terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

REAA - POSIÇÃO DOS COBRIDORES NA RETIRADA DO TEMPLO E OUTRAS QUESTÕES

Em 09.10.2022 o Respeitável Irmão Ronaldo Souza, Loja Guido Marlière, 66, REAA, GLMMG (CMSB), Oriente de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, apresenta as seguintes questões:

 

POSIÇÃO DO GUARDA DO TEMPLO E OUTRAS QUESTÕES.

 

Amado irmão Pedro, me chamo Ronaldo Souza, sou Mestre Maçom, atualmente nos graus filosóficos 9 do REAA e iniciado no capítulo do Sagrado Arco Real do GOB. Sou obreiro da ARLS Guido Marlière 66 do oriente de BH/MG, atualmente no cargo de Mestre de Cerimônias.

Meu pai era maçom obreiro da ARLS Gonçalves Lêdo do GOB no oriente de BH/MG, portanto sempre estive rodeado pela atmosfera maçônica e sempre tive muito interesse pelos assuntos da ordem, resumindo, sempre fui muito “goteira” no melhor sentido da palavra. 

Tenho consumido muito o conteúdo postado e abordado pelo irmão e tem me ajudado muito nos meus estudos e evolução dentro da ordem. Tenho muita necessidade de entender o porquê das cousas da ordem e não somente saber que elas existem e aplicadas (ritualística). Recentemente debati com alguns irmãos sênior de minha oficina sobre três temas específicos aos quais ainda não chegamos em unanimidade e gostaria muito da análise do irmão e de ouvir sua opinião sobre. 

1) Qual a correta posição do G T na saída ritualística? No ritual da Grande Loja no REAA não é claro, na pg. 43 e 44 do Ritual de Aprendiz edição de 2017 (mais atual) no tópico Entrada e Saída diz: “o G T abrirá a porta e ficará próximo a Col J de frente ao préstito. O M CCer postar-se-á próximo a Col B de frente para o GT. Em relação a saída fala-se apenas que ela deve acontecer na ordem inversa da entrada dos irmãos, ou seja, sai o Ven Mestre primeiro pelo Sul e sucessivamente na ordem inversa da entrada os demais irmãos, no entanto não deixa claro que o G T e o M CCer devem inverter suas posições em frente as CCol J e B. Da mesma forma o Manual de Etiqueta & Protocolo Maçônico da Grande Loja REAA edição 2012 (mais atual) nas pg. 19 a 24 também não esclarece essa dúvida. 

Minha dúvida existe devido ao que acontece após a leitura do expediente no Grau 1 quando o G T vai verificar a existência de irmãos retardatários no átrio e franqueia a entrada do C Ext ao Templo que “adentra discretamente e ocupa seu lugar junto à porta na Col do N”, ou seja, Col B.

Pensando que em nosso templos, ou na maioria deles, as colunas estão dentro do templo (um erro crasso mas completamente entendido) o C Ext estaria posicionado ali (Col B) quando da saída ritualística, portanto, ou o G T  abre a porta e volta para o seu lugar agora com a espada repousada no ombro direito (a Loj está fechada) ou porta-se de pé ao lado do C Ext junto a Col B.

Obs.: li um texto seu sobre isso no seu blog, mas a minha dúvida permaneceu.

2) Qual a sucessão lógica das Luzes quando de sua ausência temporária? 

2.1 - Na ausência do Ven Mestre em uma reunião (magna ou adm.) quem conduz deveria ser o 1º Vig ou o ex-Ven Mestre mais moderno? Lembrando que os irmãos 1º e 2º VVig não foram instalados no trono de Salomão. Esta semana o Grão-Mestre da Grande Loja emitiu um Decreto informando que devido sua ausência a plenária seria conduzida pelo eminente Grande 1º Vig, se é automático a substituição qual a necessidade do Decreto?

2.2 - Na ausência temporária do 1º Vig quem assume na Col do N, é o 2º Vig ou o 1º Exp, que via de regra deve ser um ex-Ven Mestre mais experiente da Loja?

2.3 - Na ausência temporária do 2º Vig, quem assume na Col do Sul, é 1º Exp, que via de regra deve ser um ex-Ven Mestre mais experiente da loja ou fica a critério do M de
CCer
orientado pelo Ven Mestre?

3) Qual o significado de bater a mão direita no avental para responder satisfatoriamente à pergunta do Ven Mestre após o 1º Vig falar do seu papel na Col do Norte dizendo: “aqui tenho assento para fechar a loja, pagar os OObr e despedi-los contentes e satisfeitos”. Mais uma vez no ritual do Grau 1 não deixa claro o motivo desta ação pelos obreiros, o que ela significa afinal, por que batem a mão e não simplesmente falam “estamos”, qual o simbolismo por detrás deste gesto? Alguma mensagem subliminar que os antigos maços operativos usavam para afirmar sua satisfação sem que fosse explicitamente verbalizado?

