Em 25/09/2017 o Respeitável Irmão
Ivair Justino Gonçalves, Loja Lealdade e Justiça, nº 61, REAA, GLEPA, Oriente
de Parauapebas, Estado do Pará, solicita o seguinte esclarecimento:
ESTRELA FLAMEJANTE
Em nosso ritual há uma dualidade referente à Estrela Flamejante, na
primeira instrução de Aprendiz Maçon, há referencia como sendo o Sol onde se
lê. - A Estrela Flamejante representa a principal Luz da Loja. Simboliza o Sol,
Gloria do Criador. No ritual de Companheiro Maçom, já deixa claro que a Estrela
Flamejante está localizada sobre o altar do Segundo Vigilante. Isso seria um
erro do ritual ou está correto em afirmar que os dois podem ser chamados de
Estrela Flamejante?
CONSIDERAÇÕES.
De forma alguma.
Antes, porém, seguem
alguns comentários necessários sobre a Estrela Flamejante.
Em Maçonaria a
Estrela Flamejante somente apareceria na França nos meados do século XVIII.
Como símbolo
maçônico especulativo, ela foi um elemento totalmente desconhecido dos maçons operativos
e dos primeiros maçons da fase inicial da Maçonaria Especulativa no século XVII.
Também era desconhecida na Moderna Maçonaria que seria inaugurada pelo advento
da Primeira Grande Loja de Londres no ano de 1717 (os ingleses usam a Estrela
de Seis Pontas – Magsen David).
Como parte integrante
do simbolismo na vertente francesa de Maçonaria, a Estrela Flamejante, também
conhecida como Pentalfa, é associada ao pitagorismo (Pitágoras) e se faz
presente nos Templos dos ritos que a adotam como objeto de estudo nos trabalhos do Segundo
Grau.
Como símbolo especulativo
maçônico ela se apresenta em Loja sempre com a sua ponta única voltada para
cima por representar, nela inscrita, a figura de um homem, o que lhe dá a característica de ser conhecida como
Estrela Hominal.
Com a ponta única
voltada para cima (em posição normal) ela representa os atributos da alta
espiritualidade humana (concepção haurida dos ensinamentos pitagóricos). Em
posição invertida, ou seja, com a sua ponta única voltada para baixo, ela
concebe o homem de cabeça para baixo, ou a figura inscrita da cabeça de um bode,
o que lhe dá a ideia dos atributos da materialidade e da animalidade.
A Maçonaria, como
Obra de Luz, coloca sempre a Estrela com a ponta única voltada para cima posicionada
ao Sul dos seus Templos, tendo-a pendente do teto, ou mesmo nele fixada sobre o
Segundo Vigilante como que ocupando a posição intermediária entre o Sol, que
está no Oriente e a Lua que está no Ocidente.
Devida essa posição
ela se coloca como Luz cálida intermediária e é um dos ornamentos da Loja de
Companheiro.
Embora situada
pendente ou fixada na porção mediana do teto do Templo, ela não é uma figura
astronômica que possa ser comparada com planetas e estrelas que comumente decoram
a abóbada nas Lojas do REAA\. Também é errada a
sua colocação na parede Sul atrás do Segundo Vigilante como às vezes ela
aparece em algumas Lojas.
Uma das características
da Estrela Flamejante é a de que a mesma leva inscrita no seu centro a letra
“G”, cujo seu significado é “Geometria”, sobretudo pelo simbolismo integrado ao
maçom construtor.
A Geometria é também
conhecida na Maçonaria como “Quinta Ciência” por ser uma das Sete Ciências e
Artes Liberais da Antiguidade (vide a sua divisão em trivium e quatrivium classificada por Boécio).
Isso pode ser
conferido nos antigos catecismos maçônicos que assim mencionavam:
- “Por que vos fizestes receber como
Companheiro do Ofício?”.
- “Pela letra G”.
- “O que significa essa letra?”.
- “Geometria, ou a Quinta Ciência”.
