Em 27/04/2020 o Respeitável Irmão David Lorenzo Sotolepe, Loja Unidade, Justiça e Trabalho, 274, GLMRGS, Rito Schröder, sem mencionar o Oriente, Estado do Rio Grande do Sul, solicita esclarecimentos para o que segue:
DEGRAUS NA LOJA
Lendo seu blog, referente aos degraus, pergunto: Por que o Rito Schröder não tem degraus no Templo?
CONSIDERAÇÕES.
Não há
degraus porque essa é uma característica desse Rito.
Amparado
pela simplicidade, não por isso, o Rito Schröder traz profundas lições de humanismo
na sua estrutura doutrinária.
Numa
síntese da sua história, os seus rituais são oriundos de uma Assembleia que se
deu no ano de 1801, constituída por Lojas que compunham a Grande Loja Provincial
de Hamburgo. Não obstante a sua ligação com a Primeira Grande Loja de Londres
(Modernos de 1717), seus rituais ganharam espaço na Europa, principalmente nas
Lojas de língua germânica.
Assim,
esses rituais, dos três graus básicos universais (Aprendiz, Companheiro e
Mestre), incluindo também a Loja de Mesa e a de Funeral, foram organizados por
uma Comissão, cuja direção coube ao Irmão Friedrich Ludwig Schröder, ex-Venerável
Mestre da Loja Emanuel Zur Maienblume (Emanuel à Flor de Maio) e Ex-Grão-Mestre
Adjunto da Grande Loja de Hamburgo.
Sendo um maçom de grande prestígio e reconhecidamente um grande conhecedor da história que envolvia antigos rituais da Maçonaria, Schröder estudou a exposure relativa aos autodenominados Antigos de Lawrence Dermott, editada em 1760 com
o título de “As Três Pancadas Distintas”. Do mesmo modo assim o fez com A Maçonaria Dissecada, exposure publicada em 1730 escrita por Samuel Prichard. Também perscrutou um Ritual de autoria do maçom Von Grafe. Essas duas últimas referências eram relativas aos costumes do Modernos de 1717 que pertenciam à Primeira Grande Loja em Londres. É provável também que Schröder tenha investigado a revelação (exposure) concernente aos Modernos da Primeira Grande Loja denominada Jakin & Boaz.Nos
seus estudos ele examinou também os graus conhecidos como “graus superiores” que
se proliferaram pela Europa, esses provenientes dos Altos Graus do escocesismo
instalados na França, principalmente.
Ainda,
como nos ensina o saudoso Irmão Rui Jung Neto, Schröder, que emprestaria seu
nome ao Rito, por conta das suas pesquisas, concluiu por abolir dos seus rituais
todos os “altos graus”.
Do
mesmo modo, erradicou as práticas que se relacionavam com ocultismo e também
aquelas revestidas de acentuado misticismo, aspectos que infelizmente povoavam
a Maçonaria alemã da época – vide, como exemplos, o Rito da Estrita Observância
e a história de Cagliostro (cognome de José Bálsamo), famoso ocultista,
charlatão e romântico agitador que deslumbrava a Europa na segunda metade do século
XVIII (citação de José Castellani in Liturgia e Ritualística de Aprendiz
– em todos os Ritos, página 20)
Com
isso, Schröder fez uso - em grande parte - do ritual pertinente à Primeira
Grande Loja em Londres (Modernos Ingleses de 1717), fazendo nele adaptações
para o idioma germânico, incluindo também aspectos da alta cultura, particularidade
bastante acentuada na sua época.
Com isso Friedrich Ludwig Schröder apresentou uma Maçonaria imbuída de união de virtudes e não propriamente uma ordem de aparência esotérica. Destacou o espírito
humanista e preservou, sobretudo, os símbolos dentro de uma razão e lógica de que a verdadeira Maçonaria é aquela pertinente aos três primeiros graus simbólicos e praticados nas Lojas de São João. Há que se destacar também que o Rito Schröder é fruto do Século das Luzes, o que lhe dá sobremaneira uma visão humanística e um viés de racionalidade.
Como dito, sua estrutura simbólica fora
montada apenas sobre os elementos primordiais para o alcance do objetivo
almejado. É especialmente por isso que o Rito Schröder condensa todos os seus
elementos simbólicos num tapete que traz sua estrutura iniciática completa.
Esse tapete é estendido ao centro do espaço quando a Loja estiver aberta.
