Em 01/04/2018 o
Respeitável Irmão Hélio Brandão Senra, Loja União Força e Liberdade, 272, sem
mencionar o nome do Rito e o Oriente, Grande Loja Maçônica de Minas Gerais,
Estado de Minas Gerais, solicita a seguinte informação:
TRANSMISSÃO DA PALAVRA SAGRADA - VAI E RETORNA?
Meu Irmão gostaria de saber o histórico da transmissão da palavra
sagrada e qual a razão do Rito Brasileiro praticar o retorno da palavra ao
encerramento dos trabalhos.
CONSIDERAÇÕES.
Antes dos comentários
pertinentes à questão, é bom que se diga que essa transmissão de Palavra nada
tem a ver com telhamento maçônico. Essa transmissão é parte de uma alegoria que
se dá entre Mestres Maçons, a despeito de que cargos em Loja são privativos
apenas daqueles que alcançaram o Terceiro Grau. Ratifica-se: essa transmissão
não é uma ação de reconhecimento, mas um procedimento de alto significado
iniciático, como se verá a seguir.
Dados esses
comentários preliminares, vamos ao tema propriamente dito.
A transmissão da
Palavra Sagrada na abertura e encerramento dos trabalhos é prática original do
REAA\ que, pelo título “antigo” que traz
em seu nome, justifica a rememoração dos costumes operativos. Embora de origem
francesa, portanto latino, o escocesismo historicamente possui também
particularidades inerentes à Maçonaria anglo-saxônica.
Assim, essa
liturgia alude aos tempos da Maçonaria de Ofício, ou Operativa (dos antigos).
Naqueles tempos, o Mestre da Obra operativo (ancestral do Venerável Mestre),
durante a construção no imenso canteiro de obras, se comunicava com seus
auxiliares imediatos (Wardens –
atuais Vigilantes) utilizando-se dos seus mensageiros, ou “oficiais de chão”
(ancestrais dos Diáconos).
Dentre as
comunicações enviadas pelos mensageiros, uma delas se dava constantemente antes
do início dos trabalhos, cujo desiderato era o de enviar ordens aos seus
Vigilantes para que eles executassem a preparação para o trabalho nivelando e
aprumando os cantos da obra.
Nesse sentido, os
Vigilantes cumpriam a ordem executando a aprumada e o nivelamento dos cantos a
partir da pedra angular aonde ia fixado o cordel para se aplicar a 47ª
Proposição de Euclides – além do nivelamento e aprumada também se conferia o
esquadro (canto).
Estando tudo
pronto, nivelado e aprumado, os Vigilantes por fim comunicavam o Mestre da Obra,
através dos mensageiros (Diáconos), que tudo estava de acordo e pronto para que
os trabalhos se iniciassem.
Ao se comunicar
como o Mestre da Obra, os Vigilantes enviavam mensagem dizendo que tudo estava
“justo e perfeito”. Recebida essa comunicação, o Mestre então declarava abertos
os trabalhos no canteiro (atual Loja).
É dessa prática a
origem do termo “justo e perfeito” na Maçonaria, assim como a adoção pela Moderna
Maçonaria do Nível e do Prumo como joias distintivas dos seus Vigilantes
especulativos.
Já quando do
encerramento da jornada de trabalho, novamente o Mestre da Obra, utilizando-se
do oficial de chão (Diácono), enviava ordens aos seus Vigilantes para que tudo
agora fosse conferido novamente, oportunidade em que os Vigilantes, cada qual
pela sua banda no canteiro, percorriam a construção conferindo se todas as
paredes estavam niveladas, aprumadas e concordantes com todos os cantos
esquadrejados.
Certificando-se que
tudo estava nos conformes, os Vigilantes comunicavam novamente o Mestre da Obra
que os trabalhos estavam “justos e perfeitos”, pelo que ele então ordenava ao
Primeiro Vigilante que fechasse a Loja, pagasse os obreiros e os despedisse
contentes e satisfeitos. Cumprindo a ordem, o Vigilante assim procedia, mas não
sem antes recomendar aos operários que após o inverno retornassem para a
próxima jornada de trabalho.
Esse comentário
explica muitos procedimentos ritualísticos relacionados à liturgia de abertura
e encerramentos dos trabalhos conforme o Ritual.
Como mencionado,
tudo isso se dava nos canteiros operativos da Francomaçonaria.
Com a decadência
dessas corporações de ofício e o aparecimento da Maçonaria Especulativa, muitos
desses costumes seriam lembrados na Moderna Maçonaria por alegorias
ritualísticas, como é o caso do que acontece no REAA\ e a transmissão da Palavra Sagrada
para a abertura e encerramento dos trabalhos.
Entretanto, em se
tratando de Maçonaria Especulativa, o simbolismo revive práticas por alegorias,
já que nesse caso, a construção não mais é de igrejas, abadias e catedrais, mas
do próprio homem. Assim, o canteiro é a sala da Loja (Templo) e o maçom a
matéria prima utilizada no lugar da pedra calcária de antigamente.
Por esse feitio, o
REAA\ utiliza simbolicamente, no lugar dos
literais nivelamentos e aprumadas dos cantos, uma Palavra que, se transmitida
corretamente significa que tudo está “justo e perfeito” para se iniciar os
trabalhos especulativos da Loja, bem como que ao final verifica se tudo está nos
conformes para o seu encerramento.
Em linhas gerais a
transmissão correta da Palavra Sagrada é a conferência simbólica que relembra
uma antiga tradição da Francomaçonaria.
Dado ao comentado,
pela sua origem, é possível se observar que a questão não é de ida e volta da
Palavra, mas a de atingir um objetivo e para tanto é preciso simplesmente que
ela seja transmitida corretamente.
Infelizmente existe
rito que copia essa prática ritualística do escocesismo simbólico
atribuindo-lhe uma pretensa liturgia de “ida e volta”. Provavelmente os
ritualistas que assim procederam não conheciam a história dessa liturgia e por
isso criaram esse retorno contraditório.
Assim, de modo
geral se faz cogente compreender que a Palavra Sagrada nessa ocasião não vai,
para depois retornar, pois nesse caso ela simboliza uma atitude. Essa é a
questão.
Quanto à razão dela
aparecer “indo e voltando” no Rito Brasileiro, eu não encontrei nenhuma
explicação plausível que possa se coadunar com o verdadeiro sentido dessa
tradição.
T.F.A.
PEDRO JUK
MAIO/2018
Lendo os Rituais do Grau de Apr. do REAA e do RB, ambos em sua versão de 2009, vemos que no primeiro quem encerra a Sessão Ordinária é o 1º Vig., e no RB é o V.M.
ResponderExcluirAcredito que estamos falando da mesma alegoria, exatamente como relatado na resposta acima, porém, com uma pequena diferença de interpretação. Não vejo qualquer prejuízo para a liturgia, muito pelo contrário, uma demonstração de que "alguém anda pensando", pois, como sempre ouvi: "Se todos pensam igual, ninguém está pensando."