segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

MAÇONARIA E O PAVILHÃO NACIONAL - SÍMBOLOS MAÇôNICOS?

Em 01/11/2017 o Irmão Companheiro Maçom Elóis de Arruda Rodrigues, Loja Flor da Acácia, 3.894, REAA, GOB-PR, Oriente de Francisco Beltrão, Estado do Paraná, apresenta o seguinte:

MAÇONARIA E O PAVILHÃO NACIONAL


Boa tarde meu querido Irmão Juk. Mais uma vez grato ao Grande Arquiteto do Universo por ter tido a oportunidade de assistir mais um ERAC moderado pelo Irmão. Mais uma vez, seu fã de Francisco Beltrão, vem por meio desta, tentar sanar dúvidas.
Conforme os avanços nos estudos de nossos símbolos e mistérios, identifiquei símbolo
s maçônicos intrínsecos na Bandeira do Brasil. O primeiro, para mim bastante evidente, é o “Olho” formado pelo losango amarelo e pela esfera azul. Depois, imaginando a bandeira dobrada na metade, visualiza-se uma forma semelhante ao Avental Maçom.
Ainda temos a abóbada celeste representada pela esfera com as constelações. Por fim, a expressão “Ordem e Progresso”, expressão que é o lema político do positivismo, e que em nossa bandeira aparece na forma abreviada do lema religioso positivista formulado pelo filósofo Maçom francês Auguste Comte: "O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim" (em francês L'amour pour principe et l'ordre pour base; le progrès pour but.).
Todas essas evidências me levam a crer que existe um simbolismo maçônico subliminar em nosso Pavilhão Nacional. Certo que a internet é repleta de bobagens; Certo também que a empolgação com as descobertas de um humilde CM podem levar ao fenômeno da “Pareidolia”, e fazer enxergar coisas que não existem. Portanto, apelo, mais uma vez, à vossa sapiência: A Bandeira do Brasil é um ícone da simbologia Maçônica?

CONSIDERAÇÕES:

  1. COMENTÁRIOS SOBRE A BANDEIRA DO BRASIL[1]
Não há como se imaginar que a Bandeira do Brasil tenha sido idealizada e elaborada tendo por base símbolos da liturgia maçônica.
No máximo em Maçonaria o Pavilhão Nacional é parte integrante de uma alegoria respeitosa que lhe é devida e regida por leis constitucionais. Não existe nela nenhum apelo maçônico e nem é ela um símbolo haurido dos construtores do passado.
A Bandeira do Brasil foi instituída quatro dias após a Proclamação da República a 19 de novembro de 1889 substituindo a bandeira do Império do Brasil.
Na realidade o Pavilhão Nacional é o resultado de uma adaptação sobre a bandeira do Império. No lugar do escudo Imperial português dentro do losango amarelo, foi acrescentado o círculo azul cravejado com estrelas na cor branca.
No que diz respeito a algumas normas que envolvem as dimensões e proporções do desenho da Bandeira Brasileira (heráldica), ela possui o formato retangular, com um losango amarelo sobreposto ao fundo verde, sendo que no centro vai uma esfera azul celeste atravessada pela faixa branca com o lema Ordem e Progresso em letras maiúsculas verdes, cuja divisa foi inspirada no positivismo de Augusto Comte.
Essa faixa é oblíqua, inclinada da esquerda para direita e tem a conotação de representar simbolicamente o equador terrestre. No círculo azul vão estrelas dispostas como a retratar o céu do Rio de Janeiro em 15 de novembro de 1889, incluindo várias constelações, das quais a mais famosa é o Cruzeiro do Sul.
As estrelas em número de 27 representam simbolicamente os 26 Estados mais o Distrito Federal. A única estrela que fica na parte superior do círculo representa o Estado do Pará.
Oficialmente as quatro cores da Bandeira Nacional representam as famílias reais de que descende D. Pedro I, este o idealizador da Bandeira do Império. O campo verde e o losango dourado (amarelo) da bandeira imperial anterior foram preservados – o verde representava a Casa de Bragança de D. Pedro I, enquanto que o ouro (amarelo) representava a Casa de Habsburgo de sua esposa, a Imperatriz Maria Leopoldina. O círculo azul com as estrelas brancas substituiu o brasão das armas do Império.
Entretanto, essa conotação oficial acabou popularmente sendo substituída por uma adaptação originária do povo brasileiro. Sob essa óptica, o verde passou a representar as matas, o amarelo as riquezas do Brasil, o azul o seu firmamento e o branco a paz que deve reinar entre os povos.
A atual versão do Pavilhão Nacional, com 27 estrelas, entrou em vigor em 11 de maio de 1992, já que houve a inclusão de mais quatro estrelas (anteriormente elas eram 23) representando os estados do Amapá, Tocantins, Roraima e Rondônia.
A concepção da Bandeira Nacional é de autoria de Raimundo Teixeira Mendes, com a colaboração de Miguel Lemos, Manuel Pereira Reis e Décio Villares.

