terça-feira, 29 de junho de 2021

CONFECÇÃO DO BRASÃO DE UMA LOJA MAÇÔNICA

 

Em 03.10.2020 o Respeitável Irmão Juliano Faria de Souza, Loja Liberdade e Amor, REAA, GOB-MG, Oriente de Cássia, Estado de Minas Gerais apresenta a seguinte questão:

 

BRASÃO DA LOJA

 

Existe alguma regra para se confeccionar um Brasão de uma Loja? Por exemplo, tem alguns símbolos que devem estar contidos nele?

 

CONSIDERAÇÕES.

 

A ciência e a arte de descrever brasões denomina-se “heráldica” e foi desenvolvida na Europa por volta do século XII. Essa ciência surgiu com o desiderato de distinguir os personagens, principalmente, que eram simbolizados por escudos. Em síntese o escudo tem a função de identificar.

De modo acadêmico, o brasão deve estar em acordo com uma descrição escrita


(memorial), na qual é dada uma linguagem própria, conhecida como linguagem heráldica.

Desse modo, o escudo, ou brasão, representa o conteúdo dessa descrição escrita. O ato de representar e desenho deve seguir uma série de regras mais ou menos estritas.

Em se tratando de Maçonaria, o brasão de uma loja maçônica é um desenho especificamente criado com a finalidade de identificar a Corporação (Loja). A elaboração do brasão, por conseguinte, segue as leis da heráldica, pelo que se sugere pesquisar esse termo e as suas regras.

É de bom alvitre também, que para a confecção de um escudo para Loja, seja feita uma consulta a respeito junto à Grande Secretaria da Guarda dos Selos da Obediência solicitando orientações.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

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JUN/2021

sábado, 26 de junho de 2021

ESOTERISMO E HUMANISMO - RITOS MAÇÔNICOS

 

Em 01/10/2020 o Respeitável Irmão David Lorenzo Sotolepe, Loja Unidade, Justiça e Trabalho, 274, GLMRGS, Rito Schröder, sem mencionar o Oriente, Estado do Rio Grande do Sul, solicita esclarecimentos para o que segue relacionado a uma resposta enviada em 01/10/2020

 

ESOTERISMO E HUMANISMO

 

Mais uma pergunta? Tu falas de Esoterismo e Humanismo. Tu crês que o Schröder não pratica Esoterismo? Também trabalha como maçonaria, sem diferenças de sua finalidade. Aí creio que, é também esotérico.

A GLMRGS reconhece três Ritos: Escocês acredito seja mais esotérico. York que seja mais religioso e Schröder, catalogado como humanista.

Aí que está, não deveria ser todos humanistas, e suas peculiaridades, como citei acima?

Schröder também, prepara seus candidatos na Câmara Escura, isso não seria Esoterismo?
e outras tantas da Iniciação.

Tenho essas dúvidas, e muitos Irmãos as têm.

Como tu disseste, a finalidade e sermos melhores para contagiar nossos semelhantes na vida profana.

 

CONSIDERAÇÕES.

 

Caro Irmão, no meu modesto entendimento, cada rito possui sua cultura e o seu particular formato doutrinário na busca de uma construção à virtude universal.

Existem ritos que possuem carga maior de esoterismo e outros menos, além daqueles que exageram nessa conceituação o que acaba os tornando, muitas vezes, por incompreensão dos seus adeptos, num centro de exposições particulares de credos.

Obviamente que em se tratando de exageros, Schröder soube dosar as coisas se afastando dos excessos. Ora, isso, contudo, não vem denegrir nenhum rito que atue sob concepções deístas, com um arcabouço esotérico mais elaborado – é o caso do simbolismo do REAA e os cultos solares da antiguidade.

Do mesmo modo, também os ritos que se estruturam historicamente sob influência teísta, como é o caso da maçonaria anglo-saxônica. Por sua vez, o Rito Schröder que contém um viés humanista me parece mais acentuado, também não deixa de atuar com conceitos iniciáticos esotéricos.

