Em
18/05/2019 no 1º Seminário de Padronização Ritualística do REAA – GOB,
realizado em Santos, São Paulo, o Respeitável Irmão Rodolfo A. Germano, Loja
Deus, Justiça e Amor, 2086, GOB-SP, Oriente de Sumaré, Estado de São Paulo,
apresentou a seguinte pergunta:
ORNAMENTOS DA LOJA
O
Pavimento continuará cobrindo todo o Ocidente? E a Orla Denteada, que é citada,
mas quase nenhuma Loja tem, nem no próprio mapa do Templo no Ritual? E o Altar
com as Três Grandes Luzes, continuará no Oriente? O Pavimento, cuja origem é
representar o Sanctum Sanctorum perdeu a sua função com esse deslocamento?
CONSIDERAÇÕES.
- Pavimento Mosaico
no Ocidente - No REAA, rito que adota o Pavimento Mosaico com um dos seus símbolos,
sem dúvida nele o Pavimento cobre todo o Ocidente da Loja. Nesse sentido,
não se trata do Pavimento “continuar” conforme menciona o Ritual, mas o de
permanecer fazendo jus a uma tradição do Rito onde o piso de todo o Ocidente
é coberto pelo Pavimento Mosaico.
- Orla Denteada – De
certo modo, a Orla não precisa estar literalmente aparecendo em torno de
um retângulo quadriculado que em tempos atrás equivocadamente aparecia ao centro
do Templo feito um tabuleiro de xadrez em certos rituais do REAA. Essa
forma de representar o Pavimento e a Orla nunca existiu no REAA, pois nele
o Pavimento ocupa todo o Ocidente e não só um pequeno espaço
representado por um retângulo quadriculado situado entre Colunas no
centro da Loja. Esse modo reduzido de representar o Pavimento, e por
conseguinte a Orla Denteada o contornando, fora copiado de outros ritos e enxertados
no simbolismo do REAA.
No que diz respeito à Orla
Denteada propriamente dita (não dá para falar dela dissociada do Pavimento), a
mesma pode ser perfeitamente representada pelo nome que a define, pois Orla significa
borda, bordo ou rebordo que fica, nesse caso, nos extremos do Pavimento, isto é,
junto às paredes norte, sul, oeste e limite com o oriente (contorna, faz a
borda, de todo o pavimento pelas suas extremidades).
Como o Pavimento é constituído
por quadrados brancos e pretos aplicados contiguamente no sentido transversal
(orientam os passos), por si só esse contorno, bordo ou rebordo, que dá a volta
no recinto, já representa a Orla Denteada.
A Orla, de modo bem
visível, também pode ser vista contornando os símbolos agrupados no Painel da
Loja. É bom lembrar que o Painel (página 84 do Ritual de Aprendiz) representa a
alegoria da Loja no seu respectivo grau.
Assim, a questão não é
a da Orla ser citada e não existir. Sem dúvida a Orla existe e está representada,
ou no Painel da Loja ao centro do Ocidente, ou mesmo contornando o Pavimento Mosaico
que ocupa todo o recinto na sua parte ocidental. Em síntese, a Orla é o
contorno do Pavimento Mosaico, pavimento esse que vai disposto por quadrados
brancos e negros colocados a 45º do eixo longitudinal do Templo. O acabamento do
piso nos seus extremos, pela disposição oblíqua, dá conotação à Orla Denteada
(Dentada ou Marchetada).
- Altar dos
Juramentos no Oriente – Não se trata dele continuar, pois tradicionalmente
o Altar dos Juramentos no REAA\ fica no
Oriente.
Esse Altar que suporta
as Três Grandes Luzes Emblemáticas é uma extensão do Altar ocupado pelo
Venerável Mestre, portanto seria inconcebível imaginá-lo posicionado no centro
do Ocidente como equivocadamente havia alguns anos atrás. Altar dos Juramentos
no centro do Ocidente é prática do Rito de York (americano) e não do REAA. Esse
equívoco fora trazido para o REAA no Brasil por Mário Marinho Béhring na oportunidade
em que buscava reconhecimento para as suas Grandes Lojas Estaduais brasileiras nas
Grandes Lojas Estaduais dos Estados Unidos da América do Norte. Infelizmente
esse equivocado costume acabou mais tarde contaminando o próprio Grande Oriente
do Brasil, mas felizmente, desde 1996, com a edição de novos rituais, o GOB
extirpou, dentre outros, esse anacronismo que contaminava o REAA.
Assim, reitero que no
REAA o lugar do Altar dos Juramentos é no Oriente e não no centro da Loja ao
Ocidente, portanto ele continuará no lugar de onde ele nunca deveria ter saído.
- O Pavimento
Mosaico – Também não se trata de a sua origem ser a de representar o Sanctum
Sanctorum do Tabernáculo e posteriormente do Templo de Jerusalém. Criou-se
esse estigma porque o termo mosaico advém de Moisés que por sua vez o
relaciona com o pavimento colorido que lendariamente cobria o piso do
Santo dos Santos.