Vi que o irmão tem um texto em seu blog que aborda esse assunto falando inclusive da “ilharga”, fiz algumas pesquisas sobre o motivo de se bater a mão em avental e encontrei apenas explicações sobre “bate mão” que era um acessório (pano) essencial usado nas culinárias antigas pelos cozinheiros que era afixado ao avental, sua principal função era limpar e secar as mão durante a preparação dos alimentos para assim não sujar os panos de pratos e demais utensílios de cozinha. Fazendo uma analogia imaginei que talvez poderia ser uma prática similar para “limpar” as mãos sujas de terra, cimento e etc., devido ao serviço manual durante a construção do templo de Salomão para assim não “sujar” o seu pagamento (dinheiro) pelas mãos sujas do labor.

Enfim meu irmão, o assunto é vasto e cheio de detalhes, o que o torna mais fascinante ainda. Desde já agradeço a ajuda nos esclarecimentos. 

 

CONSIDERAÇÕES.

 

  1. Posição o Cobridor Interno - Em se tratando do REAA, não há formação de préstito para saída do Templo. Por ocasião da retirada, o Mestre de Cerimônias, do seu lugar em Loja (correto é na Coluna do Sul à frente do Chanceler), pede aos Irmãos que se retirem na ordem inversa da entrada, contudo sem formação. Isso é só uma condição pró forma pois os trabalhos já estão encerrados e não há critério de circulação, isto é, com a Loja fechada todos saem pelo Norte ou pelo Sul. Por sua vez, o Cobridor Interno permanece na Coluna so Sul e abre a porta para a passagem dos Irmãos.

Quanto ao Cobridor Externo, o mesmo se retira junto com os Irmãos Mestres em retirada. Não há necessidade de que ambos os Cobridores fiquem voltados um para o outro. Isso nada mais é do que mero excesso de preciosismo.

Durante a retirada sem formalidades, o penúltimo a deixar o recinto é o Mestre de Cerimônias e o último o Cobridor Interno que, à saída fecha a porta do templo.

Essa é a ritualística mais simples e apropriada para o REAA, contudo, antes de mais nada segue-se o disposto no ritual em vigência, mesmo que ele pareça contraditório.

  1. Luzes da Loja - Na falta do Venerável Mestre, de modo precário, assume o 1º Vigilante, que na ocasião veste os seus paramentos e utiliza a joia do Venerável como representação distintiva do cargo. O 1º Vigilante não precisa ser Mestre Instalado para preencher o cargo de modo emergencial se a Loja estiver trabalhando em sessão ordinária (econômica). Por sua vez, ocupa o cargo vago deixado pelo 1º Vigilante o 2º Vigilante, que também não precisa ser um Mestre Instalado. Preenche o cargo do 2º Vigilante o 2º Experto, que também não precisa ser um Mestre Instalado.

Caso a sessão seja magna e careça do ato da consagração do candidato, então recomenda-se que o substituto do Venerável Mestre seja o ex-Venerável mais recente da Loja.

Vale mencionar que é muito antigo o costume de ser o 1º Vigilante o substituto imediato do Venerável Mestre. Isso ocorria muito antes do aparecimento do Mestre Instalado (que não é grau). O costume do 1º Vigilante substituir o Venerável remonta aos tempos operativos, período em que não existiam graus especulativos, mas classes de profissionais. O Venerável era o Mestre da Obra.

A rigor, cerimônia de Instalação de Venerável Mestre na Moderna Maçonaria é original na vertente anglo-saxônica. Na vertente francesa de Maçonaria, de onde se origina o REAA, tradicionalmente não existe Instalação esotérica como a que conhecemos por aqui. Na França, Instalação é simplesmente a posse do Venerável eleito.

Vale lembrar que o termo “precário” aqui utilizado remete a uma ausência não definitiva do cargo, mas algo por força maior, transitória. Se o Venerável Mestre se afastar definitivamente do cargo de dirigente da Loja se faz necessário consultar o que prevê o Regulamento da Obediência nesse caso.

  1. Bater com as mãos sobre o avental - Esse é mais um penduricalho ritualístico que não representa absolutamente nada sob o ponto de vista iniciático. O gesto não pode ser confundido com um sinal maçônico.

Nos rituais que trazem esse procedimento, ele apenas representa a afirmativa de que o obreiro está satisfeito no final dos trabalhos. Rigorosamente isso nem deveria existir no REAA, contudo se ele está no ritual em vigência da sua Obediência, então deve ser cumprido.

De certo modo, quem fecha a Loja, amparado nas tradições operativas, é o 1º Vigilante. Nos tempos do ofício, um dos Wardens, hoje o 1º Vigilante, tinha o dever de conferir e encerrar os trabalhos de uma etapa da construção, cabendo a ele pagar os obreiros e despedi-los contentes e satisfeitos, readmitindo-os no futuro quando do início de uma nova etapa, o que geralmente ocorria depois do inverno, já que esta estão era época insalubre e imprópria para os trabalhos de cantaria.

Graças a isso é que na Moderna Maçonaria, especulativa por excelência, quem fecha a Loja é o 1º Vigilante, rememorando, de certo modo, práticas dos nossos antepassados. É bem possível que foi daí que especulativamente surgiu essa forma de bater no avental. Penso que essa possibilidade seja a menos fantasiosa.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

FEV/2023

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