É bom que se diga que a Moderna Maçonaria é constituída por vários ritos e trabalhos. Todos ao seu modo doutrinário buscam um só objetivo, que é o de aprimorar o homem. Os formatos doutrinários inerentes aos ritos foram construídos, cada qual, sob seu viés histórico e cultural. O que me parece é que em não raras ocasiões, os próprios maçons não compreendem a sua essência iniciática e deturpam os seus objetivos doutrinários.

Obviamente que existem ritos que, pela sua formação de origem, acabam por facilitar compreensões inadequadas.

Concluindo, devo mencionar que independente das qualificações doutrinárias que cada rito maçônico possa ter, a Moderna Maçonaria, por ser uma Ordem iniciática é, por extensão, esotérica, pois nela todos os ensinamentos são fornecidos a um círculo restrito e fechado de ouvintes (hermético), cujas matérias somente são compreensíveis àqueles que seguem as respectivas sendas iniciáticas.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

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JUN/2021

quarta-feira, 16 de junho de 2021

ALTAR DOS PERFUMES NO SIMBOLISMO DO REAA

 

O Respeitável Irmão Sergio Luiz Carvalho, Loja Caratinga Livre, 0922, REAA, GOB-MG, Oriente de Caratinga, Estado de Minas Gerais, solicita esclarecimentos para o que segue:

 

ALTAR DOS PERFUMES

 

O Altar dos Perfumes, faz parte da planta do templo nos três Graus simbólicos, ao lado do Altar dos Juramentos. Qual a sua finalidade na loja simbólica nos Graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre, pois no ritual nada fala do mesmo, inclusive na disposição e Decoração do Templo, às fls. 14 do ritual de aprendiz. Solicitaria do Poderoso Irmão Grande Secretário de Ritualística do GOB, esclarecimento para apresentar no Tempo de Estudo, em Loja dia 08 de julho 2021.

 

CONSIDERAÇÕES:

 

A bem da verdade, o Altar dos Perfumes que permanece indevidamente nos rituais do simbolismo do REAA é um resquício de determinadas generalizações ritualísticas que para o bem da liturgia maçônica não deveriam acontecer.

Geralmente essas inserções são frutos colhidos da produção imaginária de alguns que não sabem o porquê das coisas, isto é, não sabem produzir uma justificativa convincente.

Uma dessas generalizações pode ser perfeitamente observada em determinados rituais contraditórios de Sagração de Templo (deveria ser consagração) que adotam práticas ritualísticas de vários ritos. O resultado disso é uma mistura de práticas que dão origem a


paradoxos.

Assim é que ocorreu na ideia de se fazer um só ritual de sagração de templo para todos os ritos, o que fatalmente trouxe uma mistura de práticas de vários costumes num mesmo ritual – um exemplo disso é o Altar dos Perfumes utilizado para a prática “generalizada” de incensar o ambiente, independente do rito, no ato da inauguração do espaço. É bom que se diga que muitos ritos não adotam a prática de incensar o Templo.

Dados a esses “imbróglios” ritualísticos é que indevidamente esse altar acabou permanecendo indevidamente como parte do mobiliário das lojas simbólicas do REAA.

Outra provável origem dessa indevida inserção vem de rituais ultrapassados e enxertados com práticas de outros ritos como o caso do de acender incenso durante os trabalhos ou, quando não, manter uma vela acesa sobre esse altar. Destaco que no REAA não existe nenhuma luz litúrgica que fique acesa sobre o Altar dos Perfumes, assim como não existe nenhuma incensação do ambiente, antes, durante e nem depois dos trabalhos nos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre no REAA.

Há ainda a questão do “achismo” - a ciência dos que “acham - que o espaço de trabalho maçônico, comumente conhecido na maçonaria latina como templo, é uma cópia do primeiro Templo de Jerusalém, o que não é verdade. Desse modo, embasados no imaginário, alguns “acharam”, para o bem do “achismo”, de deixar no ritual um Altar dos Perfumes que ao final não serve para nada na ritualística do simbolismo do REAA.

Com o passar do tempo coisas estranhas à determinados ritos acabariam por eles genericamente se espalhando como verdadeiras pragas de ervas daninhas. O tal de copiar, sem nenhum critério, práticas de rituais antigos, mas não autênticos, por muito tempo se consagrou na maçonaria brasileira. Nesse caso pode-se citar esse Altar que só é utilizado na inauguração do espaço.

