sábado, 27 de fevereiro de 2021

REAA - A CÂMARA DE REFLEXÃO

 

Em 07/08/2020 o Respeitável Irmão Airton Rebolho, Loja Luz, Justiça e Caridade, REAA, GOB-PR, Oriente de Paraíso do Norte, Estado do Paraná, faz a seguinte solicitação:

 

CÂMARA DE REFLEXÃO

 

Favor esclarecer sobre a Câmara de Reflexão: móveis, utensílios e preparo da sala dentro


da ritualística.

 

CONSIDERAÇÕES

 

De início cabe mencionar que a Câmara de Reflexão não é artifício iniciático utilizado por todos os ritos que compõem a Maçonaria Universal.

De modo geral a câmara que instiga reflexão é bastante comum nos ritos de origem francesa, não devendo ser confundida com câmaras de preparação geralmente utilizadas - como bem articula a sua denominação - para literalmente preparar o candidato e seu vestuário, tecer comentários e explicações iniciais, assim como outras providências necessárias antes do recebimento do postulante na cerimônia de Iniciação.

Quanto aos comentários que se seguem, os mesmos serão dirigidos à prática do Rito Escocês Antigo e Aceito, não como abordagem individual dos símbolos e demais adereços que constituem a Câmara de Reflexão, mas como aspectos que a definem como uma alegoria iniciática. Assim, a exegese individual de toda a sua simbologia não será aqui abordada, até porque entendo que essa é obrigação da Loja em ambiente velado.

Desse modo, seguem então os comentários.

A Câmara de Reflexão é um pequeno espaço decorado para tal que geralmente se situa próximo ao local onde se realizam os trabalhos da Loja. Em linhas gerais é uma dependência que faz parte do edifício que abriga o templo maçônico.

Nela o candidato é recolhido por um determinado tempo no dia da sua Iniciação. No REAA a sua decoração encerra símbolos e frases que têm por objetivo aguçar uma reflexão no aspirante.

Sob essa óptica, o vocábulo “reflexão” designa o ato de refletir. Do latim reflectere = voltar-se para trás, figuradamente se refere, dentre outros, à ponderação, observação, raciocínio, amadurecimento, etc.

Assim, a câmara tem por desiderato operar no candidato uma reflexão (no singular) atinente ao pensamento maduro, consolidado e de ponderação, todos relativos ao bom emprego da existência humana diante da efemeridade da vida.

Já o termo “reflexões”, no plural, que nada tem a ver com a Câmara de Reflexão empregada na Maçonaria, é mais apropriado para uma câmara de estudos de fenômenos físicos de reflexão. Nesse caso reflexão está relacionado à física e é o desvio que ocorre dentro de um mesmo ambiente de um raio luminoso, calorífico, ou sonoro quando encontra um obstáculo; é desvio (ricochete) de direção de um corpo ao se deparar com outro.

Sob o aspecto do simbolismo iniciático, a Câmara de Reflexão no REAA alude a um dos quatro elementos alquímicos da antiguidade (a Terra). Também simboliza uma masmorra que pode encerrar a consciência humana, privando o homem da sua livre determinação. Significa para o Iniciado a luta pelo desprendimento das convenções sociais e mundanas que atrelam o homem levando-o a uma consciência escravizada. A masmorra é símbolo do que se opõe à liberdade.

A constelação de símbolos que a Câmara de Reflexão encerra instiga o Iniciado a refletir sobre a transição da vida, ou seja, no caso a morte do homem profano e o nascimento do homem iniciado. O ambiente nela preparado instiga silêncio e meditação e é na verdade o primeiro contato do candidato com os costumes da Sublime Instituição.

Alerto que a sua rica simbologia deve ser constantemente perscrutada pelo maçom, mesmo aquele que tenha chegado ao final da jornada iniciática (mestrado).

A Câmara de Reflexão esotericamente simboliza o seio da Terra, lugar aonde a semente morta (o Iniciado) é plantada para renascer na Luz e produzir bons frutos. Na alegoria dos ciclos da Natureza o iniciado é o neófito, ou neo = novo; fiton = planta. Em Maçonaria significa uma nova planta, ou aquele que acabou de receber a Luz; é o recém-admitido na Maçonaria.