Assim,
com sua base ritualística
estruturada no ritual dos Modernos londrinos de 1717, o Ritual Schröder traz
aspectos reformistas sem perder, contudo, as tradições, usos e costumes pertinentes
à Sublime Ordem.
Em linhas gerais, atualmente no Brasil as
Lojas do Rito Schröder se baseiam nos rituais que foram traduzidos dos
originais e revisados pela Loja Absalom Das Três Urtigas, nº 01, em 1960. Essa
Loja, Absalom das Três Urtigas, segundo historiadores, teve a sua certidão de
nascimento no ano de 1737, portanto, sob essa óptica, é uma das mais antigas em
atividade, estando jurisdicionada à Grande Loja dos Maçons Antigos, Livre e
Aceitos da Alemanha.
No
tocante a sua questão propriamente dita, a inexistência de degraus na topografia da Loja se dá
exatamente em cumprimento a uma das características dos trabalhos da Maçonaria anglo-saxônica,
cujos quais não adotam separação do Oriente (por degraus e balaustrada) e nem
elevam os espaços destinados às Luzes da Loja (Venerável e Vigilantes). Há que
se compreender que os Rituais Schröder foram estruturados, como já aqui mencionado,
em grande parte nos trabalhos dos Modernos de 1717 que é de vertente anglo-saxônica.
Comentários à parte, vale a pena mencionar
também que primitivamente o próprio REAA (rito de origem francesa), no seu
primeiro ritual, datado de 1804 e publicado em 1821 no Guia dos Maçons
Escoceses na França, também não adotava nenhum degrau no seu espaço de
trabalho. Destaque-se que isso só veio acontecer no REAA pelo advento das hoje
já extintas Lojas Capitulares (vide essa história – França século XIX). Abolidas
essas Lojas, inexplicavelmente o oriente elevado e a balaustrada acabaram
permanecendo no simbolismo do Rito. Outros conceitos doutrinários a partir de então
passariam a compor a sua liturgia, fazendo com que o escocesismo adotasse o número
de sete degraus nos seus templos como segue: um degrau para o Oriente, três
para o sólio, dois para o lugar do 1º Vigilante e um para o 2º
Vigilante, totalizando assim sete degraus. O número 7 no escocesismo assumiu
alto significado se reportando à Criação e o seu dia, o “shabat”
(influência hebraica). Além desse significado, o nº 7 tem relação com a
idade simbólica de um grau e com as Sete Ciências e Artes Liberais da
Antiguidade.
Entenda-se, contudo, que essas
aplicações não se coadunam com o arcabouço doutrinário do Rito Schröder,
portanto, nele os degraus não fazem nenhum sentido e é por isso que eles não
existem.
Nunca é demais lembrar que o objetivo da
Moderna Maçonaria é um só, o do aprimoramento humano, transformando bons homens
em homens melhores ainda, entretanto, os ritos que a compõem trazem
particularidades culturais, filosóficas e doutrinárias, daí existir entre eles,
às vezes, sensíveis diferenças.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
SET/2020
Saudações fraternais,
ResponderExcluirEspresso minhas felicitações pelo material instrutivo e de grande significância.
Sou Marco Luz, Venerável Mestre da ARLS Alberto Santos Dumont II 644 - Rito Schröder - GLESP - Ribeirão Preto SP
Grato pela visita meu Irmão. Sempre a disposição. Fraterno Abraço.
ExcluirBoa tarde Irmão Juk, espetáculo essa Obra, enriquci ainda mais meus conhecimentos. Sou Irmão Sérgio Silva, ARLS TOLERÂNCIA E FÉ, 266, Or.'. de Pará de Minas/MG
ResponderExcluirTFA
Grato meu Irmão. Obrigado pela sua visita.
ExcluirNobre irmão Juk , maravilhosa estas considerações . Muita instrutiva , mostra que somos Realmente ETERNOS APRENDIZES . PERTENÇO À ARLS CONCÓRDIA FLORIANENSE 3257 , GOB ORIENTE DE. VITORIA , ES
ResponderExcluirIR ADENES LUDGERO . ""PRATICO SCHRÖDER COM ORGULHO"" .
Grato pela sua visita e gentis palavras. CAM.
ExcluirMuito esclarecedor esse artigo, nobre irmão!
ResponderExcluirSendo praticante do REAA, sempre busco conhecer os demais ritos, procurando o fio condutor que eles todos tem em comum!
TFA
Grato pelos seus comentários. Fraterno Abraço.
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