Em 01/06/2018 o Irmão Alexissandro
Marques Moreira, Companheiro Maçom da Loja Caratinga Livre, GOB-MG, REAA,
Oriente de Caratinga, Estado de Minas Gerais, apresenta a seguinte questão:
PALAVRA DE PASSE DO SEGUNDO GRAU
Sobre a palavra de passe do Grau de Companheiro, quem a introduziu em
nosso ritu
CONSIDERAÇÕES.
Despido de todas as
roupagens doutrinárias, o Grau de Companheiro é sem dúvida o grau mais genuíno
da Maçonaria, já que à época da Maçonaria de Ofício (Operativa), apenas
existiam duas classes de trabalhadores, a dos Aprendizes Admitidos e a dos
Companheiros da Arte.
Com o advento da
Maçonaria dos Aceitos (Especulativa) a partir do início do século XVII, os
primeiros catecismos começariam a se organizar em detrimento dos dois graus
especulativos que começavam a tomar forma na estrutura ritualística da
Maçonaria. Cite-se que o primeiro maçom especulativo que a história autêntica
tem registrada é o Irmão John Boswel, iniciado no ano de 1600 na Loja Capela de
Maria em Edimburgo na Escócia.
Em relação à
ritualística especulativa do segundo Grau, a mesma começou a ser implantada na
Inglaterra no final do século XVII e consolidada no primeiro quartel do século
seguinte, sobretudo pelo aparecimento da Moderna Maçonaria como resultante da
Primeira Grande Loja em Londres em junho de 1717.
Cabe comentar que
no período de transição, entre o período operativo e especulativo, a liturgia maçônica
paulatinamente seria desenvolvida em dois graus, enquanto que um terceiro grau,
o de Mestre Maçom, somente apareceria em 1725 e oficialmente seria integrado ao
franco maçônico básico apenas da segunda constituição inglesa, aquela datada de
1738.
Anteriormente à
organização dos dois primeiros graus especulativos (aceitos) o Companheiro era
tratado como aquele que pertencia ao Grêmio (Craft) e que já tinha passado pelo
aprendizado da Arte. No tocante as palavras, elas existiam em número de três, sendo
B\ e J\ como as sagradas
dos Aprendizes e Companheiros e uma de P\ P\ que era comum às duas classes e
conhecida por Tub\.
Com a organização
na Inglaterra do grau especulativo de Companheiro por alguns maçons aceitos entre
os anos 1670 a 1680, urgia então a necessidade de se criar outros procedimentos
que se adequassem a nova realidade ritualística. Com isso é bastante provável
que foi a partir daí que apareceu a palavra Sch\ como P\ P\ exclusiva para o agora Grau de
Companheiro Maçom, enquanto que a antiga palavra, Tub\, somente retornaria depois de 1725,
mas então já como P\ P\ do Grau de Mestre Maçom que tivera a
sua certidão de nascimento em maio daquele ano. Nessa evolução ritualística o
Grau de Aprendiz Maçom, por questão iniciática, não mais se utilizaria de uma P\ P\.
Na Maçonaria, a
palavra Sch\ foi retirada das
Sagradas Escrituras, mais precisamente do Velho Testamento, Livro dos Juízes –
Cap. 12, 1-7.
Além do
sentido literal de uma palavra que serve como uma senha na Maçonaria, Sch\ é na realidade uma profunda
alegoria iniciática para o Segundo Grau.
Segue o relato contextualizado na
história bíblica que os introdutores maçônicos especulativos deram à alegoria
da P\ P\:
O fato se deu na época em
que um exército dos Efrainitas atravessou o Rio Jordão para combater Jefté,
famoso general Gleadita.
O pretexto dessa desavença
foi por não terem os Efrainitas sido convidados para participar honrosamente da
guerra Amonita. Entretanto, a verdadeira causa dessa desavença teria sido a
captura dos ricos despojos que, em consequência dessa guerra, Jefté e seu exército
tinham se apoderado.