Além do impacto que a Câmara produz no recém-iniciado, sua exegese completa somente será alcançada pelo estudo da transformação e purificação pelos elementos – disciplina do Companheiro Maçom.

Concluindo, a Câmara de Reflexão no REAA encerra toda a simbologia da transformação pela morte e renascimento simbólico do iniciado. É, portanto, um ambiente silente, respeitoso e de introspecção, não se admitindo nele trotes e brincadeiras. A alegoria da Câmara de Reflexão é, pois, um recinto de grande importância para a Ordem Maçônica, sobretudo por ser o lugar onde a semente da continuidade é plantada.

 

E. T. – Vide outras explicações pertinentes no GOB-RITUALÍSTICA, Sistema de Orientação Ritualística – http://ritualistica.gob.org.br

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

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FEV/2021

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

ORDEM DE ARQUITETURA PARA COLUNAS ZODIACAIS - ESTÁTUAS DE MINERVA, HÉRCULES E VÊNUS


 

Em 06/08/2020 o Respeitável Irmão Crescêncio Ferreira Neto, Loja Fraternidade Lagoense, 4.214, REAA, GOB-RS, Oriente de Lagoa Vermelha, Estado do Rio Grande do Sul, formula a seguinte questão:

 

ORDEM DE ARQUITETURA PARA AS COLUNAS ZODIACAIS.

 

Nos conhecemos quando o irmão esteve em Porto Alegre a alguns anos. Estamos construindo nosso Templo e nos surgiu uma dúvida quanto a ordem das colunas. Eu entend


o que as duas colunas que sustentam o dossel sobre o Venerável Mestre poderiam ser Jônica por representar o pilar da sabedoria. Já as colunas zodiacais gostaríamos de fossem Dórica na coluna do norte (força) e Coríntia na coluna do sul (beleza). Estamos no caminho certo ou para as 12 colunas zodiacais deveríamos utilizar um único tipo de colunas?
E aquelas 3 estátuas que tem em alguns templos? Minerva, etc. É correto colocar junto ao Venerável Mestre e Vigilantes ou é invenção?

 

CONSIDERAÇÕES:

 

No tocante às colunas que sustentam o dossel – A bem da verdade elas não são previstas como elementos integrantes desse mobiliário. Geralmente o dossel fica estruturalmente fixado diretamente na parede, a uma altura suficiente para não encobrir o Delta. Em se tratando do REAA a coluna grega de ordem Jônica que representa a Sabedoria não aparece necessariamente. É citada, mas de modo abstrato.

No que diz respeito às colunas zodiacais – Essas colunas que geralmente aparecem em seção de meias colunas encravadas na parede não possuem essencialmente nenhuma ordem de arquitetura. Na verdade, elas ali estão para representar as doze constelações do Zodíaco. Distribuídas a partir de Áries, seis ficam encravadas verticalmente no topo da Coluna do Norte (parede setentrional) e seis no topo da Coluna do Sul (parede meridional).

As colunas zodiacais se reportam às doze constelações que originalmente apareciam representadas na base da abóbada. Vale a pena mencionar que a tradição da decorar a abóbada no REAA é oriunda da Loja Geral Escocesa, criada no Grande Oriente da França para amparar o Rito nos primeiros anos de existência dos seus rituais simbólicos - início do século XIX. Com o passar do tempo, as constelações do zodíaco acabariam quase que desaparecendo da decoração, o que fez com que aparecessem então, como que a brotar das paredes, as colunas zodiacais com o fito de projetar (marcar) as constelações desaparecidas da base da abóbada. Na Europa, muitos templos do Rito Antigo e Aceito (assim que ele é conhecido por lá) ainda trazem tradicionalmente as constelações do Zodíaco pintadas na base da abóbada ou no alto das paredes, contudo não trazem a colunas zodiacais.

A despeito dessas particularidades, o importante é o que essa marcação zodiacal representa no Rito e não especificamente a ordem de arquitetura dessas colunas.

Assim, essas doze colunas são iguais e trazem cada qual no seu respectivo capitel o símbolo (pantáculo zodiacal) pertinente à constelação que ela representa. Alegoria de primordial importância para o REAA, as colunas zodiacais marcam simbolicamente o caminho que o iniciado deve percorrer até alcançar a plenitude maçônica (exaltado para ingressar no Oriente).

