Em 08/02/2018 o Respeitável Irmão
Ubirajara Corrêa, Loja Saldanha Marinho, 1601, REAA, GOB-PR, Oriente de
Curitiba, Estado do Paraná, formula a seguinte questão:
BODE E BEZERRO DE OURO NA MAÇONARIA
Gostaria de me informar melhor sobre o Bezerro de Ouro e o Bode como
símbolos maçônicos. O Irmão poderia me indicar uma literatura séria a respeito.
CONSIDERAÇÕES.
Bezerro de Ouro - na Maçonaria
tradicional (simbolismo) que é constituída universalmente por apenas três graus,
ele não é elemento de nenhuma alegoria maçônica, sendo encontrado sim na
tradição judaico-cristã como um ídolo que fora criado por Arão na oportunidade
em que Moisés, atendendo as ordens de Deus, subiu o monte Sinai para receber os
mandamentos. Então, na ausência de Moisés, o povo de Israel em rebeldia
pressionou Arão, ou Aarão, que era o irmão mais velho de Moisés, a criar um
ídolo que pudesse os reconduzir novamente ao Egito - vide Êxodo 32:1-8.
O bezerro é também mencionado em I Reis 12:28-32 quando trata da
divisão do reino de Israel e o rei Jeroboão I[1] cria dois bezerros na
intenção de que assim o povo do seu reinado viesse adorar um ídolo em lugar do
verdadeiro Deus de Israel.
Devido esse episódio bíblico, provavelmente
alguns tratadistas maçônicos, ao perceberem que quando criança Jeroboão tinha
sido um servidor do Rei Salomão, quiseram equivocadamente associar o bezerro à
Maçonaria. Obviamente que tudo isso não passa de fantasia, pois imaginar a
existência da Maçonaria naqueles tempos é querer desmerecer a inteligência dos
outros.
Genericamente o termo “bezerro de
ouro” tornou-se ao longo dos tempos o símbolo de um ídolo falso.
Bode – a despeito da
sua literal qualificação como um animal quadrúpede ruminante, o bode emissário,
ou expiatório, na cultura hebraica era utilizado como meio de espantar para o
deserto, todas as iniquidades e maldições. Simbolicamente no Dia da Expiação o bode recebia nos seus ouvidos as
confissões dos males dos homens e em seguida era enxotado para o deserto aonde
ele viria a fenecer e, junto com ele, todas as declarações pecaminosas dos
homens. Graças a isso é que o bode,
em Maçonaria, representa a animalidade, ou dos atributos dos animais.
Assim, ele, o bode, se apresenta em
alguns ritos maçônicos representado na estrela pentagonal com um único ápice
para baixo. Nessa posição inscreve-se na estrela a figura de um bode que, em primeira análise
representa a desordem causada pela inversão das leis universais; o caos; o
mundo de cabeça para baixo, enquanto que na posição normal, isto é, com um
ápice isolado voltado para cima, inscreve-se nela (na estrela) a figura de um
homem (a cabeça correspondendo à ponta isolada e os membros superiores e
inferiores nas demais pontas). Sob a ótica pitagórica a estrela sugere um
símbolo da mais alta espiritualidade humana e é tratada alegoricamente como
Estrela Hominal.
Alec Mellor in Dicionário da Franco-Maçonaria e dos Franco-Maçons destaca que a figura do bode alude à impureza
animal em oposição ao homem, cujo símbolo perfeito encontra-se na Pentalpha e na Estrela Resplandecente. A efígie do bode evoca a figura de uma
estrela, mas invertida.
Merece também citação o autor Osvald
Wirth quando comentou in Livre de Compagnon, 4ª edição
p. 48, termos relativos à estrela que merecem ser citados:
“Uma mesma figura, conforme ela esteja
representada, em posição direita ou invertida, torna-se assim o símbolo do que
há de mais nobre na hominalidade, ou de brutalmente instintivo do que há na
animalidade”.
Por esses comentários relativos ao
bode associado à estrela é que em uma Loja Maçônica, nos ritos que adotam a
Estrela Flamejante, ela sempre aparecerá na decoração representada como Estrela
Hominal, nunca invertida. Destaque-se que a obra maçônica se envereda sempre
para o lado da Luz (sabedoria), nunca para o das trevas (ignorância).
Ainda em relação ao bode, o imaginário popular, e de uma
parte dos próprios maçons, tem contribuído para falsas interpretações e, quando
não, mesmo caluniosas contra a Maçonaria, a exemplo do que nos conta a história
e o personagem de Leo Taxil que difamou a Sublime Instituição para
obter ganhos financeiros da Igreja.
Nessa mesma linha aparece o bode-preto como uma expressão popular
brasileira para designar o diabo (satanás, lúcifer, coisa ruim, etc.). Nesse
sentido, vale a pena mencionar o que menciona o saudoso Irmão e meu particular
amigo José Castellani nas suas várias anotações em literaturas a respeito:
“Houve tempo em que setores retrógrados da Igreja,
explorando a ignorância e a credulidade de grande parcela do povo, transmitiam,
aos seus fiéis, a falsa e malévola afirmação de que a Maçonaria adorava o
bode-preto, personificação demoníaca; graças a isso, em muitas localidades
brasileiras, dominadas pelo clero, muitas pessoas de poucas luzes, costumavam
persignar-se (fazer o sinal da cruz), ao passar, obrigatoriamente, pelas
imediações de um templo maçônico, local que procurava evitar e pelo qual só
passavam por absoluta necessidade; os maçons conhecidos nessas localidades eram
vistos como bruxos, como membros de falanges demoníacas, sectárias do bode-preto,
sendo, evidentemente, marginalizados pelas ‘ovelhas’ do rebanho, preocupadas em
ir para o céu e não provocar as iras do bom pároco local. Ironizando tal
situação de ignorância, atraso e sectarismo, os maçons passaram jocosamente a
assumir a alcunha de ‘bode’, ou ‘bode-preto’ para si e para os seus trabalhos
de Loja, pratica essa que acabaria se tornando enraizada e tradicional”.
Essa é uma pequena
abordagem do assunto pelo que eu espero lhe seja útil. Pesquise literatura a
respeito na Internet e a passe pela peneira do bom-senso para obter resultado
satisfatório. Não enverede para a banda das crendices e fantasias.
T.F.A.
PEDRO JUK
ABRIL/2018
Brilhante trabalho, meu irmão!
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