domingo, 29 de abril de 2018

INFORMAÇÕES SOBRE RITUALÍSTICA DO REAA - FALAR À ORDEM, CIRCULAÇÃO...


Em 02/02/2018 o Respeitável Irmão Marcos Minto, Loja Valdez Pereira, 4.077, REAA, GOB-PA, Oriente de Paragominas, Estado do Pará, apresenta a questão seguinte:

INFORMAÇÕES SOBRE RITUALÍSTICA.


Meu cargo em Loja de Mestre de Cerimônias e fui iniciado no ano de 2015. Venho através pedir auxílio em ritualística em geral dentro de loja, devido nossa Loja fundada no ano de 2010, não tinha muito rigor em ritualística dentro de Loja, como a nova gestão de cargos dentro da Loja estamos querendo muito seguir corretamente e fui nomeado na comissão de ritualística e gostaria que o Irmão me ajudasse com essas dúvidas. Estou sendo muito criticado com tais informações que venho buscando para enriquecer mais ainda nossas reuniões. Sem sombra de duvidas o Irmão poderá me ajudar com tais informações.

1. Ao circular no ocidente ao cruzar a linha imaginária somente dou uma rápida parada em direção ao Venerável?
2. O Orador pode falar na Palavra Bem da Ordem ou deixar para falar somente nas suas conclusões finais?
3. Na abertura da Loja ao fazermos o Sinal de Ordem ao descarregar já iniciamos a bateria ou volta para o sinal e depois faz a bateria?
4. Quando o Irmão pede a palavra o mesmo tem que continuar com o Sinal de Ordem?

CONSIDERAÇÕES.

Prezado Irmão, é sempre assim, quem quer construir e reparar os trabalhos mal feitos geralmente encontra as pedras de tropeço, simbolizado pelos que não estão muito preocupados com a verdadeira finalidade da Maçonaria.
Não sei se lhe serve de consolo, mas nesse caso, as críticas que você recebe, são as mesmas que incansavelmente também me são dirigidas. Não desista. Vá em frente e se desvie dos inconformados, pois esses normalmente nada constroem de perfeito e durável. Sem generalizar, que os inconformados vistam a carapuça.
Vamos às respostas às questões:
  1. Não está prevista no Ritual nenhuma parada rápida no Ocidente quando se cruza a linha do equador do Templo. Parada rápida e formal só existe quando do ingresso ou retirada do Oriente em Loja aberta por alguém que esteja porventura empunhando algum objeto de trabalho ou algo similar.
  2. Evidentemente que sim. O Orador, como qualquer obreiro, tem o direito de usar a palavra a Bem da Ordem e do Quadro. Quanto ao seu pronunciamento no final, ele, cumprindo o seu ofício, faz a devida saudação aos visitantes e dá as suas conclusões legais a respeito dos trabalhos. Nessa oportunidade o Guarda da Lei deve evitar comentários que não sejam pertinentes a essa obrigação de momento. Outro assunto que não seja apropriado para esse período deve ser por ele exposto no tempo da Palavra a Bem da Ordem e do Quadro em Particular.
  3. A bateria, que é dada antes da “Aclamação” se dá da seguinte maneira: cumprida a ordem de “pelo Sinal” (o que se faz na forma de costume), nessa oportunidade não se deve voltar à Ordem (isso é excesso de preciosismo). Assim, desfeito o Sinal pela pena simbólica o obreiro não volta ao Sinal de Ordem, mas imediatamente mantém a sua mão esquerda à frente tendo a respectiva mão espalmada e voltada para cima. Em seguida, atendendo a ordem, ele dá com a sua mão direita também espalmada na sua esquerda que fica parada a bateria. Terminada esta, volta-se à Ordem para se pronunciar a Aclamação. Ratifico que essa é uma atitude específica apenas para esse momento.
  4. Ninguém fica à Ordem sentado. Todo o obreiro em pé e parado no REAA fica à Ordem, isso é, com o corpo ereto, pp\ uu\ pelos cc\ formando uma esq\ e compondo o Sinal do Grau (significa estar à Ordem). No caso do uso da palavra, em sendo ele autorizado por quem de direito, este imediatamente fica à Ordem e, sem desfazer o Sinal se dirige aos Irmãos do quadro na forma de costume (Luzes, Autoridades, meus Irmãos...) - isso não é saudação, mas um modo protocolar de se dirigir à Loja. Em seguida, sem desfazer o Sinal ele faz uso da palavra. Concluída a fala, desfaz o Sinal pela pena simbólica e toma assento novamente. No Ocidente, falam sentados apenas os Vigilantes, salvo quando o ritual determinar o contrário. No Oriente todos tem o direito de falar sentado, desde que o ritual não determine o contrário. Os do Oriente, se preferirem falar em pé, ficam à Ordem. O Venerável e os Vigilantes nessa oportunidade deixam os seus malhetes e compõem o Sinal normalmente.
É oportuno ainda comentar as seguintes recomendações: salvo a Marcha do Grau, ninguém anda com o Sinal composto. Também é de péssima geometria o Venerável Mestre dispensar corriqueiramente o Sinal quando alguém vai usar da palavra. Esporadicamente isso pode até acontecer, mas só se a situação merecer. Do mesmo modo, quem usa a palavra não deve pedir para desfazer o Sinal.