Do mesmo modo as colunas zodiacais não estão ali colocadas como emblemas da Força ao Norte e da Beleza ao Coluna do Sul. As colunas da Força e Beleza, tal qual a da Sabedoria no Oriente são de conotação abstrata no REAA e não precisam fisicamente aparecer.

Cabe ainda lembrar que o REAA (rito de origem francesa) não traz nos seus Painéis da Loja nenhuma representação pertinente às ordens de arquitetura gregas Jônica, Dórica e Coríntia. Essas ordens de arquitetura literalmente são comuns na Tábua de Delinear do grau Aprendiz Maçom nos trabalhos de origem inglesa (Craft).

Por fim, a questão das estátuas de Minerva, Hércules e Vênus - geralmente elas não constam como símbolos nos rituais do REAA, contudo, muitos autores respeitáveis,

a exemplo dos saudosos e irretocáveis Irmãos José Castellani e Francisco de Assis Carvalho, até as sugeriram como elementos decorativos relacionados à Sabedoria, à Força e à Beleza, respectivamente. Eu particularmente não vejo necessidade dessa inserção, sobretudo para não alimentar fantasias em certas mentes imaginosas que transitam no solo maçônico, entretanto essa é apenas a minha opinião.

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

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FEV/2021

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

USUÁRIO DA PALAVRA SE DIRIGINDO À LOJA - A QUEM SE DIRIGIR PRIMEIRO?

 

Em 28/07/2020 o Respeitável Irmão Herych Costa, Loja Tiradentes, 18, REAA, GLEMA (CMSB), Oriente de Porto Franco, Estado do Maranhão, apresenta o que segue:

 

USO DA PALAVRA – SE DIRIGINDO À LOJA,

 

Meu Irmão, já li diversos artigos de sua autoria em que menciona que a ordem correta de se dirigir quando do uso da palavra é iniciado pelas Luzes e somente depois se dirigindo


às demais autoridades presentes, mesmo que Grão Mestre esteja presente. Contudo, não encontrei nenhuma disposição nesse sentido nos escritos ritualístico em que tive acesso. O Irmão poderia nos informar onde se encontra tal fundamentação?

 

CONSIDERAÇÕES PARA O REAA.

 

Caro Irmão, nós precisamos nos desvencilhar dessa maneira latina, extravagante e exagerada de achar que tudo em Maçonaria tem que estar escrito. É bom lembrar que às vezes nem tudo o que está escrito contempla a verdade.

Tenho dito que numa escola de razão, especialmente como é a Maçonaria, antes é preciso se aplicar a lógica (coerência de raciocínio de ideias) e bom senso (propriedade, razão e sensatez).

Não custa nada lembrar que muitas das nossas práticas herdadas de um passado distante eram oralmente ensinadas sem que nada fosse escrito. Afinal, figuradamente comentava-se: “na construção do Templo não se ouvia qualquer ruído produzido pelas ferramentas”.

Ora, a Maçonaria prima pela disciplina e organização, sobretudo pela sua história desde o período operativo. Atualmente seguimos a Moderna Maçonaria, forma essa que fora instituída inegavelmente sobre muitos exemplos dos nossos ancestrais oriundos das guildas de canteiros medievais (construtores de catedrais).

Assim, basta invocar a tradição e logo veremos que universalmente uma Loja, desde as velhas guildas de construtores, sempre foi dirigida por “três Luzes”. Essa é uma condição imemorial, espontânea e universalmente aceita, portanto é considerada um “Landmark” plenamente utilizado, independente de Rito, pela Moderna Maçonaria.

Em se aplicando a lógica, o bom senso e o conhecimento histórico da Ordem, por óbvio ver-se-á que aqueles que atualmente detém o malhete em Loja aberta são os responsáveis pelo canteiro (Loja) – não à toa que especulativamente os trabalhos de uma Loja ainda são abertos pelo Venerável Mestre auxiliado pelos seus Vigilantes.

Desse modo, o porte do malhete pelas Luzes (Venerável e Vigilantes) concebe as suas respectivas autoridades no ambiente. É por isso que a forma protocolar de alguém se dirigir à assembleia de maçons (Loja) se inicia hierarquicamente mencionando aqueles que portam os malhetes, independente de autoridades maçônicas que porventura possam se fazer presentes.