A palavra Mosaico, como
substantivo masculino, do italiano: mosaico)
designa um piso preenchido por pedrinhas ou pequenos vidros coloridos com que
geralmente se formam gravuras (desenhos). Em Maçonaria, uma das possíveis origens
do Pavimento Mosaico, ou quadriculado, que adorna os Templos Maçônicos seria a
lenda de que o personagem bíblico Moisés teria forrado o piso do Santo dos
Santos do Tabernáculo hebraico com pedrinhas coloridas (isso nada tem a ver com
o Altar dos Juramentos e o Pavimento Mosaico da Maçonaria).
O termo Mosaico como adjetivo,
do latim: mosaicus, exprime o é que
relativo a Moisés - no caso atinente à lei mosaica. Em Maçonaria, embora não
generalizado, o termo tem sido usado para designar o pavimento quadriculado
adotado por alguns Ritos. Nesse sentido, é, como adjetivo, pertinente a Moisés.
Na realidade, embora o nome
mosaico se relacione à cultura hebraica, o
pavimento é mesmo de origem sumeriana; estes o tinham como um terreno religioso
e proibido. Nem todos os demais povos que o adotaram, a exemplo dos cretenses e
dos antigos gregos, o adotaram nesse sentido, porém como mero elemento
decorativo. Em se tratando de Maçonaria, o Pavimento Mosaico também não traz
consigo nenhum significado de elemento sagrado, tal como ele possuía entre os
sumerianos.
Vale a pena mencionar
que como alegoria maçônica ele traduz mais uma concepção hermética com
princípios da dualidade do que propriamente a figura de um caminho sagrado.
O Pavimento Mosaico,
nos ritos que o adotam, através da disposição contígua dos seus quadrados
brancos e negros, estabelece o simbolismo existencial dos contrários,
destacando-se nele a presença dos opostos (Hermetismo). Alegoricamente ele
menciona o piso do Templo de cores variegadas representando o solo terrestre e as
suas diversidades de cores, raças, credos e religiões, mas que, apesar delas,
entre os homens deve sempre existir a mais perfeita harmonia.
Ainda sob o aspecto hermético,
como já comentado, os opostos indicam o existencial, pois a existência de uns,
determina a essência de outros; o negro e o branco, o bem e o mal, o amor e o
ódio, a noite e o dia, causa e efeito, etc.
Cabe então mencionar
que concepções que envolvem o sagrado e o religioso, tal como a relação Sanctus
Santorum e Pavimento Mosaico não cabem como elementos doutrinários no
simbolismo do REAA. Há que se compreender que lendas na Maçonaria foram
adotadas para exprimir lições de moral e ética e não formalizar afirmativas
históricas e muito menos religiosas.
É bom que se diga que o
ideário de que o Pavimento Mosaico e o Altar dos Juramentos tenha algo a ver
com o Santo dos Santos no simbolismo do REAA não condiz com a realidade,
sobretudo se eles estiverem ainda ligados àquele Pavimento feito um tabuleiro
de xadrez que ficava junto ao Altar dos Juramentos ocupando ambos, anacronicamente,
o centro do Templo.
Gostaria de lembrar que
eu até expliquei no Seminário que não devemos imaginar Templo Maçônico da
Maçonaria Simbólica como sendo um arquétipo do Templo de Jerusalém. Ora, o Templo
é uma alegoria adotada pela Maçonaria e não literalmente um ambiente estereotipado
para práticas religiosas. Eu comentei também que as Lojas são oficinas
estilizadas por símbolos e alegorias utilizadas no passado pelos nossos
ancestrais (canteiros da Idade Média). O propósito é o de construir um novo
homem e não o de se ocupar com crenças religiosas. A elas, sem dúvida devemos
respeito, mas que cada qual silenciosamente busque nelas o seu conforto
espiritual. A Loja não é lugar para se expor credos, senão utiliza-los para o
bem comum da coletividade, pois apesar das diversidades que encontramos na Natureza,
nela há de sempre reinar a mais perfeita harmonia – essa é a lição que o
Pavimento Mosaico nos ensina como o piso que ocupa todo o solo ocidental da
Loja. É o piso pavimentado pelo qual se deslocam os obreiros trabalhando em busca
do seu próprio aperfeiçoamento. Em Maçonaria o espaço é “consagrado” ao
trabalho e não “sagrado” para práticas religiosas.
Por tudo meu Irmão, se
bem compreendida a Arte e corretamente aplicada a Geometria, o Pavimento, sob
nenhuma hipótese, perderá a sua função. Quando o Altar dos Juramentos voltou
para o seu lugar de origem e o Pavimento ocupou o espaço de acordo com a tradição
do Rito, as coisas simplesmente voltaram para os seus devidos lugares. Com
isso, os equívocos é que perderam as suas funções.
T.F.A.
PEDRO
JUK
MAIO/2019