Em 12/08/2019 o Respeitável Irmão José Roberto D’Ambrozo,
Loja Liberdade e Trabalho, 2.242, REAA, GOSP, Oriente de Piracicaba, Estado de
São Paulo, apresenta a questão que segue:
REAA E SUA RELAÇÃO COM A ASTRONOMIA
Pertenci à Associação dos Astrônomos Amadores de Piracicaba. Graças a
essa Associação, Piracicaba conta com um Observatório Astronômico, muito ativo
por sinal, dirigido pelo Astrônomo profissional, o Sr. Nelson Travinick. Ele
administra aquele espaço cultural com muita dedicação. Nesse mês de julho,
montou atrativa exposição para comemorar os 50 anos da ida do homem à Lua. Foi
um sucesso!!!
É importante ressaltar a importância da conquista do espaço, pois tudo o
que se descobre para subir, tem como efeito colateral a descida de tecnologia
que beneficia a humanidade em todas áreas.
Mas, gostaria de sua sempre bem vinda opinião sobre as considerações
abaixo.
Considerando que REAA é um Rito Solar.
1. Considerando
que a movimentação da Terra, em torno do Sol, deu base para elaboração desse
Rito. (Onde o Sol nasce no Or\ e nas comemorações dos SSolst\ em BBanq\ RRit\ etc.).
2. Considerando
que a Terra é nossa plataforma de observação do Universo (Abóboda Celeste).
3. Considerando que o Templo é dividido em Or\ (parte material) e Oc\ (parte imaterial)
4. Considerando
que o 2º Vig\ pela planta baixa
do Templo, está posicionado no meio do Oc\
5. Considerando que é dali que o 2º Vig\ “observa o Sol no seu
meridiano"
6. Considerando que, pela Astronomia, meridiano é resultado do corte de um plano que passa pelos polos
Norte e Sul da Terra dividindo-a em duas metades.
7. Considerando que a Col\ do N\ do Templo contém o Polo Norte, e que a Col\ do Sul contém o Polo Sul.
8. Considerando
que Trópico de Câncer passa pela Col\ B\
9. Considerando
que o Trópico de Capricórnio passa pela Col\ J\
10. Considerando
que o Equador passa pela parte central do Oc\
Diante dessas considerações, podemos afirmar que:
a) Uma
metade da Terra está à esquerda do 2º Vig\
indo dele até a porta do Templo?
b) E que a outra metade da Terra está à direita do 2º Vig\ indo dele até a balaustrada?
c) E
que a Terra ocupa a totalidade do piso do Oc\ da
Balaustrada até a porta de Entrada?
COMENTÁRIOS
O raciocínio está
correto. Nesse caso, o Oriente é alegoricamente a morada da Luz. É essa a razão
pela qual somente os que alcançam a plenitude lá podem ingressar.
Alegoricamente, o
que acontece além desse limite é o espaço do abstrato, ou do espiritual, já o aquém
é o espaço para o trato com o mundo material. Note que não existem Colunas
Zodiacais nas paredes além da balaustrada. Isso se dá porque a revolução anual
do Sol é percebida da face da Terra e não do lugar da Luz. Hipoteticamente o cruzamento
do meridiano do Meio-Dia com o Equador é o ponto central de observação.
Elevar o Oriente para
limitá-lo com o Ocidente, na verdade isso não deveria existir no REAA. O seu
primeiro ritual simbólico, construído em 1804, não trazia essa diferenciação de
ambientes – demarcado e elevado. Já expliquei bastante que esse é um enxerto haurido
das extintas Lojas Capitulares.
Essa separação de
ambientes se deu no primeiro quartel do século XIX para se adaptar ao Capítulo,
num tempo em que o Grande Oriente da França evocou para si o governo do
simbolismo e do Capítulo, ficando à mercê do Segundo Supremo Conselho (França)
apenas os graus acima do 18º. Com isso o Oriente acabaria elevado e dividido
por balaustrada também no simbolismo, o que originalmente nele não existia conforme
o primeiro ritual criado em 1804 em França.