Vale a pena também mencionar dois aspectos: o primeiro é que são os detentores dos malhetes que autorizam o uso da palavra em Loja; o segundo é não confundir modo protocolar de se dirigir à Loja com saudação maçônica.

Por tudo isso é que o usuário da palavra no REAA, depois de autorizado deve se dirigir à Loja por primeiro ao Venerável Mestre e por segundo aos respectivos Vigilantes, para somente depois, se for o caso, mencionar as autoridades e demais Irmãos na forma de costume.

A título de ilustração, lembro que a maior autoridade presente em Loja é o Pavilhão Nacional, cujo qual geralmente fica hasteado no Oriente durante os trabalhos. Nem por isso o usuário da palavra se dirige ao Pavilhão Nacional primeiramente como a maior autoridade.

Assim, por uma questão de lógica e bom senso, na minha opinião nem tudo precisa estar literalmente escrito para ser cumprido. Entendo que ao se perscrutar nossas tradições, usos e costumes, bem como os fundamentos que construíram a história da Maçonaria, há de se achar a razão e a explicação de muitas práticas que num passado distante eram ensinadas oralmente.

Concluindo, reitero os meus escritos a respeito, ou seja, o usuário da palavra dirige-se primeiro às Luzes, em seguida, se for o caso e de modo genérico às autoridades (sem a necessidade de nominá-las uma a uma) e, por fim, aos demais Irmãos na forma de costume.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

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FEV/2021

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

ESTANDARTE DA LOJA NO RITO SCHRÖDER

 

Em 27.07.2020 o Respeitável Irmão Everton Landre, Loja Fraternidade Cleuton Candido Landre, 298, sem mencionar o nome do Rito, GLMMG (CMSB), Oriente de Alfena, Estado de Minas Gerais, apresenta a dúvida seguinte:

 

ESTANDARTE

 

Tenho estudado bastante no blog do Irmão, e obtido bastante conteúdo sobre a confecção de um trabalho que estou fazendo para explicar a simbologia do estandarte de minha Loja.

Uma dúvida que tive foi a seguinte: Li que no Rito de Schroeder não se faz o uso d


e estandarte. O Irmão sabe me dizer algo a respeito dessa curiosidade. Vi que realmente não tem o cargo de Porta Estandarte, mas não sei se isso é realmente verídico ou não

Grato pelo conhecimento e pela disposição. Parabéns pelo Blog...

 

CONSIDERAÇÕES

 

Em Maçonaria o Estandarte serve para identificar uma Loja como corporação maçônica. Trata-se de uma espécie de bandeira retangular, com letreiros, brasões, símbolos distintivos, etc. que aparece pendente de uma haste horizontal e é geralmente arvorado no Oriente das oficinas maçônicas.

Nesse sentido, com o caráter de representação, as Lojas maçônicas, cuja maioria dos ritos o adotam, possuem cada uma o seu próprio estandarte.

Como uma insígnia, nele devem aparecer símbolos maçônicos e palavras que o identifiquem como emblema da Oficina – nome da Loja, Obediência a que pertence, data de fundação, rito, etc.

Especificamente em se tratando do Rito Schröder, originalmente ele não adota o Estandarte (nem possui um Oficial específico para conduzi-lo).

Nesse sentido, consultando o Eminente Irmão Ari de Souza Lima, Secretário Geral Adjunto para Rito Schröder no GOB e integrante do Colégio de Estudos Schröder, ele me confirmou a inexistência desse artefato no rito em questão.

Cabe, entretanto, um pequeno comentário nesse particular. Trata-se dos Diplomas Legais de algumas Obediências que, quando da fundação de uma Loja, independente do rito por ela adotado, se faz obrigatória a apresentação do desenho do estandarte e a sua descrição heráldica, o que faz com que paradoxalmente, um rito que tradicionalmente não possua Estandarte, acabe por tê-lo no conteúdo documental no nascimento da Loja. Desse modo, contrário ao que é comum no rito, algumas Lojas acabam expondo um Estandarte que, diga-se de passagem, nem está previsto no seu ritual.

Conforme ainda explica o Eminente Irmão Ari, tem sido comum no Rito Schröder é se ver Irmãos utilizando preso ao lado esquerdo do peito (na região cordial) um pequeno emblema (distintivo) preso a uma fita azul clara. Esse distintivo copia o timbre (selo) da Loja.

