Em 13/02/2018 o Respeitável Irmão Mestre Bibliotecário Felinto Júnior Da
Costa, Loja Regeneração 3ª, REAA, GOP (COMAB), Oriente de Londrina, Estado do
Paraná, solicita o seguinte esclarecimento:
TEMPLOS À VIRTUDE E MASMORRAS AOS VÍCIOS.
Em algumas pesquisas sobre a
expressão "templos à virtude e masmorras aos vícios" (como dita em
nossa língua), fui gradualmente sendo remetido a outras fontes.
No discurso de André-Michael Ramsay
(que afirmam ter sido proferido na "Loge de Saint-Jean" em 26 de
dezembro de 1736) há a seguinte menção:
"[...] Nous suivons aujourd'h
ui des sentiers peu battus; Nous cherchons à
bâtir, et tous nos édifices Sont ou des cachots pour les vices, Ou des temples
pour les vertus [...]"
A tradução (eletrônica via Google)
parece ser: "[...] Hoje seguimos
trilhas que não são bem batidas, Buscamos construir, e todos os nossos
edifícios, São ou masmorras para vícios, Ou templos para as virtudes [...]"
Esse trecho é parte de um poema
escrito por um maçom e médico chamado Procope, cujo poema encontrei na página 5
desse fac-simile de 1737: "Chansons Notées De la Trés Vénérable Confreria
des Maçons Libres par Frère Naudot 1737" (disponível em http://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k15117345/f5.image).
Minha dúvida é, portanto, sobre a
origem desta expressão "templos à virtude e masmorras aos vícios",
assim dita em nossa língua.
CONSIDERAÇÕES.
Essas são expressões
muito características da Maçonaria francesa que apareceram principalmente a
partir da evolução dos seus rituais desde o século XIX.
No que diz espeito
à citação envolvendo André Miguel de Ramsay, embora o seu discurso esteja
catalogado academicamente como um dos documentos básicos do escocesismo, esse
seu discurso foi um tanto quanto pretencioso já que ele quis dar um ar de
aristocracia à Maçonaria e equivocou-se ao mencionar a Maçonaria como herdeira
dos Templários.
Em minha opinião, o
documento que o Irmão menciona é até sugestivo, mas nada é conclusivo em se tratando
de origem das expressões “templos à virtude” e “masmorras ao vício”. Também
nada se pode afirmar a respeito que seja algo originário do poema de Procope mencionado pelo Irmão. Nesse
sentido seria necessário um estudo mais apropriado.
O fato é que a
Maçonaria latina adota a expressão “erguer templos à virtude” por ser também ela
herdeira das guildas construtoras da Idade Média. Assim, de modo
alegórico, a Moderna Maçonaria mantém o desiderato de “construir, erigir,
erguer”, mas nesse caso, o de templos simbólicos que sugestivamente se refletem
na construção de um monumento à virtude universal.
Quanto às
“masmorras ao vício” a expressão é no sentido de luta da Sublime Instituição em
favor dos bons costumes e em oposição ao hábito desregrado que arrasta o homem
para o mal (o vício).
Em síntese as
expressões conjuntas denotam um dos maiores objetivos da Maçonaria como
construtora social especulativa – que o bem se erga tal como um templo
edificado com perfeição e que o mal seja sepultado na profundidade das
masmorras para que os seus efeitos caiam no perpétuo esquecimento. Tudo lembra
trabalho em prol de alguma coisa (erguer e cavar).
É muito provável
que as expressões tenham sido adotadas ou criadas por pensadores maçônicos franceses
que organizaram e adaptaram a dialética dos rituais latinos.
Por fim, eu não
teria de momento como lhe responder se a origem das expressões “templos à
virtude” e “masmorras ao vício” se deu por um dos exemplos citados na sua questão.
Penso que o mais provável seja pelo liame histórico entre passado operativo e o
moderno especulativo. Outras concepções de minha lauda podem ser encontradas em:
iblanchier3.blogspot.com/2016/04/levantar-templos-virtude.html
T.F.A.
PEDRO JUK
MAIO/2018
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