Em 08.04.2023 o Respeitável Irmão Marcos Amorim, Loja Acácia, 177, REAA, GOB-RJ, Oriente de Niterói, Estado do Rio de Janeiro, apresenta as dúvidas seguintes:
QUESTÕES RELATIVAS AO PAINEL DO MESTRE
Sou admirador e leio constantemente seu blog, visto que aprecio muito tudo que se relaciona com a ritualística na Arte Real e sua forma de abordar o assunto. Estou pesquisando sobre o Painel da Loja de Mestre do REAA, não só por precisar elaborar uma peça de arquitetura, mas também por interesse na simbologia dos painéis.
Ocorre que estou com dificuldades para encontrar descrições
e explicações para os símbolos do Painel da Loja de Mestre. Surgiram diversas
dúvidas sobre o assunto e, embora seu post de 2021 tenha sanado algumas, ficaram as seguintes,
que agradeceria muito ao irmão se pudesse ajudar a saná-las:
1 - O irmão informou no post que o Painel do REAA é o que
consta do Ritual do GOB. Quais seriam as fontes, origens ou livros onde podemos
encontrar as primeiras referências a este Painel? O que o torna o verdadeiro
"Painel do REAA"? Poderia passar alguma referência bibliográfica? Há
alguma referência em livros como Guide des Maçons Écossais (de 1805) ou Régulateur
Symbolique?
RESPOSTA - As fontes são especificamente da
Maçonaria Francesa e a construção dos rituais iniciais do REAA no século XIX. É
material disperso e precisa ser confrontado e organizado para se chegar até as
suas conclusões. O Painel de York, comumente utilizado por algumas Obediências
no 3º Grau do REAA é enxerto. Sua simbologia é restrita à Maçonaria
anglo-saxônica e não propriamente à latina. Há ainda confusão entre a vertente
maçônica francesa relativa aos Modernos. Nesse sentido, é preciso antes fazer a
separação do escocesismo.
O Regulateur du Maçon serviu para a vertente
moderna da Maçonaria francesa, e é datado de 1801. No entanto, alguns aspectos
do seu conteúdo foram posteriormente extirpados do Rito Moderno, mas, digamos, foram
aproveitados pela ritualística do escocesismo, cujo primeiro projeto de ritual
para o simbolismo é de 1804. Um exemplo disso são as viagens e as provas pelos elementos,
então suprimidas do Rito Moderno e integradas à liturgia do REAA na França.
O Guia dos Maçons Escoceses é de 1820/1821, sendo cadernos
previstos para os três primeiros graus do escocesismo no período das Lojas Capitulares.
2 - Encontramos o mesmo Painel no livro "Simbólica
Maçônica" de Jules Boucher, mas são apresentadas apenas algumas
interpretações de alguns dos símbolos encontrados no Painel: a cruz não seria
crística (seria uma representação romana anterior, representando vida,
imortalidade e ressurreição), os ccr∴
representando a m∴, as tt∴ representando o X romano ou crisma, etc.
Esses significados são válidos para o REAA?
RESPOSTA - Nem tudo que reluz é outro. Cruz
crística, representação romana, etc., me parece que nesse caso o autor força um
pouco a barra. Os ccr∴ e as
tt∴ formam
um conjunto representativo da finitude da vida humana. Eu particularmente não
compactuo com determinadas divagações suportadas pela licenciosidade de
interpretação.
3 - Encontramos o mesmo Painel no Ritual de Mestre do Rito Francês do GOB. A interpretação e o significado dos símbolos seriam os mesmos para ambos os Ritos? Haveria diferenças de interpretação ou simbolismo?
RESPOSTA - Rito Frances ou Moderno é um rito
agnóstico, adogmático e racional. Não é ateu, mas considera que a mente humana
é não tem capacidade para discutir o transcendental, ou as coisas do
incognoscível.
Já o REAA é um rito que, por razões históricas,
é deísta e teísta ao mesmo tempo. Possui em parte o dogmatismo haurido de
influências anglo-saxônicas desde o seu primeiro ritual (1804) e um viés deísta
inerente às suas origens francesas.
Diante de tudo isso, a interpretação simbólica deve se
adequar à doutrina e a história específica de cada rito. Não confundir isso com
licenciosidade interpretativa, porém como objetivo doutrinário e iniciático.
4 - O irmão poderia esclarecer os significados dos símbolos
encontrados no Painel?
RESPOSTA – Para tal eu teria que escrever um livro a esse respeito.
Já fiz alguns comentários sobre, e os mesmo se encontram publicados no Blog do
Pedro Juk em http://pedro-juk.blogspot.com.br
4.1 - Quanto ao painel mos∴,
há algum diferencial com relação ao aprendido no Grau 1?
