quinta-feira, 26 de abril de 2018

O BODE E O BEZERRO DE OURO NA MAÇONARIA


Em 08/02/2018 o Respeitável Irmão Ubirajara Corrêa, Loja Saldanha Marinho, 1601, REAA, GOB-PR, Oriente de Curitiba, Estado do Paraná, formula a seguinte questão:

BODE E BEZERRO DE OURO NA MAÇONARIA


Gostaria de me informar melhor sobre o Bezerro de Ouro e o Bode como símbolos maçônicos. O Irmão poderia me indicar uma literatura séria a respeito.

CONSIDERAÇÕES.


Bezerro de Ouro - na Maçonaria tradicional (simbolismo) que é constituída universalmente por apenas três graus, ele não é elemento de nenhuma alegoria maçônica, sendo encontrado sim na tradição judaico-cristã como um ídolo que fora criado por Arão na oportunidade em que Moisés, atendendo as ordens de Deus, subiu o monte Sinai para receber os mandamentos. Então, na ausência de Moisés, o povo de Israel em rebeldia pressionou Arão, ou Aarão, que era o irmão mais velho de Moisés, a criar um ídolo que pudesse os reconduzir novamente ao Egito - vide Êxodo 32:1-8.
O bezerro é também mencionado em I Reis 12:28-32 quando trata da divisão do reino de Israel e o rei Jeroboão I[1] cria dois bezerros na intenção de que assim o povo do seu reinado viesse adorar um ídolo em lugar do verdadeiro Deus de Israel.
Devido esse episódio bíblico, provavelmente alguns tratadistas maçônicos, ao perceberem que quando criança Jeroboão tinha sido um servidor do Rei Salomão, quiseram equivocadamente associar o bezerro à Maçonaria. Obviamente que tudo isso não passa de fantasia, pois imaginar a existência da Maçonaria naqueles tempos é querer desmerecer a inteligência dos outros.
Genericamente o termo “bezerro de ouro” tornou-se ao longo dos tempos o símbolo de um ídolo falso.
Bode – a despeito da sua literal qualificação como um animal quadrúpede ruminante, o bode emissário, ou expiatório, na cultura hebraica era utilizado como meio de espantar para o deserto, todas as iniquidades e maldições. Simbolicamente no Dia da Expiação o bode recebia nos seus ouvidos as confissões dos males dos homens e em seguida era enxotado para o deserto aonde ele viria a fenecer e, junto com ele, todas as declarações pecaminosas dos homens. Graças a isso é que o bode, em Maçonaria, representa a animalidade, ou dos atributos dos animais.
Assim, ele, o bode, se apresenta em alguns ritos maçônicos representado na estrela pentagonal com um único ápice para baixo. Nessa posição inscreve-se na estrela a figura de um bode que, em primeira análise representa a desordem causada pela inversão das leis universais; o caos; o mundo de cabeça para baixo, enquanto que na posição normal, isto é, com um ápice isolado voltado para cima, inscreve-se nela (na estrela) a figura de um homem (a cabeça correspondendo à ponta isolada e os membros superiores e inferiores nas demais pontas). Sob a ótica pitagórica a estrela sugere um símbolo da mais alta espiritualidade humana e é tratada alegoricamente como Estrela Hominal.
Alec Mellor in Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons  destaca que a figura do bode alude à impureza animal em oposição ao homem, cujo símbolo perfeito encontra-se na Pentalpha e na Estrela Resplandecente. A efígie do bode evoca a figura de uma estrela, mas invertida.
Merece também citação o autor Osvald Wirth quando comentou in Livre de Compagnon, 4ª edição p. 48, termos relativos à estrela que merecem ser citados:
“Uma mesma figura, conforme ela esteja representada, em posição direita ou invertida, torna-se assim o símbolo do que há de mais nobre na hominalidade, ou de brutalmente instintivo do que há na animalidade”.
Por esses comentários relativos ao bode associado à estrela é que em uma Loja Maçônica, nos ritos que adotam a Estrela Flamejante, ela sempre aparecerá na decoração representada como Estrela Hominal, nunca invertida. Destaque-se que a obra maçônica se envereda sempre para o lado da Luz (sabedoria), nunca para o das trevas (ignorância).
Ainda em relação ao bode, o imaginário popular, e de uma parte dos próprios maçons, tem contribuído para falsas interpretações e, quando não, mesmo caluniosas contra a Maçonaria, a exemplo do que nos conta a história e o personagem de Leo Taxil que difamou a Sublime Instituição para obter ganhos financeiros da Igreja.
Nessa mesma linha aparece o bode-preto como uma expressão popular brasileira para designar o diabo (satanás, lúcifer, coisa ruim, etc.). Nesse sentido, vale a pena mencionar o que menciona o saudoso Irmão e meu particular amigo José Castellani nas suas várias anotações em literaturas a respeito:
“Houve tempo em que setores retrógrados da Igreja, explorando a ignorância e a credulidade de grande parcela do povo, transmitiam, aos seus fiéis, a falsa e malévola afirmação de que a Maçonaria adorava o bode-preto, personificação demoníaca; graças a isso, em muitas localidades brasileiras, dominadas pelo clero, muitas pessoas de poucas luzes, costumavam persignar-se (fazer o sinal da cruz), ao passar, obrigatoriamente, pelas imediações de um templo maçônico, local que procurava evitar e pelo qual só passavam por absoluta necessidade; os maçons conhecidos nessas localidades eram vistos como bruxos, como membros de falanges demoníacas, sectárias do bode-preto, sendo, evidentemente, marginalizados pelas ‘ovelhas’ do rebanho, preocupadas em ir para o céu e não provocar as iras do bom pároco local. Ironizando tal situação de ignorância, atraso e sectarismo, os maçons passaram jocosamente a assumir a alcunha de ‘bode’, ou ‘bode-preto’ para si e para os seus trabalhos de Loja, pratica essa que acabaria se tornando enraizada e tradicional”.
Essa é uma pequena abordagem do assunto pelo que eu espero lhe seja útil. Pesquise literatura a respeito na Internet e a passe pela peneira do bom-senso para obter resultado satisfatório. Não enverede para a banda das crendices e fantasias.


T.F.A.

PEDRO JUK


ABRIL/2018


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