O Respeitável Irmão Nilton Bustamante, Loja Fronteira Paulista, 448, sem mencionar o nome do Rito, GLESP (CMSB), Oriente de Bragança Paulista, Estado de São Paulo, apresenta a dúvida seguinte:
PATRONOS DA MAÇONARIA
Por gentileza,
poderia sanar minha dúvida sobre quem é o "Patrono(s)” da Maçonaria? S.
João Batista, S. João Evangelista, S. João Smoler (S. João de Jerusalém).
CONSIDERAÇÕES.
O que tem confundido alguns Irmãos a respeito desse tema são os muitos escritos e opiniões onde o assunto não é abordado na sua amplitude, ou seja, se buscar saber quem é de fato o patrono universal da Maçonaria, e não o padroeiro particular de um rito maçônico. É bom que se diga que a Maçonaria Universal, conhecida como Franco-Maçônico Básico (simbolismo), é formada por ritos, cujos quais nasceram com algumas características próprias, portanto é natural que desde os tempos operativos as confrarias de pedreiros possuíssem particularmente seus santos protetores. Isso nada tem a ver com personagens que sejam patronos de toda a Maçonaria.
A não observação desse importante detalhe por parte de alguns escritores
maçônicos, desafortunadamente tem levado muitos maçons a difundirem afirmativas
contraditórias que envolvem padroeiros de ritos em vez de propriamente o
padroado universal da Ordem. Um exemplo disso é o São João Esmoler, ou de
Jerusalém, que de fato é um santo padroeiro, todavia não na totalidade da Ordem
Maçônica, porém patrono de um rito maçônico em particular.
Outro exemplo indevido utilizado como padroeiro maçônico foi o ocorrido
na França do século XIX nos primórdios do simbolismo do REAA, oportunidade em
que o Guia dos Maçons Escoceses estranhamente trazia um santo padroeiro que nem
mesmo existia no hagiológio da Igreja. Esse personagem, inexistente para a
Igreja, foi chamado de “São João d’Escócia”. Da “Escócia” provavelmente para tentar
conciliar com o nome “Escocês” que o rito possui no seu título.
Embora, esse São João, o da Escócia, tenha desaparecido mais tarde do Rito,
o estrago já estava feito, pois mesmo assim por muito tempo alguns rituais do escocesismo
ainda mencionavam esse ilustre personagem desconhecido.
Com respeito ao padroado universal da Maçonaria, isto é, independentemente
dos ritos que a compõem, ela, a Instituição Maçônica, de fato universalmente possui
dois personagens patronais. Esses patronos, por questões históricas possuem uma
concreta relação com os períodos solsticiais do verão e inverno que ocorrem no
hemisfério Norte.
Nesse cenário, vale ressaltar que os solstícios[1] sempre estiveram em destaque
entre os nossos ancestrais dos tempos da Maçonaria Operativa. Em linhas gerais,
nos tempos do ofício as épocas solsticiais regulavam o andamento dos trabalhos profissionais
nos canteiros de obras da Idade Média.
Operativamente, nos canteiros medievais os solstícios eram uma espécie
de calendário do ofício. De certo modo, isso significa que dos doze meses do ano,
nove deles eram geralmente satisfatórios para o desenvolvimento dos trabalhos que
ocorriam nas construções das grandes catedrais e igrejas medievais.
Essa relação ofício/solstício, de modo comum significa que há épocas que
propiciam mais, ou menos luz solar. Nesse sentido, o ápice da luz durante o verão
ao Norte, ajudava os Franco-Maçons a exercerem com plenitude os seus trabalhos.
Já o inverno ao Norte, com dias curtos e noites longas, ao contrário era insalubre
pela presença das baixas temperaturas e ausência de luz. Os três meses de
inverno eram desfavoráveis para ofício.
Assim, no período hibernal, quando simbolicamente a Terra fica viúva do
Sol (prevalência das trevas e a morte da Natureza), as confrarias de pedreiros dispensavam
seus operários pagando-os conforme o merecimento. Dessa forma, os operários
contentes e satisfeitos se recolhiam para o merecido descanso até que fossem chamados
de volta para o trabalho na próxima primavera.