Concluindo, é preciso antes de tudo se respeitar as tradições, usos e costumes de cada Rito, sobretudo na sua construção litúrgica e simbólica. Conservá-lo na pureza da sua essência é respeitar a sua história e, ao mesmo tempo, entender o seu particular mecanismo de aperfeiçoamento humano.

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

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FEV/2020

 

domingo, 21 de fevereiro de 2021

A CORDA COM 81 NÓS - RESUMO DA SUA HISTÓRIA E SIMBOLISMO NO REAA

 

Em 23/07/2020 o Respeitável Irmão Cláudio Teixeira, Loja Lealdade e Luz, REAA, GOB-RJ, Oriente de Rio Claro, Estado do Rio de Janeiro, faz a seguinte pergunta:

 

CORDA COM 81 NÓS – ORIGEM E SIMBOLISMO

 

Parabéns pela grandiosa palestra.

Gostaria de saber a origem e o simbolismo da Corda de 81 Nós.

 

CONSIDERAÇÕES.

 

Na Maçonaria, sob o feitio histórico, a utilização da corda – um cabo, geralmente
de fios de sisal[1] unidos e torcidos uns sobre os outros – remonta os tempos da Maçonaria de Ofício, também conhecida como Maçonaria Operativa.

Uma das finalidades do uso de uma corda grossa e pesada era a de demarcar (cercar) o espaço de trabalho dos pedreiros medievais denominado canteiro de obras.

Nesse sentido, com a finalidade de delimitar o recinto, uma corda era utilizada para circundar o canteiro. Este imenso espaço, e geralmente de formato retangular, servia de oficina de trabalho aos artífices da pedra que ali construíam catedrais, igrejas, abadias, obras públicas, etc.

Assim, o espaço circundado tinha uma extensa corda que ficava presa em argolas de ferro fixadas em paliçadas de madeira fincadas equidistantes no chão para lhe servirem de suporte.

Num dos lados menores do imenso quadrilongo que abrigava os trabalhos, geralmente na banda ocidental, a corda que contornava o espaço era interrompida tendo as suas duas extremidades fixadas em dois postes maiores que indicavam o acesso para o recinto de trabalho.

Em linhas gerais, era assim que com uma corda grossa de sisal os nossos ancestrais delimitavam o seu espaço de trabalho, não obstante de que outras cordas delgadas e cordéis também eram utilizadas nos trabalhos das construções. Por exemplo,

aquelas empregadas como cordéis para demarcar os cantos pela 47ª Proposição de Euclides; aquelas utilizadas para a fixação da pedra angular, bem como aquelas utilizadas como um artefato de tração que serviam para movimentar e erguer, com auxílio do lewis, blocos esquadrejados durante a elevação das paredes.

Em que pese as diversas espécies de cordas utilizadas na Maçonaria de ofício, a pertinente a essas considerações se refere àquela utilizada como delimitação do canteiro de trabalho. Em síntese, trata-se da corda que, fixada em paliçadas, circundava os canteiros de obras operativos.

Assim, conservando tradições hauridas dos nossos ancestrais, alguns ritos (não todos) da Moderna Maçonaria adotaram a corda como um símbolo que historicamente relembra aquela que contornava as oficinas das guildas de pedreiros da Idade Média.

Graças a isso é que encontramos atualmente ritos que têm nos seus templos, fixada geralmente ao alto nas paredes, uma corda com os nós equidistantes circundando o recinto.

A título de esclarecimento, vale a pena mencionar que os espaços atuais de trabalhos especulativos conhecidos por Lojas ou Templos maçônicos, representam, de maneira estilizada, as oficinas de trabalho de outrora que eram utilizadas pelos nossos ancestrais operativos.

No que diz respeito ao REAA e a corda, esse rito traz, ornamentando o seu templo, uma corda com 81 nós equidistantes que vai circundando as paredes até a porta de entrada onde ela termina em duas borlas pendentes.

Assim, no REAA, além do viés histórico até então aqui abordado, a Corda com 81 Nós (um dos Ornamentos da Loja), conforme alguns rituais, concebe a união dos maçons agregados em Loja; menciona ainda a comunhão de ideias direcionadas à construção de um Templo à Virtude Universal. Esotericamente, por ser confeccionada com fios de sisal unidos e torcidos, essa corda simboliza a resistência haurida do trabalho em conjunto, que deve ser forte e duradouro.

