Em 26/08/2019 o Respeitável Irmão Ubirajara Nascimento, Loja Raphael
Simioni, 3.707, REAA, GOB-SP, Oriente de São Sebastião, Estado de São Paulo,
apresenta a seguinte solicitação.
CORDA
Temos,
eventualmente, alguns temas para serem discutidos em Loja, que não apresentam
maior abordagem nos Rituais dos graus. É o caso da Corda de 81 Nós, quanto à
qual não gostaríamos de deixar legado apenas às bibliografias existentes na
internet, mas que pudessem estar no conjunto de instruções ou mesmo na
abordagem das descrições de Loja de Aprendiz.
No momento atual, o
que me indica o irmão para que se possa dar a fonte necessária para o devido
entendimento a eles?
CONSIDERAÇÕES.
A corda de sisal (principalmente) tem sido um elemento antigo utilizado
como símbolo em muitos ritos da Moderna Maçonaria.
Em linhas gerais ela advém do período operativo e servia, dentre outros
afins da construção, também para balizar os limites dos canteiros de obra da
Idade Média, local onde trabalhavam os nossos ancestrais (Maçonaria Operativa).
De modo prático, a "corda" cercava o canteiro, indo presa em argolas
de ferro fixadas em postes de madeira. Na entrada do recinto demarcado havia uma
abertura para passagem. Assim, a corda se interrompia nos dois postes maiores que
identificavam o lugar de passagem.
Por esse modo é que a corda, mais tarde, se fixaria como importante elemento
simbólico especulativo na Moderna Maçonaria.
Atualmente, alguns ritos, inclusive, trazem a corda fixada no alto das
paredes contornando a sala da Loja (templos) em alusão aos espaços que iam por ela
"cercados" no passado, o que não é de se estranhar, pois o espaço de
trabalho maçônico especulativo é um ambiente estilizado e decorado para
relembrar os velhos ofícios francos dos nossos ancestrais.
Outros ritos, ou trabalhos, entretanto, possuem a corda como elemento
simbólico gravado nos painéis da Loja, enquanto que outros ainda apenas a
mencionam nas suas instruções e preleções. De tudo, formas e formatos relativos
à corda estão sempre presentes no ideário maçônico.
O número de nós, ou outros aspectos a ela relacionados, também ingressou
com as ideias especulativas, sobretudo na profusão dos ritos a partir dos
meados do século XVIII. Assim, essas particularidades podem ser perscrutadas no
arcabouço doutrinário do Rito. Várias são as interpretações, porém essas de
acordo a doutrina para qual elas servem. De certo modo, intimamente ligados ao
símbolo da corda estão os seus complementos, tais como, os 81 nós, os sete nós,
as quatro borlas, os laços do amor, o nó central, etc.
Na Moderna Maçonaria, alegoricamente a corda tem sido tomada como um emblema
de união, até porque, em primeira análise, ela simbolicamente contorna, protege
e agrega os operários na Loja.
Infelizmente temos visto muitos estudantes de Maçonaria que ainda não se
aperceberam disso, não compreendendo que um símbolo não raras vezes está implícito
na alegoria de um todo. Também não ficam de fora aqueles que só sabem procurar a
existência de um símbolo no ritual, dando para isso uma condição única de
existência, sem se deter, contudo, que a matéria é muito mais complexa do que a
sua aparência. Por fim, ainda existem os debochados que procuram ironizar
outros ritos por conta de símbolos que no seu rito não existe. Realmente, são
atitudes pobres.
Na exegese simbólica, muitos símbolos são parte de um conjunto e não de
uma ideia única que precise estar "escancarada" às vistas do Iniciado.
Na academia da pesquisa, desinteressada e sem paixão e licenciosidade, muitas
vezes o que vale é a ideia e não o emblema individual.
Dados esses comentários, especialmente aquele que toca o estudo das
origens da "corda" na Maçonaria, eu sugiro pesquisa numa bibliografia
que envolva a história das guildas medievais, suas particularidades, processos de
subsistência, condições sociais, políticas e religiosas, etc. a partir do
século X. Nesse sentido, vou indicar uma obra de autoria do respeitável Irmão
Ricardo S. R. do Nascimento, denominada "De um Antigo e Famoso Documento da
Maçonaria Operativa – Notas de Estudo". Foi publicado pelo Grande Oriente
do Brasil em 1999. Esse livro, além de tratar do Poema Régius (1390), traz um
roteiro bibliográfico irretocável para pesquisa – séria e desapaixonada – cita autores
autênticos e confiáveis.
Assim, amparado por um bom roteiro bibliográfico autêntico será
certamente construída uma grade de estudo confiável para vislumbrar como trabalhavam
os nossos ancestrais no período da Maçonaria de Ofício e, com isso, entender o
porquê da existência de certos objetos e utensílios no exercício do ofício – dos
quais, por exemplo, a corda.
Já interpretações de cunho iniciático e esotérico, vão depender da
aplicação especulativa proposta na doutrina do rito.
Concluindo, em assim se procedendo o símbolo será desvendado satisfatoriamente,
bem longe da pobreza dos que ficam procurando símbolos em rituais sem pelo
menos saber se o conteúdo deles é confiável. Se faz mister primeiro conhecer a
origem e a história do emblema no contexto e, por segundo, o sentido que a
doutrina quer lhe dar.
T.F.A.
PEDRO JUK
NOV/2019