Em 11/06/2019 o Respeitável Irmão Roni Emerson Gonçalves, Loja Claudio
das Neves, 1.939, REAA, GOB-MG, Oriente de Uberlândia, Estado de Minas Gerais, apresenta
a questão como segue:
REAA E A COR
VERMELHA.
Estou muito feliz, pelo caminho que agora se inicia
com relação a Orientações sobre Ritualística do REAA praticado nas lojas do
GOB. Nesta ocasião quero parabenizar o Poderoso Irmão pelo trabalho realizado
na Grande Secretária de Ritualística do GOB. Espero ansioso por um seminário
aqui na Região do Triângulo Mineiro, onde contamos com pelo menos cerca de 20
lojas, sendo 8 (oito) apenas em Uberlândia, onde acredito que poderemos somar
muito com a Ritualística nas lojas. Que o Grande Arquiteto do Universo ilumine
os caminhos e possa haver essa oportunidade.
O motivo de meu contato, está relacionado a um
tópico sobre a "COR AZUL" no REAA, onde de fato deveria ser
"VERMELHO". Onde consigo um material sobre esse assunto? De fato,
ONDE DEVERIA SER USADO O VERMELHO? Vejo a diferença sutil quando se trata do
REAA praticado no GOB e o praticado nas Grandes Lojas, onde os assentos por
exemplo, no GOB devem ser de cor Vermelha, e nas Grandes Lojas, percebo que as
lojas seguem o padrão azul. Claro que é apenas observação. Fiquei curioso, assim
posso dizer, onde mais estaríamos descaracterizando nossas origens.
Aqui faço uma pausa, para uma pequena opinião
pessoal se me permite meu irmão. Percebo que algumas mudanças, nos últimos anos
no ritual, acabaram por descaracterizar ou mudar a história da qual o GOB teria
praticado o REAA, digo isso com relação a arquitetura do Templo. O templo de
nossa Loja, possui características muito diferentes do nosso atual Ritual de
2009, então quando estive secretario, tive oportunidade de ver o Ritual da década
de 70, neste caso especifico um ritual editado em 1972, onde o nosso templo foi
construído exatamente como deveria estar naquele ritual. As colunas B e J estão
dentro do Templo, as colunas "zodiacais" talvez esteja falando
errado, seria as que estão com símbolos do zodíaco, elas avançam ao oriente e
outros pontos mais. Então, será que as alterações estão resgatando o REAA de
fato ou fazendo mudanças para aproximar de outras potencias que não seja a
nossa dos tempos antigos do GOB? Peço desculpas pelo texto enorme, por outro
lado são apenas inquietações pessoais de um aprendiz que com uma enorme
curiosidade ainda não tem encontrado respostas com embasamento.
CONSIDERAÇÕES
COR VERMELHA – Historicamente a cor encarnada é a original no REAA.
Desde o seu embrião, o Rito traz essa particularidade haurida da Maçonaria
Stuartista ainda na Inglaterra. De origem jacobita, portanto católica, a cor
vermelha (do cardeal) sempre esteve associada ao escocesismo maçônico.
Isso pode ser observado ainda pelo advento das Lojas Capitulares que
apareceriam na França no primeiro quartel do século XIX, cuja cor capitular é
predominantemente “vermelha”. Do mesmo modo, também pode ser constatado em se
verificando as determinações exaradas pelo Conselho de Lausanne realizado na
Suíça no ano de 1875 – vide principalmente as orientações condizentes à
padronização do Rito.
Para estudos a respeito eu recomento a obra do saudoso Irmão José Castellani
intitulada REAA – História, Doutrina e Prática. Essa obra, além de trazer um excelente
conteúdo, traz também uma rica bibliografia que poderá servir de roteiro para
estudo.
Aqui no Brasil, em que pese as incontáveis deturpações que o Rito sofreu
desde a sua chegada em terras tupiniquins, mesmo assim a cor vermelha sempre
esteve presente, tanto no avental de Mestre, bem como na decoração dos templos
(inclusive paredes vermelhas).
Infelizmente, sem se servir de nenhuma base histórica, alguns acham o
azul “mais bonito” e com isso indevidamente copiaram o matiz azulado de Ritos que
trazem decoração eminentemente azul, como é o caso dos Ritos Adonhiramita e do
Moderno.