Pertinente ao número 81, esse valor numérico está ligado à Aritmética e a Geometria, quarta e quinta das Sete Ciências e Artes Liberais do Passado respectivamente - comuns ao ofício dos canteiros que edificavam formidáveis obras de Arte no passado.

De modo figurado, os “nós”, segundo alguns rituais também conhecidos como “laços do amor”, relembram figuradamente as paliçadas que serviam de suporte para prender a corda que circundava o canteiro. As borlas pendentes ao lado da porta relembram a passagem por onde se acessava e saia da oficina de trabalho. A abertura demarcada pelas duas borlas pendentes idealiza que a Ordem Maçônica é evolucionista e progressista estando sempre aberta ao desenvolvimento da ciência, das artes e do progresso racional da humanidade (Varolli Filho in Ritual de Aprendiz do REAA, SP, 1969).

Ainda em relação ao número 81, segundo alguns autores, o nó central da corda, que é possui simetria com o Delta Radiante no Retábulo do Oriente, simboliza o “número um” como princípio e fundamento do Universo (idem Varolli Filho).

Ainda segundo alguns exegetas, a exemplo de Jules Boucher, o nó central e o número 1 simbolizam o indivisível Princípio Criador. A partir dele é que se dividem os demais 80 nós em 40 nós para cada lado. Essa alegoria, eivada de percepções teístas hauridas da Bíblia, representa o número penitencial e da expectativa: 40 foram os dias do Dilúvio; 40 dias passou Moisés no Sinai; 40 foram os dias de jejum, etc.

Eis aí então uma síntese despretensiosa das origens e do simbolismo da Corda com 81 Nós no REAA.

Outra observações: em linhas gerais, a corda que representa os limites do canteiro, também pode aparecer como uma corrente de ferro emoldurando o conjunto de símbolos que compõem alguns Painéis da Loja. Assim, tanto a corda como a corrente possuem o mesmo significado.

Com a mesma definição da corda e da corrente, alguns ritos também adotam a Orla Dentada, ou Denteada, que aparece contornando o Pavimento Mosaico (The Beautiful Flooring of The Lodge). No mesmo sentido, a Orla também tem o desiderato de demarcar o espaço de trabalho.

Por fim, ainda sob esse mesmo viés, existe no interior de muitos Painéis, principalmente os franceses, a figura gravada de uma corda com duas borlas cujo número de nós que a divide varia de painel para painel e de rito para rito.

Eram esses os comentários.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

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FEV/2021



[1] O sisal é uma fibra produzida pelo beneficiamento da folha da Agave Sisalana, uma planta muito resistente e que se dá muito bem em regiões semiáridas.

 

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

CORDA DE 81 NÓS - SIGNIFICADO HISTÓRICO E ESOTÉRICO

 

Em 23/07/2020 o Respeitável Irmão Sérgio Roberto de Melo Souto, Loja Perfeita Amizade Alagoana, REAA, GOB-AL, Oriente de Maceió, Estado das Alagoas, apresenta a seguinte pergunta:

 

CORDA DE 81 NÓS NO TEMPLO

 

Sobre a interpretação da Corda de 81 Nós descrita abaixo, pergunto: está correta?

"Essa Corda absorveria as tensões nervosas (elétricas) dos irmãos, descarregando-as através dos fios das duas borlas pendentes. Detém-se que, dentre outros “efeitos esotéricos”, a corda retém a energia que emana de todos os Obreiros presentes, bem como da distribuição da Energia de cima para baixo e de fora para dentro. Os nós funcionando como acumuladores de energia"

 

CONSIDERAÇÕES.

 

Seria cômico se fosse trágico. Trágico porque uma bobagem dessa estirpe


simplesmente afronta a razão e a seriedade da Sublime Instituição.

Essas mirabolantes interpretações temerárias nada tem a ver com os objetivos da Maçonaria. Ora, essa é uma colocação recheada de crendices particulares que francamente não merece nenhuma recomendação.