  1. COMENTÁRIOS SOBRE A QUESTÃO.
O círculo nada tem a ver com o Olho Onividente. Por mais que possa ser sugestivo para esse tipo de imaginação, na Bandeira do Brasil ele não é em hipótese alguma símbolo maçônico.
Do mesmo modo, sem comentários é a imaginação de que a Bandeira dobrada simbolize um avental maçônico. Essa dobra não dá nenhuma conotação de que ela represente símbolo maçônico. Pode até parecer, mas nunca se teve essa intenção.
Abóbada, firmamento e estrelas não é apanágio da Maçonaria. Mesmo sob o ponto de vista maçônico, abóbada estrelada não é universalmente adotada. Nem todos os ritos a utilizam. Sem inverter os fatos, a simples aparência de um firmamento não nos dá o direito de imaginar a presença da Maçonaria. Assim, o céu estrelado apresentado no círculo central da Bandeira também não é e nem merece ser interpretado como símbolo maçônico.
O lema “Ordem e Progresso” é oriundo da ideia positivista. Sob o ponto de vista maçônico o lema é perfeitamente adaptável à doutrina maçônica, entretanto é clara a ideia de que na Bandeira Nacional ela é positivista e positivismo não é obra maçônica.
Nesse sentido, a Bandeira do Brasil não é um ícone e nem um conjunto de símbolos maçônicos. O Pavilhão é sim tratado como símbolo da Pátria e, nesse particular, ela é no Brasil o símbolo da maior autoridade na Loja.
Agora, doutrinariamente ela não é parte de nenhum arcabouço de aperfeiçoamento maçônico.
A Maçonaria acima de tudo respeita as Leis e as autoridades legalmente constituídas, portanto tem na Bandeira Nacional um símbolo de legalidade, mas nunca como objeto composto por obra e graça da simbologia maçônica.
De fato, sob esse aspecto, eu diria ao meu nobre Irmão Companheiro que se afaste do hábito de imaginar “coisas” onde elas não existem.
Devo salientar que a Maçonaria é eclética e faz uso de inúmeros símbolos e artifícios oriundos das diversas manifestações das civilizações humanas. A existência de um esquadro, de um compasso, de um triângulo, de um prumo, e de um nível, dentre tantos outros objetos, não indicam pura e simplesmente a presença da Maçonaria.
Herdamos sim uma enorme gama de símbolos dos construtores do passado, todavia isso não nos dá o direito de nos imaginarmos proprietários e inventores dos respectivos.
Infelizmente muitos maçons ainda “acham” que pela simples presença de um objeto representativo aproveitado na nossa liturgia, já indica a presença da Maçonaria.
Assim, dando por concluído, devo orientá-lo a desviar-se desse caminho ilusório. Aprenda a separar o real do aparente, pois nem tudo o que reluz é ouro. A história e a doutrina da Ordem são riquíssimas e ela não precisa desse tipo de subterfúgio para representar a sua verdadeira grandeza.


T.F.A.

PEDRO JUK


JAN/2018





[1] - Fonte dessa Pesquisa – Wikipédia, Enciclopédia Livre e www.suapesquisa.com – Portal de Pesquisas Temáticas Educacionais. Ambos relativos à Bandeira do Brasil.

