Em 25.04.2023 o Respeitável Irmão Fábio
Bhento, sem mencionar o nome da Loja, REAA, Grande Oriente Paulista (COMAB), Oriente
de Vinhedo, Estado de São Paulo, apresenta a dúvida seguinte:
FUNÇÃO DOS DIÁCONOS
Se o
1º Diácono leva a palavra do Venerável Mestre ao Irmão 1º Vigilante, então após
abertura ritualística se o Venerável precisar falar algo para o 1º Vigilante
ele pode usar o 1º Diácono?
Exemplo
passar uma informação para o Vigilante conduzir uma apresentação dos Aprendizes
sem precisar usar a palavra falada para todos ouvirem, ele pode pedir ao Diácono
pra ir até o 1 Vigilante e falar o que o Venerável Mestre precisa, sem usar o Mestre
de Cerimônias?
CONSIDERAÇÕES.
De modo algum. No REAA (rito de origem francesa) o imediato do Venerável
Mestre é o Mestre de Cerimônias e não o Diácono. A função dos Diáconos no rito
em questão é apenas e tão somente atuar na transmissão da palavra sagrada durante
a liturgia de abertura e encerramento dos trabalhos.
A dialética de abertura entre esses personagens, conforme consta no
ritual, é apenas e tão somente uma alusão aos tempos operativos – eu já escrevi
bastante sobre esse tema no Blog do Pedro Juk.
No contexto iniciático do REAA, a liturgia da transmissão da palavra na
abertura e encerramento dos trabalhos nada tem a ver com o levar ou trazer recados.
Nessa conjuntura a palavra transmitida é apenas um símbolo pertencente a uma alegoria
adaptada para relembrar o momento em que os nossos ancestrais (Maçonaria Operativa)
aprumavam e nivelavam os cantos para a elevação das paredes nas construções de igrejas, mosteiros, catedrais, etc.
Dessa maneira, ao final da jornada de trabalho, a produção era conferida
para que os operários pudessem receber os seus salários justos e merecidos.
Especulativamente, no REAA fazem parte desse teatro emblemático o Venerável
Mestre, que representa o Mestre da Loja do passado, e os Vigilantes que
representam os Wardens, seus predecessores nos tempos do Ofício. Ainda integram
essa representação os atuais Diáconos por serem os antigos mensageiros, também
conhecidos como oficiais de chão. Vale lembrar que nos tempos operativos da
Ordem, os canteiros a céu aberto de obra (hoje simbolicamente os recintos das Lojas)
eram imensos, e o Mestre da Loja, então um Companheiro experimentado, mandava
seus auxiliares (Wardens) prepararem os cantos, nivelando e aprumando-os
para dar início à uma nova jornada de trabalho.
Ao final desta, para poder fechar a Loja, o Mestre da Loja, da mesma
forma, mandava verificar se todas as paredes elevadas estavam aprumadas e
niveladas nos conformes da Arte.
Como os canteiros eram imensos, o Mestre então se servia dos mensageiros
(mais tarde os Diáconos) pra transmitir essas ordens aos seus Vigilantes. Vale
notar que o nível e o prumo até hoje se encontram representados nas joias distintivas
dos Vigilantes.
Obviamente que na Moderna Maçonaria, especulativa por excelência, não
existem literalmente canteiros de obra a céu aberto, mas sim Lojas que simbolizam
aqueles velhos redutos do ofício.
Por exemplo, a Pedra Bruta e a Cúbica, que outrora serviam como elementos
primários na construção, atualmente, na Maçonaria dos Aceitos encontram-se
substituídas pelo elemento “homem iniciado”, onde o maçom é preparado pelas
ferramentas para servir como um dos elementos que compõem as paredes simbólicas
de um Templo à Virtude Universal.
Sendo assim, não faria sentido que atualmente para se abrir e fechar os
trabalhos de uma Loja do REAA os Vigilantes percorressem literalmente o recinto
com um prumo e um nível nas mãos para cumprir essa missão.
À vista disso, a velha prática operativa acabaria dando lugar no
simbolismo a uma transmissão de palavra que, se tiver sido transmitida conforme
os requisitos exigidos, ou seja, de acordo com a liturgia maçônica, significa
que tudo está aprumado e nivelado, portanto, “justo e perfeito”.
Vale mencionar que o termo “estar à Ordem”, dentre outros significados
revela aquilo que está nivelado, esquadrejado e aprumado. Tudo é próprio da
postura corporal daquele que se coloca à Ordem.
Consequentemente o REAA, para rememorar esse momento de um passado
distante, instituiu na sua ritualística a alegoria da transmissão da palavra
sagrada.
Para que isso acontecesse foram adotados os dois Diáconos para servirem exclusivamente
como mensageiros na transmissão da palavra, enquanto que ao Mestre de
Cerimônias foi dado o ofício de levar em Loja recados, mensagens, bilhetes e
outros afins do gênero.
Vale lembrar ainda que a dialética de abertura que envolve os Diáconos é
também, no REAA, apenas um simbolismo reminiscente e não um ofício propriamente
dito. Como já mencionado, os Diáconos são apenas mensageiros da palavra e não
fiscais e nem transmissores de ordens entre as Dignidades e Oficiais. Isso é
dito apenas com o fito de resguardar costume e lembrar o passado operativo.
Nesse contexto é preciso compreender que a Maçonaria cita em sua
liturgia muitos aspectos que são meramente simbólicos. Nos conformes da boa
geometria não se admitem generalizações.
Por fim, ao concluir é oportuno mencionar que a transmissão da palavra
que envolve as Luzes da Loja e os Diáconos não se trata de um telhamento (exame
de um maçom), porém é uma alegoria que rememora um momento sublime do passado
operativo. É oportuno rememorar que essa transmissão de palavra ocorre apenas entre
Mestres Maçons do quadro, portanto, Irmãos perfeitamente reconhecidos, o que
não é o caso de se examinar um personagem desconhecido. Como foi dito, a “Arte”
não admite generalizações.
T.F.A.
PEDRO JUK
jukirm@hotmail.com
http://pedro-juk.blogspot.com.br
SET/2023