T.F.A.

PEDRO JUK


ABRIL/2018

COMPORTAMENTO RITUALÍSTICO EM LOJA NO ENTENDIMENTO DO APRENDIZ MAÇOM




I.                 INTRODUÇÃO.

Antes de abordar o tema propriamente dito, cabe por primeiro acercar-se de qual é, sob o ponto de vista autêntico, a definição mais aceita pertinente à Moderna Maçonaria na sua vertente latina.
Moderna e especulativa por excelência, ela teve o seu sistema organizado a partir de 1717 com a fundação em Londres da “Premier Grand Lodge” que inaugurava assim o primeiro sistema obediencial do mundo.
Imão Marcy Pinto apresentando
No conceito latino, a Moderna Maçonaria geralmente tem sido definida por autores autênticos como:
“uma associação de homens esclarecidos e virtuosos, que se consideram Irmãos entre si e cujo fim é viver em perfeita igualdade, intimamente ligados por laços de recíproca estima, confiança e amizade, estimulando-se uns aos outros na prática da virtude”.
“É um sistema iniciático de moral, velado por alegorias e ilustrado por símbolos” (Theobaldo Varolli Filho in Ritual de Capa Vermelha - 1974).
Não obstante a definição acima, a Maçonaria é uma escola de moral e de filosofia social/espiritual revelada por alegorias e símbolos que compõe a sua liturgia. Assim o ritual é o guia e a ritualística é o meio e o procedimento com que se desenvolvem os trabalhos na Loja. É a ação, a maneira e a ordenação que disciplina o trabalho que executa uma obra perfeita e durável.
Nesse sentido e atendendo a finalidade desse arrazoado segue então o desenvolvimento dessa peça de arquitetura que objetiva abordar o comportamento ritualístico do Aprendiz Maçom praticante do Rito Escocês Antigo e Aceito no Grande Oriente do Brasil.

II.               PRIMEIRAS CONSIDERAÇÕES
Em se tratando de ritual e comportamento ritualístico maçônico do Primeiro Grau, cabe expressar algumas definições correlatas ao título desse trabalho.
Antes, porém é importante destacar que Rituais escritos tais como os que hoje se conhece não existiam primitivamente na Maçonaria, já que em tempos antigos a prática ritualística era transmitida por via oral. Os registros ritualísticos escritos em forma de catecismos e reguladores, em linhas gerais somente apareceriam em época bem mais recente da Ordem – a partir do século XVIII com a profusão dos Ritos na Moderna Maçonaria.
Por assim ser, seguem então algumas definições genéricas dentro da prática maçônica inerente a alguns termos que constituem a divisa desse trabalho – Ritual, Ritualística e Comportamento.
Ritual: adjetivo (do latim ritualis) menciona o que é relativo a Ritos. Em se tratando de substantivo masculino ele designa os escritos que ordenam e dão forma com palavras que devem acompanhar uma cerimônia. É o cerimonial que contem um conjunto de regras a seguir. Em Maçonaria, o cerimonial de cada Rito é seu Ritual.
Ritualística (neologismo[1] maçônico): adjetivo, menciona o que se relaciona com o Ritual. Como substantivo feminino designa a ciência da exegese das práticas contidas no Ritual. É um neologismo muito usado em Maçonaria para designar tudo aquilo que é referente ao Ritual, ao Rito ou ao Ritualista.
Comportamento: substantivo masculino. É a maneira de se comportar; procedimento, conduta. Designa o conjunto de atitudes e reações do indivíduo em face do meio social. Em Maçonaria é a conduta do obreiro atendendo as normas ritualísticas do Rito.