BASTÕES, VARAS, HASTES - INSTRUMENTOS DE TRABALHO NA LITURGIA MAÇÔNICA

BASTÕES, VARAS E HASTES. INSTRUMENTOS DE TRABALHO NA LITURGIA MAÇÔNICA


I.                INTRODUÇÃO.
Na intenção de trazer um pouco de luz no sentido de esclarecer aspectos da liturgia maçônica, essa peça de arquitetura tem o mote de abordar a origem na Maçonaria de um instrumento de trabalho, até certo ponto bastante comum, utilizado em Loja na ritualística do Craft inglês pelos Diáconos e pelo Diretor de Cerimônias.
Embora essa peça seja dirigida à prática maçônica inglesa em particular, algumas peculiaridades do tema, pelo seu caráter histórico, podem ser consideradas também para alguns ritos de origem francesa.
Devido ser um dos meus ofícios o de responder, dentro do possível, questões sobre Maçonaria, eu tenho recebido muitas perguntas e comentários que envolvem o uso do bastão e a sua origem.
Essa semana providencialmente eu recebi do Respeitável Irmão Joselito Hencotte um site inglês referendado às Lojas da Província de “East Lancashire”, cujo qual trazia, dentre outros, uma palestra-instrução sobre antigos símbolos do Ofício, dos quais, um em especial, tratava das “varas” (como é comumente tratado o bastão nos trabalhos ingleses) utilizadas pelos Diáconos e pelo Diretor de Cerimônias nos trabalhos da Loja.
Esse texto foi baseado na Obra do Irmão Neville Cryer que, segundo o Irmão Joselito foi um dos melhores pesquisadores que a Maçonaria Inglesa teve. Cryer foi um pastor anglicano que após ter se aposentado do seu ofício religioso, dedicou-se profundamente à pesquisa maçônica.
Assim, devida a carência de informação sobre esses instrumentos de trabalho o conteúdo imediatamente me chamou atenção, pelo que me apressei em traduzi-lo adaptando-o ao nosso vernáculo inserindo no texto aspectos linguísticos visando melhorar a sua compreensão. O texto original em inglês pode ser encontrado no site mencionado no Item III desse trabalho.
Do mesmo modo ao apresentar essa tradução, sobre ela vão adicionadas várias notas ao seu final com comentários explicativos que se destinam melhorar a compreensão, bem como chamar a atenção para tópicos históricos que deram algum suporte na construção da ritualística maçônica.

II.              CONSIDERAÇÕES NECESSÁRIAS.
Sobre a tradução do texto baseado na obra do Irmão Neville, buscou-se nela não dar simplesmente uma tradução literal, mas sim buscar a expressão do pensamento do autor e dos elaboradores da instrução para as Lojas da província do leste de Lancashire.
Ratifica-se que a abordagem litúrgica sobre os Diáconos e o Diretor de Cerimônias aqui mencionados relaciona-se aos oficiais que exercem ofício nas Lojas do Craft Inglês, porém pela amplitude que envolve a história maçônica, outros fatos foram acrescidos (na tradução e nos comentários do tradutor) na intenção de abordar eventos além do Craft.
Por conseguinte e na medida do possível os meus comentários expressos nas notas objetivam com simplicidade somar conhecimentos além dos que se apresentam no texto principal desse arrazoado.

III.            O TEXTO TRADUZIDO.
- Os números sequenciais encontrados no texto referem-se às notas e comentários elaborados pelo tradutor e apresentados no item seguinte.


