Em 29.08.2022 o Respeitável Irmão
Wesley Di Tano de Oliveira, Loja 16 de Julho, 242, REAA, GLESP (CMSB), Oriente
de Ituverava, Estado de São Paulo, apresenta a seguinte questão:
COLUNA TOSCANA
Consultei nosso irmão Moura, Editora Trolha, e o mesmo indicou que eu
solicitasse sua ajuda.
Estudando o Plano do Templo, símbolos e significados, deparei com duas
Colunas Toscanas localizadas no Oriente, ao lado do Dossel.
As mesmas estão no Plano do Templo do Ritual de Aprendiz e Companheiro
Maçom - REAA
- GLESP; as Colunas também estão na mesma disposição, na Árvore da
Sabedoria Maçônica, no Ritual de Mestre Maçom do REAA - GLESP.
Pesquisei nos Livros que possuo, na Internet e também alguns irmãos,
mais antigos e de graus superiores, mesmo assim ainda não consegui a resposta.
Alguns artigos falam sobre elas, sua origem, forma, consistência, mas nada
sobre o significado ou o que representam no Templo maçônico.
Se possível, gostaria que o prezado irmão, me desse Luz para poder
encontrar a resposta.
Qual o significado ou o que representam estas Colunas Toscanas, ao lado
do dossel do Venerável Mestre, no Templo Maçônico do REAA - GLESP?
Desculpe incomodar e tomar seu precioso tempo.
CONSIDERAÇÕES.
Inicialmente eu gostaria de mencionar que no REAA, rito de origem
francesa, originalmente essas duas colunas da ordem Toscana situadas sob as
extremidades do dossel no Oriente da Loja não existem como elementos do
simbolismo. Nem no Oriente e nem no Ocidente. Podem ser consideradas apenas elementos
decorativos.
Agora, se consta isso no ritual, como descrito na questão, é preciso então
averiguar quem as colocou e por conta do que elas foram inseridas no Oriente do
templo.
Destaco que originalmente nos Painéis originais de Loja do REAA não
consta nenhuma coluna Toscana. Os Painéis do 1º e 2º Grau trazem apenas as colunas
do pórtico (B e J). No Painel do 3º Grau não há nenhuma coluna. As colunas do
pórtico nesses painéis trazem um sincretismo de culturas, babilônicas e
egípcias, portanto elas não fazem parte das
Cinco Nobres Ordens de Arquitetura.
Como aqui foi abordada a relação entre os Painéis e as Colunas, vale então
mencionar que na decoração de um templo do REAA existem apenas e tão somente
dois Painéis, a saber: o da Loja (conforme o grau), e o Retábulo do Oriente que
é o espaço da parede situado imediatamente atrás do trono onde ficam fixados o
Delta Radiante, o Sol e a Lua. Como conteúdo do grupamento de símbolos, nenhum
desses dois Painéis franceses trazem nos seus interiores a Coluna Toscana.
Reitero então que em se tratando do REAA não existem outros painéis na
Loja, senão os logo acima mencionados. Digo isso porque não raras vezes encontramos,
em alguns rituais, a menção de um certo “painel alegórico” na decoração da Loja.
Na verdade, esse painel é um produto de enxerto que copia a Tábua de Delinear
inglesa e não deveria estar presente no REAA.
Na verdade, esse painel alegórico que é às vezes indevidamente encontrado
no REAA, é a Tábua de Delinear Inglesa (Tracing Board) que pertence ao
Rito de York do Craft, portanto é um elemento que nada tem a ver com o
escocesismo.
Desse modo ele não deveria estar presente nos rituais do REAA, sobretudo
por ser ele um rito de origem francesa. Nesse caso, ao que parece foi inserido
indevidamente um painel inglês em um rito de origem francesa e para justificar
essa equivocada presença, deram-lhe o nome de “painel alegórico”, algo
inexistente no escocesismo.
Muitas vezes deve-se a essas indevidas inserções o aparecimento de símbolos
e alegorias que não fazem parte do corolário doutrinário-iniciático de um rito
propriamente dito. Nessa conjuntura é importante saber que cada rito, ou trabalho
(working) maçônico tem suas próprias características.
NOTA – Embora a presente abordagem dos painéis pareça nada ter a ver com
a questão aqui apresentada, fiz essa alusão porque boa parte dos símbolos
utilizados pelos ritos se encontram condensados nesses Painéis (Quadros da
Loja). O Painel do Grau é a síntese da Loja no grau de um rito.
É bem verdade que na estrutura de símbolos da Moderna Maçonaria, alguns
desses emblemas são universais, isto é, são símbolos presentes em qualquer rito.
Entretanto, existem símbolos que são comuns apenas a um determinado rito. Como
exemplo disso poderíamos citar a Estrela Hominal (cinco pontas) que é comum em
um rito enquanto que em outro ela é hexagonal (seis pontas). Seguindo o mesmo
raciocínio, a Escada de Jacó, que aparece no Rito de York, mas não no REAA.
