Em 19/04/2018 o Respeitável Irmão
José Tonete Sobrinho, Loja Guaicurus, 4.317, sem mencionar o nome do Rito, GOB-MS,
Oriente de Campo Grande, Estado do Mato Grosso do Sul, apresenta a seguinte
questão:
MESTRES E A OCUPAÇÃO DO ORIENTE.
Pergunto: Somente Mestres podem ocupar lugares no Oriente. Não é
incoerente o ritual na iniciação Aprendiz prestar seu juramento no Oriente. Não
seria correto que o mesmo o fizesse no ocidente, ou que o Altar dos Juramentos
localizasse no Ocidente em frente Venerável Mestre, pois a prerrogativa do
Oriente são somente de Mestres. Se tal formalidade e excepcional por se tratar
de Iniciação, não seria correto o Aprendiz aprender trabalhar em Loja acompanhado
do Mestre de Cerimônias?
CONSIDERAÇÕES.
Essa tem sido uma das contradições que
aparecem desde a demarcação e erguimento do Oriente por ocasião do aparecimento
no século XIX das hoje já extintas Lojas Capitulares do REAA.
Para tanto é preciso antes se compreender que
originalmente no escocesismo simbólico não existia Oriente demarcado, senão
identificava-se o mesmo como o lugar do Venerável Mestre e os que ocupavam
assentos à sua direita e à sua esquerda. Em síntese, o Oriente era tudo o que
estivesse encostado e mais próximo da parede Oriental, sem que existisse uma
referência limítrofe como o desnível e a balaustrada atualmente conhecidos.
Isso pode ser ainda constatado, por exemplo,
nas Lojas da vertente inglesa de Maçonaria, a exemplo do Rito de York, que não
possuem essa demarcação, sendo toda a topografia da sala da Loja no mesmo
nível, excedo o pedestal do Mestre da Loja que fica elevado.
Embora o Rito Escocês seja de origem
francesa, é incontestável que ele possui forte influência anglo-saxônica no seu
simbolismo, esse adquirido desde o nascimento dos seus primeiros rituais
simbólicos a partir de 1804 na França, cujos quais foram influenciados pelas práticas
das Lojas Azuis do Craft norte-americano e trazidos por maçons franceses de
retorno dos Estados Unidos da América do Norte para a França (vide essa
história).
Então, quando apareceram particularmente no
Grande Oriente da França as Lojas Capitulares, cujas quais envolviam desde o
simbolismo até os graus capitulares, o Oriente dessas Lojas seria demarcado em
relação ao Ocidente por uma balaustrada. Esse espaço também se distinguia do
restante do recinto por possuir o seu nível um pouco mais elevado, o que se
dava por apenas um pequeno degrau.
Houve tempo (parte do século XIX) em que na
França, o Grande Oriente se ocupou dos graus simbólicos até os graus capitulares
(do Primeiro Grau até o Grau 18). Nesse sistema o Athersata do Capítulo era o
mesmo Venerável Mestre do simbolismo. Ficava naquela oportunidade com o Segundo
Supremo Conselho do REAA apenas os graus superiores que se davam a partir do
Kadosh (do 19º ao 30º Grau) até o Consistório (do 31º ao 33ºGrau).
Assim, uma das características de disposição
topográfica das Lojas Capitulares era a de que se subia ao Oriente por um
pequeno degrau e ao sólio (lugar do Venerável) por mais três.
Seguindo o curso da história, essas Lojas num
futuro próximo seriam extintas, ficando apenas o simbolismo com o Grande
Oriente da França e os demais com o Segundo Supremo Conselho - o que na verdade
nada mais era do que colocar as coisas nos seus devidos lugares. Entretanto, desafortunadamente
e a moda latina, as Lojas simbólicas do escocesismo acabaram não se livrando de
alguns costumes capitulares, dentre os quais o de se manter o Oriente demarcado
e elevado, o que ia completamente contra o que previa o primeiro ritual
simbólico do REAA datado de 1804 e que havia surgido antes das Lojas
Capitulares.
Como o Oriente elevado no simbolismo,
provavelmente para atender determinados interesses, acabou se enraizando ao ponto
de se tornar tradicional no REAA, também o Altar dos Juramentos, por ser uma
extensão do Altar utilizado pelo Venerável Mestre, inquestionavelmente permaneceu
dentro dos limites do Oriente da Loja em lugar próximo e à frente, mas abaixo
do sólio.
Devido a isso, algumas práticas da liturgia
maçônica no escocesismo acabaram assumindo um aspecto contraditório em algumas
situações. É o caso, por exemplo, da tomada das obrigações dos Aprendizes e dos
Companheiros que acontecem no Oriente durante as Iniciações e Elevações, o que
é contra toda a doutrina de ascensão iniciática do Rito. Note que antes da
demarcação do Oriente, à moda capitular, isso não acontecia, pois a referência
oriental era a partir do Venerável em direção ao Retábulo do Oriente (parede geralmente
arredondada à sua retaguarda).
Explica-se essa contradição iniciática porque
sob nenhuma hipótese um Aprendiz ou um Companheiro podem ingressar no Oriente
em Loja aberta, pois esse local representa o final da escalada e com isso,
simbolicamente, somente ali ingressam ou permanecem aqueles que alcançaram o
Terceiro Grau.
Iniciaticamente a doutrina do REAA constrói
uma alegoria baseada nas Leis da Natureza associando-as aos três ciclos do
aprendizado maçônico. Sob essa óptica, os Aprendizes ocupam o Norte como ponto
de partida iniciática, os Companheiros o Sul como ciclo intermediário e os
Mestres, por concluírem o período, indistintamente ocupam, a partir do Oriente,
todos os quadrantes da sala da Loja para levar o conhecimento (experiência)
adquirido.
Nesse sentido, também vale a pena mencionar
que a partir do século XIX paulatinamente ingressam no REAA a simbologia das
constelações zodiacais que vão demarcadas ao Norte e ao Sul da abóbada
ocidental da Loja, ou representadas por doze Colunas Zodiacais que vão situadas
nas paredes Norte e Sul ocidental. Essas Colunas representam a escalada
iniciática completa do simbolismo, comparando a vida do iniciado aos ciclos
naturais – o Norte para os Aprendizes, o Sul para os Companheiros e o Oriente
para os Mestres. Dada a essa disposição, não existem Colunas Zodiacais, além da
balaustrada, isto é, elas não ocupam as paredes do Oriente demarcado. Assim por
elas representarem principalmente a senda dos Aprendizes e Companheiros, sua
localização corrobora com a não presença de detentores dos dois primeiros graus
no Oriente da Loja – a alegoria iniciática significa que a Natureza morre para
renascer na Luz, o que se dá pela representação teatral da Lenda Hirâmica
durante a Exaltação – só aquele que passa por essa representação pode ingressar
no Oriente.
Como o Oriente elevado e demarcado no
simbolismo do REAA passou a ser elemento consuetudinário a partir do século XIX,
os rituais, entretanto não acompanharam essa mudança para solucionar a presença
no Oriente de Aprendizes e Companheiros nas respectivas Iniciações e Elevações.
A imensa maioria dos nossos rituais ainda hoje não solucionou esse equívoco que
contradiz toda a escalada iniciática ao colocar, mesmo temporariamente, o
Aprendiz (infância) ou o Companheiro (juventude) num lugar onde só ingressam
aqueles que alcançaram a maturidade (senilidade) da vida – a primavera sempre
antecede o verão; nunca o sucede imediatamente.
Na verdade, a solução para esse caso não
seria simplesmente a de trazer o Altar dos Juramentos para o Ocidente como
alguns desatentos apregoam, pois isso seria mais contraditório ainda em se
tratando do simbolismo do REAA. Nesse Rito é inquestionável que o Altar dos
Juramentos se situe no Oriente, portanto não adianta se desvestir um santo para
se vestir o outro.
Assim, muitas Lojas preocupadas com o
cumprimento da doutrina iniciática, o que é primordial para a instrução e para
a razão dos fatos, têm solucionado essa questão adequando o Altar dos
Juramentos (que deve ser móvel) para a liturgia do juramento e da consagração.
Para tanto, o móvel que serve como Altar dos Juramentos é simplesmente
deslocado um pouco para trás e colocado rente ao degrau que separa o Oriente do
Ocidente. Assim o Altar, mesmo que no limite entre os dois ambientes ainda permanece
a contento no Oriente.
Nesse sentido, com boa vontade e uma simples,
mais prática solução, os Aprendizes e o Companheiros, diante do Altar deslocado,
mas no Oriente, se postam no Ocidente durante o juramento e a consagração.
Já quanto ao revestimento das insígnias,
primeiras instruções, entrega de rituais e outros procedimentos litúrgicos, são
ações que podem perfeitamente ser executadas no Ocidente e próximas ao Oriente,
bastando que para tal o Venerável e outros de direito para ali se desloquem na
oportunidade.
Acredito que com essas orientações e com um
pouco de boa vontade, certamente essa demanda se resolveria. Espera-se então
que essa luz chegue um dia até os nossos ritualistas e eles adequem esse
procedimento nos nossos rituais para o bem da liturgia do REAA.
É bem verdade que mesmo assim ainda não
faltarão críticas dos contemplativos plantonistas que nada entendem da doutrina
maçônica e sempre se apegam ao “onde está escrito” para lhes servir de muleta.
Aproveitando esse momento, acho oportuno mencionar
que essa adequação se daria melhor se outra tradição fosse também respeitada no
escocesismo - a do desnível entre o Oriente e o Ocidente. Seria então
necessário se acabar também com essa quantidade desmedida de degraus para se
subir ao Oriente como tem sido geralmente demostrado nos nossos rituais. Na
realidade para esse desnível bastaria apenas e tão somente “um pequeno degrau”.
Esse equívoco se dá porque num templo do
escocesismo simbólico deve existir o número de sete degraus que vão assim
distribuídos: um degrau para o Oriente, três para o sólio, dois para o Primeiro
Vigilante e um para o Segundo. Mal interpretada essa alegoria que envolve o
número da “criação”, os ritualistas, lançando mão do “que é mais fácil é mais
barato”, simplesmente resolveram somar aos três degraus do sólio mais quatro
para o Oriente. Assim, além de não resolver o problema, acabaram criando mais
um.
Achei oportuno demonstrar mais esse erro,
porque no caso da adequação do Altar dos Juramentos conforme anteriormente comentado,
a existência de apenas um degrau para o Oriente seria, além de correto, o mais
adequado para a colocação do Altar no limite com o Ocidente, inclusive sob o
aspecto de conforto no ato da genuflexão.
Dando por concluído, eram esses os
comentários que entendo pertinentes ao fato, destacando a importância que se
deve dar à estrutura doutrinária do Rito. No mais agora é só esperar as
críticas, mas também a boa vontade das autoridades competentes em se interessar
pela solução desse elemento contraditório, destacando que além desse, muitos
outros também existem. Afinal, se o Aprendiz só sabe simbolicamente soletrar,
então que história é esse de ao final ele dar a palavra também por sílabas?
Parece-me que alguma aí também não está nos conformes. Não acha?
T.F.A.
PEDRO
JUK
JUNHO/2018.
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