Os Efrainitas, muito
embora tidos como um povo turbulento e sedicioso, só romperam as hostilidades
em virtude de pesados insultos que lhe dirigiam os Gleaditas. Contudo, Jefté
tentou por todos os meios apaziguá-los; vendo, porém que isso era impossível
avançou com seu exército e, dando-lhes combate, derrotou-os, colocando-os em
fuga.
Para tornar decisiva a
vitória, precavendo-se contra futuras agressões, Jefté enviou destacamentos
para guardar as passagens do Jordão, por onde deveria forçosamente os
insurretos fugir para o seu país. Deu ordens severas para que fosse executado
qualquer fugitivo que por ali passasse e se confessasse Efrainita. Aqueles que
negassem ou usassem de subterfúgios seriam obrigados a pronunciar a palavra Sch\.
Os Efrainitas, por defeito
vocal, próprio do seu dialeto, não pronunciavam Sch\, mas Si\. Desse modo, a ligeira diferença de
pronúncia descobriria a sua nacionalidade e custar-lhe-ia a vida. Dizem as
Escrituras que morreram, no campo de batalha e nas margens do Jordão, 42000
Efrainitas.
Como Sch\ foi então a palavra que servira para distinguir amigos de
inimigos, Salomão resolveu adotá-la como P\ P\ dos Companheiros.
Por isso, depois dos nossos antigos Irmãos
darem a P\ P\ ao Vigilante, ele dizia-lhes “Passe Sch\”.
Sob o
ponto de vista doutrinário essa palavra, se pronunciada incorretamente denuncia que o
obreiro ainda não está suficientemente preparado para passar pela porta ao Sul.
Nessa condição o Vigilante obsta a sua passagem. Em síntese a pronúncia correta
implica na certificação de que o maçom preparado a contento no Segundo Grau
está apto para se deslocar em direção à última etapa da sua senda iniciática, a
Câmara do Meio.
Sob o aspecto prático
Sch\
é um meio utilizado no telhamento como certificação de qualidade para
participar dos trabalhos em Loja de Companheiro Maçom.
Sob o ponto de vista
iniciático o termo alude a uma espiga de trigo
(numerosos grãos de trigo) e está relacionado aos cultos agrários da
antiguidade – Ceres ou Deméter – os bens produzidos pelas estações e a
revolução anual do Sol.
Esses comentários por
óbvio não esgotam o assunto já que doutrinariamente existem aspectos
pertinentes a cada rito maçônico praticado que utiliza essa P\
P\. O que fora aqui comentando é só uma pequena
síntese que aborda mais a origem maçônica da P\ P\
do Companheiro do que a sua aplicação propriamente dita. Seu profundo
significado o seu simbolismo merecem uma judiciosa atenção na arte
especulativa. Certamente esse não é o mote dessas considerações.
Assim, concluindo
esses comentários e atendendo ao questionamento, a P\
P\ Sch\ é oriunda da fase de
organização especulativa do grau de Companheiro Maçom, isto é, no final do
século XVII, se consolidando durante a profusão dos ritos que se deram a partir
da Moderna Maçonaria, especulativa por excelência e que tem como marco a
fundação da Primeira Grande Loja no primeiro quartel do século XVIII.
P.S. (1) – Sugiro ao Irmão a leitura do livro
O Companheiro Maçom do Irmão Francisco de Assis Carvalho – Editora Maçônica A
Trolha, Londrina, 1992. Nessa obra, além do seu excelente conteúdo, há ainda um
extenso roteiro bibliográfico que dará ao pesquisador uma ótima referência para
estudo sobre o Segundo Grau maçônico.
P.S. (2) – Alguns autores inadvertidamente
atribuem ao antiquário Elias Ashmole a composição dos rituais de Aprendiz,
Companheiro e Mestre entre os anos de 1646 e 1649. Essa hipótese, aventada pelo
superado Ragon, já foi desmentida há muitos anos. Embora existam referências de
que ele foi iniciado em uma Loja em Warrington, em 1646, sabe-se que ele só
retornou à Maçonaria quatro anos depois, portanto nunca seria dele a autoria
dos rituais.
T.F.A.
PEDRO JUK
AGO/2018
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