Província de East Lancashire
"Antigos Símbolos do Ofício”
Baseado na obra de Neville Cryer.
Encontramos frequentemente antigos símbolos nos nossos Templos (sala da Loja [1]), o que nos dá a certeza de que tudo a nossa volta ocorre de acordo com eles.
Há momentos, entretanto que os mais novos na Maçonaria, ou mesmo aqueles que se interessam cada vez mais, querem saber sobre o que os maçons fazem e como as coisas se sucedem e como elas ali acontecem.
Um desses símbolos que normalmente desperta interesse são os instrumentos de trabalho dos dois Diáconos e do Diretor de Cerimônias – as varas [2].
Esses instrumentos de trabalho certamente não apareceram de repente, ou do nada na Maçonaria. Há uma explicação para as suas existências e das suas ocupações no ofício.
Vamos começar com os Diáconos. O nome desse ofício vem da prática das antigas igrejas e paróquias da região [3]. Nelas, há mais de mil anos, os dois principais oficiais leigos eram chamados de “wardens” [4], cuja grafia “wardein” é oriunda do velho norte da França e o seu significado era o de “guardar, proteger” [5] e foi usado pelos anglo-saxões.
Como zeladores ou diretores guardiões eles tinham a missão de proteger as pessoas dentro das paróquias e igrejas e possuíam como símbolo em sinal à sua autoridade de ofício “hastes” que mais tarde seriam chamadas de “varas” (N.T. - varinhas). Até hoje nas Igrejas Anglicanas os zeladores (N.T. - diretores) portam “varas” quando em serviço [6].
Na Idade Média o local de trabalho da Loja dos Pedreiros era governado por um diretor que protegia o direito dos artesãos em trabalho [7]. Como sinal da sua autoridade, esse diretor possuía (N.T. - portava) uma vara.
Quando os maçons criaram suas guildas comerciais [8] eles acabaram seguindo o costume da Igreja. Em vez de um reitor (como na Igreja), eles tinham um mestre da obra e dois diretores (N.T. - zeladores) [9]. Como sinal de autoridade todos os três portavam varas nos trabalhos [10]. Eventualmente essa prática seria adotada no Craft (N.T. - Ofício), mas quando a Guilda (N.T. - operativa) foi separada da Loja (N.T. - especulativa) o costume de ter um Mestre da Obra e dois Vigilantes acabou permanecendo [11].
Em algumas Lojas antigas as “varas” eram adornadas. A do Mestre com uma cruz [12], a do Primeiro Vigilante com a lua e a do Segundo Vigilante com o sol.
A cruz, originalmente representando Cristo, era a cabeça, ou a pedra angular (N.T. - o início, o princípio). A lua representando o ocaso (N.T. - fim do dia) e o sol representando seu lugar ao meridiano (N.T. - Meio-Dia).
Depois da União de 1813 uma nova forma de cerimonial na Loja foi incentivada pelo Duque de Sussex exigindo que os três principais detentores do ofício da Loja não deveriam mais deixar os seus lugares como era comum ocorrer no passado [13].
O cargo de Diácono que fora introduzido nas Atholl Lodges (N.T. - Antigos de 1751) e tinham o ofício se servir como assistentes da mesa, principalmente na ajuda com as refeições, ou como transmissor das mensagens do Mestre da Loja, passaram a partir dai a ter a obrigação de atender os candidatos, e não mais como os “zeladores” de antigamente [14].
Para demonstrar que os Diáconos permaneciam agindo com a mesma autoridade dos zeladores diretores, foram então lhes dadas as “varas” que eram antes utilizadas pelos oficiais superiores (wardens). Dado a isso é que se pode ver ainda na Sala da Loja da Queen St., Sunderland and Elvet Old, Durham Lodge, Diáconos portando varas que tem nos seus topos respectivamente o Sol e a Lua [15].
Isso dá a certeza da sua origem e a quem pertenciam as “varas”. Também nos dá a entender como que os Diáconos originalmente se comportavam, trazendo com isso a razão pela qual hoje na abertura da Loja eles são descritos como aqueles que levavam mensagens do Mestre da Loja para os Vigilantes. Além do que nas suas posses também lhes é dito que sua tarefa adicional será a de atender os candidatos [16].
É certo também que saberemos por que as “varas” trazidas pelos Diáconos já não mais têm o sol e a lua como adornos.
Em algumas Lojas do século XVIII, o conhecimento clássico, só porque ele era um prestimoso emissário, pela sua aptidão, sugeria-o como mensageiro do deus Mercúrio. Com isso muitas Lojas ainda têm varas para os Diáconos com símbolo correspondente a essa figura [17].
Após a união das duas Grandes Lojas rivais em 1813 muitos aspectos bem antigos da Maçonaria inglesa, como a presença do personagem bíblico Noé, acabariam retornando às cerimônias, onde a pomba era uma criatura que simbolizava a paz, bem como se imagina ter sido ela a mensageira que mostrou a Noé uma folha de uma árvore discretamente emergida do dilúvio [18].
A pomba como símbolo mais comum de mensageiro acabou sendo então adotado para ornamentar o topo das varas [19] (N.T. - instrumentos de trabalho dos Diáconos no Craft).
Enquanto as simbólicas pombas representavam fielmente o ofício dos Diáconos, esse símbolo acabou tomando lugar se sobrepondo ao significado original da vara que era o da “autoridade”.
É certo que pelo menos o uso das pombas nos dá a possibilidade de apreciar melhor o seu significado no contexto.
No que diz respeito à vara e o Venerável Mestre, o mais intrigante é o fato de que ele, assim como os Vigilantes, por não poder mais se mover do seu lugar durante os trabalhos, a sua vara ou haste (N.T. - distintivo de autoridade), foi passada para um novo oficial da Loja que fora criado no pós-União denominado Diretor de Cerimônias [20].
O Diretor de Cerimônias então passou a partir daí a ser o único oficial a controlar o trabalho em deslocamento pelo chão da Loja, certificando-se que todos os oficiais estavam presentes, além de acompanhar, ou mesmo introduzir, a entrada de visitas especiais [21].
Ainda a respeito do Diretor de Cerimônias, é interessante notar que embora a relevância do seu ofício (portando a vara) o mesmo não lhe dava o direito de se sobrepor ao porte do malhete que fora colocado nas mãos do Venerável Mestre por ocasião da sua instalação.
Outro aspecto interessante é o de se observar que apenas na haste, ou a vara, original confiada a um reitor da Igreja havia uma cruz a encimando. A Maçonaria inglesa, acompanhando esse costume, a vara confiada ao Diretor de Cerimônias ainda possui uma cruz no seu topo [22].
Em relação a esse objeto, é também interessante notar que os primeiros maestros de orquestras recebiam uma vara para reger. Como esse objeto com o tempo se tornou difícil de manejar, ele foi encurtado se tornando um pequeno bastão (N.T. - batuta). É por isso que atualmente alguns Diretores de Cerimônias portam um bastão pequeno em vez de uma vara (N.T. - é o caso do Marechal nas Lojas Azuis Norte-americanas).
No fim o bastão simbolizava a autoridade do Mestre da Loja e não propriamente a do Diretor de Cerimônias. Esse último deve sempre lembrar a quem ele serve.