Como infelizmente muitos maçons não ainda compreenderam que o espaço de trabalho (templo) é uma oficia estilizada que relembra os nossos ancestrais operativos da Idade Média, esse mobiliário então tem servido para atender a toda a sorte de imaginação, achismos e enxertos de práticas ritualísticas inexistentes no REAA.

Ao concluir, observo que esse altar nem mesmo é mencionado no Sistema de Orientação Ritualística do GOB-RITUALÍSTICA, isto é, por certo será extirpado quando da edição de novos rituais do REAA. Enquanto ele existir nos rituais, serve apenas como um elemento decorativo que ali é colocado só para tomar espaço. Reitero: não existe nenhuma prática litúrgica que ocupe o Altar dos Perfumes no simbolismo do REAA.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

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JUN/2021

domingo, 13 de junho de 2021

ACESSO AO CONTEÚDO DO BALAÚSTRE SEM QUE SE TENHA ESTADO PRESENTE NOS TRABALHOS

 

Em 29/09/2020 o Respeitável Irmão Thiago André Adame, Secretário da Loja Luz e Esperança, 3.486, REAA, GOB-PR, Oriente de Cascavel, Estado do Paraná, apresenta a questão seguinte:

 

ACESSO AO BALAÚSTRE SEM COMPARECER À SESSÃO

 

Com o advento da pandemia do corona vírus, no momento nossa Oficina está realizando sessões presenciais sem cobrar a presença dos Irmãos do grupo de risco, no entanto alguns Irmãos deste grupo gostariam de ter acesso ao balaústre sem ter comparecido à sessão. Existe alguma maneira de, dentro da ritualística, os Irmãos terem acesso ao que ocorreu nas sessões?

 

COMENTÁRIOS.

 

Embora até existam alguns paradoxos que cercam a leitura da ata (balaústre) de uma sessão maçônica privativa para maçons, principalmente no que diz respeito àqueles que podem ou não ouvir a sua leitura, sabemos que por uma questão de operacionalidade administrativa a ata (balaústre) é lida na sessão seguinte na presença de todos, inclusive daqueles que não estiveram presentes nos trabalhos a ela correspondentes.

Até aí há uma explicação para essa forma consagrada, principalmente na maçonaria brasileira, ou seja, estando presente na sessão, todos ouvem a sua leitura, apenas se restringindo a sua discussão e aprovação àqueles que dela tenham participado. Isso é ponto pacífico.

Essa forma se sustenta, de ouvir mesmo quem não esteve presente, porque subentende-se que todos os que ouvem a sua leitura estão em Loja aberta e assim se obrigam atender ao Landmark do sigilo, ou seja, de nada revelar o que ali se passou. Desse modo, o conhecimento do conteúdo da ata é dado em Loja aberta, portanto ali fica restrito – só ouve quem está presente.

Agora, remeter a ata de uma sessão maçônica para Irmãos ausentes é algo intolerável, mesmo que sob a justificativa de grupos de risco, pandemia, etc. Ouvir e conhecer o conteúdo da ata recém redigida, em qualquer circunstância, somente em loja aberta na oportunidade da sua leitura para aprovação. Isso quer dizer que é preciso se estar presente ao trabalho para ouvi-la.

Como foi mencionado é até tolerado que um Irmão que não esteve presente nos trabalhos relativos à ata, possa ouvi-la quando da sua leitura para aprovação, todavia desde que ele esteja presente à sessão na hora da sua respectiva leitura. Nesse caso ele ouve, mas não participa de discussão e nem da sua aprovação – simplesmente se abstém.

Assim, reitera-se que para ouvir a leitura da ata o Irmão tem que estar presente na sessão em que ela é lida. Nesse sentido, cabe destacar que no caso do GOB e o ritual do REAA em vigência está bem claro que a ata deve ser lida na sessão e não enviada para fora da Loja para eventuais conhecimentos. Agrava-se ainda qualquer revelação inerente a ela feita fora de uma loja aberta em qualquer conjuntura.