Além dessa simpatia pelo azulado imposta pelos admiradores da cor azul, o
REAA também sofreu influências advindas da primeira grande cisão da Maçonaria
brasileira que ocorreu em 1927 e da qual resultou a criação das Grandes Lojas
Estaduais brasileiras. Com isso, Mário Marinho Béhring, o grande artífice dessa
cisão, acabou buscando reconhecimento para as suas Grandes Lojas na Maçonaria praticada
nos Estados Unidos da América do Norte, cujas Lojas do Craft norte-americano (Blue
Lodges) adotam a cor azul. Assim, Béhring, talvez por simpatia ou para agradar
seus reconhecedores trouxe práticas inexistentes no escocesismo enxertando-as no
Rito. Delas, por exemplo, vieram aventais azuis que foram indevidamente
introduzidos no REAA praticado por aqui. Desafortunadamente esse costume
azulado não tardaria a contaminar o escocesismo, inclusive interferindo nos
aventais escoceses do GOB (que eram vermelhos) transformando-os, da contramão
da história, em aventais azulados originários de outros ritos.
Essas colocações podem ser constatadas em se perscrutando a história da
Maçonaria brasileira, sobretudo em alguns rituais antigos que embora deturpados
em alguns pontos, pelo menos trazem originalmente a cor vermelha como
característica do Rito. Destes eu poderia citar (grafia da época) o Guia dos Maçons Escossezes ou Reguladores
dos Tres Gráos Symboloicos do Rito Antigo e Aceito – Grande Oriente Brazileiro –
Rio de Janeiro, 1834.
Sugere-se também a
consulta em obras de autores como Francisco de Assis Carvalho, José Castellani,
Hercule Spoladore, Frederico Guilherme da Costa, Alec Mellor, Rene Charlier, dentre
outros. Há que se consultar também a evolução dos rituais franceses, sobretudo sondando
as particularidades das três principais Obediências francesas – o Grande Oriente
da França, a Grande Loja da França e a Grande Loja Nacional Francesa.
Destaque-se que até mesmo em França, sobretudo nos meados do século passado, por
adoções e transferências para atender reconhecimentos da Grande Loja da
Inglaterra, houve, entre a Grande Loja da França e a Grande Loja Nacional Francesa,
deturpações que feriram a origem do Rito, cujas quais inclusive acabaram se espalhando
pela Espanha, Itália e Portugal.
MUDANÇAS DE RITUAIS – Em que pese muitos rituais brasileiros antigos
trazerem alguns, mas poucos, conteúdos confiáveis, como é o caso da cor
vermelha para o REAA, em outros aspectos, entretanto, eles lamentavelmente transformaram
o Rito em questão numa verdadeira colcha de retalhos.
Por vários motivos, que não cabem aqui comentários por falta de espaço, esses
rituais também trouxeram uma gama de invenções e equívocos. Eu poderia citar algumas
coisas que não pertencem ao puro escocesismo e que encontramos nos rituais
impressos pelas Obediências daqui (alguns em vigência e outros não mais). É o
caso, por exemplo, do Altar dos Juramentos no centro (errado); formação de pálio
(não existe); Salmo 133 (errado); Diáconos portando bastão (não portam); o Oriente
em relação ao Ocidente elevado por quatro degraus (é apenas um); retângulo ao
centro como um tabuleiro de xadrez (é em diagonal e ocupa todo o piso do Ocidente),
Colunas Zodiacais no Oriente (não pode), etc. Até mesmo a cerimônia de
Instalação não é original no REAA – mas essa é outra questão.
Assim, devo mencionar que as últimas mudanças que ocorreram nos rituais
escoceses do GOB a partir do ano de 1996, na sua grande maioria não se tratam
de mudanças, mas sim da volta às origens.
Em síntese, na maioria dos casos ocorrera correção do que estava errado
e persistia sem explicações. Do mesmo modo foram retirados elementos estranhos
à liturgia do REAA (infelizmente não todos, pois ainda existem outros).
Obviamente que não tenho como aqui abordar item por item do que fora “corrigido”
ou extirpado, pois na verdade o que houve mesmo foi mais uma aproximação das
práticas verdadeiras, faltando, sem dúvida, ainda detalhes que merecem mais
atenção, sobretudo no que diz respeito ao retorno às origens.
Como foram mencionadas na questão alguns detalhes inerentes à construção
do Templo da sua Loja e o ritual de 1972, vou então fazer breves considerações
sobre as Colunas Zodiacais, bem como sobre as Colunas Vestibulares.
No tocante às Colunas Zodiacais, devo mencionar que sobre hipótese
alguma elas dever ocupar as paredes do Oriente. Isso se dá porque elas têm a
finalidade de demonstrar (apontar) o caminho do Iniciado na doutrina do Rito.
Assim, as seis primeiras que ficam no topo da Coluna do Norte (entre a
parede ocidental e a grade do Oriente) marcam o caminho do Aprendiz, enquanto
que as outras, no topo da Coluna do Sul (entre a grade do Oriente e a parede
ocidental) indicam o caminho dos Companheiros e ao final dos Mestres. Esses últimos,
morrem no inverno para renascer na Luz quando, após concluírem a jornada no mundo
terreno seguem por um caminho que os levará ao Oriente (pelo eixo do Templo)
que é o lugar da Luz (mundo espiritual).