Outro exemplo: os símbolos que compõem as três virtudes teologais, estes presentes
na Tábua de Delinear inglesa e não nos Painéis franceses. Ainda, as Colunas
Zodiacais, que não existem na decoração do Rito de York, porém estão presentes
no REAA, etc.
Existe ainda outro grupo de símbolos, os que são abstratos em alguns
ritos, mas visíveis e palpáveis em outros. Explica-se: em muitos ritos alguns
símbolos, ou mesmo a sua ideia, não são visíveis, contudo, se fazem presentes nas
entrelinhas do ideário doutrinário.
Nesse caso, tomemos como exemplo as colunas da ordem Jônica, Dórica e
Coríntia. Esses são símbolos consagrados e universalmente representam, na
Maçonaria Simbólica Universal, a Sabedoria, a Força e a Beleza. Essa tríade basicamente
serve a todos os ritos, pois é a sustentação da moral maçônica, no entanto, visíveis,
palpáveis e materializadas elas não aparecem no Painel do REAA, mas são mencionadas
nas entrelinhas do seu ritual e nas suas instruções correspondentes. Já no Rito
de York, ao contrário do REAA, essas colunas aparecem com destaque na sua Tábua
de Delinear do 1º Grau.
Assim, se faz necessário observar que nesse universo de símbolos e
emblemas maçônicos, muitos elementos que fazem parte da decoração da planta do
templo de um determinado rito, podem não estar presentes em outros - mesmo estando
conexos a uma mesma estrutura doutrinária.
Conhecer essa regra significa evitar o achismo e a nociva licenciosidade
de se achar que cada um pode interpretar o símbolo à sua maneira. Licenciosidade
na interpretação dos símbolos é erro crasso em Maçonaria. O símbolo na
Maçonaria tem no contexto uma mensagem única.
A arte está em desvendar o mistério que o cerca. Assim, indaga-se: o que
um determinado símbolo significa para a doutrina do Rito? Ele foi ali colocado
por quê? No contexto iniciático, qual é a sua contribuição? E no contexto
histórico e cultural? E assim vai...
Com as devidas ressalvas, se essas regras básicas fossem observadas, certamente
estaríamos livres da enxurrada de bobagens escritas que desafortunadamente
ainda assolam o campo literário da nossa Ordem.
Feitos esses esclarecimentos e comentários, vamos ao símbolo mencionado
na questão ora aqui apresentada – a coluna da Ordem Toscana.
No que diz respeito a ela e a Maçonaria, de maneira sintética dá para se
dizer primeiramente que essa Coluna é parte de um conjunto de símbolos que
formam a alegoria da Escada Sinuosa, ou em Caracol.
Porém, antes é bom que se diga que a alegoria da Escada em Caracol é
natural no Craft, no caso, no Rito de York. Observe-se que essa Escada é o
elemento central da Tábua de Delinear do 2º Grau do Rito de York (inglês). Ela
não está presente, por exemplo, no Painel do REAA.
NOTA – Tábua de Delinear é o nome dado ao Quadro da Loja na Maçonaria
Inglesa. Na Maçonaria Francesa é conhecido como Painel do Grau, ou da Loja. Apesar
de terem a mesma função, o conjunto de símbolos é diferente em conteúdo de um e
do outro.
Em um dos modelos da Tábua de Delinear, a Escada Sinuosa, ou em Caracol,
aparece como figura detalhada no Craft. Composta por três segmentos de três,
cinco e sete degraus, no seu segundo estágio (lance com cinco degraus), literalmente
o corrimão se apoia sobre cinco colunas representativas das Cinco Nobres Ordens
de Arquitetura, das quais três gregas, a Dórica, a Jônica e a Coríntia,
e outras duas romanas, a Toscana e a Compósita.
Como parte das preleções inglesas, a Escada Sinuosa, ou em Caracol, se
caracteriza por representar um percurso sinuoso e difícil, cujo objetivo é o de
mostrar ao iniciado as dificuldades que naturalmente serão encontradas ao longo
da vida. Nesse contexto o agrupamento das Cinco Nobre Ordens de Arquitetura representa
o 2º estágio do iniciado – ver, ouvir, meditar, bem agir e calar.
A relação das Cinco Nobres Ordens de Arquitetura com o ideário instrucional
maçônico se consolidou especulativamente no século XVI com o tratado escrito
por Giacomo Vignola, denominado Regras das Cinco Ordens de Arquitetura.
Embora já na fase de declínio do estilo Gótico e, por extensão da Maçonaria de Ofício,
muitos arquitetos da época passariam a utilizar as regras e proporções hauridas
desse tratado.
Com o advento do Renascimento, as regras de Arquitetura seriam inseridas
por Inigo Jones na Inglaterra, o que sacramentava de vez o declínio da Maçonaria
de Ofício e a ascensão da aceitação – o ingresso de homens estranhos ao ofício
se tornava cada vez mais evidente.