Mesmo com as coisas
voltando mais tarde ao seu devido lugar, com todos os graus superiores – do 4º
ao 33º - voltando à tutela do Supremo Conselho e os três graus simbólicos ficando
originalmente com o Grande Oriente, o Oriente da Loja, no entanto, no
simbolismo permaneceria à moda capitular, elevado e dividido como o conhecemos
até os dias atuais – provavelmente para atender "as adoráveis distinções
latinas".
Com isso, começaram
as improvisações e acomodações que ocorreriam no aperfeiçoamento dos rituais a
partir no final do século XIX e começo do século XX.
É interessante
notar que o ritual de 1804, que seria publicado estimadamente em 1821 no Guia
dos Maçons Escoceses, era baseado nos Rituais da Grande Loja dos Antigos
ingleses[1]. Isso pode explicar o
porquê da influência anglo-saxônica num rito de origem francesa como é o REAA.
Atente-se que a vertente maçônica anglo-saxônica originalmente não separa o Oriente
do Ocidente, tratando apenas o lado oriental como Leste e o Ocidental como Oeste.
Assim, essa disposição, literalmente revela o Segundo Vigilante situado no meridiano
do Meio-Dia (ponto mediano entre o Leste e o Oeste) para atender, inclusive, a
dialética ritualística – "Onde tem assento o Segundo Vigilante? Ao Meio-Dia"
(...) para observar a passagem do Sol no Meridiano...".
No caso do REAA, rito
que teve o seu oriente adaptado à moda capitular, o Segundo Vigilante fica no
espaço mediano Sul entre a balaustrada e a parede ocidental, sobretudo para
atender ao perfil deísta do Rito que traz no seu arcabouço doutrinário
principal a investigação da Natureza e melhoramento do homem como parte dela
integrante.
Cabe lembrar que os
Ritos de origem francesa, geralmente trazem os dois Vigilantes lado a lado no
Sul e no Norte ao extremo do Ocidente (vide o Rito Moderno e o Rito Adoniramita,
por exemplo). Até mesmo isso também pode ser reparado nos graus superiores do próprio
REAA onde os Vigilantes tomam assentos em lugares simétricos no extremo do Ocidente.
Já no seu simbolismo, seguindo a influência anglo-saxônica para se adaptar à
estrutura da sua senda iniciática, o lugar do Segundo Vigilante também é
colocado ao Meio-Dia como acontece nos trabalhos do Craft inglês, e norte-americano.
Concluindo, se
essas colocações fossem de fato bem compreendidas, talvez não tivéssemos essa
desenfreada e desmedida preferência de "alguns" por um ambiente mais
elevado para o desfile de vaidades, às vezes. Se o Oriente, como antes, tivesse
se mantido no mesmo nível do Ocidente após a extinção das Lojas Capitulares,
talvez não tivéssemos tanto que nos preocupar com normas incomodativas para
títulos e cargos de ocupantes do Oriente, que não os propriamente de ofício.
T.F.A.
PEDRO JUK
NOV/2019
[1] Primeiro Ritual do REAA que seria publicado
no Guia dos Maçons Escoceses se daria pela volta de Grasse Tilly à França de
retorno do EUA trazendo consigo as influências das Lojas Azuis norte-americanas
que se baseiam na Grande Loja dos Antigos da Inglaterra (1751). Também o ritual
se baseava no Regulador do Grande Oriente da França e nas práticas das Lojas Mães
Escocesas de Avinhão, Marselha e Paris. Vide Guide des Maçons Écossais estimadamente
de 1821; rituais ingleses antigos revelados na exposure dos Antigos The
Three Distinct Knocks datado de 1760; rituais do Rito Francês Régulateur
du Maçon e tradições das Lojas Mães Escocesas (cor vermelha, pilares).
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