Concluindo, em que pese a questão da pandemia e as situações que envolvem Irmãos que fazem parte de grupos de risco, o conhecimento do conteúdo de uma sessão maçônica privativa para maçons é restrito à loja ritualisticamente aberta. Qualquer revelação que não atenda aos parâmetros do sigilo é completamente ilegal. Sob nenhuma circunstância a ata de uma sessão maçônica é redigida para que Irmãos dela tomem conhecimento fora de Loja.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

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JUN/2021

sexta-feira, 11 de junho de 2021

GRANDE LOJA E GRANDE ORIENTE - DIFERENÇAS

 

Em 28.09.2020 o Respeitável Irmão Wellington Sampaio, Loja Paz e Progreso III, nº 1,

Oriente de Maceió, Estado de Alagoas, solicita esclarecimentos para o que segue:

 

RITOS MAÇÔNICOS E A GRANDE LOJA

 

Se possível gostaria da ajuda do Irmão no sentido de esclarecer uma dúvida, qual seja: recentemente surgiu uma discussão no âmbito da Grande Loja do Estado de Alagoas (GLOMEAL) sobre a possibilidade de serem admitidos outros ritos, além do REAA, entre as lojas jurisdicionadas e, diante disso, veio o questionamento se isso contraria alguma norma, tácita ou não, pois há o entendimento, por parte de alguns irmãos (dos quais me incluo), que Grande Loja admite apenas lojas de um mesmo rito; e que lojas de ritos diferentes configuraria um Grande Oriente. Procede esse posicionamento? Se sim, há algum dispositivo legal que corrobore esse pensamento?

Busquei dirimir tal dúvida em várias fontes, no entanto, sem sucesso. Teria como o Irmão ajudar a pacificar essa celeuma?

 

CONSIDERAÇÕES.

 

Em que pese alguns autores como Jules Boucher afirmarem que o sistema Grande Loja se caracteriza por só admitir um rito, isso atualmente não faz nenhum sentido.

O título distintivo de Grande Loja dado a uma obediência maçônica surgiu com o marco inicial da Moderna Maçonaria em 1717, ano em que seria fundada a primeira Grande Loja em Londres e Westminster a 24 de junho.


Com a fundação dessa Grande Loja no primeiro quartel do século XVIII, era também inaugurado o primeiro sistema obediencial do mundo, ou seja, o de ter um Grão-
Mestre como seu dirigente maior. Para tal, a Grande Loja londrina de 1717 elegeu o gentleman Mister Anthony Sayer para ser o seu primeiro Grão-Mestre.

Quanto ao título distintivo de Grande Oriente para uma obediência maçônica, o mesmo foi aplicado pela primeira vez na França.

Em que pese alguns historiadores afirmarem que desde 1728 na França também existisse um sistema obediencial à moda inglesa, inclusive bastante influenciado pela primeira Grande Loja bretã, é somente em 1738 que iria ser legitimamente formada uma primeira Grande Loja em território francês - a Grande Loja da França (essa não é a atual GLF).

Assim, em 1771, tendo à frente o Grão-Mestre Louis Philippe Joseph d’Orléans, o Duque de Chartres, era realizada a grande reforma administrativa na combalida e desorganizada maçonaria francesa daquele período. Dentre outros, a reforma focava principalmente em combater a hegemonia das Lojas de Paris e seus veneralatos vitalícios (vide essa história) e estabelecia a eleição para veneráveis. Era então substituído o nome de Grande Loja da França por Grande Oriente da França.

Contextualmente pode-se dizer então que o nome Grande Loja como um sistema obediencial nasceu na Inglaterra em 1717 e que com essa mesma finalidade o nome de Grande Oriente foi aplicado na França em 1771.

Como federações ou confederações formadas pelo mínimo de três Lojas maçônicas, uma Grande Loja ou um Grande Oriente constitui-se numa Obediência ou Potência maçônica. Diferenças que porventura possam existir entre elas são de caráter administrativo.

Ser uma Grande Loja por adotar apenas um rito e um Grande Oriente por aceitar mais do que um rito, não me parece ser uma qualificadora titular apropriada.

