Em 23/03/2018 o Irmão Companheiro Tarciso Silvestre
Ferreira, Loja Filhos de Adonai, REAA, GOB-MA, Oriente de Presidente Dutra,
Estado do Maranhão, solicita o seguinte esclarecimento:
COLUNAS VESTIBULARES
Gostaria de saber os
motivos pelos quais a Grande Loja que diz ser do REAA usam as colunas J e B
dentro do Templo posicionando o Cobridor que seria Interno e o Mestre de
Harmonia atrás das colunas, consequentemente fora do Templo. E porque da
inversão do Mestre de Cerimônia com o Hospitaleiro em relação às Lojas do GOB?
CONSIDERAÇÕES.
Pois é, em se tratando
de Rito Escocês Antigo e Aceito as Colunas B e J são colunas vestibulares,
portanto elas deveriam se posicionar no vestíbulo, ou no átrio do Templo
ladeando a sua porta de entrada. B à esquerda de quem entra e J à direita.
Justifica-se essa
disposição porque ela está diretamente associada à alegoria do Templo de
Jerusalém onde as Colunas Gêmeas exteriorizadas são mencionadas na Bíblia
conforme os livros de Reis e Crônicas e Paralipômenos.
Em Maçonaria, e em
particular no REAA, fisicamente as Colunas também são conhecidas como solsticiais
(relativas aos solstícios de João, o Batista e de João, o Evangelista) porque
marcam simbolicamente a passagem dos trópicos de Câncer ao Norte e Capricórnio
ao Sul. Isso se dá levando em conta a relação cosmogônica, própria do Rito
Escocês que, embora tenha algumas tendências teístas (anglo-saxônicas), possui mesmo
forte influência deísta dada às suas origens na Maçonaria francesa. Na
concepção cosmogônica o Templo representa um segmento da superfície terrestre
situado sobre a linha do equador – nesses limites se operam as transformações
iniciáticas.
É por essa óptica que as
Colunas Solsticiais se situam no limite ocidental do Templo maçônico. Assim, de
dentro do Templo, aquilo que estiver situado além delas estará localizado no
exterior do templo. É por essa razão que no REAA\ as Colunas devem se situar conforme a descrição bíblica, isto é, no
vestíbulo do Templo e junto à porta de entrada.
Amiúde, é bom que se diga que a primeira
visão que o observador tem do Templo é de fora para dentro. Isso é lógico em
qualquer situação – quem ingressa no edifício o faz vindo de fora para dentro.
Comentários à parte, a questão é que nos
Templos Maçônicos a situação dessas Colunas não tem caráter unânime e pode
variar de lugar de acordo com os ritos maçônicos. Por questão doutrinária, e mesmo
cultural essas Colunas às vezes podem também aparecer - conforme o Rito - interiorizadas
e junto à parte interna da porta. Às vezes invertidas e, em outras até situadas
em outros lugares distintos dentro da sala da Loja. Já no caso do REAA\
elas se situam mesmo, ou pelo menos deveriam se situar, tradicionalmente no
Átrio.
Quanto à razão dessas distorções, veja que não é segredo para
ninguém da existência de uma grande quantidade de edições de rituais que paulatinamente
apareceram na Maçonaria brasileira ao longo da sua história. Desses rituais, inquestionavelmente
muitos foram montados, copiados e enxertados com costumes de uns em outros
ritos. Ao final desse processo apareceram indevidas inserções que permaneceram
na viciada tradição latina em nome do tudo o que está escrito está irremediavelmente
certo - o que nem sempre é verdade.
Quanto ao que diz respeito à posição
invertida do Mestre de Cerimônias e do Hospitaleiro no REAA\,
é a mesma coisa.
Isso se dá em alguns rituais simplesmente
porque os erros se perpetuam a partir de cópias de procedimentos anacrônicos de
rituais antigos.
Infelizmente ainda alguns “acham” que qualquer
ritual antigo é sinônimo de coisa certa. Ora, isso está muito longe de estar de
acordo com a verdade. Antiguidade nesse caso, nem sempre significa idoneidade.
No caso do Mestre de Cerimônias, que
tradicionalmente ocupa a Coluna do Sul graças ao seu ofício de dar beleza
à sessão (objetividade, fluidez e respeito), desafortunadamente alguns
ritualistas inversamente o colocaram na Coluna do Norte por associá-lo ao deus
mitológico Mercúrio, cujo planeta correspondente se localiza a nordeste na
decoração da abóbada do Templo. Alegaram esses tratadistas que devido aos
deslocamentos desse Oficial por todos os quadrantes da Loja ele se assemelhava com
o deus mensageiro simbolizado pelo astro (planeta) que mais rapidamente se
desloca pelo espaço sob o ponto de vista da Terra. Tudo isso não passa de mero
exercício de imaginação.
Na verdade essa comparação é equivocada e não
procede porque tradicionalmente os verdadeiros mensageiros na Loja são os
Diáconos, não como condutores de documentos, recados ou afins, mas como os
antigos oficiais de chão da época da Maçonaria Operativa. Note que não é por
acaso que os Diáconos ocupam a banda nordeste e sudoeste do Templo, pois
Mercúrio que é o planeta símbolo do deus mensageiro aparece na decoração da
abóbada sempre na sua porção boreal.
Outro motivo dessa inversão é porque inadvertidamente
muitos copistas de rituais não observaram a disposição dos cargos conforme o
Rito. Por exemplo, é certo que alguns ritos invertem posições dos Vigilantes e
de alguns Oficiais em relação aos outros. Isso pode ser facilmente conferido em
se observando, por exemplo, a planta do Templo dos Ritos Moderno, ou Francês,
Adonhiramita e Escocês Antigo e Aceito – vide que muitas dessas posições se
invertem entre eles.
Assim,
muitos rituais antigos que serviram muitas vezes como base para se compilar
procedimentos, trazem essas distorções equivocadas em relação ao rito e que
acabaram se consolidando em alguns rituais. É o caso do Mestre de Cerimônias
mencionado na sua questão que contraditoriamente exerce o seu ofício, segundo
um ritual, a partir da Coluna do Norte.
Devo mencionar a existência de muitas
sutilezas na liturgia maçônica que explicam a razão e o significado das
práticas ritualísticas. Copiá-las apenas sem uma análise mais crítica antes de
inseri-las num ritual fatalmente poderá acabar em perpetuação erros.
Por fim, é certo que quando se aprova um
ritual que traz consigo práticas contraditórias, acaba se prestando um
desserviço à autêntica ritualística.
T.F.A.
PEDRO
JUK
MAIO/2018
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