NOTA - Elaborado por: COMITE DE EDUCAÇÃO E TREINAMENTO, Freemasons’ Hall. Bridge Street M3.  Para Lojas em toda a Província do Leste de Lancashire. Tradução para o português exclusivamente para esse trabalho foi feita pelo Irmão Pedro Juk em janeiro de 2018.


IV.            NOTAS E COMENTÁRIOS DO TRADUTOR.
Obs. O termo em inglês “Craft” comumente utilizado no texto significa, como substantivo, a arte, o ofício. Como verbo designa a ação de “fazer”. Assim o Craft nesse contexto é o mesmo que a arte ou o ofício de construir o que lhe dá, no caso, uma relação direta com a Maçonaria.
[1] Sala da Loja – é o título comum dado no Craft aos locais de trabalho da Loja. É o que na Maçonaria Latina comumente se conhece como Templo.
[2] Varas ou varinhas – são objetos de trabalho tipo bastões utilizados pelos Diáconos e pelo Diretor de Cerimônia nos Trabalhos Ingleses (vide Rito de York ou os Trabalhos de Emulação). Observe-se que embora com práticas diferenciadas devido o ritual, o Diretor de Cerimônias do Craft é o mesmo Mestre de Cerimônias do REAA\ (Rito de origem francesa). Faz-se oportuno mencionar que no Craft os Diáconos portam “varas”, enquanto no REAA\ os Diáconos por serem apenas mensageiros originalmente não portam nenhum objeto de trabalho.
[3] Denota a influência que a Igreja Católica teve sobre as Corporações de Ofício da Idade Média.
[4] Wardens (zeladores, diretores) – cargos que deram origem aos Vigilantes da Moderna Maçonaria.
[5] Os termos “guardar e proteger” eram mais apropriados à Maçonaria Operativa como ato de guardar e proteger o segredo do ofício que era utilizado na Arte (não era o de proteger o ambiente como uma sentinela propriamente dita). Nesse sentido os termos não se relacionam àquele que literalmente era o guarda ou a sentinela do recinto, ou aquele que não permitia o ingresso nos canteiros dos que não estavam aptos para o trabalho. Guardar e proteger nesse caso não possui relação com o ofício do Cobridor, Guarda do Templo, Tiler, etc., a quem munido de uma espada cabe vigiar e guardar a porta da Sala da Loja (Templo) contra os bisbilhoteiros.
[6] Destaque-se que a menção dos Diáconos e as “varas” nessa parte do texto aludem aos ofícios religiosos. Como sua protetora, a Igreja influenciou fortemente a Maçonaria, o que fez com que esse ofício religioso, devida a sua história, acabasse também sendo abordado.
[7] Loja dos Pedreiros – era o canteiro operativo (hoje simbolicamente a Loja) onde os Francomaçons se empenhavam na construção. No canteiro o “diretor principal” era um Companheiro experimentado designado como Mestre da Obra. Destaque-se que o temo Mestre não alude em hipótese alguma a grau maçônico. Naquela época existiam apenas “classes profissionais”.
[8] Guildas Comerciais – nesse caso eram associações organizadas de pedreiros. Dessas associações deve-se o uso pela primeira vez da palavra “loja”.
[9]  Os zeladores, ou wardens deram origem aos cargos de Venerável Mestre e Vigilantes da Maçonaria Especulativa, por extensão da Moderna Maçonaria. Na liturgia maçônica eles são as Luzes da Loja.
[10] Varas – na época da Maçonaria de Ofício não existia como símbolo malhete (maço pequeno) tal como existe na Moderna Maçonaria. Por se tratar de um local onde literalmente se elevavam as construções, os três governantes (diretores) do imenso canteiro se distinguiam entre os operários como autoridades por utilizarem as “varas” (bastões).
[11] Transição da Maçonaria Operativa para a Especulativa - com a presença dos “Aceitos” (elementos estranhos ao ofício) o sistema especulativo exigia um recinto separado para a prática dos trabalhos simbólicos. Os primeiros espaços específicos para essa finalidade eram constituídos por recintos reservados nos adros das igrejas e principalmente nas tabernas das hospedarias – longe das vistas dos não iniciados.
[12]  Mais uma indicação da influência religiosa da época sobre a Francomaçonaria. A Cruz representando a “pedra angular” (origem) ou a “cabeça de Cristo” se referia a Jesus como a pedra angular do Cristianismo.
