domingo, 21 de fevereiro de 2021

A CORDA COM 81 NÓS - RESUMO DA SUA HISTÓRIA E SIMBOLISMO NO REAA

 

Em 23/07/2020 o Respeitável Irmão Cláudio Teixeira, Loja Lealdade e Luz, REAA, GOB-RJ, Oriente de Rio Claro, Estado do Rio de Janeiro, faz a seguinte pergunta:

 

CORDA COM 81 NÓS – ORIGEM E SIMBOLISMO

 

Parabéns pela grandiosa palestra.

Gostaria de saber a origem e o simbolismo da Corda de 81 Nós.

 

CONSIDERAÇÕES.

 

Na Maçonaria, sob o feitio histórico, a utilização da corda – um cabo, geralmente
de fios de sisal[1] unidos e torcidos uns sobre os outros – remonta os tempos da Maçonaria de Ofício, também conhecida como Maçonaria Operativa.

Uma das finalidades do uso de uma corda grossa e pesada era a de demarcar (cercar) o espaço de trabalho dos pedreiros medievais denominado canteiro de obras.

Nesse sentido, com a finalidade de delimitar o recinto, uma corda era utilizada para circundar o canteiro. Este imenso espaço, e geralmente de formato retangular, servia de oficina de trabalho aos artífices da pedra que ali construíam catedrais, igrejas, abadias, obras públicas, etc.

Assim, o espaço circundado tinha uma extensa corda que ficava presa em argolas de ferro fixadas em paliçadas de madeira fincadas equidistantes no chão para lhe servirem de suporte.

Num dos lados menores do imenso quadrilongo que abrigava os trabalhos, geralmente na banda ocidental, a corda que contornava o espaço era interrompida tendo as suas duas extremidades fixadas em dois postes maiores que indicavam o acesso para o recinto de trabalho.

Em linhas gerais, era assim que com uma corda grossa de sisal os nossos ancestrais delimitavam o seu espaço de trabalho, não obstante de que outras cordas delgadas e cordéis também eram utilizadas nos trabalhos das construções. Por exemplo,

aquelas empregadas como cordéis para demarcar os cantos pela 47ª Proposição de Euclides; aquelas utilizadas para a fixação da pedra angular, bem como aquelas utilizadas como um artefato de tração que serviam para movimentar e erguer, com auxílio do lewis, blocos esquadrejados durante a elevação das paredes.

Em que pese as diversas espécies de cordas utilizadas na Maçonaria de ofício, a pertinente a essas considerações se refere àquela utilizada como delimitação do canteiro de trabalho. Em síntese, trata-se da corda que, fixada em paliçadas, circundava os canteiros de obras operativos.

Assim, conservando tradições hauridas dos nossos ancestrais, alguns ritos (não todos) da Moderna Maçonaria adotaram a corda como um símbolo que historicamente relembra aquela que contornava as oficinas das guildas de pedreiros da Idade Média.

Graças a isso é que encontramos atualmente ritos que têm nos seus templos, fixada geralmente ao alto nas paredes, uma corda com os nós equidistantes circundando o recinto.

A título de esclarecimento, vale a pena mencionar que os espaços atuais de trabalhos especulativos conhecidos por Lojas ou Templos maçônicos, representam, de maneira estilizada, as oficinas de trabalho de outrora que eram utilizadas pelos nossos ancestrais operativos.

No que diz respeito ao REAA e a corda, esse rito traz, ornamentando o seu templo, uma corda com 81 nós equidistantes que vai circundando as paredes até a porta de entrada onde ela termina em duas borlas pendentes.

Assim, no REAA, além do viés histórico até então aqui abordado, a Corda com 81 Nós (um dos Ornamentos da Loja), conforme alguns rituais, concebe a união dos maçons agregados em Loja; menciona ainda a comunhão de ideias direcionadas à construção de um Templo à Virtude Universal. Esotericamente, por ser confeccionada com fios de sisal unidos e torcidos, essa corda simboliza a resistência haurida do trabalho em conjunto, que deve ser forte e duradouro.