Esse mecanismo astronômico do Sol, gerador dos solstícios e das estações
do ano na Terra, prosseguiu se integrando como uma alegoria especulativa da
Moderna Maçonaria. Nesse ambiente, vale lembrar que próximo às datas
solsticiais de junho (verão no Norte) e de dezembro (inverno no Norte), também são
comemorados a 24 de junho e 27 de dezembro, os dias dos dois Joões padroeiros -
o Batista e o Evangelista.
É bom que se diga que universalmente a Moderna Maçonaria celebra os
solstícios de inverno e verão relativos ao hemisfério Norte do nosso Planeta. Isso
se dá porque foi nesse hemisfério que a Maçonaria floresceu. Dessa forma, convenciona-se
que todas as Lojas maçônicas espalhadas pela face da terra, estejam elas
situadas ao Norte ou ao Sul, devem celebrar os solstícios de verão, associado a
João, o Batista, e de inverno, conexo a João, o Evangelista.
Sob uma conjuntura religiosa, a Igreja, por razões históricas[2], teve que adequar as datas
comemorativas aos Joões, Batista e Evangelista à proximidade dos solstícios. Desse
modo, emblematicamente João, o Batista, nascido em plena Luz do verão, veio
para anunciar a chegada da Luz, ou seja, veio para divulgar o nascimento de Jesus,
tomado como a Luz do Mundo. Já João, o Evangelista, que nascera em plena estação
sombria do inverno (menos luz), veio para divulgar a boa nova, isto é, pregar o
Evangelho de Jesus, a Luz do Mundo.
Graças a isso é que na Maçonaria,
independente dos padroeiros particulares dos seus ritos, João, o Batista, é sempre
comemorado no verão do Norte a 24 de junho, enquanto que João, o Evangelista, é
sempre comemorado em pleno inverno do Norte, a 27 de dezembro. Nesse cenário, é
bom que se diga que embora a Maçonaria não seja uma religião, de certo modo ela
acabou por influência herdando alguma religiosidade da Igreja, já que historicamente
se sabe que a Igreja foi por muito tempo protetora das corporações de ofício medievais,
ancestrais da Franco-Maçonaria.
Em razão disso é que a Maçonaria Universal
comemora dois patronos, e não apenas um, pois ambos estão intimamente ligados
às datas solsticiais, períodos tão caros aos ancestrais que mais tarde dariam
origem às Lojas de São João.
Toda essa alegoria solar está expressa
em um dos símbolos mais antigos utilizados pela Maçonaria - o Círculo e as
Paralelas Tangenciais. Nesse conjunto simbólico, o círculo representa o Sol, e
as paralelas tangenciais os trópicos de Câncer e de Capricórnio.
A ideia concebe que cada um dos pontos de
tangência marca respectivamente o solstício de inverno e de verão, isto é, o Sol
não ultrapassa os trópicos. Nesse argumento simbólico, o Sol é representado
pelo círculo, e os dois Joões pelas paralelas (trópicos) tangenciais. O ideograma
possui o desiderato de lembrar ao maçom sobre os limites da razão humana perante
ao Criador.
Finalizando, no que concerne a São João
de Jerusalém, ou Esmoler, ele é o padroeiro particular de um rito maçônico, mas
não da Maçonaria como um todo. Vale lembrar que a Maçonaria é composta por
ritos. Nesse sentido, muitos dos ritos têm seus próprios personagens patronais,
contudo esses personagens nada tem a ver com os solstícios e com os patronos gerais
da Ordem, que são o Batista e o Evangelista.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
JUN/2023
[1] Solstício (sol estático) – é a época em
que o Sol passa pela sua maior declinação boreal ou austral, e durante a qual
cessa de afastar-se do equador. É um fenômeno astronômico que marca o início do
verão ou do inverno conforme o hemisfério da Terra. Ocorre duas vezes por ano e está
associado ao eixo de rotação da Terra, cuja posição é inclinada a 23,5° em
relação ao seu próprio eixo. Durante os solstícios, o Sol permanece
aparentemente estático por um pequeno período em distância máxima da linha do
equador.
[2] Cristianismo e o Império Romano - No ano 313, o imperador Constantino
concedeu liberdade de culto aos cristãos, até então perseguidos e torturados
por sua crença. O cristianismo tornou-se a
religião oficial do Império Romano através de ato instituído por Teodósio. Com
isso a Igreja teve que adequar os seus santos cristãos aos personagens do
paganismo romano.