Um Respeitável Irmão da Loja Independência de Nova Friburgo, 2452, REAA, GOB-RJ, Oriente de
Nova Friburgo, Estado do Rio de Janeiro, através do News GOB Net, solicita esclarecimentos para o que
segue:
HUZZÉ OU HUZZÊ?
Realizo essa consulta com a finalidade de
esclarecer pertinente dúvida oriunda da interpretação divergente de nosso
Ritual. Praticamos o REAA. Contudo, alguns irmãos da Loja defendem que a
Aclamação do Rito é HUZZÊ, com o acento circunflexo no e, conferindo uma
tonicidade fechada à palavra. Porém, outros entendem que a pronúncia correta é
HUZZÉ, com acento agudo no e, conferindo tonicidade aberta à palavra. Em
pesquisas pela internet, encontramos teses que defendem ambas as
interpretações. Em razão disto, conclamamos ao Eminente Irmão Secretário de
Ritualística que nos esclareça qual a forma CORRETA de pronunciarmos a
aclamação do REAA.
CONSIDERAÇÕES.
A pronúncia dessa aclamação é Huzzé, ou seja, com acento
agudo na letra "e" que lhe confere tonicidade aberta.
Para ilustrar essas considerações, seguem alguns
apontamentos com o objetivo de esclarecer e enriquecer um pouco mais o estudo
sobre essa aclamação utilizada na liturgia do REAA.
A
aclamação Huzzé (com acento agudo), utilizada pela Maçonaria, destaca a influência
da cultura árabe e, por extensão, a sabedoria e a arte sarracena. Por ser de
constituição eclética, a paulatina construção doutrinária da Sublime
Instituição também não deixaria de utilizar inúmeros elementos dessa cultura –
é comum se ouvir nas preleções maçônicas que a Sabedoria vem do Oriente e que,
de modo emblemático, teriam sido os fenícios os operários construtores do lendário
Templo de Jerusalém.
A inegável influência
árabe, de tantas outras reminiscências, sobejamente tem tido o desiderato de
enriquecer as doutrinas de muitos ritos maçônicos. É o caso, por exemplo, da
aclamação Huzzé no REAA.
Não há, porém, como
esquecer nessa abordagem, também da cultura hebraica, já que é inegável que em
muitos aspectos a língua árabe original possui muita semelhança com a hebraica,
o que tem feito, inclusive, com que alguns autores inadvertidamente acabem
atribuindo raízes etimológicas contraditórias dando vazão à conceitos muitas
vezes falsos e temerários.
Dados esses comentários
iniciais, seguem então outras anotações que abordam a relação entre as palavras
Huzzé e a Acácia.
Huzzé e a Acácia - por
existir uma relação entre essas duas palavras na construção de uma alegoria
solsticial muito antiga, alguns tratadistas se utilizando a lei do menor
esforço, equivocadamente traduziram a saudação Huzzé! como fosse ela
literalmente a espécie vegetal Acácia.
Sem significar Huzzé, o
espécime vegetal "acácia", conforme ensina Theobaldo Varolli
Filho, é “shittah” em hebraico. De
plural “shittin”, o termo aparece
relacionado em vários textos Bíblicos – vide a madeira utilizada na construção
da Arca da Aliança e os seus varais. Nesse caso, Huzzé não deriva de nenhuma
palavra hebraica
Segundo bons tratadistas
desse gênero vegetal, a verdadeira acácia é a espécime denominada acácia
do nilo (akakia aegipti), ou “vera acácia.
Sendo uma árvore leguminosa, é dela que se produz a goma arábica e o tanino.
Como um vegetal símbolo utilizado na liturgia
da Moderna Maçonaria, ela tem sido dona de um importante conjunto emblemático pertinente
ao Terceiro Grau. Nesse sentido, vale a pena mencionar que a legítima acácia é a
oriunda do nordeste da África e não se desenvolve no território brasileiro. A que
por aqui ocorre é a espécie “acácia negra” de origem australiana. No Brasil ela
é encontrada nas regiões tropicais e se dá muito bem na região sul brasileira. Desse
modo, seus ramos são aproveitáveis na liturgia maçônica brasileira e substituem
o espécime original.
A acácia original (akakia aegipti), é uma árvore resistente que traz nos seus galhos certa
quantidade de espinhos. Durante sua florada produz flores esféricas de matiz ligeiramente
amarelado. Produz uma madeira de longa durabilidade por não se sujeitar às
pragas. Graças a essas qualidades é que ela possui a fama de “eternidade”.