III.             COMPORTAMENTO RITUALÍSTICO NO REAA\
A Moderna Maçonaria é uma escola de moral e ética ordenada pelos seus Ritos e Rituais, cujos quais determinam o cerimonial que arranja os trabalhos da Loja. É nesse particular que aqui se apresenta a expressão “comportamento ritualístico”, expressão essa que é o objetivo dessas alegações.
A Ordem Maçônica com o desiderato de uniformizar as práticas das suas cerimônias litúrgicas adota rituais que determinam à ritualística (ordem das ações) do Rito instituindo regras comportamentais para os maçons na execução das sessões maçônicas.
Nesse sentido, o aprendiz de maçonaria precisa compreender que cada símbolo, cada movimento, cada detalhe litúrgico, cada composição alegórica, tem ali a sua razão de ser. Nada daquilo que compõe a ritualística fora ali colocada por acaso.
Se bem compreendida essa lição o maçom jamais será um mero elemento que só se consagra pela repetição. Aliás, o maçom que adotar o salutar comportamento de antes compreender os fatos e a razão dos elementos que compõem a liturgia maçônica, jamais será alguém comparado a um elemento sem raciocínio e sem vontade própria.
O comportamento ritualístico do maçom não se resume só em aprender e cumprir o que está determinado pela ritualística, mas também está em se compreender a razão e o porquê das práticas ritualísticas. É esse o comportamento segundo as exigências da “arte”.
Insiste-se então que a Maçonaria Simbólica, por ser uma Instituição iniciática, prima pela compreensão de cada prática ordenada segundo as regras litúrgicas (é o porquê das coisas). Portanto ideias e hábitos contrários e escusos à doutrina de um Rito devem ser severamente combatidos e erradicados.
Também faz parte do “comportamento” do maçom, não inventar práticas ao seu gosto e nem adotar costumes comuns a outros ritos (enxertos). Em resumo, sempre se comportar conforme o seu ritual e as suas regras ritualísticas.
Regras de “comportamento ritualístico” devem ser observadas por se entender que invenções e enxertos são elementos indisciplinados e nocivos à absorção do conhecimento. Tudo em ritualística iniciática deve existir conforme a estrutura doutrinária do Rito. Nele não se adotam práticas estranhas ao seu conteúdo.
Para ilustrar o parágrafo acima, seguem algumas condutas ritualísticas próprias do REAA\ e que lhe dão característica própria conforme o Ritual de Aprendiz em vigência no GOB. Observe-se que condutas e práticas ritualísticas merecem exegese, entretanto essas interpretações, por não serem oportunas, não serão aqui abordadas. Interpretação ritualística gera conduta ritualística e esse é um tema para ser abordado amiúde em outro trabalho.
Assim, seguem então algumas características que o maçom do escocesismo simbólico deve adotar como conduta. Destas, destacam-se algumas próprias de um grau, enquanto que outras abrangem todos os graus do simbolismo.
Normas de comportamento ritualístico para o REAA\
a)    Não proferir preces e orações no Átrio quando da preparação para se ingressar no Templo (independente do grau);
b)    Deve sempre circular no sentido horário quando dos deslocamentos de uma para outra Coluna em Loja aberta (independente do grau);
c)     Em Loja aberta, estando em pé e parado deve ficar à Ordem (independente do grau);
d)    Exceto os Vigilantes, no Ocidente em Loja aberta quem usar da palavra, fala à Ordem (independente do grau);
e)    Ninguém faz Sinal utilizando-se de um instrumento de trabalho para fazê-lo (independente do grau);
f)      Não deve sugerir e nem proferir preces e orações durante a formação da Cadeia de União. No escocesismo a Cadeia de União só é formada para a transmissão da Palavra Semestral (independente do grau);
g)    Como Aprendiz, deve ocupar o topo da Coluna do Norte junto às seis primeiras Colunas Zodiacais. Elas representam a caminhada iniciática do Primeiro Grau – inicia em Áries e termina em Virgem;
h)    Se Aprendiz ou Companheiro Maçom não ingressar no Oriente. Nesse espaço só adentram Mestres Maçons;
i)       Salvo na Marcha do Grau, o maçom em deslocamento não anda com o Sinal composto (independente do grau);
j)       Como maçom retardatário, só ingressar no Templo com formalidade ritualística e, ao pedir ingresso nessa condição, fazê-lo sempre pela bateria de Aprendiz (independente do grau);
k)     Somente utilizar a palavra quando inquirido ou devidamente autorizado pelo Vigilante da Coluna ou pelo Venerável Mestre (independente do grau);
l)       Aprendizes e Companheiros somente arguem, ou se manifestam em discussões sobre assuntos que o grau lhes permita.
Essas são então algumas regras que ilustram o modo ou a maneira de se comportar ritualisticamente em Loja. Por óbvio, existem muitas outras delas, mas que pelo espaço exíguo aqui disponível não há como mencioná-las por completo. Registre-se, entretanto, que para essas regras não existe escala de importância, pois todas constituem a estrutura que dá feição ao comportamento ritualístico do maçom na Loja.
A importância da liturgia maçônica está nos rituais que ordenam a cerimônia dos ritos e destacam a essência do ensinamento maçônico. Pela prática disciplinada da ritualística é que se ordenam os trabalhos inerentes à liturgia maçônica. Esotericamente eles disciplinam o maçom, tanto como condição de convivência no seio da Loja, assim como condição de convivência perante a sociedade ao seu redor.
O comportamento ritualístico ideal é aquele resultante do trabalho moral e intelectual realizado com perseverança pelo maçom.
O comportamento ideal é aquele que, além de se conduzir conforme as regras e as exigências da Arte também as compreendem na sua essência.
Assim, sinais, toques, palavras e outros afins que constituem a liturgia de um Rito, são igualmente elementos estruturais que dão ao maçom a capacidade para ele mesmo construir o seu comportamento ritualístico – cada um colhe conforme a sua semeadura.
É oportuno ainda mencionar que no caso do GOB-PR existe um excelente instrumento para auxiliar o maçom a desenvolver o seu próprio comportamento dentro da liturgia maçônica do REAA. Trata-se da edição dos Procedimentos Ritualísticos de 2016 em três volumes e pertinentes aos Rituais do escocesismo em vigência no GOB. Esses Manuais de Procedimentos trazem toda a orientação para o bom desenvolvimento do cerimonial dos trabalhos maçônicos, destacando-se os contidos na página 133 e seguintes, item 4.3.1. do volume destinado ao Primeiro Grau onde trata das Normas Gerais de Comportamento Ritualístico.

