Em 09.10.2022 o Respeitável Irmão
Ronaldo Souza, Loja Guido Marlière, 66, REAA, GLMMG (CMSB), Oriente de Belo
Horizonte, Estado de Minas Gerais, apresenta as seguintes questões:
POSIÇÃO DO GUARDA DO TEMPLO E OUTRAS
QUESTÕES.
Amado irmão Pedro, me chamo Ronaldo Souza, sou Mestre Maçom, atualmente nos
graus filosóficos 9 do REAA e iniciado no capítulo do Sagrado Arco Real do GOB.
Sou obreiro da ARLS Guido Marlière 66 do oriente de BH/MG, atualmente no cargo
de Mestre de Cerimônias.
Meu pai era maçom obreiro da ARLS Gonçalves Lêdo do GOB no oriente de
BH/MG, portanto sempre estive rodeado pela atmosfera maçônica e sempre tive
muito interesse pelos assuntos da ordem, resumindo, sempre fui muito “goteira”
no melhor sentido da palavra.
Tenho consumido muito o conteúdo postado e abordado pelo irmão e tem me
ajudado muito nos meus estudos e evolução dentro da ordem. Tenho muita
necessidade de entender o porquê das cousas da ordem e não somente saber que
elas existem e aplicadas (ritualística). Recentemente debati com alguns irmãos
sênior de minha oficina sobre três temas específicos aos quais ainda não
chegamos em unanimidade e gostaria muito da análise do irmão e de ouvir sua
opinião sobre.
1) Qual a correta posição do G∴ T∴ na saída ritualística? No ritual da Grande Loja no REAA não
é claro, na pg. 43 e 44 do Ritual de Aprendiz edição de 2017 (mais atual) no
tópico Entrada e Saída diz: “o G∴ T∴ abrirá a porta e ficará próximo a Col J de frente ao préstito. O M∴ CCer∴ postar-se-á próximo a Col B de frente para o GT. Em relação a saída
fala-se apenas que ela deve acontecer na ordem inversa da entrada dos irmãos,
ou seja, sai o Ven∴ Mestre primeiro pelo Sul e sucessivamente na ordem inversa da entrada
os demais irmãos, no entanto não deixa claro que o G∴ T∴ e o M∴ CCer∴ devem inverter suas posições em frente as CCol∴ J e B. Da mesma forma o Manual de
Etiqueta & Protocolo Maçônico da Grande Loja REAA edição 2012 (mais atual)
nas pg. 19 a 24 também não esclarece essa dúvida.
Minha dúvida existe devido ao que acontece após a leitura do expediente
no Grau 1 quando o G∴ T∴ vai verificar a existência de irmãos retardatários no átrio e franqueia
a entrada do C∴ Ext∴ ao Templo que “adentra discretamente e ocupa seu lugar junto à porta na
Col∴ do N∴”, ou seja, Col∴ B.
Pensando que em nosso templos, ou na maioria deles, as colunas estão
dentro do templo (um erro crasso mas completamente entendido) o C∴ Ext∴ estaria posicionado ali (Col B) quando da saída ritualística, portanto,
ou o G∴ T∴ abre a porta e volta para o seu
lugar agora com a espada repousada no ombro direito (a Loj está fechada) ou
porta-se de pé ao lado do C∴ Ext∴ junto a Col∴ B.
Obs.: li um texto seu sobre isso no seu blog, mas a minha dúvida
permaneceu.
2) Qual a sucessão lógica das Luzes quando de sua ausência temporária?
2.1 - Na ausência do Ven∴ Mestre em uma reunião (magna ou adm.) quem conduz deveria ser o 1º Vig∴ ou o ex-Ven∴ Mestre mais moderno? Lembrando que
os irmãos 1º e 2º VVig∴ não foram instalados no trono de Salomão. Esta semana o Grão-Mestre da
Grande Loja emitiu um Decreto informando que devido sua ausência a plenária
seria conduzida pelo eminente Grande 1º Vig∴, se é automático a substituição qual a necessidade do Decreto?
2.2 - Na ausência temporária do 1º Vig∴ quem assume na Col∴ do N∴, é o 2º Vig∴ ou o 1º Exp∴, que via de regra deve ser um ex-Ven∴ Mestre mais experiente da Loja?
2.3 - Na ausência temporária do 2º Vig∴, quem assume na Col∴ do Sul, é 1º Exp∴, que via de regra deve ser um ex-Ven∴ Mestre mais experiente da loja ou
fica a critério do M∴ de
CCer∴ orientado pelo Ven∴ Mestre?
3) Qual o significado de bater a mão direita no avental para responder
satisfatoriamente à pergunta do Ven∴ Mestre após o 1º Vig∴ falar do seu papel na Col∴ do Norte dizendo: “aqui tenho
assento para fechar a loja, pagar os OObr∴ e despedi-los contentes e
satisfeitos”. Mais uma vez no ritual do Grau 1 não
deixa claro o motivo desta ação pelos obreiros, o que ela significa afinal, por
que batem a mão e não simplesmente falam “estamos”, qual o simbolismo por
detrás deste gesto? Alguma mensagem subliminar que os antigos maços operativos
usavam para afirmar sua satisfação sem que fosse explicitamente verbalizado?
