Em 25/06/2020 o Respeitável Irmão Leonardo Abreu Amorim Neves, atual Secretário das Relações Exteriores do Grande Oriente da Bahia, COMAB, Estado da Bahia, apresenta o que segue:
ABERTURA DO LIVRO DA LEI
Tenho alguns Rituais
antigos, mas em nenhum deles é mencionado qual o trecho do Livro da Lei, é
usado para a abertura da cerimônia.
Achei em Rituais
franceses, portugueses e alemães a abertura feita no Evangelho de João, mas não
nos brasileiros.
Será que posso
contar com a sua ajuda?
CONSIDERAÇÕES.
Caro Irmão, em se
tratando de rituais brasileiros mais antigos há de fato uma deficiência de
indicação pertinente a abertura do Livro e a leitura do evangelho, em João I, 1
– 5 no REAA.
Existem falhas propositais
e outras de mero esquecimento. Assim, esse tratad
o deve ser abordado no
contexto doutrinário do REAA que prevê, no 1º Grau, a prevalência da Luz
sobre as trevas. Reitera-se, é isso que a liturgia do Rito propõe.
Infelizmente
vivemos no Brasil uma Maçonaria de origem francesa, peripatética e abusivamente
sob o estigma de carimbos e convenções. Assim, criou-se a marca de que se deve
fazer o que está escrito, mesmo estando o escrito equivocado ou mesmo omisso.
Isso acabou despertando muitas mentes preguiçosas que se valem da comodidade do
“aonde está escrito”, ao contrário de proporcionar discussões de entendimento ou
aplicação de bom senso sobre o conteúdo ritualístico.
Já sob a óptica da
autenticidade e de se saber a razão das coisas é que pesquisadores legítimos têm
procurado fontes de água limpa para pesquisas a esse respeito. Ou seja, nos rituais
franceses. É bem verdade que na França também apareceu um tal São João da
Escócia que, a bem da verdade nem mesmo existe no hagiológio da Igreja.
Autores
respeitadíssimos como José Castellani, Francisco de Assis Carvalho, Theobaldo
Varolli Filho, dentre outros, sempre fizeram a afirmativa de que a abertura no
grau de Aprendiz no REAA é feita em João, I, 1 – 5. A essência socrática do
grau prevê ao iniciado primeiro conhecer-se a si mesmo, o que em
linhas gerais instiga o autoconhecimento, por conseguinte a procura da Luz (...
e as trevas não a compreenderam.).
Nesse sentido, sugiro
que o Irmão busque nas obras desses autores, também referências bibliográficas,
contudo alerto que nada está pronto. É preciso antes, como já dito, envolver a
pesquisa no contexto doutrinário do Rito.
Em termos de
rituais escoceses, aqui no Brasil existem alguns que trazem a abertura em João,
é o caso de muitos rituais da COMAB, além dos famosos rituais de capa vermelha
compostos por Varolli Filho. Numa pesquisa mais abrangente o Irmão encontrará
inclusive em rituais antigos do GOB (mesmo que sob o estigma do João da
Escócia). Isso não invalida a abertura em João I, 1-5.
Desafortunadamente,
muitos rituais brasileiros em vigência trazem o Salmo 133, ou 132 conforme a
versão bíblica. Esse é um erro crasso haurido de rituais contraditórios,
sobretudo os advindos após a cisão de 1.927 e a fundação das Grandes Lojas
Estaduais Brasileiras. Essa anomalia acabou se espalhando, investindo inclusive
sobre os rituais escoceses do GOB como se pode ver atualmente.
A leitura do Salmo
133 teve sua origem no Yorkshire, na Inglaterra. Segundo Harry Carr esse
costume logo teria sido abandonado.
Não como abertura
do Livro da Lei, mas como passagem iniciática, o Salmo 133 é lido durante a
iniciação nas Blue Lodges (Maçonaria Norte-Americana). É muito provável que foi
daí que Bhéring trouxe esse costume e o incluiu no REAA, sobretudo com a edição
de novos rituais para as suas Grandes Lojas que por aqui haviam sido recém-criadas.
Em síntese o Salmo não possui nenhum caráter de autenticidade, principalmente
se tratando do REAA.
De tudo meu Irmão,
concito-o a pesquisar na fonte do REAA que é na França. Certamente assim, com
uma grade bem fundamentada de pesquisa, conclusões acertadas haverão de ser
tomadas.
Afirmar apenas que
um determinado assunto está num ritual, em princípio pode parecer lógico, contudo,
é preciso antes perscrutar os “porquês” dos fatos, caso contrário o rumo do
estudo poderá estar legado à meras repetições.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
DEZ/2020