Pertinente ao número 81, esse valor numérico está ligado à Aritmética e a Geometria, quarta e quinta das Sete Ciências e Artes Liberais do Passado respectivamente - comuns ao ofício dos canteiros que edificavam formidáveis obras de Arte no passado.

De modo figurado, os “nós”, segundo alguns rituais também conhecidos como “laços do amor”, relembram figuradamente as paliçadas que serviam de suporte para prender a corda que circundava o canteiro. As borlas pendentes ao lado da porta relembram a passagem por onde se acessava e saia da oficina de trabalho. A abertura demarcada pelas duas borlas pendentes idealiza que a Ordem Maçônica é evolucionista e progressista estando sempre aberta ao desenvolvimento da ciência, das artes e do progresso racional da humanidade (Varolli Filho in Ritual de Aprendiz do REAA, SP, 1969).

Ainda em relação ao número 81, segundo alguns autores, o nó central da corda, que é possui simetria com o Delta Radiante no Retábulo do Oriente, simboliza o “número um” como princípio e fundamento do Universo (idem Varolli Filho).

Ainda segundo alguns exegetas, a exemplo de Jules Boucher, o nó central e o número 1 simbolizam o indivisível Princípio Criador. A partir dele é que se dividem os demais 80 nós em 40 nós para cada lado. Essa alegoria, eivada de percepções teístas hauridas da Bíblia, representa o número penitencial e da expectativa: 40 foram os dias do Dilúvio; 40 dias passou Moisés no Sinai; 40 foram os dias de jejum, etc.

Eis aí então uma síntese despretensiosa das origens e do simbolismo da Corda com 81 Nós no REAA.

Outra observações: em linhas gerais, a corda que representa os limites do canteiro, também pode aparecer como uma corrente de ferro emoldurando o conjunto de símbolos que compõem alguns Painéis da Loja. Assim, tanto a corda como a corrente possuem o mesmo significado.

Com a mesma definição da corda e da corrente, alguns ritos também adotam a Orla Dentada, ou Denteada, que aparece contornando o Pavimento Mosaico (The Beautiful Flooring of The Lodge). No mesmo sentido, a Orla também tem o desiderato de demarcar o espaço de trabalho.

Por fim, ainda sob esse mesmo viés, existe no interior de muitos Painéis, principalmente os franceses, a figura gravada de uma corda com duas borlas cujo número de nós que a divide varia de painel para painel e de rito para rito.

Eram esses os comentários.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

FEV/2021



[1] O sisal é uma fibra produzida pelo beneficiamento da folha da Agave Sisalana, uma planta muito resistente e que se dá muito bem em regiões semiáridas.

 

3 comentários:

  1. Meu Caro Irmão Pedro Juk, pode me explicar então o pq no resto do mundo os templos so REAA são ornados com cordas de apenas 12 nós? Seria as cordas de 81 nós uma pur e simples invenção nacional? Não conheço nenhum ritual françês do REAA (o de 1817, o de murat e os posteriores) que faça a menção do ritual a corda de 81 nós.

    Rafael Silva, ARLS Júlio de Mesquita Filho #4382 GOB

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    1. A corda sem que se mencione número de nós é símbolo autêntico porque tinha função de demarcar o canteiro. A questão do número de nós, seja ele qual for, é bastante especulativo. Eu não me atrevo a dizer que eles não existam em lugar algum do mundo ao redor do templo. Autores que reputo como grandes conhecedores, a exemplo de Varolli Filho e José Castellani, mencionam os 81 nós. Quando eu tiver um tempo disponível (o que é difícil) vou sondar amiúde esse assunto. Nos Painéis, reconheço que existem muitas variações, podendo ser a quantidade de nós apenas representativos.

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    2. Quando menciono a corda para demarcar o canteiro, me refiro a demarcar os seus limites. A corda de nós equidistantes, em número de 12, se referem aquela usada na construção dos cantos pela 47ª Proposição de Euclides. os doze nos marcam três espaços para o cateto menor, quatro espaços para o maior e cinco para a hipotenusa. Fechando o triângulo retângulo os doze nós marcam as distâncias para aplicação do teorema.

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