Em 24/07/2019 o Respeitável Irmão Eduardo Gonçalves, Loja Carlos Gomes, 1.598,
REAA, GOB -SP, Oriente de São Paulo, Capital, solicita esclarecimento para o
que segue:
DESNÍVEL DO ORIENTE.
Na última palestra que fui e o Irmão foi o
palestrante, tinha dito sobre o pavimento do templo, onde o pavimento do
oriente não teria necessidade de estar elevado ao ocidente, que seria um
nivelamento igual para todo templo, que apenas elevaria o altar, onde a mesa e
trono de Salomão se encontra. Se realmente for isso, poderia me dar uma
orientação rápida, pois não me recordo da sua explicação.
CONSIDERAÇÕES.
O que expliquei em
Santos naquela oportunidade é que antes do aparecimento das Lojas Capitulares
na França, não havia desnível e nem balaustrada nos templos do REAA, ficando neles
elevado apenas o trono por três degraus. Até então, o primeiro ritual simbólico
datado de 1804 para o REAA e publicados mais tarde na França no "Guide des Maçons Ecossais" trazia
um templo sem desnível e demarcação entre o Oriente e Ocidente – base na antiga
Maçonaria anglo-saxônica.[1]
Devido às Lojas
Capitulares (extintas - vide a sua história em França, século XIX) é que o
simbolismo teve que se adaptar ao Capítulo já que o Grande Oriente da França,
sob esse feitio irregular, tomava para si o governo do simbolismo e do Capítulo
(até o grau 18), ficando o Segundo Supremo Conselho na França com os graus de
Kadosh e do Consistório.
Como felizmente as coisas
mais tarde retornariam aos seus devidos lugares, sendo extintas as Lojas
Capitulares, o então simbolismo permaneceria sob a égide do Grande Oriente e os
demais graus do escocesismo, do 4º ao 33º, sob o comando do Supremo Conselho.
Entretanto, à moda
latina, o Oriente que deveria perder a demarcação e o desnível com o fim das
Lojas Capitulares, acabou permanecendo dividido e elevado à moda capitular.
Assim, esse costume se enraizou no simbolismo e acabou se sacramentando pelo
advento da evolução dos rituais no século XIX e parte do XX.
Atualmente essa
disposição topográfica se tornou costumeira como que fundada nos costumes,
tornando-se consuetudinária no REAA. Embora não original, hoje seria
inadmissível se imaginar um Templo do REAA sem o desnível do Oriente para o
Ocidente e sem balaustrada, dentre outros.
Elevações e degraus à
parte, consagrado o Oriente elevado no REAA, o desnível do Oriente deve ser de
apenas um degrau e não três ou quatro como desafortunadamente vemos nos nossos
rituais e em muitos templos que os copiaram.
A bem da verdade, esse
anacrônico e desmedido número de degraus têm sido apenas um vetor para ilações
e incompreensões. Discute-se, por exemplo, sobre qual degrau se saúda o
Venerável – um verdadeiro amontoado de dúvidas que não fazem nenhum sentido.
Retomando, na
realidade, os desníveis no recinto do Templo (sala da Loja) se consolidaram no
Rito com a necessidade de existirem sete degraus na Loja, isto é, um degrau
para o Oriente, três para o sólio, dois para a mesa do Primeiro Vigilante e um
para a mesa do Segundo Vigilante – sob a égide dos "antigos" o número
sete se reporta às Sete Ciências e Artes Liberais, enquanto que sob a égide da
influência hebraica (comum no REAA) o sete se refere ao shabat e a criação.
Entretanto, o que a
imensa maioria dos ritualistas fez mesmo foi copiar costumes de outros ritos
sem levar em conta a essência doutrinária do escocesismo. Tudo acabou resultando
em falsas interpretações e mesmo desatenção daqueles que acham que tudo é igual
na Sublime Instituição. Esses simplesmente para chegar ao número sete, sem o
menor pudor histórico, inventaram quatro degraus do Ocidente para o Oriente e
os somaram aos três do sólio. Assim, pela lei do menor esforço e sem levar em
consideração os desníveis autênticos para os Vigilantes, acabaram arrumando, em
vez de sete, dez degraus para a Loja, quantidade essa inexistente no
escocesismo simbólico. Vale comentar que quadro degraus para o Oriente é disposição
topográfica no Templo de outros Ritos que nem mesmo elevam as mesas dos
vigilantes.
Há ainda aqueles que
adoram distinções e acham que quanto mais alto for o Oriente, mais propício
fica o ambiente para os desfiles de vaidades.
Assim, percorremos a
história partindo de uma anomalia que acabou se tornando natural no REAA por
conta das Lojas Capitulares (um degrau para o Oriente). Infelizmente, nem mesmo
essa adequação seria seguida nos moldes do Rito na França, pois logo,
desatentos passariam a adotar quatro, no lugar de um só degrau que dá acesso ao
Oriente. Atualmente existem inúmeros templos do REAA no Brasil assim construídos
(quatro degraus), pois foram edificados seguindo o anacronismo de muitos rituais.
Literalmente eu
tenho orientado que na medida do possível, aqueles que pensam em construir novos
Templos que o façam então deixando o Oriente elevado a apenas um degrau do
Ocidente, seguindo mais três para o sólio, dois para o Primeiro Vigilante e um
para o Segundo Vigilante.
A intenção é de que
paulatinamente esse equívoco seja diluído, ficando apenas um degrau entre o
Oriente e o Ocidente. Também é preciso se levar em conta de que muitos Templos
assim estão construídos devendo os trabalhos a eles se adaptar, pois seria
insensato se obrigar a demolição e adequação dos espaços, sobretudo pelo viés
econômico.
Assim, o mais
importante é que os praticantes do REAA saibam pelo menos da história do Oriente
elevado na Maçonaria Francesa.
No mais, o melhor é
orientar que os novos templos sejam construídos nos conformes – um para o
Oriente, três para o sólio, dois para o Primeiro Vigilante e um para o Segundo.
T.F.A.
PEDRO JUK
NOV/2019
[1] Estes Rituais Simbólicos,
que foram publicados no “Guide des Maçons Écossais”,
estimadamente em 1821, têm como fontes principais os Rituais Ingleses da Grande
Loja dos Antigos (divulgados pela exposure “Three Distinct Knocks”,
de 1760), os Rituais do Rito Francês (“Régulateur du Maçon”)
e algumas tradições das Lojas-Mãe Escocesas de Marselha, Avignon, e de Paris,
tais como a disposição dos Pilares, a cor vermelha, e a aclamação Huzzé.
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