[13] A União dos Antigos e dos Modernos em 1813 resultou na fundação da Grande Loja Unida da Inglaterra. Sacramentava-se a Moderna Maçonaria com a inauguração do primeiro sistema obediencial e a figura do Grão-Mestre. Dentre outros se solidificava a prática ritualística especulativa dentro da Loja. Em 27 de dezembro de 1813 na cerimonia de criação da Grande Loja Unida da Inglaterra foram convocados todos os Past-Masters, Veneráveis Mestres e Vigilantes das Lojas dos Modernos e dos Antigos para prestarem o juramento de Mestre Maçom, que foi a primeira parte do novo Ritual que veio a publico. Em 1816 as novas práticas ritualísticas foram demonstradas e aprovadas. Na sequencia todas as Lojas as adotaram. Destaque-se que nessas práticas o Venerável Mestre e os dois Vigilantes não mais portavam varas em sinal de autoridade, mas sim passavam a ocupar cada qual um lugar fixo na Loja – a leste, a oeste e a sul respectivamente. As Luzes Menores, ou da Loja, assim designados os três dirigentes principais, agora traziam em sinal da sua autoridade não mais varas ou bastões, mas malhetes ou maços pequenos de madeira.
[14] Conforme ensina Harry Carr in Masons at Work, os mensageiros utilizados na Maçonaria Operativa eram conhecidos como antigos “oficiais de chão” (mais tarde denominados Diáconos) e tinham a missão de transmitir ordens dos dirigentes diretores auxiliando-os no trabalho. Entenda-se que os canteiros de obras da época medieval eram imensos em sua superfície e estavam sempre a depender de ajudantes que transmitiam ordens e auxiliavam na aferição dos cantos da obra para que os trabalhos se desenvolvessem “justos e perfeitos”. Imagine-se a construção de imensas catedrais.
[15] A despeito de que as “varas” eram originalmente objetos conduzidos por Diáconos, lembra-se que com o advento dos ritos e vertentes maçônicas surgidas a partir da Moderna Maçonaria, nem todos os ritos que adotam esses oficiais deram a eles o costume do uso de varas ou bastões. É o caso do REAA\ que se utiliza desses oficiais, mas apenas como mensageiros simbólicos que trabalham na liturgia da abertura e encerramento, mais precisamente na transmissão da palavra sagrada. No escocesismo os Diáconos, diferente do Craft, não utilizam varas ou bastões.
[16] Atender os Candidatos – no Craft (Maçonaria Inglesa) é comum no ofício dos Diáconos, vê-los conduzindo candidatos (na iniciação ou nos aumentos de salário). Já no REAA\ (Maçonaria Francesa) eles fazem apenas o papel simbólico de mensageiros, o que pode se constatar na ocasião em que é transmitida a palavra e na dialética de abertura dos trabalhos. No escocesismo, diferente do Craft, substituem os Diáconos no atendimento aos candidatos, os Expertos (cargos inexistentes no Craft).
[17]   Ratifica-se que o texto traduzido dessa instrução é dirigido para o Craft inglês, daí a menção de “varas” como instrumento de trabalho dos Diáconos.
[18] Forte influência religiosa teísta oriunda dos Antigos de 1751 (Lawrence Dermott) e que permaneceu como condicionante para a União das duas Grandes Lojas em 1813.
[19] A pomba tem sido em muitos ritos também a joia distintiva do Diácono. A questão da autoridade representada pela “vara ou bastão” ficaria relevada ao segundo plano depois da fixação do Venerável Mestre e dos Vigilantes nos seus lugares em Loja – leste, oeste e sul.
[20] Com a criação de um cargo para substituir o ofício de chão que outrora fora ocupado pelo Diretor Principal (Mestre da Obra), o Diretor de Cerimônias receberia um dos antigos símbolos de autoridade – a vara ou o bastão – mas sem se sobrepor a autoridade do Venerável Mestre e dos Vigilantes.
[21]  Como já mencionado, o Diretor de Cerimônia é também conhecido, de acordo com o rito, por Mestre de Cerimônias. O objeto de trabalho do Diretor de Cerimônias no Craft é a vara, também conhecida como bastão. No REAA\, rito de origem francesa, não se utiliza o termo vara, porém bastão.
[22] A decoração do topo da vara utilizada pelo Diretor de Cerimônias varia em muitos casos conforme o rito praticado. No caso do Mestre de Cerimônias do REAA\ o adorno é uma pequena régua graduada. No caso do Diretor de Cerimônias do Craft inglês a vara pode ser encimada por uma cruz, o que traz ainda a influência religiosa de outrora. O mesmo adorno também lembra a cabeça ou a pedra angular do cristianismo. No Craft alguns Diretores usam um pequeno bastão em lugar da vara. Em síntese o significado é o mesmo – a vara ou o bastão representam a autoridade, entretanto sem se igualar ou se sobrepor à autoridade do Venerável Mestre.
O Craft Norte-americano, oriundo dos Antigos ingleses de 1751, também utiliza bastões, inclusive os Stewards (mordomos). É comum nele também existir o cargo do Marechal (marchal) que utiliza um pequeno bastão.