Vi que o irmão tem um texto em seu blog que aborda esse assunto falando
inclusive da “ilharga”, fiz algumas pesquisas sobre o motivo de se bater a mão
em avental e encontrei apenas explicações sobre “bate mão” que era um acessório
(pano) essencial usado nas culinárias antigas pelos cozinheiros que era afixado
ao avental, sua principal função era limpar e secar as mão durante a preparação
dos alimentos para assim não sujar os panos de pratos e demais utensílios de
cozinha. Fazendo uma analogia imaginei que talvez poderia ser uma prática
similar para “limpar” as mãos sujas de terra, cimento e etc., devido ao serviço
manual durante a construção do templo de Salomão para assim não “sujar” o seu
pagamento (dinheiro) pelas mãos sujas do labor.
Enfim meu irmão, o assunto é vasto e cheio de detalhes, o que o torna
mais fascinante ainda. Desde já agradeço a ajuda nos esclarecimentos.
CONSIDERAÇÕES.
- Posição o Cobridor Interno - Em se tratando do
REAA, não há formação de préstito para saída do Templo. Por ocasião da
retirada, o Mestre de Cerimônias, do seu lugar em Loja (correto é na Coluna
do Sul à frente do Chanceler), pede aos Irmãos que se retirem na ordem
inversa da entrada, contudo sem formação. Isso é só uma condição pró forma
pois os trabalhos já estão encerrados e não há critério de circulação, isto
é, com a Loja fechada todos saem pelo Norte ou pelo Sul. Por sua vez, o
Cobridor Interno permanece na Coluna so Sul e abre a porta para a passagem
dos Irmãos.
Quanto ao Cobridor Externo, o mesmo
se retira junto com os Irmãos Mestres em retirada. Não há necessidade de que
ambos os Cobridores fiquem voltados um para o outro. Isso nada mais é do que mero
excesso de preciosismo.
Durante a retirada sem formalidades,
o penúltimo a deixar o recinto é o Mestre de Cerimônias e o último o Cobridor Interno
que, à saída fecha a porta do templo.
Essa é a ritualística mais simples e apropriada para o REAA, contudo, antes
de mais nada segue-se o disposto no ritual em vigência, mesmo que ele pareça
contraditório.
- Luzes da Loja - Na falta do Venerável Mestre, de
modo precário, assume o 1º Vigilante, que na ocasião veste os seus
paramentos e utiliza a joia do Venerável como representação distintiva do
cargo. O 1º Vigilante não precisa ser Mestre Instalado para preencher o
cargo de modo emergencial se a Loja estiver trabalhando em sessão
ordinária (econômica). Por sua vez, ocupa o cargo vago deixado pelo 1º
Vigilante o 2º Vigilante, que também não precisa ser um Mestre Instalado. Preenche
o cargo do 2º Vigilante o 2º Experto, que também não precisa ser um Mestre
Instalado.
Caso a sessão seja magna e careça do
ato da consagração do candidato, então recomenda-se que o substituto do
Venerável Mestre seja o ex-Venerável mais recente da Loja.
Vale mencionar que é muito antigo o
costume de ser o 1º Vigilante o substituto imediato do Venerável Mestre. Isso
ocorria muito antes do aparecimento do Mestre Instalado (que não é grau). O
costume do 1º Vigilante substituir o Venerável remonta aos tempos operativos,
período em que não existiam graus especulativos, mas classes de profissionais.
O Venerável era o Mestre da Obra.
A rigor, cerimônia de Instalação de
Venerável Mestre na Moderna Maçonaria é original na vertente anglo-saxônica. Na
vertente francesa de Maçonaria, de onde se origina o REAA, tradicionalmente não
existe Instalação esotérica como a que conhecemos por aqui. Na França,
Instalação é simplesmente a posse do Venerável eleito.
Vale lembrar que o termo “precário” aqui utilizado remete a uma ausência
não definitiva do cargo, mas algo por força maior, transitória. Se o Venerável
Mestre se afastar definitivamente do cargo de dirigente da Loja se faz
necessário consultar o que prevê o Regulamento da Obediência nesse caso.
- Bater com as mãos sobre o avental - Esse é mais
um penduricalho ritualístico que não representa absolutamente nada sob o
ponto de vista iniciático. O gesto não pode ser confundido com um sinal maçônico.
Nos rituais que trazem esse
procedimento, ele apenas representa a afirmativa de que o obreiro está satisfeito
no final dos trabalhos. Rigorosamente isso nem deveria existir no REAA, contudo
se ele está no ritual em vigência da sua Obediência, então deve ser cumprido.
De certo modo, quem fecha a Loja, amparado
nas tradições operativas, é o 1º Vigilante. Nos tempos do ofício, um dos Wardens,
hoje o 1º Vigilante, tinha o dever de conferir e encerrar os trabalhos de uma
etapa da construção, cabendo a ele pagar os obreiros e despedi-los contentes e
satisfeitos, readmitindo-os no futuro quando do início de uma nova etapa, o que
geralmente ocorria depois do inverno, já que esta estão era época insalubre e
imprópria para os trabalhos de cantaria.
Graças a isso é que na Moderna
Maçonaria, especulativa por excelência, quem fecha a Loja é o 1º Vigilante,
rememorando, de certo modo, práticas dos nossos antepassados. É bem possível
que foi daí que especulativamente surgiu essa forma de bater no avental. Penso
que essa possibilidade seja a menos fantasiosa.
T.F.A.
PEDRO JUK
jukirm@hotmail.com
http://pedro-juk.blogspot.com.br
FEV/2023