IV.            CONCLUSÃO
A disciplina é uma das vigas mestras da Instituição maçônica. Destarte outras considerações que indubitavelmente também são importantes, a Ritualística Maçônica tem sido a chave do caráter iniciático pertinente à Arte Real.
O comportamento ritualístico conexo ao Ritual edifica e conduz o maçom pelo caminho do aperfeiçoamento. Como foi dito, nada existe por acaso na ritualística maçônica. Ela tem sido ao longo dos tempos um dos artifícios que a faz diferente perante as comunidades humanas.
A mecânica litúrgica maçônica parece ter sido idealizada para despertar no maçom o verdadeiro sentimento daquele que, na medida das suas forças, deseja levar o bem aos necessitados. É pelo comportamento em Loja que o obreiro aprende com disciplina a adquirir ânimo e força para sempre se fazer presente na construção de um mundo melhor.
Assim, para que se evite o desvirtuamento dos sublimes fins da Maçonaria, sobretudo no plano social e moral, ela constrói um novo homem e exige dele um comportamento inspirado nos seus mais altos ideais.


Morretes, abril de 2018.

                                                                                   PEDRO JUK


OBSERVAÇÃO.
Peça de Arquitetura elaborada para a apresentação dos Aprendizes e Companheiros da Loja Estrela de Morretes, 3159 – GOB/PR no XXXVI ERAC da Região Metropolitana de Curitiba. Acompanharam essa elaboração os Irmãos Aprendizes Marcy Pinto e Ivan Matsuzawa.
Apresentado no Encontro em 27/04/2018.

BIBLIOGRAFIA
GOB, Ritual de Aprendiz para o REAA – Edição 2009, Brasília, 2009.
GOB-PR, Procedimentos Ritualísticos 1º Grau REAA, Curitiba, 2016.
VAROLLI F.º, Theobaldo – Ritual de Aprendiz Maçom REAA, GLESP, S. Paulo, 1974.
PARANÁ, Grande Oriente do – Ritual do Aprendiz REAA, Curitiba, 1990.
CASTELLANI, José – Dicionário Etimológico Maçônico, Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 1993.
JUK, Pedro, Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom, Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 2007.
JUK, Pedro – Blog do Pedro Juk – Diversos, http://pedro-juk.blogspot.com.br





