Em 28/03/2018 o Respeitável Irmão
Maycon Corazza, Loja Vigilantes do Oeste, 2713, REAA, GOB-PR, Oriente de
Cascavel, Estado do Paraná, formula as questões seguintes:
CARACTERÍSTICAS RITUALÍSTICAS - CARGOS DO REAA
Gostaria de pedir auxílio para compreensão de alguns aspectos do rito
praticado em minha Oficina, o Rito Escocês Antigo e Aceito.
Segue:
1) Quais são os cargos existentes no REAA que possuem vínculo direto com
o período operativo da Maçonaria?
2) Em relação aos cargos que foram criados já no período especulativo,
seria possível apontar em quais períodos surgiram e possíveis motivações para
criação de cada um deles?
3) Percebemos a diferenças entre ritos, também no tocante aos cargos.
Muitas vezes as diferenças são apenas de nomenclaturas, mas há alguns casos em
que as diferenças são mais aprofundadas. Como compreender melhor isso?
CONSIDERAÇÕES.
- Sob
o aspecto histórico os cargos que possuem vínculo com a Maçonaria de
Ofício (Operativa) são os do Venerável Mestre e Vigilantes, dos Diáconos e
dos Cobridores. Junto a esses cargos também existia normalmente um clérigo
da Igreja Católica que cuidava dos registros da Guilda. De modo imemorial,
espontâneo e universalmente aceito (identificações de um verdadeiro
Landmark), uma Loja, desde os canteiros medievais (século X) era dirigida
por três Luzes. Não existiam exatamente naquela época graus especulativos,
senão apenas duas classes de trabalhadores, a dos Aprendizes Admitidos e a
dos Companheiros do Ofício. Dentre a classe operária dos Companheiros era
escolhido um de comprovado conhecimento e experiência profissional para
dirigir a Loja. Assim, o Venerável era o Mestre do Ofício, ou da Loja,
sendo diretamente auxiliado por dois Zeladores (wardens) que mais tarde ficariam conhecidos como Vigilantes
(todos, Companheiros experimentados).
Os Diáconos eram os antigos “oficiais de chão” e tinham o ofício de
levar e trazer mensagens pelo imenso canteiro que servia para a construção de
uma catedral, por exemplo.
Os Zeladores eram os instrutores e ensinavam a arte de construir aos
Aprendizes que se dividiam em recém-admitidos (Juniors) os mais experientes, os
Sêniores. Cabia também aos Vigilantes (antigos zeladores) conferir os trabalhos
e, particularmente ao Primeiro, pagar os obreiros e despedi-los contentes e
satisfeitos, recomendando o retorno de todos para a próxima jornada de trabalho
que se daria após a passagem do inverno.
O Segundo Vigilante era o responsável em receber e instruir os
candidatos à Iniciação e o Primeiro encarregava-se de proferir orações em favor
dos recém-iniciados. Competia também ao Primeiro Vigilante ensinar os
Companheiros do Ofício as técnicas de elevação, aprumada e nivelamento dos
cantos da obra.
Num período bem primitivo, algumas associações de construtores
(monásticas ou confrarias leigas) davam também aos oficiais de chão (Diáconos)
a incumbência de instruir os operários. Dado a isso alguns autores os mencionam
como ancestrais dos Vigilantes.
Merecedor de judiciosa proteção, o canteiro de obras era protegido
externamente contra os vândalos pelo guardião externo, enquanto que
internamente o guardião interno protegia os planos da obra contra os cowans. Deve-se a esses guardiões do
passado os cargos de Guarda Externo e Cobridor Interno da Moderna Maçonaria. É
daí o termo Tiler associado à
cobertura e proteção contra os bisbilhoteiros e espiões que sorrateiramente
buscavam conhecer os segredos da construção (planos da obra). A palavra cowan, haurida de um dialeto da Escócia
medieval, segundo Harry Carr, significa “aquele que constrói muros sem
argamassa” – genericamente menciona o profissional despreparado ou
desqualificado. O embusteiro profissional.
O clérigo, que era um preposto da Igreja, assegurava os direitos de proteção
e locomoção dos operários e cuidava dos registros financeiros e administrativos
pertinentes à construção e à Guilda. Esse personagem religioso pode ser
considerado como o precursor do Secretário das Lojas especulativas da
atualidade.
É bom que se diga que um canteiro medieval era constituído por grande
quantidade de operários e, desses, os que se sobressaíssem profissionalmente
eram admiti
dos no Ofício mediante a solene obrigação de não revelar os segredos
da arte e nem os planos que constituíam o projeto da obra àqueles que não
fossem verdadeiramente iniciados.
Assim eram as antigas iniciações operativas, época em que não existiam
templos maçônicos. Elas geralmente se davam nas próprias construções e nos
adros das igrejas em datas solsticiais que, por influência da Igreja,
coincidiam com as datas comemorativas de João, o Batista e de João, o
Evangelista. Daí, as Lojas de São João.
Destaque-se que esse
comentário é apenas uma descrição genérica e resumida do tema, pois o assunto é
amplo e envolve profunda observação no que diz respeito aos costumes e
tradições comuns às diversas regiões onde atuavam os construtores operativos da
Idade Média.
- Em
relação aos demais cargos que paulatinamente foram surgindo na Moderna
Maçonaria, sobretudo com a propagação dos ritos maçônicos especulativos a
partir do século XVIII, todos dependem da liturgia adotada por esse ou por
aquele Rito.
No caso específico do escocesismo e o aperfeiçoamento dos seus rituais,
permaneceram os cargos tradicionais, mas com roupagem especulativa. Além deles,
outros iam surgindo na medida em que a sua ritualística se consolidava. Destaque-se
que o primeiro ritual simbólico do REEA\ somente apareceu na
França no ano de 1804.
Assim, além dos cargos tradicionais apareceriam: o cargo de Mestre de
Cerimônias como um diretor litúrgico, o cargo dos Expertos como oficiais auxiliares
imediatos e experientes para atuar nas funções ritualísticas, o cargo de Orador
como o Guarda da Lei inerente à Constituição e Regulamentos da Obediência, o cargo
de Hospitaleiro como oficial da caridade e da solidariedade (virtudes primazes
da Moderna Maçonaria), o cargo de Tesoureiro como o guardião e administrador
das finanças da Loja, o cargo de Chanceler como o responsável pelo selo da Loja
e pelos registros próprios do quadro de obreiros – sua frequência e
regularidade, etc.
Obviamente que esse
sistema de cargos em Loja está intimamente ligado à identidade de cada Rito,
observado as tradições, usos e costumes, tanto dele em particular quanto da
Maçonaria em geral.
- Basicamente
essa resposta já está inserida no item anterior.
Na verdade os cargos
em Loja, além daqueles históricos que praticamente aparecem em todos os
sistemas, mesmo que diferentes às vezes em suas nomenclaturas, mais iguais em
essência, são explicados principalmente pela liturgia adotada no rito. Por isso
é imperativo que se conheça a profundeza doutrinária de cada rito. Deísta ou
teísta? Sem dúvida esses são parâmetros que podem explicar essas diferenças.
Concluindo, destaco
que o assunto é bastante amplo e carece nesse sentido, a abordagem de rito por
rito, levando-se em conta sempre a sua expressão cultural, política e social do
meio em que ele surgiu. Essa seria uma maneira racional para se achar
explicações relativas ao mote das suas questões.
T.F.A.
PEDRO JUK
MAIO/2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário