sábado, 23 de junho de 2018

A CRENÇA EM DEUS - ASPECTOS DO RITO MODERNO


Em 22/04/2018 o Respeitável Irmão Antonio Gouveia, Loja Serra do Roncador, 2.240, sem mencionar o nome do Rito e do Oriente, GOB-MT, Oriente do Mato Grosso, solicita comentários a respeito:

ASPECTOS DO RITO MODERNO


Gostaria de saber sua opinião sobre alguns aspectos do Rito Moderno. Entendo que, ao se declararem agnósticos pela prática deste Rito, Maçons estão contrariando o Inciso I do Art. 2º da Constituição do GOB. Também a ausência de símbolos nas Lojas retira do Ritual sua função iniciática representada pelo simbolismo neles existente. Seria, para mim, um Rito sem rito iniciático. Gostaria de sua opinião sobre estes dois pontos, desde já agradecendo sua atenção.

CONSIDERAÇÕES.

Penso que para tal existem aspectos que merecem uma consideração mais apurada.
Na concepção do agnosticismo, sobre o ponto de vista de um rito maçônico, ele deve ser admitido apenas como uma atitude que vê inúteis discussões sobre questões metafísicas, sobretudo porque elas tratam de realidades do incognoscível.
Isso, entretanto, não quer dizer descrença num Princípio Criador, senão o caráter de não discutir esse efeito, deixando que cada um, livremente, fique com as suas conclusões.
Ainda sob essa égide, se bem observado às teorias agnósticas, o agnosticismo admite uma ordem de realidade que não pode ser conhecido. Por óbvio isso nada tem a ver com descrença em Deus.
No que diz respeito a isso, especialmente ao Rito Moderno, ou Francês, sua definição se adequa mais a um sistema não dogmático, a despeito de que dogma seja um ponto fundamental e indiscutível de uma doutrina ou sistema religioso. Não apregoar e nem aceitar dogmas também não é a mesma coisa do que ser ateu. Muito menos ainda é confundir essa definição como agnosticismo – vide os conceitos filosóficos do teísmo e do deísmo.
Na realidade o Rito Moderno se embasa na liberdade do pensamento e na razão, motivo pelo qual ele deixa à consciência de cada um dos seus membros as interpretações metafísicas. Na verdade isso não significa combater a religião, mas ensinar ao homem que cada um deve respeitar as convicções dos outros. Assim, o ambiente ritualístico desse Rito não admite nele a imposição de preferências religiosas ou em seu nome fazer proselitismos.
Isso faz parte da história e pode ser verificada nos acontecimentos políticos, sociais e religiosos hauridos do século XVIII.
Essa condição racional está sutilmente interligada a uma concepção deísta que de certo modo acredita num Criador, mas sem a sua antropomorfização e nem a sua interferência nas causas humanas.
No que diz respeito à Constituição do GOB e o seu Artº 2º, Inciso I – a existência de um princípio criador: o Grande Arquiteto do Universo – cabe ao maçom compreender quem e o que é esse Princípio Criador denominado Arquiteto do Universo. Para tanto há que se compreender que esse título tem acima de tudo um viés conciliatório para um único Deus Criador mencionado nas religiões dos homens, visto tanto pela óptica teísta bem como pela deísta.
Assim, o Grande Arquiteto do Universo é Aquele que concilia todas as crenças, sem que com isso existam na Moderna Maçonaria imposições religiosas.
Nesse sentido o Rito Moderno, ou Francês, ao contrário do que muitos pensam, jamais se opõe à crença em Deus. Entende sim que embora nos seus templos não estejam absolutamente previstos dogmas e nem preces e orações, o Arquiteto Criador é um elemento velado de conciliação religiosa entre os homens - que cada um tenha a sua convicção, sem que haja sobre tal nenhuma interpelação por parte da Maçonaria.
Evidencia-se nesse caso o respeito à liberdade individual religiosa, porém sem que jamais esse caráter possa se confundir com ateísmo.
É oportuno mencionar que na Maçonaria em geral (para todos os seus ritos) basta o título de “O Grande Arquiteto do Universo”. Não existe razão para que ele seja ainda complementado como o redundante “que é Deus”, como é comum se encontrar em muitos rituais, pois por si só conciliatoriamente Grande Arquiteto já exprime essa verdade.
A despeito desse comentário, é seguro dizer que não existe ateísmo na Maçonaria, ou melhor, que não existem ritos ateus, isso porque os nossos ancestrais, as “organizações de construtores medievais”, sempre tiveram a característica de dar um cunho religioso ao trabalho. É o caso, por exemplo, das Associações Monásticas do século VII, das Confrarias Leigas do século XI, da Francomaçonaria (protegida pela Igreja) após e século XII e as Guildas de Construtores. Posteriormente, já no período dos Aceitos, século XV, a Maçonaria continuou trazendo consigo todo esse respeito religioso, o que pode ser inclusive comprovado no século XVIII com o advento da Moderna Maçonaria surgida com a fundação da Primeira Grande Loja em Londres.