Sobre essas colocações, um aspecto para ser considerado é o de que a profusão de ritos maçônicos ganhou força nos séculos XVIII e XIX. Na Inglaterra, por exemplo, após o final das escaramuças entre os Antigos e os Modernos era definida a forma de trabalho após o ato de união de novembro de 1813. No sistema da Grande Loja, agora Unida da Inglaterra, o craft (ofício) não adota ritos, contudo, workings, ou seja, formas de trabalhos rituais que seguem uma estrutura periodicamente demonstrada pela Grande Loja. É bom que se diga que uma das características da maçonaria inglesa é respeitar o regionalismo cultural das diversas regiões inglesas.

A Grande Loja inglesa, por si só já quebra a colocação de Jules Boucher quando ele menciona a prática exclusiva de um rito para caracterizar uma Grande Loja. Por exemplo, a Grande Loja Unida da Inglaterra, como “Grande Loja”, adota vários trabalhos (workings) como o de Emulação que é uma Loja de aperfeiçoamento e demonstração; o dos trabalhos de Bristol, do Claret, do West-End, do Taylor’s, do Humber, do Sussex, etc. Isso quer dizer que por mais próximos que esses trabalhos estejam uns dos outros dentro do Craft, é inquestionável que existem entre eles diferenças, em alguns aspectos, na forma de trabalho ritualístico. Na verdade, é a razão dos diferentes nomes dados aos trabalhos maçônicos regionais em solo inglês.

Vale a pena mencionar que a Grande Loja Unida da Inglaterra não nomina suas formas de trabalho como “rito”, o máximo que ela pode aceitar é o termo “ritual”, embora na Inglaterra eles oficialmente não sejam editados. No Craft, cada costume regional de liturgia maçônica é conhecido por “trabalho”. Os ingleses conservam uma única espinha dorsal para ele, contudo, conforme a região de origem eles possuem características próprias.

No Brasil, as Grandes Lojas Estaduais (CMSB) surgidas da cisão no GOB em 1927, em princípio praticavam apenas o REAA, entretanto, atualmente essa não tem mais sido regra. Assim também existem outras Grandes Lojas espalhadas pelo mundo, sendo que cada uma delas têm as suas particularidades e podem adotar mais de um rito se lhes for conveniente.

Nesse sentido, não dá para se afirmar peremptoriamente que uma Grande Loja se caracteriza por apenas praticar um único rito. Pelo menos não dá para generalizar esse conceito.

No tocante ao título “Grande Oriente”, sistema administrativo obediencial criado na França e difundido principalmente nos países latinos, se caracteriza naturalmente pela adoção plural de ritos.

Quando o Grande Oriente nasceu na França, ele logo se deparou com vários ritos oriundos dos dois troncos maçônicos praticados em solo francês. No caso, os ritos Moderno ou Frances, REAA, Rito Adonhiramita, etc. Todos eles na época acabariam trabalhando sob a égide do Grande Oriente da França. É certo, portanto, que no Grande Oriente, pelas circunstâncias da sua história, existe pluralidade de ritos.

Espalhados por outros países do mundo, tanto os Grandes Orientes, assim como as Grandes Lojas, acabariam se caracterizando como sistemas obedienciais que governam tantos quantos forem os ritos adotados, podendo, eventualmente, uma Grande Loja possuir apenas um rito, contudo isso não é regra para torna-la uma Grande Loja.

Há ainda um aspecto para ser considerado. Em muitos países, principalmente os latinos como a França, Brasil, Portugal, Espanha, Itália, etc., existem Grandes Lojas e Grandes Orientes, contudo, vale observar que essa não é uma característica comum nos países anglo-saxônicos. Nestes é corriqueira a presença apenas da Grande Loja.

Para concluir, é de se compreender que o número de ritos adotados não é condição para ser chamar “Grande Loja” ou “Grande Oriente”. Mais comum é admitir que a denominação “Grande Loja” é filha da Inglaterra e Grande Oriente filho da França. Diferença entre ambas é mesmo de caráter administrativo, nunca de adoção de ritos.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

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JUN/2021

 

terça-feira, 8 de junho de 2021

INSTALAÇÃO E POSSE NO DIA DE SÃO JOÃO

 

Em 28/09/2020 o Respeitável Irmão José Aparecido dos Santos, Loja Justiça 12, GOB (COMAB), REAA, Oriente de Maringá, Estado do Paraná, apresenta o que segue:

 

INSTALAÇÃO E POSSE VENERÁVEL MESTRE - DIA DE SÃO JOÃO - PADROEIRO DA MAÇONARIA

 

Fui Instalado e Posse de Venerável Mestre na ARGBLS Justiça 12 - Oriente de Maringá - Paraná, sendo no mês de São João - Padroeiro da Maçonaria, sendo uma data que vem se perpetuando por um longo tempo.

