Em 22/04/2018 o Respeitável Irmão
Antonio Gouveia, Loja Serra do Roncador, 2.240, sem mencionar o nome do Rito e
do Oriente, GOB-MT, Oriente do Mato Grosso, solicita comentários a respeito:
ASPECTOS DO RITO MODERNO
Gostaria de saber sua opinião sobre alguns aspectos do Rito Moderno.
Entendo que, ao se declararem agnósticos pela prática deste Rito, Maçons estão
contrariando o Inciso I do Art. 2º da Constituição do GOB. Também a ausência de
símbolos nas Lojas retira do Ritual sua função iniciática representada pelo
simbolismo neles existente. Seria, para mim, um Rito sem rito iniciático.
Gostaria de sua opinião sobre estes dois pontos, desde já agradecendo sua
atenção.
CONSIDERAÇÕES.
Penso que para tal
existem aspectos que merecem uma consideração mais apurada.
Na concepção do
agnosticismo, sobre o ponto de vista de um rito maçônico, ele deve ser admitido
apenas como uma atitude que vê inúteis discussões sobre questões metafísicas,
sobretudo porque elas tratam de realidades do incognoscível.
Isso, entretanto,
não quer dizer descrença num Princípio Criador, senão o caráter de não discutir
esse efeito, deixando que cada um, livremente, fique com as suas conclusões.
Ainda sob essa
égide, se bem observado às teorias agnósticas, o agnosticismo admite uma ordem
de realidade que não pode ser conhecido. Por óbvio isso nada tem a ver com
descrença em Deus.
No que diz respeito
a isso, especialmente ao Rito Moderno, ou Francês, sua definição se adequa mais
a um sistema não dogmático, a despeito de que dogma seja um ponto fundamental e
indiscutível de uma doutrina ou sistema religioso. Não apregoar e nem aceitar
dogmas também não é a mesma coisa do que ser ateu. Muito menos ainda é
confundir essa definição como agnosticismo – vide os conceitos filosóficos do
teísmo e do deísmo.
Na realidade o Rito
Moderno se embasa na liberdade do pensamento e na razão, motivo pelo qual ele
deixa à consciência de cada um dos seus membros as interpretações metafísicas.
Na verdade isso não significa combater a religião, mas ensinar ao homem que
cada um deve respeitar as convicções dos outros. Assim, o ambiente ritualístico
desse Rito não admite nele a imposição de preferências religiosas ou em seu
nome fazer proselitismos.
Isso faz parte da
história e pode ser verificada nos acontecimentos políticos, sociais e
religiosos hauridos do século XVIII.
Essa condição
racional está sutilmente interligada a uma concepção deísta que de certo modo
acredita num Criador, mas sem a sua antropomorfização e nem a sua interferência
nas causas humanas.
No que diz respeito
à Constituição do GOB e o seu Artº 2º, Inciso I – a existência de um princípio criador: o Grande Arquiteto do Universo
– cabe ao maçom compreender quem e o que é esse Princípio Criador denominado
Arquiteto do Universo. Para tanto há que se compreender que esse título tem
acima de tudo um viés conciliatório para um único Deus Criador mencionado nas
religiões dos homens, visto tanto pela óptica teísta bem como pela deísta.
Assim, o Grande
Arquiteto do Universo é Aquele que concilia todas as crenças, sem que com isso
existam na Moderna Maçonaria imposições religiosas.
Nesse sentido o
Rito Moderno, ou Francês, ao contrário do que muitos pensam, jamais se opõe à crença
em Deus. Entende sim que embora nos seus templos não estejam absolutamente
previstos dogmas e nem preces e orações, o Arquiteto Criador é um elemento velado
de conciliação religiosa entre os homens - que cada um tenha a sua convicção,
sem que haja sobre tal nenhuma interpelação por parte da Maçonaria.
Evidencia-se nesse
caso o respeito à liberdade individual religiosa, porém sem que jamais esse
caráter possa se confundir com ateísmo.
É oportuno
mencionar que na Maçonaria em geral (para todos os seus ritos) basta o título
de “O Grande Arquiteto do Universo”. Não existe razão para que ele seja ainda complementado
como o redundante “que é Deus”, como
é comum se encontrar em muitos rituais, pois por si só conciliatoriamente
Grande Arquiteto já exprime essa verdade.
A despeito desse
comentário, é seguro dizer que não existe ateísmo na Maçonaria, ou melhor, que
não existem ritos ateus, isso porque os nossos ancestrais, as “organizações de
construtores medievais”, sempre tiveram a característica de dar um cunho
religioso ao trabalho. É o caso, por exemplo, das Associações Monásticas do
século VII, das Confrarias Leigas do século XI, da Francomaçonaria (protegida
pela Igreja) após e século XII e as Guildas de Construtores. Posteriormente, já
no período dos Aceitos, século XV, a Maçonaria continuou trazendo consigo todo esse
respeito religioso, o que pode ser inclusive comprovado no século XVIII com o advento
da Moderna Maçonaria surgida com a fundação da Primeira Grande Loja em Londres.