Infelizmente muitos tratadistas, e mesmo alguns próprios praticantes do Rito Moderno ou Francês, continuam fazendo má interpretação da sua história dando ao Rito uma falsa característica de ser um sistema que não crê em Deus. Provavelmente isso acontece por eles não a conhecerem amiúde a sua história, sobretudo a partir das origens da Maçonaria na França, assim como a sua própria filosofia.
A retirada da Bíblia, fato que se deu no Grande Oriente da França, também deu subsídios para interpretações equivocadas. Alguns entenderam esse procedimento como um predicado de ateísmo, o que não é verdade, pois essa atitude nada tem a ver com a crença em Deus, apenas teve o desiderato de manter a liberdade religiosa entre seus membros, não indagando deles a sua religião.
Sugere-se àquele que estuda esse tema que não tome conclusões apressadas sem antes fazer uma analise minuciosa da sua história, sobretudo naquilo que envolve a Maçonaria na França a partir do século XVIII.
O belíssimo Rito Moderno, ou Francês tem por norma considerar o maçom como lídimo produto da Loja e, acima de tudo, um construtor social que, pelo estudo da Natureza, deve inspirar-se na Sabedoria e na evolução, colaborando assim com a construção de um mundo melhor e fundamentado na Liberdade, na Igualdade e na Fraternidade. Longe disso, mas muito longe mesmo, está qualquer afirmativa de que o Rito seja contrário à crença individual em Deus.
Quanto a sua questão quando aborda a inexistência de símbolos na Loja do Rito e com isso a sua função iniciática, me parece que esse seja um entendimento precipitado e equivocado, pois os seus verdadeiros rituais apresentam um belíssimo arcabouço iniciático suportado por símbolos e alegorias.
Símbolos estão presentes sim no Rito Moderno, ou Francês. Pode-se citar, por exemplo, a presença do Delta, do Olho Onividente, do Sol, da Lua, do Esquadro e do Compasso (Luzes Emblemáticas), do Painel da Loja, cujo mesmo integra no seu interior um conjunto de símbolos e alegorias, etc.
Eu tenho dito que cada rito maçônico possui o seu arcabouço doutrinário que fora desenvolvido sobre um sistema de símbolos e alegorias. O Rito Moderno ou Francês não foge a essa regra.
O que se tem infelizmente observado é que ultimamente muitas opiniões hauridas de falsos entendidos têm feito com que o Rito Moderno tenha se descaracterizado em alguns dos seus aspectos. Originário da França e amparado pelas ideias dos Modernos da Primeira Grande Loja Inglesa, o Rito surgiu de uma depuração feita sobre a enxurrada de graus além do simbolismo que assolava na época a Maçonaria francesa.
Sob essa égide o Rito Moderno, nasceu no seio do Grande Oriente da França e foi concebido e revisado originalmente com três graus simbólicos – Aprendiz, Companheiro e Mestre – mais quatro graus além dos três primeiros – Eleito, Escocês, Cavaleiro do Oriente, ou da Espada, e Cavaleiro Rosa Cruz. Com essa característica ele ficou também conhecido como o “rito dos sete graus”, enquanto que o título “Moderno” se deu porque o Rito aderiu aos costumes da Primeira Grande Loja inglesa que era também conhecida como a Grande Loja dos Modernos.
Embora algumas Obediências mundiais mantenham o Rito com as suas características originais, outras, entretanto infelizmente já o deturparam como é o caso do acréscimo nele de mais dois graus sob a alegação de que houve tempo que em Portugal o Rito possuía nove graus, esquecendo-se esses de que originalmente o Rito nasceu na França e não em Portugal.
Outra deturpação que o Rito tem enfrentado em algumas Obediências tem sido pela interferência dos seus respectivos Regulamentos. Um exemplo disso é a inclusão, em alguns casos, da Bíblia como Livro da Lei no Rito Moderno quando se sabe perfeitamente que ela não faz parte originalmente do relicário emblemático desse Rito, justamente pela sua característica de não interferir na individualidade dos seus membros. O original, no lugar da Bíblia, é o Livro das Constituições, mas como alguns regulamentos de algumas Obediências preveem indiscriminadamente a utilização da Bíblia em qualquer Rito, essa anomalia acaba se dando em completo desrespeito àquilo que prevê o seu sistema iniciático e doutrinário.
Eram essas as minhas considerações.



T.F.A.

PEDRO JUK


JUNHO/2018



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