V.              CONCLUSÃO
Obviamente que esse assunto não se esgota e nem os comentários e observações inerentes a ele tem o caráter laudatório.
A intenção foi a de levar ao conhecimento dos Irmãos o quanto é complexa a liturgia e a ritualística maçônica, o que nos faz acreditar cada vez mais que os fatos não podem se restringir apenas no que nos trazem os rituais, a lembrar de que para que os rituais existam, antes deles existe a história autêntica.
A ideia é se conhecer por primeiro aquilo que alguém se propõe a fazer.
Ao encerrar este quero deixar os meus agradecimentos ao Irmão Joselito Hencotte que me alertou para o tema e nele, do modo como aqui foi exposto, também teve a sua participação.


                                                                         PEDRO JUK
                                                                         JANEIRO/2018
                                                                            http://pedro-juk.blogspot.com.br
                                                                            jukirm@hotmail.com


terça-feira, 23 de janeiro de 2018

LUGAR DO VENERÁVEL MESTRE VISITANTE - GOB

Em 01/11/2017 o Respeitável Irmão Nilson Alves Garcia, Loja Estrela da Serrinha, GOB-GO, REAA, Oriente de Goiânia, Estado de Goiás, formula a seguinte questão:

LUGAR DO VENERÁVEL VISITANTE.


Mano Pedro, numa sessão, digamos de iniciação, os visitantes Mestres Instalados se sentam no oriente lado esquerdo do Venerável Mestre. Mais os Veneráveis de Loja exercendo mandato sentam-se no lado direito do Venerável Mestre, ou seja, lado norte. Isto porque são autoridades? Se possível me ajuda, isto porque aqui em Goiás esta uma verdadeira polemica.

CONSIDERAÇÕES.

