Em 01.08.2022 o Respeitável Irmão Carlos Augusto Guimarães, Loja Irmão Firmino Escada, 2220, REAA, sem mencionar o Rito e a Obediência, Oriente de Lorena, Estado de São Paulo, apresenta o que segue:
LUGAR DOS RECÉM INICIADOS
Primeiro
gostaria de parabenizá-lo pelo blog que muito tem me ajudado nos
esclarecimentos maçônicos.
Em
segundo lugar, informo-lhe que estou redigindo uma peça de Arquitetura que se
intitula PORQUE É QUE OS AAP∴ SE
SENTAM NA COL∴ DO
NORTE?
Concordo
com o Ir∴ quando menciona que o recém-iniciado
deve ocupar o topo da Coluna do Norte e, no meu singelo entendimento, próximo
ao Altar do Ir∴ 1º
Vig∴ que é o lado
escuro do Templo.
Entretanto,
o Ritual de Apr∴ do
R∴ E∴ A∴ A∴,
quando o Ven∴ M∴ determina ao Ir∴ M∴ de
CCer∴, faça o Ir∴ assinar o livro de presença, “e depois
fazei-o sentar-se no topo da Col∴ do
Norte, destinada aos AApr∴ próximo
da balaustrada (pág. 142).
MINHA
INDAGAÇÃO. O recém-iniciado deve sentar-se próximo da balaustrada ou próximo ao
Altar do Ir∴ 1º
Vig∴, que o lado escuro do Templo?
CONSIDERAÇÕES.
Eu gostaria antes lhe esclarecer que no GOB o Sistema de Orientação
Ritualística – SOR, implantado pelo Decreto 1784/2019 do Grão-Mestre Geral,
corrige essa anomalia ritualística do recém-iniciado ocupar lugar próximo à
balaustrada.
Nesse particular, o SOR (mecanismo de orientação oficial do GOB) orienta
que no REAA o Aprendiz recém-iniciado se sente próximo ao 1º Vigilante, ou seja,
no topo da Coluna do Norte (que é toda a parede Norte).
Isso se justifica porque na banda noroeste se encontram as três primeiras
Colunas Zodiacais (Áries, Touro e Gêmeos) correspondentes ao ciclo anual da primavera
no Hemisfério Norte.
Já expliquei e escrevi inúmeras vezes que as Colunas Zodiacais no REAA
indicam a jornada por onde o iniciado tem que passar. Esse caminho, que passa pelos
topos do Norte e do Sul, corresponde aos ciclos da Natureza no Hemisfério Norte
do nosso Planeta. Assim, por esse comparativo a jornada do Aprendiz começa na
primavera – próximo ao 1º Vigilante em Áries, que é o início da primavera no
Norte.
Em se tratando de onde se localiza simbolicamente a parte mais escura no
templo, a mesma situa-se em todo o topo da Coluna do Norte (parede setentrional).
Isso ocorre porque o topo do Norte é o lugar mais distante do equador - no caso
do eixo do templo.
Nesse caso, o topo compara-se às regiões polares do Norte e do Sul
(ambas mais distantes do equador).
Vale lembrar que no REAA o templo maçônico representa um segmento
retangular da superfície da Terra localizada sobre o equador. As colunas do
Norte e do Sul simbolizam os dois hemisférios terrestres. O Oriente é o lugar onde
nasce o Sol e o Ocidente é o seu poente. A abóbada é o céu e o pavimento
mosaico o solo terrestre.
Também é preciso se levar em conta que o deslocamento aparente do Sol na
sua eclíptica é visto, nesse caso, da meia-esfera Norte – a Maçonaria nasceu no
Hemisfério Norte e os seus ritos que possuem características solares foram
construídos debaixo da abóbada setentrional do nosso Planeta. Destaco que o
REAA é um rito solar nascido na França, portando em latitudes setentrionais.
Graças a isso, para quem observa do Norte, aparentemente o Sol passa
pelo Sul, razão pela qual se diz que o Sul, ou Meio-Dia é mais iluminado. Sob
essa óptica, não à toa é que as três janelas (passagem do Sol) que aparecem no
Painel se localizam no Leste, Sul e Oeste – ao Norte não há janela (claridade).
Por oportuno é bom mencionar que sobre a alegoria da Luz a Maçonaria utiliza
no seu arcabouço iniciático os dois deslocamentos imaginários do Sol - o diário
como jornada de trabalho; e o anual com alegoria do nascimento, da vida, da morte
e da renovação do iniciado.
