Em 09.07.2025 o Respeitável Irmão Rodrigo
Cunha, Loja Peregrinos, 3525, REAA, GOB -SP, Oriente de Várzea Paulista, Estado
de São Paulo, apresenta a seguinte questão:
SALMO
A dúvida é pertinente a um podcast que assisti,
o canal Maçonizando. Num trecho da entrevista você comentou que no REEA não há
leitura do salmo 133, que tal prática é costume no rito de York. A questão é,
dado a este detalhe, onde no REEA , não se deveria ler tal salmo na abertura do
Livro da Lei, porque então no ritual do Aprendiz, está descrito que o Orador
deve fazer a leitura do referido salmo, e porque ainda praticamos esse costume
se não é próprio do Rito.
CONSIDERAÇÕES
Inicialmente, gostaria de salientar que em minha fala ao canal
Maçonizando, tratei de aspectos históricos e não especificamente de um ritual.
No contexto histórico, vale relatar que no início das atividades do simbolismo
do REAA, nem mesmo havia leitura de trecho do Livro da Lei.
Com o aperfeiçoamento dos rituais do REAA, ocorrido a partir dos meados
do século XIX, pós Lojas Capitulares, e a sedimentação iniciática do rito baseada,
principalmente em ritos solares do passado, a adoção da leitura de um trecho do
Livro da Lei, relativo ao triunfo da Luz sobre as trevas, começava paulatinamente
a se consagrar no Rito.
Na França, antes da adoção do termo “simbolismo”, as Lojas que
praticavam o Franco-maçônico básico eram conhecidas como “Lojas de São João”, principalmente
pela relação solar entre os solstícios (cultos pagãos) e os dois santos
padroeiros, João, o Batista e João, o Evangelista (cristianismo).
Historicamente, vale lembrar que a Maçonaria primitiva nascera à sombra
da Igreja e dela obteve proteção por muito tempo. Assim, nada a se estranhar que
resquícios clericais tenham alcançado a cultura da Moderna Maçonaria.
À vista disso, por influências clericais, o REAA acabaria adotando a
leitura de João, 1; 1-5 na abertura dos trabalhos do grau de Aprendiz,
sobretudo pela relação solsticial da plenitude da Luz (verão no hemisfério
Norte). De certa forma, com isso solidificava-se um elo entre o período operativo
e o especulativo da Ordem.
Entretanto, em virtude de fatos históricos, na Maçonaria brasileira a
leitura do Salmo 133 acabaria sendo introduzido por volta do segundo quartel do
século XX, pelas Grandes Lojas Estaduais brasileiras. Mais tarde essa indevida
inserção contaminaria também o REAA praticado no GOB, o que perdura até hoje.
Na realidade, na Maçonaria o Salmo 133 teve uma breve aparição no
Yorkshire, na Inglaterra, contudo logo veio a desaparecer por completo, somente
vindo reaparecer, mais tarde, em rituais de algumas das Grandes Lojas
Norte-americanas, no sistema conhecido como Blue Lodges - na verdade, essa
leitura do Salmo não ocorre na abertura dos trabalhos, porém é lido por um oficial
durante uma perambulação do Candidato pela Loja, na iniciação.
É bastante provável que Mário Marinho Béhring, ao buscar reconhecimento das
Grandes Lojas Norte-americanas para as suas recém-criadas Grandes Lojas Estaduais
brasileiras, tenha copiando o Salmo 133 das Blue Lodges, inserindo-o
indevidamente no ritual do REAA que fora por ele criado em 1928 para a sua Obediência,
então criada. Enfim, esta é uma provável gênese do indevido aparecimento do Salmo
133 na liturgia do REAA.
Atualmente, por circunstâncias alheias à originalidade do REAA, o Salmo
133 também aparece inadequadamente consagrado nos rituais vigentes no GOB.
Arrematando essas considerações, é conveniente mencionar que em
Maçonaria nem sempre os rituais trazem, na sua totalidade, a originalidade do
rito. Apesar disso, o maçom deve irremediavelmente seguir o que consta no Ritual
vigente. Retirar algo consagrado por uso e costume não é tão simples como se
pensa. Cabe, nesse caso, lembrar do que disse o Irmão Goethe, "matar o
dinossauro não é tão difícil; difícil é consumir os seus restos".
T.F.A.
PEDRO JUK – SGOR/GOB
jukirm@hotmail.com
http://pedro-juk.blogspot.com.br
DEZ/2025