[1] Neologismo - substantivo masculino. Menciona o significado novo que uma palavra ou expressão de uma língua pode assumir. No caso do termo “ritualística”, ele só se apresenta expresso na língua portuguesa no gênero masculino – “ritualístico”. Já em Maçonaria, na sua relação com o substantivo Rito ele é atotado também no gênero feminino.

sexta-feira, 27 de abril de 2018

MINUTO DE SILÊNCIO E APAGAR DE LUZES


Em 08/02/2018 o Irmão Carlos Alexandre Almeida, Loja Aristides Lobo, 921, REAA, GOB-PR, Oriente de Jacarezinho, Estado do Paraná, solicita a informação seguinte:

MINUTO DE SILÊNCIO E APAGAR DE LUZES.



Seria errôneo no REAA nas entradas das cerimonias fazer um minuto de silêncio no Átrio com o mesmo sem iluminação?

CONSIDERAÇÕES.

Primeiro é que esses procedimentos não constam no Ritual em vigência do Grande Oriente do Brasil, assim como eles também não aparecem nos Procedimentos Ritualísticos do GOB-PR.
Por segundo é que se eles não fazem parte do Ritual é porque eles não existem. Esse tipo de prática não é original no REAA\. Precisamos nos despir dessas concepções anacrônicas herdadas de velhos rituais rançosos, ultrapassados e repletos de enxertos de outros Ritos.
Assim, ratifico: não existe esse tal “minuto de silêncio” e muito menos o “apagar de luzes” do recinto na oportunidade. Aliás, me parece que é inadmissível essa ideia de se adotar práticas de crenças particulares na comunidade da Loja Maçônica e contrárias ao Ritual.
Em nome do respeito às crenças e práticas religiosas dos outros devemos, cada um de nós, deixar essas práticas fora dos umbrais dos nossos Templos. A Maçonaria não deve ser utilizada como palco para esses proselitismos.
Ao maçom cabe inquestionavelmente acreditar em Deus, mas que cada um exercite a sua fé nos recintos correspondentes aos seus templos religiosos ou igrejas. Assim, independente de quais sejam as suas religiões, a Lojas serão sempre um centro de união entre homens. Para tanto a Maçonaria diz: em meu nome e nas proximidades dos meus templos não se discute política e nem religião.
Há que se lembrar de que o título de Grande Arquiteto do Universo dado a Deus e utilizado na Sublime Instituição tem sido um modo conciliatório para que todos possam expressar a sua fé sem desrespeitar a de outrem.
Se existem Ritos que não comportam esses ideais, não nos cabe aqui questioná-los – não é o caso do REAA.



T.F.A.

PEDRO JUK

ABRIL/2018


quinta-feira, 26 de abril de 2018

O BODE E O BEZERRO DE OURO NA MAÇONARIA


Em 08/02/2018 o Respeitável Irmão Ubirajara Corrêa, Loja Saldanha Marinho, 1601, REAA, GOB-PR, Oriente de Curitiba, Estado do Paraná, formula a seguinte questão:

BODE E BEZERRO DE OURO NA MAÇONARIA


Gostaria de me informar melhor sobre o Bezerro de Ouro e o Bode como símbolos maçônicos. O Irmão poderia me indicar uma literatura séria a respeito.

CONSIDERAÇÕES.