No tocante à fase iniciática do Aprendiz, no REAA ele veio da Câmara de
Reflexão (interior da terra) para em seguida se submeter às provas pelos
elementos e finalmente receber a Luz no extremo do Ocidente.
Dessa maneira, não procede que em um rito de vertente solar como é o
REAA, o recém-iniciado ocupe lugar próximo à balaustrada, ou seja, inicialmente
longe do Ocidente onde ele devidamente recebeu a Luz. Afinal, ele partiu do
Oeste em direção à Luz, e não ao contrário. É por isso que as marchas (passos)
dos três Graus simbólicos são sempre executadas no sentido Oeste para Leste.
Entenda-se que próximo à balaustrada é o final da jornada do Aprendiz - que
vai de Áries até Virgem - isto é, quando ele estiver apto a receber seu aumento
de salário ingressando no 2º Grau – é quando ele atingir simbolicamente os três
primeiros anos de existência (Q∴ id∴ tend∴? T∴ aa∴).
Depois que o Aprendiz paulatinamente tiver passado uma a uma as seis
colunas que se encontram no topo do Norte (tempo do aprendizado), ele então estará
apto a atravessar para o outro hemisfério, lugar onde fica o topo da Coluna do
Sul, e assim prosseguir na sua jornada.
No Sul, agora como Companheiro Maçom, o iniciado prossegue na sua senda a
partir de Libra que fica próxima à balaustrada na retaguarda do Chanceler.
Nesse contexto, o Companheiro, ao contrário do Aprendiz, parte agora da
balaustrada em direção ao Oeste, ou seja, iniciáticamente segue da juventude
para a maturidade e a idade senil.
Simbolicamente ele vai do outono até o inverno, que é o final da jornada
e onde a Natureza morre no complemento do seu ciclo anual.
Esotericamente é o tempo em que há menos luz e a Terra fica viúva do Sol
– no inverno os dias são curtos e noites longas (predomínio das trevas).
Sob o aspecto iniciático, esses quatro ciclos naturais correspondem, no
REAA, às etapas de aperfeiçoamento do Maçom. Inicia-se na infância, comparada à
primavera, e termina no inverno (senilidade).
Dados esses comentários, essa “estória” de no REAA o recém-iniciado
sentar próximo à balaustrada é um grande equívoco que infelizmente vem se
perpetuando em muitos rituais há bastante tempo.
Ora, Aprendiz ocupando lugar no canto nordeste da Loja (próximo a Leste)
ocorre no Rito de York (inglês) e não no REAA.
No rito de York isso ocorre porque a Maçonaria Inglesa (anglo-saxônica)
não menciona no seu ideário iniciático o termo topo da Coluna do Norte, e nem
do Sul. Apenas Norte e Sul. Isso porque na sua doutrina ele compara o Aprendiz
recém-iniciado à pedra angular das construções góticas.
É por isso que no rito de York os Aprendizes não sentam junto à parede
Norte como no REAA, mas na fileira da frente, próximos ao Leste (nordeste). Note
que no Rito de York não existem Colunas Zodiacais.
No Rito de York o lugar dos Aprendizes se explica da seguinte forma: por
ser o início, ou o princípio da construção, a pedra angular que servia de base
para o nivelamento e o esquadrejamento da construção era fincada no canto nordeste
do canteiro de obras. A partir da pedra angular (pedra cubo-piramidal) era
aplicada, com auxílio do cordel de 12 nós equidistantes, a 47ª Proposição de
Euclides. Assim, o início de tudo se dava a partir da pedra angular. Por
analogia, essa pedra é comparada aos Aprendizes por serem aqueles que dão
início à jornada iniciática.
Enquanto no Rito de York os Aprendizes simbolizam a pedra angular, no REAA
eles simbolizam a primavera. De objetivo único, a Maçonaria ensina seus membros
através dos seus ritos, não obstante cada rito, em muitos aspectos, apresentar
ensinamentos que lhe são mui particulares.
Possivelmente vem daí essa adaptação indevida de se colocar no REAA o
Aprendiz recém-iniciado próximo à balaustrada.
Como colateral ao Leste, muitos ritualistas desavisados acabariam
generalizando, provavelmente por falta de conhecimento, essa prática. Certamente
não se aperceberam que há diferenças entre as estruturas ritualísticas e doutrinárias
dos ritos maçônicos – algumas sensíveis e outras gritantes.
Eram esses os meus comentários.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
JAN/2023
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