Infelizmente muitos
tratadistas, e mesmo alguns próprios praticantes do Rito Moderno ou Francês,
continuam fazendo má interpretação da sua história dando ao Rito uma falsa
característica de ser um sistema que não crê em Deus. Provavelmente isso
acontece por eles não a conhecerem amiúde a sua história, sobretudo a partir
das origens da Maçonaria na França, assim como a sua própria filosofia.
A retirada da
Bíblia, fato que se deu no Grande Oriente da França, também deu subsídios para
interpretações equivocadas. Alguns entenderam esse procedimento como um
predicado de ateísmo, o que não é verdade, pois essa atitude nada tem a ver com
a crença em Deus, apenas teve o desiderato de manter a liberdade religiosa
entre seus membros, não indagando deles a sua religião.
Sugere-se àquele
que estuda esse tema que não tome conclusões apressadas sem antes fazer uma
analise minuciosa da sua história, sobretudo naquilo que envolve a Maçonaria na
França a partir do século XVIII.
O belíssimo Rito Moderno, ou Francês
tem por norma considerar o maçom como lídimo produto da Loja e, acima de tudo,
um construtor social que, pelo estudo da Natureza, deve inspirar-se na
Sabedoria e na evolução, colaborando assim com a construção de um mundo melhor
e fundamentado na Liberdade, na Igualdade e na Fraternidade. Longe disso, mas
muito longe mesmo, está qualquer afirmativa de que o Rito seja contrário à
crença individual em Deus.
Quanto a sua
questão quando aborda a inexistência de símbolos na Loja do Rito e com isso a sua
função iniciática, me parece que esse seja um entendimento precipitado e
equivocado, pois os seus verdadeiros rituais apresentam um belíssimo arcabouço
iniciático suportado por símbolos e alegorias.
Símbolos estão
presentes sim no Rito Moderno, ou Francês. Pode-se citar, por exemplo, a presença
do Delta, do Olho Onividente, do Sol, da Lua, do Esquadro e do Compasso (Luzes
Emblemáticas), do Painel da Loja, cujo mesmo integra no seu interior um
conjunto de símbolos e alegorias, etc.
Eu tenho dito que
cada rito maçônico possui o seu arcabouço doutrinário que fora desenvolvido
sobre um sistema de símbolos e alegorias. O Rito Moderno ou Francês não foge a
essa regra.
O que se tem infelizmente
observado é que ultimamente muitas opiniões hauridas de falsos entendidos têm
feito com que o Rito Moderno tenha se descaracterizado em alguns dos seus aspectos.
Originário da França e amparado pelas ideias dos Modernos da Primeira Grande
Loja Inglesa, o Rito surgiu de uma depuração feita sobre a enxurrada de graus
além do simbolismo que assolava na época a Maçonaria francesa.
Sob essa égide o
Rito Moderno, nasceu no seio do Grande Oriente da França e foi concebido e
revisado originalmente com três graus simbólicos – Aprendiz, Companheiro e
Mestre – mais quatro graus além dos três primeiros – Eleito, Escocês, Cavaleiro
do Oriente, ou da Espada, e Cavaleiro Rosa Cruz. Com essa característica ele
ficou também conhecido como o “rito dos sete graus”, enquanto que o título
“Moderno” se deu porque o Rito aderiu aos costumes da Primeira Grande Loja
inglesa que era também conhecida como a Grande Loja dos Modernos.
Embora algumas
Obediências mundiais mantenham o Rito com as suas características originais,
outras, entretanto infelizmente já o deturparam como é o caso do acréscimo nele
de mais dois graus sob a alegação de que houve tempo que em Portugal o Rito
possuía nove graus, esquecendo-se esses de que originalmente o Rito nasceu na
França e não em Portugal.
Outra deturpação
que o Rito tem enfrentado em algumas Obediências tem sido pela interferência
dos seus respectivos Regulamentos. Um exemplo disso é a inclusão, em alguns
casos, da Bíblia como Livro da Lei no Rito Moderno quando se sabe perfeitamente
que ela não faz parte originalmente do relicário emblemático desse Rito,
justamente pela sua característica de não interferir na individualidade dos
seus membros. O original, no lugar da Bíblia, é o Livro das Constituições, mas
como alguns regulamentos de algumas Obediências preveem indiscriminadamente a
utilização da Bíblia em qualquer Rito, essa anomalia acaba se dando em completo
desrespeito àquilo que prevê o seu sistema iniciático e doutrinário.
Eram essas as
minhas considerações.
T.F.A.
PEDRO JUK
JUNHO/2018