Bezerro de Ouro - na Maçonaria tradicional (simbolismo) que é constituída universalmente por apenas três graus, ele não é elemento de nenhuma alegoria maçônica, sendo encontrado sim na tradição judaico-cristã como um ídolo que fora criado por Arão na oportunidade em que Moisés, atendendo as ordens de Deus, subiu o monte Sinai para receber os mandamentos. Então, na ausência de Moisés, o povo de Israel em rebeldia pressionou Arão, ou Aarão, que era o irmão mais velho de Moisés, a criar um ídolo que pudesse os reconduzir novamente ao Egito - vide Êxodo 32:1-8.
O bezerro é também mencionado em I Reis 12:28-32 quando trata da divisão do reino de Israel e o rei Jeroboão I[1] cria dois bezerros na intenção de que assim o povo do seu reinado viesse adorar um ídolo em lugar do verdadeiro Deus de Israel.
Devido esse episódio bíblico, provavelmente alguns tratadistas maçônicos, ao perceberem que quando criança Jeroboão tinha sido um servidor do Rei Salomão, quiseram equivocadamente associar o bezerro à Maçonaria. Obviamente que tudo isso não passa de fantasia, pois imaginar a existência da Maçonaria naqueles tempos é querer desmerecer a inteligência dos outros.
Genericamente o termo “bezerro de ouro” tornou-se ao longo dos tempos o símbolo de um ídolo falso.
Bode – a despeito da sua literal qualificação como um animal quadrúpede ruminante, o bode emissário, ou expiatório, na cultura hebraica era utilizado como meio de espantar para o deserto, todas as iniquidades e maldições. Simbolicamente no Dia da Expiação o bode recebia nos seus ouvidos as confissões dos males dos homens e em seguida era enxotado para o deserto aonde ele viria a fenecer e, junto com ele, todas as declarações pecaminosas dos homens. Graças a isso é que o bode, em Maçonaria, representa a animalidade, ou dos atributos dos animais.
Assim, ele, o bode, se apresenta em alguns ritos maçônicos representado na estrela pentagonal com um único ápice para baixo. Nessa posição inscreve-se na estrela a figura de um bode que, em primeira análise representa a desordem causada pela inversão das leis universais; o caos; o mundo de cabeça para baixo, enquanto que na posição normal, isto é, com um ápice isolado voltado para cima, inscreve-se nela (na estrela) a figura de um homem (a cabeça correspondendo à ponta isolada e os membros superiores e inferiores nas demais pontas). Sob a ótica pitagórica a estrela sugere um símbolo da mais alta espiritualidade humana e é tratada alegoricamente como Estrela Hominal.
Alec Mellor in Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons  destaca que a figura do bode alude à impureza animal em oposição ao homem, cujo símbolo perfeito encontra-se na Pentalpha e na Estrela Resplandecente. A efígie do bode evoca a figura de uma estrela, mas invertida.
Merece também citação o autor Osvald Wirth quando comentou in Livre de Compagnon, 4ª edição p. 48, termos relativos à estrela que merecem ser citados:
“Uma mesma figura, conforme ela esteja representada, em posição direita ou invertida, torna-se assim o símbolo do que há de mais nobre na hominalidade, ou de brutalmente instintivo do que há na animalidade”.
Por esses comentários relativos ao bode associado à estrela é que em uma Loja Maçônica, nos ritos que adotam a Estrela Flamejante, ela sempre aparecerá na decoração representada como Estrela Hominal, nunca invertida. Destaque-se que a obra maçônica se envereda sempre para o lado da Luz (sabedoria), nunca para o das trevas (ignorância).
Ainda em relação ao bode, o imaginário popular, e de uma parte dos próprios maçons, tem contribuído para falsas interpretações e, quando não, mesmo caluniosas contra a Maçonaria, a exemplo do que nos conta a história e o personagem de Leo Taxil que difamou a Sublime Instituição para obter ganhos financeiros da Igreja.
Nessa mesma linha aparece o bode-preto como uma expressão popular brasileira para designar o diabo (satanás, lúcifer, coisa ruim, etc.). Nesse sentido, vale a pena mencionar o que menciona o saudoso Irmão e meu particular amigo José Castellani nas suas várias anotações em literaturas a respeito:
“Houve tempo em que setores retrógrados da Igreja, explorando a ignorância e a credulidade de grande parcela do povo, transmitiam, aos seus fiéis, a falsa e malévola afirmação de que a Maçonaria adorava o bode-preto, personificação demoníaca; graças a isso, em muitas localidades brasileiras, dominadas pelo clero, muitas pessoas de poucas luzes, costumavam persignar-se (fazer o sinal da cruz), ao passar, obrigatoriamente, pelas imediações de um templo maçônico, local que procurava evitar e pelo qual só passavam por absoluta necessidade; os maçons conhecidos nessas localidades eram vistos como bruxos, como membros de falanges demoníacas, sectárias do bode-preto, sendo, evidentemente, marginalizados pelas ‘ovelhas’ do rebanho, preocupadas em ir para o céu e não provocar as iras do bom pároco local. Ironizando tal situação de ignorância, atraso e sectarismo, os maçons passaram jocosamente a assumir a alcunha de ‘bode’, ou ‘bode-preto’ para si e para os seus trabalhos de Loja, pratica essa que acabaria se tornando enraizada e tradicional”.
Essa é uma pequena abordagem do assunto pelo que eu espero lhe seja útil. Pesquise literatura a respeito na Internet e a passe pela peneira do bom-senso para obter resultado satisfatório. Não enverede para a banda das crendices e fantasias.


T.F.A.

PEDRO JUK


ABRIL/2018