sexta-feira, 4 de maio de 2018

TEMPLOS À VIRTUDE E MASMORRAS AO VÍCIO


Em 13/02/2018 o Respeitável Irmão Mestre Bibliotecário Felinto Júnior Da Costa, Loja Regeneração 3ª, REAA, GOP (COMAB), Oriente de Londrina, Estado do Paraná, solicita o seguinte esclarecimento:

TEMPLOS À VIRTUDE E MASMORRAS AOS VÍCIOS.


Em algumas pesquisas sobre a expressão "templos à virtude e masmorras aos vícios" (como dita em nossa língua), fui gradualmente sendo remetido a outras fontes.
No discurso de André-Michael Ramsay (que afirmam ter sido proferido na "Loge de Saint-Jean" em 26 de dezembro de 1736) há a seguinte menção: "[...] Nous suivons aujourd'h
ui des sentiers peu battus; Nous cherchons à bâtir, et tous nos édifices Sont ou des cachots pour les vices, Ou des temples pour les vertus [...]"
A tradução (eletrônica via Google) parece ser: "[...] Hoje seguimos trilhas que não são bem batidas, Buscamos construir, e todos os nossos edifícios, São ou masmorras para vícios, Ou templos para as virtudes [...]"
Esse trecho é parte de um poema escrito por um maçom e médico chamado Procope, cujo poema encontrei na página 5 desse fac-simile de 1737: "Chansons Notées De la Trés Vénérable Confreria des Maçons Libres par Frère Naudot 1737" (disponível em http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k15117345/f5.image).
Minha dúvida é, portanto, sobre a origem desta expressão "templos à virtude e masmorras aos vícios", assim dita em nossa língua.

CONSIDERAÇÕES.

Essas são expressões muito características da Maçonaria francesa que apareceram principalmente a partir da evolução dos seus rituais desde o século XIX.
No que diz espeito à citação envolvendo André Miguel de Ramsay, embora o seu discurso esteja catalogado academicamente como um dos documentos básicos do escocesismo, esse seu discurso foi um tanto quanto pretencioso já que ele quis dar um ar de aristocracia à Maçonaria e equivocou-se ao mencionar a Maçonaria como herdeira dos Templários.
Em minha opinião, o documento que o Irmão menciona é até sugestivo, mas nada é conclusivo em se tratando de origem das expressões “templos à virtude” e “masmorras ao vício”. Também nada se pode afirmar a respeito que seja algo originário do poema de Procope mencionado pelo Irmão. Nesse sentido seria necessário um estudo mais apropriado.
O fato é que a Maçonaria latina adota a expressão “erguer templos à virtude” por ser também ela herdeira das guildas construtoras da Idade Média. Assim, de modo alegórico, a Moderna Maçonaria mantém o desiderato de “construir, erigir, erguer”, mas nesse caso, o de templos simbólicos que sugestivamente se refletem na construção de um monumento à virtude universal.
Quanto às “masmorras ao vício” a expressão é no sentido de luta da Sublime Instituição em favor dos bons costumes e em oposição ao hábito desregrado que arrasta o homem para o mal (o vício).
Em síntese as expressões conjuntas denotam um dos maiores objetivos da Maçonaria como construtora social especulativa – que o bem se erga tal como um templo edificado com perfeição e que o mal seja sepultado na profundidade das masmorras para que os seus efeitos caiam no perpétuo esquecimento. Tudo lembra trabalho em prol de alguma coisa (erguer e cavar).
É muito provável que as expressões tenham sido adotadas ou criadas por pensadores maçônicos franceses que organizaram e adaptaram a dialética dos rituais latinos.
Por fim, eu não teria de momento como lhe responder se a origem das expressões “templos à virtude” e “masmorras ao vício” se deu por um dos exemplos citados na sua questão. Penso que o mais provável seja pelo liame histórico entre passado operativo e o moderno especulativo. Outras concepções de minha lauda podem ser encontradas em: iblanchier3.blogspot.com/2016/04/levantar-templos-virtude.html




T.F.A.

PEDRO JUK

MAIO/2018

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