Em 01.10.2022 o Respeitável Irmão Arimar Marçal, Loja Santo Graal, 4690, REAA, GOB -RS, Oriente de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta a seguinte questão:
MARCHA DO APRENDIZ
Para onde aponta (Oriente ou mais ou menos para o
Tesoureiro) o pé esquerdo na Marcha de Aprendiz no REAA.
Mais uma vez venho pedir socorro numa questão
ritualística que gerou um debate (salutar) em nossa Oficina.
No Tempo de Estudos (previamente agendado) um Irmão
levantou a questão da Marcha do Aprendiz e que esta tinha sofrido “uma
alteração” no SOR inclusive citando um artigo seu onde confirmava esta
“mudança”.
(Oriente) deveria apontar para a Coluna do Norte e o pé direito para a Coluna do Sul, formando um estranho ângulo (parecido com os pés do Charles Chaplin) e que assim o Aprendiz deveria marchar, seguindo a linha do rejunte do piso e não a interseção do mosaico como aprendi.
Entendo que o piso mosaico da Loja é disposto na
forma diagonal e que a marcha segue a linha da Luz (Oriente) justamente na
Linha imaginaria do Equador que seria a interseção da cerâmica mosaica, mas,
sempre seguindo em Linha Reta.
Argumentei que enquanto não viesse uma Determinação
Oficial do SOR, continuaríamos seguindo o que consta no Ritual de Grau 1
(2009), até por uma questão de prudência da Oficina.
Conforme determina o próprio Ritual em sua página
12 que proíbe atos, procedimentos ou permissões que ali não constem e também
como A QUARTA INSTRUÇÃO DO GRAU 1 (pág. 164) que expressa:
“Deveis estar perfeitamente ereto, formando com os
pés uma esquadria, pé esquerdo voltado para a frente.
Avançai agora com o pé esquerdo juntando em seguida ao seu calcanhar o
calcanhar do pé direito.
Este é o primeiro Passo Real da Maçonaria e é nesta
posição que se comunicam os segredos do grau
Como nossa intenção é sempre aprender e ensinar de
forma correta os que estão chegando, valho-me de seu conhecimento para dirimir
mais esta dúvida.
CONSIDERAÇÕES
Inicialmente eu gostaria de alertar que o
SOR – Sistema de Orientação Ritualística é um mecanismo oficial do GOB e está à
disposição dos Irmãos gobianos na página do GOB.
O SOR foi instituído pelo Decreto 1784/2019 do Grão-Mestre Geral e publicado no Boletim sob o nº 31 em outubro de 2019. Seu conteúdo é para ser aplicado sobre os rituais do GOB.
Não obstante essas iniciais colocações,
vale ainda mencionar que o guardião dos rituais do GOB é apenas e tão somente o
Grão-Mestre Geral, cabendo exclusivamente a ele expedir Atos e Decretos pertinentes
a alterações, correções e orientações nos rituais. Isso é ponto pacífico.
Feitos esses comentos iniciais, é preciso que
olhemos para questões ritualísticas de maneira ampla, sobretudo naquilo que
envolve originalidade e principalmente o seu significado.
É notório que nem tudo o que consta nos
rituais oficiais está de acordo com a aplicação doutrinária correta do Rito.
Aqui no Brasil, por conta de circunstâncias históricas, particularmente o REAA sofreu
muitas intervenções indevidas, ao ponto de ser comparado a uma colcha de
retalhos, tal a quantidade de enxertos de práticas oriundas de outros ritos –
sem falar das invencionices.
Graças a isso é que o ideário iniciático do
REAA foi assaltado por práticas deturpadas e sem sentido para a sua liturgia
iniciática. Somado a isso ainda há a turma do “acha bonito”, comumente
conhecida como “os achistas”. O resultado disso muitas vezes tem sido um
amontoado de práticas que não fazem sentido para o arcabouço doutrinário do
rito. No final as ervas daninhas nascidas do enxerto e do achismo se tornaram
verdadeiras carcaças de dinossauro – são difíceis de consumir.
Nessa conjuntura, no que diz respeito à Marcha
do Grau, o equívoco está principalmente na posição dos pés e na forma de se
deslocar (andar). Nesse caso, a posição dos pés, um apontado para frente e
outro para o lado (parece caminhando de lado) foi indevidamente copiada de outros
ritos.
