderna Maçonaria durante a abertura e leitura do Livro da Lei no Grau de Companheiro Maçom.
Antes, porém de ingressar no assunto relativo à Maçonaria e a abertura do Livro da Lei envolvendo Amós, cabe aqui ainda outra consideração importante: O muro que está enviesado e desaprumado simboliza Israel, assim deverá ser primeiro demolido para ser novamente realinhado pela perpendicular (tinha um prumo nas mãos). Isso porque muro desaprumado não tem conserto. Só derrubando.
Amós nesse caso não intercederia suplicando ao “Senhor”. É uma realidade corrupta que não tem conserto e a certeza do castigo pela justiça (prumo) torna-se cada vez mais premente “eu nunca mais passarei por ele”.
Em linhas gerais é o prenúncio da destruição do Reino Setentrional de Israel já que no capítulo seguinte (cap. 8, vs. 1-3) Amós vê o cesto de frutas maduras que simboliza o fim do verão e o início do outono, estação que precede o Inverno e a morte da Natureza – o fim de Israel. É que na quinta visão Amós conta que, desta vez, é o próprio IAHWEH (IAVÉ) quem atua e de modo dramático. Diante do edifício do santuário o “Senhor” bate nos capitéis provocando um terremoto que destrói o santuário e extermina as pessoas que lá estavam abrigadas.
Esta visão é o ponto máximo e epílogo deste ciclo. O próprio Senhor volta-se contra o local no qual se lhe prestava culto. Na visão de Amós, o santuário (de Betel[2]) traiu seu papel de conduzir o povo a “Deus” e à vida. Tornou-se um lugar de culto sem sentido, amparando e ocultando as múltiplas opressões e injustiças que se cometiam no Reino do Norte.
III - LEITURA DO LIVRO DA LEI – 2º GRAU MAÇÔNICO - EXEGESE:
O Segundo Grau, ou de Companheiro Maçom indiscutivelmente é o Grau mais genuíno da Maçonaria que, infelizmente e equivocadamente tem sido tratado por algumas Obediências como um Grau intermediário. Na sua tradicional existência oriunda desde os canteiros medievais, possui a pragmática inerente à juventude, ação e trabalho – em síntese o Companheiro é o elemento que “eleva” a Obra e a dá por concluída no final do outono, antes que o inverno prive a Terra da Luz. Dentre outros, os seus simbólicos cinco[3] anos de aperfeiçoamento soam equânimes com o sentido lato da justiça e da equidade na construção social, cuja obra especulativa da Moderna Maçonaria o Companheiro a eleva aprumando os cantos (o prumo não pende como as oblíquas).
O Companheiro quando passa para a perpendicular ao Nível (em Loja, do Norte para o Sul, ou do Nível para o Prumo), de modo especulativo ele está aplicando as suas ações (trabalho) na vida, desde que suportada pela justiça (Prumo).
Existe a máxima de que não há retorno para a vida, assim, se quiseres bem aproveitá-la, pensa na morte (eis que porei um prumo no meio do meu povo Israel[4]; e jamais passarei por ele).
A Obra da Vida pautada na justiça é um dos motes iniciáticos maçônicos na transformação inerente ao segundo ciclo da existência. Juventude (meio-dia) para a maturidade (meia-noite).
A Obra perene é o exemplo de vida deixado. Assim, a alegoria de Amós aplicada no Segundo Grau tem por objetivo conduzir o Obreiro a uma reflexão antes que chegue o tempo em que ele dirá: essa idade não me agrada! (a implacável aproximação da morte [inverno] e a destruição do Templo).
Como Amós, a Maçonaria procura lembrar ao homem Maçom que ele certamente terá através da sua consciência a visão do muro e do prumo nas mãos. Certamente a consciência lhe dirá: o que vês tu? A questão é: a parede estará ou não levantada a prumo? Como o inverno se avizinha ninguém mais passará por ele - não haverá mais tempo para reconstruir uma parede que por ventura tenha sido construída fora do prumo (pensai na morte; a efemeridade da vida).

III – CONSIDERAÇÃO FINAL

O Prumo, a Justiça e a Equidade – essa tríade expressa à lição de se ter pautado a vida com disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um. Tal como Amós, o dever de possuir um sentimento de justiça avesso a qualquer critério de desigualdade e tratamento ilegal. O muro levantado a prumo suporta um conjunto de princípios imutáveis de justiça que induzem o juízo da consciência a possuir um critério de moderação e de igualdade, ainda que em detrimento do direito objetivo.
Amós e a abertura do Livro da Lei importam nos elementos alegóricos que aludem àquele que busca aprimoramento norteado para uma vida de igualdade, retidão e equanimidade.
Superficialmente é o que se pode considerar.



Pedro Juk

ABRIL/2014



[1] Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Sacarias e Malaquias.
[2] Betel – a casa do Senhor.
[3] As cinco visões proféticas.
[4] Israel aqui significa o Templo Interior, o Homem e, por conseguinte a Obra da Vida. Em tradução livre do hebraico Israel significa “o combatente de Deus”.

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