E o nosso Ano Maçônico sendo de junho a junho de cada ano, sendo que está sendo ventilado nos bastidores que a Eleição, Instalação e Posse dos Veneráveis Mestres, serão no mês de janeiro e não mais em junho.

Desta forma, a nossa pergunta e busca de informações, se a data do mês de junho para Instalação e Posse, tem algo nos Landmarks ou em algum livro e Constituição que estabelece desta forma ou seguindo o ano civil e não mais o Maçônico para Eventos Festivos?

Aguardando o vosso estudo e se temos algo embasado que é desta forma e que deve ser seguido.

 

CONSIDERAÇÕES.

 

Caro Irmão, como as datas comemorativas dos Joões se relacionam intimamente com períodos solsticiais, essas datas acabariam se tornando importantes para os franco-maçons desde a época da Maçonaria de Ofício do século XII, até a Moderna Maçonaria.

Nesse sentido, dois aspectos merecem ser ressaltados.

O primeiro deles se trata da influência religiosa oriunda da Igreja de Roma sobre as corporações de construtores da Idade Média (ancestrais da Maçonaria), já que os pedreiros medievais trabalhavam construindo principalmente para o clero que vinha em franca expansão desde o século XI.

Como profissionais a serviço da Igreja Estado, não é de se estranhar que os pedreiros livres passassem a ser protegidos pelo clero por uma boa parte da sua história.

O outro aspecto foi o relacionado diretamente ao ofício, ou a prática profissional da construção, já que essas corporações de canteiros atuavam principalmente no norte da


Europa e da Grã-Brenha, latitudes onde o inverno era (e é) extremamente rigoroso. Com isso, o ofício ficava prejudicado pelos empecilhos dessa estação, o que fazia com que a prática profissional sofresse paralização no período hibernal.

Consoante às datas solsticiais do hemisfério Norte – verão e inverno – estarem associadas aos dois Joões, sobretudo pela implantação do cristianismo no Império Romano pelo Imperador Constantino Magno, consolidado posteriormente por decreto de Teodósio I, esse acontecimento obrigou a Igreja fazer acomodações no seu hagiológio na intenção de a ele adaptar algumas divindades pagãs oriundas de Roma. Um exemplo disso está na fixação pela Igreja do Natal em 25 de dezembro, destacando que no início do cristianismo os cristãos comemoravam o nascimento de Jesus em junho, época do verão pleno no Norte.

Por conta desse processo, a Igreja fixou o nascimento de João, o Batista, ou aquele que anteviu a Luz, na época de totalidade da Luz, ou seja, em pleno verão do hemisfério Norte. Assim, era estabelecida a data de 24 de junho para as comemorações alusivas ao Batista, certamente por estar próxima ao solstício de verão a 21 de junho.

Deste modo, a Igreja também nomeou João, o Evangelista, porém como aquele que pregou a Luz, constituindo sua data comemorativa a 27 de dezembro, estação de inverno no hemisfério Norte, cujo solstício ocorre a 21 de dezembro. Vale mencionar que foi também a Igreja que fixou a data do nascimento de Jesus Cristo a 25 de dezembro. Data do natal próxima ao solstício de Inverno no setentrião. Nesse contexto é atribuído a Jesus na qualidade Dele ser a “Luz do Mundo”.

Assim, João, o Batista é o personagem do cristianismo que no auge da Luz (verão) chega para anunciar a vinda da Luz. A Luz anunciada virá em plena escuridão (inverno) e tem a aspiração de “iluminar o Mundo”. Quanto ao João, o Evangelista, ele é o personagem do cristianismo que chegou no auge da escuridão (inverno) para difundir a Luz pelo mundo, isto é, pregar o evangelho do Cristo. Indisfarçavelmente toda essa alegoria religiosa é solsticial e provavelmente teve origem nos cultos solares da antiguidade – do mitraísmo persa, Igne Natura Renovatur Integra; do mitraísmo romano, Natalis Invicti Solis.