Assim, a madeira da
acácia (akakia aegipti) acabou
ganhando múltiplas interpretações peculiares à sua durabilidade. No caso da
Maçonaria simbólica a sua incorruptibilidade lhe rendeu a divisa de ser um
emblema da imortalidade.
Outra característica que
lhe rendeu importante representatividade emblemática é a sua flor aveludada, ou
radiada e de forma esferoide. Pelo formato irradiado a flor da acácia lembra o Sol, sendo, inclusive, utilizada desde
as mais antigas civilizações como um elemento para saudar o astro rei no
solstício de inverno. Essa particularidade, em última análise, a fez possuir
estreita ligação com a aclamação árabe Huzzé!
Assim, desde os cultos
solares da antiguidade já se utilizava a acácia para comemorar a volta
do Sol; No Antigo Egito e em certas regiões árabes, por exemplo, a acácia
era considerada uma planta sagrada. Era comum que em determinadas tribos, a
exemplo da dos Drusos, se saudasse a volta do Sol no solstício de inverno agitando
um ramo florido de acácia seguida da aclamação “Huzzah!” (Viva!) ou,
conforme os dialetos locais, “Uezzah!”.
Se faz oportuno mencionar
que a referência solsticial é a de inverno ao norte, sobretudo por ser o hemisfério
mais comum às regiões onde floresceram a maioria das antigas civilizações. O solstício
de inverno na meia-esfera norte ocorre quando o Sol atinge o ponto máximo da
sua inclinação ao sul (21 de dezembro). Após ter atingido a maior declinação na
sua eclíptica, aparentemente o Sol parece iniciar o seu retorno do sul para o
norte – esse ponto solsticial é também conhecido como porta solsticial. Cabe
destacar que a máxima inclinação do Sol projeta sobre cada um dos hemisférios terrestres
os trópicos de Câncer ao norte e Capricórnio ao sul. A título de ilustração as Colunas
B e J demarcam, no REAA, a passagem desses trópicos no Templo.
Retomando os comentos sobre
o solstício ao norte, no misticismo árabe, era nessa oportunidade que ramos
floridos da acácia eram agitados para se dar vivas (Huzzah!) ao Sol que aparentemente iniciava a partir dali o seu
retorno ao norte, trazendo consigo luz e calor (conforto). As agruras do
inverno estavam com seus dias contados. Vale registrar que após a implantação do
Islã essa prática de saudar a volta do Sol seria proibida por Maomé.
Em que pese alguns
autores defenderem Huzzé (Viva) como palavra de origem escocesa, alegando que
essa é uma aclamação utilizada pelo Rito Escocês Antigo e Aceito, numa análise
mais acurada essa tese não se sustenta, pois esse Rito, embora traga de fato na
sua liturgia essa aclamação que fora herdada no século XIX das Lojas Mães Escocesas
em França (Marselha, Avinhão e Paris), ele, como REAA, não é originário da
Escócia, porém da França. Destaque-se que o rito é mais conhecido na Europa
como Rito Antigo e Aceito e não como Rito Escocês Antigo e Aceito. O nome “escocês”
a ele dado nada tem a ver com a sua nacionalidade – vide a história dos
primórdios do escocesismo na França – séculos XVIII e XIX.
Reitera-se então assim,
que a aclamação Huzzé não é a simples tradução de acácia, bem como
também não é parte de nenhum um dialeto escocês como querem afirmar alguns tratadistas.
De fato, a aclamação é pertinente ao REAA desde a consolidação dos seus rituais
no século XIX, mas isso não lhe garante nenhuma autenticidade, digamos... Huzzé
como produto escocês.
A origem mais provável da
aclamação Huzzé (Viva) é a de que a mesma seja uma corruptela de pronuncia na
língua inglesa, haurida dos tempos em que grande parte das regiões árabes
permaneceram sob domínio britânico. Nesse sentido, estima-se que tal como a
aclamação ip hurrah! que significa “viva!”, ou “salve!”, Huzzé seja também
uma corrupção linguística de "viva!" propiciada pelos ingleses
através da palavra árabe Huzzah, ou Uezzah.
Contudo, desafortunadamente
ainda alguns autores desatentos e se utilizando da lei do menor esforço acabaram
confundindo a locução árabe Huzzé, que significa em linhas gerais a
aclamação "viva!" - então feita ao Sol com um ramo florido de
“acácia” - com o próprio espécime vegetal. Dessa falsa interpretação resultou no
equívoco de que o gênero vegetal "acácia" seja "huzzé"
no idioma árabe, o que não é verdade, pois acácia é o espécime vegetal que
produz o ramo florido que é utilizado para dar vivas à volta aparente do Sol.