Infelizmente, com o
decorrer dos tempos autores imaginosos fizeram da letra “G” objeto de
especulação e de teorias ridículas afastadas da realidade e que acabaram
aportando nos nossos rituais. É o caso de comparações como as do tipo Geração,
Gênio, Gnose, Ghimel (3ª letra do
alfabeto hebraico), etc. Na realidade tudo isso não passa da mais pura
especulação.
Como registro
autêntico, a
Geometria, de origem egípcia, foi levada à Grécia antiga pelos filósofos gregos.
Sendo a base da arte de construir, das relações triangulares e do círculo; da
Astronomia e da medida das terras férteis do Nilo, ela acabou servindo para os
sábios helênicos como fundamento filosófico de Ordem, Equilíbrio e Harmonia do
Universo.
De interesse para a
doutrina maçônica, essas concepções, já nos primeiros tempos da Maçonaria
Especulativa, ou dos Aceitos (século XVII), serviram como comparativos às
criações do “Grande Arquiteto do Universo”, “Deus”, “Grande Geômetra”.
Foi graças a isso que a letra “G”, emblema
da Geometria, como atributo divino, acabou sendo parte componente da alegoria
da Estrela Flamejante como símbolo de ordenação e alta espiritualidade.
Dados esses
apontamentos, vamos à questão propriamente dita.
A Estrela Flamejante
no Grau de Aprendiz não é comum, pois ela é um objeto de estudo da Loja de
Companheiro, inclusive é a chave da senha de reconhecimento do Companheiro. Em
Loja de Aprendiz, como ornamento, no máximo ela poderia ser considerada como
uma luz intermediária.
Confabulações como as
que a apontam como símbolo do Sol e Glória do Criador não fazem nenhum sentido,
senão como especulações hauridas de autores imaginosos. Também ser ela a
principal Luz da Loja não merece nem comentário tal a sua contradição.
Assim, não existe
nenhuma dualidade, porém equívocos relativos a esse símbolo, sobretudo em se
tratando do Grau de Aprendiz. Como comentado, a Estrela Flamejante assume uma
característica intermediária na senda iniciática, o que a qualifica como uma
alegoria do Segundo Grau, sendo para a Loja de Companheiro um dos seus mais importantes
Ornamentos.
Só para encerrar, eu
gostaria de deixar o seguinte registro sobre o termo Luz da Loja. No REAA\
existem as Luzes da Loja e as Luzes Emblemáticas da Loja, a saber: o Venerável
Mestre, o Primeiro e o Segundo Vigilante constituem as Luzes da Loja, também
conhecidos como as Luzes Menores. Já o Livro da Lei, o Esquadro e o Compasso
compõem os Paramentos da Loja e se denominam como as Três Grandes Luzes
Emblemáticas, ou as Três Luzes Maiores. Nenhuma dessas Luzes, tanto as maiores
como as menores se relacionam diretamente com a Estrela Flamejante na
originalidade francesa de Maçonaria. Portanto, definir a Estrela Flamejante
como principal Luz da Loja é alguma coisa que no mínimo deve ser tratada como equivocada[1].
T.F.A.
PEDRO JUK
DEZ/2017
[1] Estrela Flamejante confundida com a
Principal Luz da Loja, bem como com o Símbolo do Sol e da Glória do Criador,
muito provavelmente foi tirada de alguns rituais anacrônicos do passado que
imaginariamente colocavam às vezes a Estrela Flamejante com a letra G dentro do
Delta Radiante. Dada a importância do Delta na Maçonaria como emblema da
divindade, determinados articulistas e pseudos-ritualistas acabaram inventando
essa associação por entenderem que a Estrela dentro do Delta era um sinônimo de
Luz, Criação, Glória e outros predicados mais. Tudo ao gosto da mais pura
invenção, mas que infelizmente até hoje, como verdadeiras carcaças de
dinossauro, ainda habitam nossos rituais.
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