Nesse sentido, as corporações de ofício, ancestrais da Maçonaria, receberiam essa influência místico-religiosa.

Quando alguém era escolhido para ser feito maçom, um Aprendiz Admitido, por exemplo, por tradição e costume o ato ocorria geralmente num dos períodos solsticiais. Nessa ocasião, numa clara influência religiosa, o recipiendário prestava, na forma de costume, a sua obrigação diante do Evangelho de São João.

Foi graças a essa prática que as Lojas dos pedreiros ficariam conhecidas como as Lojas de São João.

Sobre o uso da Bíblia nas ocasiões de admissões, um fato merece ser abordado: nos tempos da maçonaria primitiva não existiam exemplares da Bíblia disponíveis facilmente como os que hoje encontramos. Na verdade, o volume da Lei Sagrada era propriedade exclusiva da Igreja Católica e nem as famílias mais abastadas tinham o direito de tê-la.

Além disso, havia a particularidade de que o volume da Lei Sagrada era escrito em pergaminho e a mão, o que lhe dava a característica de manufatura em um exemplar volumoso, pesado, de difícil manuseio e transporte.

Com isso era comum que nas lojas operativas, quando ocorria a aceitação de um novo membro do Craft, este prestava a sua obrigação sobre uma folha de pergaminho que trazia nela apenas escrito “São João”, ou “Evangelho de São João”. A bem da verdade isso servia para simular a presença volumosa, incômoda e pesada do Livro da Lei que era ainda manuscrito. Somente mais tarde, com o aparecimento da máquina de impressão inventada por Johannes Gutemberg em 1430 é que a Bíblia impressa se tornaria mais acessível.

Graças a esses fatos é que os Joões acabariam se consolidando como personagens patronais na Maçonaria transpassando do período operativo ao especulativo e se consagrando na Moderna Maçonaria com a fundação da Primeira Grande Loja em Londres e Westminster que, segundo a narrativa escrita de James Anderson, se deu a 24 de junho de 1717, dia de São João.

Vale mencionar que com a fundação dessa primeira Grande Loja era também inaugurado o primeiro sistema obediencial do mundo, cuja característica principal foi a de trazer um Grão-Mestre como seu dirigente maior.

O primeiro Grão-Mestre eleito dessa Grande Loja foi o Companheiro Anthony Sayer (ainda não existia o grau de Mestre) que foi empossado também no dia 24 de junho de 1717, dia de João, o Batista, verão no hemisfério Norte.

Com base nessa tradição é que na Moderna Maçonaria a maioria das Obediências e as suas respectivas Lojas dão posse aos seus dirigentes no dia de João, o Batista. Contudo, vale mencionar que muitas Obediências e Lojas (Escócia por exemplo) dão posse aos seus dirigentes no dia 27 de dezembro, dia de João, o Evangelista, inverno no hemisfério Norte.

No que diz respeito à possibilidade de as datas das posses estarem ligados a algum Landmark da Ordem, creio que não, até porque essa prática se correlaciona de fato com tradições, usos e costumes da Maçonaria, o que não pode ser confundido especificamente com um Landmark (imemorial, espontâneo e universalmente aceito).

Por fim, cabe considerar que o misticismo dos ciclos da Natureza sempre teve relação com as alegorias iniciáticas da Maçonaria. Independente de qual vertente maçônica o rito ou ritual pertença, sempre haverá nele algum aspecto relacionado à Luz. Até os calendários adotados pela Sublime Instituição se relacionam com os ciclos naturais e a sua renovação – conforme o calendário o ano maçônico pode iniciar no dia 1º ou 21 de março (equinócio de primavera no Norte). Alguns calendários, entretanto, foram adaptados ao mês de junho para coincidir com as posses administrativas. No Brasil a maioria das posses se dá no dia 24 de junho (ou próximos a ele), refletindo, provavelmente, a data da posse do primeiro Grão-Mestre da primeira Grande Loja de Londres e Westminster que se deu nessa data no século XVIII. Posses no dia de João, o Evangelista, por aqui não ocorrem porque nessa data a Maçonaria brasileira costumeiramente se encontra em férias.

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

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JUN/2021