Em síntese, a acácia fornecia o adereço que era agitado pelos os homens enquanto
bradavam ao Sol... Huzzé! - o mesmo que Viva! Salve!
Por outro lado, muitos
maçons ainda precisam compreender que a antiga prática de saudação ao Sol,
oriunda dos cultos solares da antiguidade, foi inserida na liturgia maçônica como
uma alegoria moral e nunca como elemento de adoração para proselitismos de crenças
particulares. Destaque-se que o misticismo envolvendo a saudação à volta do Sol
é um costume muito antigo entre as civilizações. Veja como exemplo a expressão
latina "natalis invicti solis" (o nascimento do sol invicto).
Os períodos solsticiais, tão marcantes dos ciclos da Natureza, foram também para
os “cortadores da pedra” no passado medieval importantes marcos para o desenvolvimento
dos ciclos do ofício operativo durante as construções. Com isso, a Moderna
Maçonaria preserva no seu simbolismo essa alegoria solsticial, muito
particularmente o REAA, contudo isso jamais teve o desiderato de dar suporte a
credos e nem mesmo alicerçar proselitismos religiosos. Huzzé, relacionado aos
solstícios é em Maçonaria uma saudação à Luz (Sabedoria) e nada mais.
Cabe reiterar que a
liturgia maçônica adota várias manifestações do pensamento humano na intenção
de construir sua doutrina destinada ao aprimoramento humano. No caso específico
da liturgia do REAA, de conotação em grande parte deísta, pode-se dizer que nas
suas práticas ritualísticas estão presentes alegoricamente, dentre outros, a
evolução anual da Natureza – vide a decoração do Templo e a sua relação como
movimento aparente (anual e diário) do Sol. É sob essa óptica que nele existe,
nas liturgias do 1º e do 2º grau, a aclamação Huzzé relacionada exclusivamente
à alegoria iniciática da Luz.
Nessa exposição
figurada, Huzzé (saudação à Luz), no contexto litúrgico do movimento aparente diário
do Sol (o da circulação em Loja), aparece como elemento ritualístico em dois
momentos nos rituais dos graus de Aprendiz e de Companheiro.
A primeira saudação ao
Sol (Huzzé) ocorre durante a abertura dos trabalhos e se refere ao período em que
o canteiro (Loja) fica exposto à plena iluminação. Momento de alto significado
simbólico, a passagem do Sol pelo meridiano do Meio-Dia ocasiona um tempo de
extrema igualdade. Figuradamente, o Sol no zênite reduz as sombras. Esotericamente
nessa oportunidade ninguém faz sombra a ninguém. Momento de iluminação plena, o
Meio-Dia propícia o início dos trabalhos. Se refere também à juventude.
A segunda saudação ao Sol,
embora pareça contraditória já que figuradamente o astro rei está no seu ocaso,
a mesma se dá ao final dos trabalhos, ou à Meia-Noite. Explica-se essa passagem
litúrgica como sendo um meio de lembrar aos operários que mesmo a Luz estando no
seu ocaso, é certo que outro dia irá raiar (esperança). Esotericamente essa
passagem ensina que mesmo quando mais escura é a madrugada, mais próximo está o
raiar de um novo dia. Meia-Noite é o emblema do fim da jornada, ou o fenecimento
de um ciclo. O corpo é então devolvido à mãe Natureza e a régua da vida medirá se
a obra produziu bons brutos para que se eternizem na mente dos pósteros. Huzzé,
aclamação ao final da jornada denota que a Luz é imortal – um dia sempre
surgirá atrás do outro.
Concluindo, Huzzé (com o
"é" pronunciado abertamente) é uma antiga aclamação árabe que significa
“viva!” ou "salve!". Em Maçonaria, como aclamação à Luz, Huzzé nada
tem a ver com atos supersticiosos e crenças acercadas de vibrações ocultas, gritos,
chacras, egrégoras, etc. A aclamação ao Sol, retirada dos cultos solares da
antiguidade e adaptada para saudar a Luz no movimento diário do Sol, é simplesmente
um meio típico de instigar no maçom o respeito à Sabedoria e ao Esclarecimento.
O simbolismo maçônico não trata de adorações, mas busca nos métodos velados por
alegorias e ilustrado por símbolos perscrutar a Verdade e não distorcer a
razão.
T.F.A.
PEDRO
JUK
JUNHO/2020
Substância amorfa,
adstringente, extraída principalmente da noz-de-galha e que se encontra na
casca de numerosas árvores e arbustos. Classe de substâncias adstringentes
encontradas em certos vegetais, que dão coloração azul com sais de ferro,
usadas no curtimento de couros e também como mordentes