Do ofício ao especulativo, a doutrina dos maçons aceitos fora elaborada debaixo
de símbolos e alegorias ligadas à Arte de construir. Graças a isso é que esses
elementos se fazem naturalmente presentes no simbolismo e nas instruções atuais
da Moderna Maçonaria.
Em relação às colunas Toscanas situadas no Oriente de uma Loja do REAA, particularmente
junto à parede nas extremidades do dossel conforme mencionadas na sua questão, ao
que parece são meros elementos decorativos sem nenhum conteúdo iniciático, ou de
outro significado especial.
Como descrito na questão, essas colunas de fato parecem ser apenas molduras
decorativas fixadas à esquerda e à direita do Retábulo do Oriente, e nada mais.
Muitas Lojas costumam usar esse tipo de decoração, sem que haja nela qualquer conotação
iniciática.
Como elemento simbólico oficial a Coluna Toscana somente aparece, de
fato, na alegoria da Escada em Caracol no CRAFT, não sendo, portanto, símbolo comum
ao REAA. No que diz respeito ao escocesismo propriamente dito, no máximo talvez
seja possível ligá-la como parte de um conjunto composto por “cinco” colunas, destacando
neste contexto que número “cinco” é universalmente um dos elementos de estudo do
Companheiro Maçom.
Não obstante às considerações até aqui apresentadas, seguem alguns
elementos técnicos e históricos concernentes às Cinco Ordens de Arquitetura que
tendem auxiliar na compreensão desse tema dentro da conjuntura instrucional
maçônica.
- Ordem
de Arquitetura – Sinteticamente menciona aquilo que dá características
próprias à construção associando-a a um determinado estilo histórico (características
únicas). Confere harmonia, unidade e proporção a um edifício segundo as normas
clássicas de beleza. As Ordens de Arquitetura nasceram na Antiguidade
Clássica, embora eventualmente tenham sido reinterpretadas, a exemplo do
que ocorreu durante o período renascentista.
- As primeiras normas - Desenvolvidas na Grécia,
essas normas tiveram seu ápice no século V a.C. (Período Clássico) quando
deram lugar à criação de três Ordens de Arquitetura a saber: Dórico, Jônico
e Coríntio.
No século I a.C.
essas Ordens foram readaptadas no Império Romano e deram lugar a outras duas
outras – a Toscana (variante simplificada do Dórico) e a Compósita (uma mistura
combinada entre o Jônico e o Coríntio).
- De Architecturae (Tratado de Arquitetura) de Vitrúvio
- Datado do século I a.C., esse foi o único escrito herdado da Antiguidade
que chegou ao século XV. Foi no século seguinte que aparece o tratado
escrito por Giacomo Vignola sob a denominação de Regras das
Cinco Ordens de Arquitetura. Esse tratado acabou por definir regras
geométricas e de proporção que até o presente ainda são utilizadas por arquitetos.
Graças a esse tratado é que foram então reconhecidas as Cinco Nobres Ordens
de Arquitetura. Essas Cinco Ordens se dividiram em dois grupos – o das
Ordens Gregas e o das Ordens Romanas. As Ordens Gregas formadas pelas ordens
Dórica, Jônica e Coríntia, e as Romanas pelas ordens Toscana e Compósita.
- A Ordem Dórica (grega)
– natural das costas sul do Peloponeso teve o seu auge no século V a.C. Empregada
principalmente na banda exterior dos templos então dedicados às divindades
do gênero masculino. De caráter sólido, com aparência de força é a mais
simples das três Ordens Gregas.
- A Ordem Jônica (Grega)
- aparece na Grécia oriental e, aproximadamente em 450 a.C. parece ter sido
adotada também por Atenas. De desenvolvimento concomitante à Ordem Dórica,
pela sua forma e característica suave acabaria sendo mais utilizada nos
templos dedicados a deusas femininas. Se caracteriza pelo capitel com volutas.
- A Ordem Coríntia (Grega) - natural
do último quartel do século V a.C., notoriamente possui capitel mais
decorativo e trabalhado. Inicialmente foi muito utilizada na banda interna
dos palácios e assemelhados. Seu capitel é abundantemente decorado com
rebentos e folhas de acanto. Tornou-se um capitel bastante utilizado no
período de dominação romana.
- A Ordem Toscana (Romana) –
Se desenvolveu no período de dominação romana e é um elemento
simplificado com proporção igual ao da Ordem Dórica. Sua característica é
a simplicidade do seu capitel.
- A Ordem Compósita
(Romana) – Como a Toscana, também se desenvolveu no período de dominação
romana. Até o advento do Renascimento ela foi considerada uma versão tardia
da Ordem Coríntia. Caracteriza-se por ser um estilo mesclado em cujo capitel
vão inseridas as volutas do Jônico e também as folhas de acanto do Coríntio.
Espero que esses comentários sirvam para trazer luzes a respeito desse
tema.
T.F.A.
PEDRO JUK
jukirm@hotmail.com
http://pedro-juk.blogspot.com.br
JAN/2023