Em 14.07.2023 o Respeitável Irmão Alan Cardek
Júnior Souza Lima, Loja Roosevelt, 001, REAA, GLEGO (CMSB), Oriente de
Anápolis, Estado de Goiás, apresenta a questão seguinte:
LEITURA DO LIVRO DA LEI
Poderia me tirar algumas dúvidas?
É sobre a leitura na abertura do Livro da Lei. Quando houve a mudança da
leitura para o Salmo 133? Qual o motivo dessa mudança? Quem fez essa mudança?
Se puder me indicar material para
maiores estudos também, ficaria grato.
CONSIDERAÇÕES.
Originalmente a leitura do Livro da Lei para a abertura dos trabalhos no
grau de Aprendiz do REAA - que é um rito nascido na França - é em João, I; 1-5.
Na França, antes de aparecer o termo "simbolismo" as Lojas
eram conhecidas como as Lojas de São João (há razões históricas para isso - vide
o teísmo e as origens operativas da Maçonaria).
Conforme alguns tratadistas confiáveis, a leitura do Salmo 133 apareceu pela
primeira vez no Yorkshire, Inglaterra, por volta do século XVIII, porém logo
foi esquecido. Obviamente isso nada tendo a ver com a história do REAA, a
despeito de que com esse nome ele nem mesmo ainda havia nascido.
Nas Blue Lodges norte-americanas, correspondentes ao franco-maçônico
básico do rito de York Americano, especialmente no Ducan's Ritual, elemento
que deu suporte à ritualística de muitas Lojas Azuis das Grandes Lojas norte-americanas,
há uma passagem ritualística na qual o Irmão Marechal (um dos oficiais do Rito
de York Americano) lê, durante a perambulação do candidato na iniciação, o
Salmo 133.
Nesse contexto, vale mencionar que no Rito de York Americano essa
leitura nada tem a ver com a abertura do Livro da Lei. Por extensão, esse salmo
também nada tem a ver com REAA, que é um rito originário da França.
No Brasil, o salmo 133 apareceria logo após a cisão de 1927 no GOB, então
proporcionada pelo Irmão Mário Marinho Béhring e que resultaria no aparecimento
das Grandes Lojas Estatuais brasileiras.
Com isso, após o nascimento dessas Grandes Lojas Estaduais, em 1928 aparecia
um ritual do REAA para a nova Obediência. Esse ritual ficaria conhecido como o REAA
de Béhring graças a inúmeras práticas inseridas e copiadas da Maçonaria
norte-americana - provavelmente devido a busca de reconhecimento – não obstante
houvesse também elementos das extintas Lojas Capitulares criadas no século XIX
pelo Grande Oriente da França.
Com isso, muitos costumes das Blue Lodges, principalmente,
acabariam sendo introduzidos no ritual de 1928 do REAA de Béhring. É o caso do
Altar dos Juramentos no centro, do cruzamento de bastões que virou pálio, aventais
azuis no lugar dos vermelhos, a leitura do Salmo 133, dentre outros.
Vale salientar mais uma vez que nada disso é parte original do REAA, mas
em se tratando do REAA de Béhring, elas até fazem sentido em termos da sua
originalidade.
O fato é que na Maçonaria brasileira o Salmo 133 apareceu em 1928 com o
ritual criado para as recém-criadas Grandes Lojas Estaduais Brasileiras.
Desse modo, mais tarde, com o ingresso de muitos Irmãos oriundos das
Grandes Lojas no GOB, o Salmo 133 acabou indevidamente trazido para a
Obediência gobiana e até hoje campeia os nossos rituais.
É sabido que em 1972/1973 houve outra cisão no GOB, o que resultou na
criação dos Grandes Orientes Independentes (COMAB), fazendo com isso que alguns
rituais do REAA também aderissem ao Salmo 133, enquanto que outros, na sua
maioria, utilizassem o original para o REAA que é em João, I, 1-5.
Esse é então um pequeno resumo dessa história. Para pesquisa, sugiro que
a organização de uma grade de pesquisas se utilizando desses temas. Entenda-se
que nada está pronto na historiografia maçônica. O pesquisador precisa perscrutar,
juntar fatos e ligá-los ao ponto central da pesquisa.
T.F.A.
PEDRO JUK
jukirm@hotmail.com
http://pedro-juk.blogspot.com.br
NOV/2023