Na realidade, as Colunas Zodiacais também marcam as constelações do Zodíaco
que, agrupadas em grupos de três em três, demonstram alegoricamente os ciclos
da Natureza (as estações do ano).
Sob a égide de uma doutrina deísta (francesa) o Rito ordena a vida do Iniciado
comparando-a com os ciclos e a renovação da Natureza - esta morre no inverno
para renascer na primavera. Assim também deve morrer o iniciado para a vida
profana e renascer para a vida maçônica (busca da Luz).
Assim, sendo as Colunas Zodiacais os marcos da senda iniciática, as
mesmas não podem se situar no quadrante oriental, já que o Oriente alegoricamente
se reporta ao mundo espiritual, enquanto que o Ocidente ao mundo material. Há
que se lembrar que o Iniciado só ingressará no Oriente após ter cumprido toda a
jornada e por fim ter passado pela Exaltação conquistando o renascimento para a
Luz.
Nesse sentido, como as Colunas Zodiacais indicam o caminho dos
Aprendizes e dos Companheiros, que fica no Ocidente, elas então não podem ser colocadas
no Oriente, pois nesse quadrante, por razões puramente iniciáticas, é vedado o
ingresso para Aprendizes e Companheiros em Loja aberta. Com isso, notadamente
as Colunas Zodiacais ficam apenas no Ocidente.
Destaque-se que é anacrônica a interpretação de que as Colunas Zodiacais
servem para suportar a abóbada celeste. Isso é interpretação equivocada que se
sustenta só pela lei do menor esforço. Nesse sentido, elas não sustentam, mas
marcam no horizonte ocidental da abóbada as doze constelações do Zodíaco.
Existem, inclusive, rituais franceses que nem sequer mencionam as Colunas
Zodiacais, entretanto exaram que na base da abóbada nos lados Norte e Sul correspondente
ao Ocidente, devem aparecer os símbolos que indicam às constelações do Zodíaco.
Quanto as Colunas Vestibulares, elas marcam a passagem dos trópicos de Câncer
ao Norte (Coluna B) e Capricórnio ao Sul (Coluna J).
Independente de todas as intepretações que elas mereçam, os seus
próprios títulos já lhes dão o caráter de exterioridade, pois elas são “vestibulares”,
portanto relativas ao “vestíbulo” que é o Átrio do Templo.
Na descrição bíblica das suas existências no Templo de Jerusalém as
mesmas aparecem descritas como que ladeando a porta pelo exterior. Obviamente pelo
exterior porque a descrição é de quem vê por primeiro o Templo pelo lado de
fora. Afinal, para se ingressar num recinto é preciso primeiro que se esteja no
seu lado de fora – primeiro se faz a garrafa para depois se construir a rolha.
Assim, as Colunas Vestibulares B e J se localizam no Átrio, ou seja,
pelo lado externo da porta do Templo e não no seu interior. Isso também pode
até ser constatado nos Painéis dos Graus de Aprendiz e Companheiro. Neles as
Colunas Vestibulares aparecem ladeando o pórtico – note que o ponto de vista é
de fora para dentro.
Dado a esses comentários, não nos parece que o ritual de 1972 mencionado
esteja assim tão correto ao ponto de servir como modelo para construção de um Templo.
Infelizmente, a imensa maioria dos rituais escoceses de outrora editados
no Brasil estão repletos de erros e enxertos, inclusive alguns até invertem as
Colunas Vestibulares copiando outros ritos e com isso colocam indevidamente
Aprendizes tomando assento no Sul. Desafortunadamente, muitos Irmãos acham que por
serem esses rituais antigos, então eles e que são corretos, mas isso não é verdade.
Assim, antes é preciso que cautelosamente e com método se estude cada
ponto a ser discutido e defendido na liturgia, valendo a pena mencionar que o REAA
é um rito que nasceu na França, portanto, no hemisfério Norte. Com isso, a sua
orientação simbólica deve se dar por esses parâmetros. A não observação desse
importante detalhe tem feito com que muitos tomem posições inadequadas, por extensão,
sem sentido.
Para concluir, é bom que se diga que é o exercício do rito na sua pureza
que traz subsídios para explicar a sua doutrina. Sem isso, muitas coisas não
fazem sentido e nem se sustentam em explicações sólidas e dotadas de razão. A
originalidade explica o porquê da simbologia e da topografia dos nossos Templos.
Tudo ali foi minuciosamente pensado antes de ser colocado. Distorções tendem
sempre a descambar para o caminho da imaginação e do achismo, sendo que isso
não é nada prudente para uma Instituição que investiga a Verdade.
T.F.A.
PEDRO JUK
SET/2019
Alguma possibilidade dos aventais do REAA no GOB voltarem a ser vermelhos?
ResponderExcluirPor hora isso é muito pouco provável.
ExcluirObrigado pela visita.