Eivado da mais pura bobagem, esse texto deve ter sido escrito por alguém que não conhece a contendo a verdadeira Maçonaria e dela faz um placo proselitista de crendices e superstições. “Corda que absorve tensão nervosa; retenção de energia; distribuição de energia de baixo para cima, etc., francamente, são comentários dignos de serem desprezados e depositados na lata do lixo.

Em se tratando de Maçonaria, crenças pessoais devem ser deixadas fora dos umbrais do Templo. É intolerável que ainda hoje possamos nos deparar com acepções incautas como as citadas no texto da questão acima.

Corda que absorve tensões nervosas (elétricas) dos Irmãos (sic) é mesmo coisa d’escrachar.

Nos desviando e longe desses absurdos, vamos trazer um pouco de luz e razão sobre esse importante símbolo que é considerado como um dos Ornamentos da Loja – A Corda de 81 Nós.

Assim, sob o feitio histórico, a corda de sisal (não confundir com o cordel do Mestre) remonta a época dos canteiros medievais, nossos precursores quando a Maçonaria ainda era essencialmente operativa. Nessa época a corda era, dentre outros, um artefato que servia para demarcar os limites do canteiro de obra.

Nesse sentido, esse grande espaço de trabalho era então circundado (demarcado) por uma corda de sisal que geralmente ia presa em argolas de ferro fixadas em paliçadas. Era mesmo uma espécie de cerca demarcatória. Alguns canteiros eram cercados com pesadas correntes de ferro.

Na entrada desse canteiro havia dois postes altos de onde pendiam as duas pontas da corda neles fixadas e que serviam como a abertura por onde se ingressava e saia do recinto de trabalho.

Dado a essa disposição limítrofe é que alguns ritos, relembrando essa antiga demarcação, trazem simbolicamente nos seus templos uma corda de nós que contorna o recinto, geralmente ao alto. É bom lembrar que a sala da Loja, longe de ser confundida com um templo religioso, ou de credos pessoais, representa as oficinas de trabalho de antanho e que são estilizadas conforme cada rito maçônico.

Desse modo, historicamente, essa é a origem da corda que ornamenta as paredes do templo de alguns ritos da Moderna Maçonaria.

No tocante a interpretação esotérica (reservada aos iniciados), a corda representa a união dos maçons reunidos no seio da Loja. Essa união se destaca pelos elementos fibrosos de sisal que compõem e dão formato à corda. Em primeira análise os elementos constitutivos da corda demonstram que tal qual a fábula do “Feixe de Esopo”, as fibras unidas umas às outras formam um elemento sólido, seguro e resistente. Desse modo, a corda que ornamenta a loja é um símbolo que exprime verdades e não um elemento subserviente para crenças e motivos supersticiosos.

Em relação aos nós da corda, estes, não em números, simulam as marcas das velhas paliçadas por onde ela ia presa circundando o antigo canteiro.

Conforme mencionam algumas velhas instruções, o número 81, de concepção especulativa, está relacionado à aritmética e geometria, ciências apropriadas àqueles que projetavam e construíam formidáveis edificações.

Na constituição especulativa, o nó central, que geralmente coincide com a posição do Delta no Retábulo do Oriente do Templo, é o ponto referencial que divide a corda em segmentos iguais de quarenta nós para cada lado. As duas borlas pendentes junto à porta representam a passagem de entrada e saída dos canteiros do passado. Conforme menciona o irretocável e saudoso Irmão Theobaldo Varolli Filho, o número 40, correspondente aos nós da direita e da esquerda, aludem aos números penitenciais, entendimentos esses derivados de concepções teístas, naturais em algumas vertentes maçônicas.

Em linhas gerais, são essas as principais colocações emblemáticas relativas à Corda de 81 Nós. Sem nenhuma fantasia, note que nela não cabem ilações absurdas como as descritas na sua questão.

De fato, a Loja é um lugar de aprimoramento humano, nela não cabem ideias fantasiosas que tendem confundir a sala da Loja, ou o templo maçônico, com um enorme gerador de energia feito uma subestação fornecedora de energia elétrica. É mesmo impressionante até aonde pode chegar à imaginação de alguns.

 

OBS. – Na decoração de muitos templos a corda, que originalmente é a de sisal, pode também aparecer pintada nas paredes, assim como construída em gesso. Independente da sua constituição construtiva, o seu significado é o mesmo da corda de sisal.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

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FEV/2021