RESPOSTA - O quadrilongo mos∴ do 3º Grau nada tem a ver com
o pav∴ mos∴ que decora o Oc∴ da Loja. Os estudos do
Aprendiz e do Companheiro se relacionam à materialidade e a vida humana,
enquanto o Mestre, que simbolicamente aparece subindo a esc. em carc., ingressa
no Or. para investigar e aplicar a sua espiritualidade adquiruda quando da
passagem pela cerimônia de Exaltação.
Em linhas gerais, o pav. mos., é o solo do mundo, enquanto o
quadr∴ mos∴ diante do pórtico é a
representação de um ambiente elevado (em outra dimensão).
4.2 - Devemos entender a Ac∴
não só como símbolo da imortalidade e incorruptibilidade, mas também como o
local da marcação da c∴, conforme
a lenda?
RESPOSTA - O ramo de Ac∴ finc∴ no c∴ é uma alegoria da
imortalidade. Hão há o porquê de se separar no contexto da lenda uma prática
simbólica.
4.3 - Como devemos entender o Esq∴ e o Comp∴
neste Painel? Como a prevalência do esp∴
sobre a matéria? Como eles não estão separados no Oriente e Ocidente como nos
demais painéis (ou no antigo utilizado pelo GOB), devemos interpretar que não
mais "se anda do Esq∴ ao Comp∴"?
RESPOSTA - Não vamos inventar resposta. O Esq. menciona o
trabalho material e o Comp. o trabalho espiritual. Só se apresentam unidos em
Loja, todavia quando dispersos servem ao Mestre como elementos da justa medida e
da aplicação da 47ª Proposição de Euclides nos cantos simbólicos da obra.
4.4 - As ffaix∴
ou cruz - que o irmão informou serem referências à revolução anual do Sol -
teriam algum outro significado?
RESPOSTA - No contexto da lenda representam a passagem do
Sol de um para outro hemisfério. A transição do inverno para o verão simboliza
a vida e o renascimento da Natureza, no caso, a ressurreição do Mestre. De modo
visual é um artifício gráfico representativo tridimensional do t∴.
4.5 - O que o triângulo com a letra "G" inscrita
significa? Devemos entender que se relaciona com IOD ou com o G inscrito na
Estr∴ Flamej∴
do grau 2?
RESPOSTA – A letra G não tem nada a ver como IÔD, uma das
letras do tetragrama hebraico. Nessa conjuntura, o G é o símbolo da Geometria
aplicada na construção das boas obras e o Triângulo é o símbolo unidade
ternária de onde parte o primeiro “plano”. A letra G no interior da Estr∴ Flamej∴ é a Geometria aplicada na
construção do homem. À vista disso é que a Estr∴ é tratada como hominal.
4.6 - Há seis conjuntos de ccr∴ e tt∴.
Por que neste número? Qual o significado do cr∴
e das tt∴?
RESPOSTA - Nada de iniciático a ver quanto a quantidade dos
símbolos. É apenas um elemento construtivo de decoração e harmonia para todo o
conjunto simbólico. Unitário ou além da unidade, o símbolo traz uma única
mensagem.
4.7 - Qual o significado das gotas de prata? Elas possuem
significado isolado ou relacionam-se com os ccr∴
e tt∴? Conforme a figura apresentada no seu
blog (e no Ritual), temos uma contagem diferente, sendo que as que ficam mais à
Oriente possuem apenas 1 ou nenhuma gota:
RESPOSTA - Reitero, sem divagações. As llágr∴ simbolizam a tristeza e os
conjuntos de tt∴ e ccr∴ simbolizam a morte. Em última
análise, é a comoção pela morte do Sol no solstício de inverno.
5 - Por que outros ritos da Maçonaria Continental
(francesa), como o Adonhiramita, apresentam painéis diferentes, mais
semelhantes ao do Ritual de Emulação?
RESPOSTA - Não obstante às estruturas
doutrinárias de cada rito, não há como negar que houve, em alguns casos, miscigenação
de símbolos maçônicos latinos e anglo-saxônicos. Como eu disse, vale o que representa
a alegoria para o sistema doutrinário particular de cada rito.
Existe mais de uma centena de painéis desenhados na França.
A história de cada um possui sua particularidade, sobretudo aquelas que
serviram de escolha entre os tantos ritualistas e rituais que foram sendo construídos
ao longo da história. Não dá para se fazer nenhuma afirmativa laudatória nesse
sentido. As coisas não são tão simples assim.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
AGO/2023
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