No REAA essa posição equivocada do pé apontado
para frente se firmaria ainda mais porque por muitos anos determinados rituais
traziam o Pavimento Mosaico construído na forma de um tabuleiro de xadrez (juntas
do piso a Norte-Sul e Leste-Oeste), o que não é próprio do escocesismo. Nesse contexto,
salvo alguns abnegados, desafortunadamente ninguém sequer reparava nesse importante
detalhe, ignorando assim por completo que o pavimento serve também para regular
os passos.
Outro detalhe no REAA que passava completamente
despercebido era o do Pavimento Mosaico, então construído na forma de um tabuleiro
de xadrez. Em muitas Lojas, para piorar, ele ocupava apenas um reduzido espaço ao
centro do Ocidente, conquanto o correto seria cobrir todo o piso ocidental da Loja.
Tudo isso, mais as práticas enxertadas de
outros ritos, faria com que paulatinamente se consolidasse no REAA essa posição
indevida dos pés, onde um deles fica apontado para frente (Leste) e outro
literalmente para o lado esquerdo (Sul). Não há dúvidas que há ritos que adotam
essa disposição, porém nunca no REAA.
Como em 2009 a disposição correta (oblíqua) do Pavimento Mosaico apareceu na Planta do Templo do Ritual de Aprendiz do REAA do GOB, felizmente boa parte desse equívoco começava a ser solucionado, no entanto faltava ainda ajustar a disposição dos pés na formação da esq∴, bem como a forma de se caminhar nas Marchas de Aprendiz e de Companheiro.
Felizmente, com a criação do SOR por
Decreto do Soberano Grão-Mestre Geral em 2019, foi então dada a possibilidade
de se corrigir a anomalia ritualística de apontar o p∴ esq∴
para a frente durante os pp∴ do
grau no REAA.
Acredito que por desconhecimento
do Sistema de Orientação Ritualística oficial do GOB, muitos Irmãos entenderam
que isso foi uma alteração inaceitável, pois confrontava o previsto no ritual. Na
verdade, não houve desrespeito ao ritual, mas amparado pelo SOR, o que houve
foi um retorno à forma original, ou seja, dar os passos na forma de costume com
o protagonista posicionado de frente para o Oriente, não de lado.
Nesse sentido, a disposição dos pés durante
a execução da Marcha tem como referência (nada meticulosamente medido) o piso
disposto de modo oblíquo, diferente, por exemplo, do Rito Moderno e do Adonhiramita
que adotam o Pavimento organizado na
forma de um tabuleiro de xadrez.
Nessa condição e sem o exagero de
comparação com a forma de andar de Charlie Chaplin interpretando Carlitos no
cinema, figuradamente n Marcha o pé esquerdo fica apontado para a banda nordeste
do templo e o direito para sudeste. O protagonista, sobre o equador do templo
anda de forma mais natural possível, apenas ajusta os seus pés em esq∴ de acordo com as juntas do Pavimento quando
unir os pés a cada passo. Anda de frente para o Oriente.
No REAA o Pavimento Mosaico representa o
solo terrestre. Historicamente o Rito teve o seu primeiro ritual para o
simbolismo em 1804 na França, ritual esse que não tardou a sofrer modificações em
1820/1821 por conta do Guia dos Maçons Escoceses e as Lojas Capitulares.
Nos tempos primitivos dos rituais do REAA,
não existia Pavimento Mosaico e nem existia marcha por grau da forma como
conhecemos e praticamos nos dias de hoje. Os passos não eram divididos por grau.
Exigia-se do iniciado simplesmente que ele desse em direção ao Mestre oito passos
“normais”.
Posteriormente, após a extinção das Lojas
Capitulares e a renovação e aperfeiçoamento dos rituais, os oito passos normais
foram divididos e distribuídos pelos três graus, de tal modo que nos dois
primeiros graus os passos tem relação direta com o Pavimento Mosaico, enquanto
que no terceiro os passos simulam o movimento aparente do Sol com seus solstícios
e equinócios.
Espero que essas colocações tenham
sido suficientes para explicar algumas das condutas ritualísticas corretas para
a execução da Marcha do Aprendiz no REAA.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
FEV/2023
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