Conforme o que menciona no GOB\ o atual Ritual de Aprendiz Maçom do REAA\ (que é o caso da questão), nas suas páginas 22 e 23, Planta e Legenda do Templo respectivamente, a legenda 33 indica o lugar das autoridades no Oriente (lado norte oriental) e a legenda 34 indica o lugar dos Mestres Instalados no Oriente (lado sul oriental).
Ainda no mesmo Ritual, no título da Recepção de Autoridades e Portadores de Títulos de Recompensa, página 65 trata: “1ª Faixa – Tratamento: Venerável para o Venerável Mestre...”.
No Regulamento Geral da Federação, Art.º 219 está assim mencionado: “O visitante que seja autoridade maçônica (o grifo é meu), ou portador de título de recompensa será recebido de conformidade com o Ritual adotado pelo Grande Oriente do Brasil para o Rito que a Loja visitada pratica e será conduzido ao Oriente”.
Assim, o § 2º desse Artigo, no seu inciso I, ainda menciona o seguinte: “1ª Faixa – Veneráveis (o grifo é meu); Mestres Instalados; Conselheiros dos Conselhos de Contas; Deputados Honorários...”.
Entendendo que o tratamento de Venerável Mestre não é um título de recompensa e pelo que se pode entender o descrito no § 2º do Art.º 219 do Regulamento Geral da Federação, o Venerável Mestre é tratado como autoridade. No caso, uma autoridade visitante.
A despeito de que o Venerável Mestre seja também um Mestre Instalado, mas tratado nesse caso específico como autoridade maçônica, segundo o Ritual em vigência ele, como visitante, toma assento no lugar destinado às autoridades maçônicas no Oriente - pelo seu lado norte oriental.
Sugere-se que nesse momento também seja observado o que menciona o Decreto 1469/2016 que trata da ocupação das duas cadeiras de honra se por ventura na ocasião elas estiverem desocupadas.
Embora não seja minha especialidade trabalhar nesse tipo de interpretação, em síntese é isso que dá a entender nos confusos meandros desses regulamentos.
De tudo, por fim poder-se-ia perguntar: que diferença faz para o andamento dos trabalhos se o Venerável Mestre visitante viesse tomar assento no lado das autoridades ou no dos Mestres Maçons instalados?


T.F.A.

PEDRO JUK


JAN/2018

sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

DÚVIDA NO GRANDE SINAL - SIN.'. DE H.'.

Em 01/11/2017 o Respeitável Irmão André Ricardo Ferraz Roque, Loja Barão do Rio Branco, 03, REAA, GOEPE (COMAB), Oriente de Arcoverde, Estado de Pernambuco, formula a seguinte questão:

DÚVIDA SIN\ DE H\
 
Gostaria de tirar uma dúvida a respeito do Sin\ de H\ do Mestre Maçom do REAA.
Sabemos que o referido sinal é feito[1]. Dúvida é: devemos fazer este gesto de (...) apenas uma vez ou por 03 vezes?

CONSIDERAÇÕES.

Suprimi a descrição do Sin\ na questão por razões óbvias.
Esse Sin\ também se origina na da Lenda do Terceiro Grau, mais especificamente na interpretação teatral quando o Rei se certifica do ocorrido pelo desaparecimento de Hiran Abif.
Na narrativa, Salomão ao constatar o fato, demonstrando surpresa e indignação, gesticula e exclama por três vezes seguidas expressando o seu doloroso lamento. É desse trecho da narrativa que surgiu o Sin\ de H\, repetido por três vezes consecutivamente no momento apropriado.
Durante a tríplice execução e exclamação do Grande Sinal, concomitantemente a cada execução e exclamação, se dá de modo uníssono, por três vezes e na forma de costume, a bateria sobre o a\ (3 + 3 + 3).
Destaque-se que o Sin\ de H\ será sempre executado de conformidade com a narrativa da lenda. No caso relacionado à questão, a lenda é descrita para o REAA\, cujo mesmo é oriundo da vertente francesa de Maçonaria (deísta).
Assim, é oportuno mencionar que por existirem descrições variáveis da lenda conforme a vertente maçônica (francesa ou inglesa), o Grande Sinal, ou Sin\ de H\ pode também se diferenciar em alguns aspectos entre os Ritos, ou Trabalhos (workings).
Bem, eu gostaria de comentar muito mais a respeito, entretanto é melhor não entrar em detalhes devido ao “up roar” que pode porventura aparecer causados por puristas que geralmente se mostram indignados com os meus comentários. Tudo como se estivesse eu a revelar segredos; segredos esses que provavelmente nem mesmo eles saberiam reconhecer.


T.F.A.

PEDRO JUK

JAN/2017



[1] Nota do Autor – suprimi a descrição feita pelo consulente por se tratar de assunto velado e relativo somente ao conhecimento dos Mestres Maçons.